2025/07/08

Santana Lopes admite que sem cedência socialista “será difícil” um …

Lei eleitoral autárquica em debate

Os líderes parlamentares do PS, Alberto Martins, e do PSD, Pedro Santana Lopes, reuniram-se na quarta-feira para falar da revisão da lei eleitoral autárquica mas os dois partidos optaram pelo silêncio a seguir ao encontro.
Porém, o SEMANÁRIO sabe que o PSD quer fazer duas alterações ao projecto de lei eleitoral autárquica que aprovou em conjunto com o PS, considerando que “será difícil” manter o acordo com os socialistas se as duas propostas não forem aceites, anunciou hoje o líder parlamentar social-democrata, Santana Lopes.
O PSD quer que os presidentes de junta possam votar os planos e orçamentos municipais e corrigir o número de membros da oposição presentes nos executivos camarários. “Nestes dois pontos queremos uma correcção. Achamos que não é pedir muito”, afirmou Santana Lopes, que falava aos jornalistas no final da reunião semanal da bancada parlamentar do PSD.
Questionado se o seu partido faz depender o acordo com o PS para revisão da lei eleitoral autárquica dessas duas alterações, Santana Lopes admitiu que “será difícil ser de outra maneira”.
No passado domingo, o líder do PSD, Luís Filipe Menezes, garantiu que “não haverá acordo” caso a nova lei autárquica retire aos presidentes de junta o direito de votar na assembleia municipal o orçamento camarário e as grandes opções do plano. Uma total inversão da posição da actual direcção do PSD, que assumiu o acordo feito no tempo de Marques Mendes, negociado pela bancada com o PS e cuja formulação foi aprovada em conselho nacional.
Em declarações aos jornais na última segunda-feira, Santana Lopes admitia ter sido apanhado de “surpresa” pelas declarações de Menezes, com quem diz ainda não ter falado sobre o assunto. Salientando “não querer fazer comentários” antes dessa conversa, Santana Lopes admite que lutará para que a reforma se concretize. “A minha obrigação é encontrar uma solução para garantir uma reforma assumida há anos e que continuo a considerar importante”, frisou o líder da bancada laranja. “Se a reforma da lei autárquica for por água abaixo, perdem-se alterações importantes, nomeadamente o facto de o presidente da câmara poder escolher os seus vereadores”, acrescentou.
Recorde-se que o PS e PSD apresentaram um projecto conjunto de revisão da lei eleitoral das autarquias em Dezembro, que aprovaram na generalidade em Janeiro, com os votos contra dos restantes partidos.|

Aeroporto de Fátima ganha força depois do chumbo da Ota

A região Oeste ficou sem o aeroporto da Ota mas pode sair beneficiada com o aeroporto internacional de Fátima, vocacionado para receber peregrinos em romagem ao santuário, em voos charter ou low-cost. Os autarcas do Oeste e da região de Leiria querem contrapartidas do Governo pelo chumbo da Ota e o aeroporto em Fátima pode funcionar como infra-estrutura essencial para dinamizar muitas autarquias. O Governo, sabe o SEMANÁRIO, também está receptivo à ideia, podendo apoiá-la financeiramente, caso tenha viabilidade técnica e ambiental. Para além do turismo religioso, o aeroporto poderia também servir para fins de turismo indiferenciado e mesmo para efeitos de emergência médica para toda a região centro.

A região Oeste ficou sem o aeroporto da Ota mas pode sair beneficiada com o aeroporto internacional de Fátima, vocacionado para receber peregrinos em romagem ao santuário, em voos charter ou low-cost. Os autarcas do Oeste e da região de Leiria querem contrapartidas do Governo pelo chumbo da Ota e o aeroporto em Fátima pode funcionar como infra-estrutura essencial para dinamizar muitas autarquias. O Governo, sabe o SEMANÁRIO, também está receptivo à ideia, devendo apoiá-la financeiramente, caso tenha viabilidade técnica e ambiental. Para além do turismo religioso, o aeroporto poderia também servir para fins de turismo indiferenciado e mesmo para efeitos de emergência médica para toda a região centro. Quantas mais finalidades o aeroporto puder alcançar, mais viabilidade a sua execução parece ter.
A hipótese de criação de um aeroporto internacional em Fátima começou a ser falada no ano passado, ainda antes de o Vaticano ter lançado o projecto, no Verão passado de promover voos turísticos para vários santuários do mundo. A ideia, porém, nunca foi devidamente acarinhada. Por um lado, a decisão de localizar o aeroporto internacional de Lisboa na Ota tirava sentido e espaço de manobra ao aeroporto de Fátima. Por outro lado, havia autarcas que temiam falar do aeroporto em Fátima, com medo que pudesse prejudicar a concretização do aeroporto na OTA, cuja localização sempre muito atacada apesar da decisão do Governo estar tomada. O tempo viria a dar-lhes razão, ainda que por motivos diferentes.
Só há um mês, depois de o Governo rever a localização do aeroporto para Alcochete, a ideia de Fátima ganhou um novo impulso. Apesar de Fátima ser um destino mais a norte, o facto é que também pode dinamizar a região Oeste, sobretudo no plano das unidades hoteleiras já existentes ou a construir, funcionando como unidades de alojamento do turismo religioso. Refira-se que a localização do aeroporto de Lisboa em Alcochete afastou mais geograficamente os peregrinos de Fátima, o que poderia ser colmatado pela construção da nova estrutura aeroportuária.
Por sua vez, para o governo, um investimento como do aeroporto de Fátima não só é uma oportunidade de atenuar a insatisfação sentida pelas populações do Oeste como se integra na linha global do governo de tentar dinamizar a economia nacional com pacotes de investimento que aumentem o crescimento económico. Como aconteceu na semana passada com o conjunto de projectos e investimentos anunciados por José Sócrates para o Alentejo.
A pouco mais de dois anos das eleições legislativas, o governo pensa cada vez mais em termos eleitorais. Sócrates precisa cada vez mais que as populações sintam resultados concretos, o que só parece ser viável com o crescimento da economia, ou pelo aumento das exportações, como ainda esta semana referiu Cavaco Silva, ou pelo aumento do investimento, público e privado. Por outro lado, depois de a margem Sul ter ficado satisfeita com a adjudicação do aeroporto em Alcochete, Sócrates parece estar ciente de que não se pode descurar o eleitorado da região Oeste, evitando uma votação maciça no PSD nas eleições legislativas de 2009.
A Igreja também está receptiva à ideia, só lhe desagradando a escassa proximidade da localização que é dada como mais provável para o novo aeroporto, a Giesteira, a 5 Km de Fátima, onde já existe um aeródromo. Na verdade, a existência prévia deste aeródromo garante facilidades de construção para um aeroporto internacional. Há, aliás, um estudo em curso para avaliar a viabilidade desta localização, as condições de segurança, o modelo de financiamento e a vertente ambiental, que deve ficar concluído no espaço de um mês, segundo disse ao SEMANÁRIO, o presidente da Câmara de Ourém, David Catarino, um dos grandes entusiastas da construção de um aeroporto em Fátima. Um dos objectivos principais do estudo é avaliar as condições para uma ampliação das pistas, de modo a que o novo aeroporto estivess apto a receber aeronaves com capacidade para 170 passageiros.
A decisão de avançar com o estudo sobre a Giesteira foi tomada em Setembro de 2007, já que a actual pista da Giesteira foi apontada como destino de voos turísticos a partir do Vaticano e de outros pontos da Europa. A atractividade de Fátima nos mercados turísticos internacionais levou, então – mesmo com as limitações inerentes em face da decisão prévia de localização do aeroporto de Lisboa na Ota – várias entidades locais a criarem um grupo de trabalho. Refira-se que o aeródromo é propriedade privada mas que o proprietário, Joaquim Clemente, está disponível para o alienar.
No caso de a localização na Giesteira não ter viabilidade, designadamente por estar muito próximo do Santuário, David Catarino considera que há que encontrar uma nova hipótese de localização, de modo a não perder a oportunidade de colocar Fátima no roteiro de peregrinação do Vaticano e contribuir para o desenvolvimento da região. Recorde-se que tanto o santuário de Lourdes como o de Cracóvia, por exemplo, são servidos por aeroportos muito próximos.

Candidatos à carreira docente sujeitos a exames de três provas

Quem tiver menos de 14 valores numa das três provas – uma comum (Português) e duas específicas (de acordo com o grupo de recrutamento) – será eliminado do ingresso na carreira docente, ainda que seja licenciado e que cumpra um “ano probatório”. Os docentes terão 20 dias úteis para estudar, os exames serão realizados em “centros de provas” e serão “bolsas de professores titulares” a fazer a correcção das provas. Ficam dispensados os que tenham cinco anos de serviço efectivo, que tenham celebrado contrato em dois dos últimos quatro anos e com nota igual ou superior a “Bom”. Sindicatos contestam
a medida que “disfarça o desemprego de milhares”.

Desta vez a exigência de ter “Bom”, isto é, 14 valores, nos exames não é dirigida a alunos, mas aos professores que queiram entrar na carreira docente. Assim o determina o decreto que regulamenta aquela entrada, publicado esta semana em Diário da República.
Na prática, e ao contrário do que se esperava (o Governo chegou a admitir um recuo), a tutela foi intransigente nas regras básicas para ingressar na carreira da docência.
Assim, depois da licenciatura, todos os candidatos terão que passar por três provas, para “assegurar as respectivas capacidades” (de acordo com a opinião do Ministério da Educação), provas essas assim designadas: uma comum e duas específicas, de acordo com o respectivo grupo de recrutamento. E em todas têm de ter um “Bom”, ou seja, não pode ter menos de 14 valores.
Durante duas horas, os candidatos serão obrigados a provar o seu “domínio da Língua Portuguesa, tanto do ponto de vista da morfologia e da sintaxe, como quanto à clareza da sua exposição e da organização das ideias”. Além disso, terá de provar que tem “capacidade de raciocínio lógico, na resolução de problemas” e também de “reflexão sobre a organização e funcionamento da sala de aula, da escola e do sistema educativo”. Isto será a base da chamada “prova comum”.
Todavia, os candidatos poderão ter de efectuar mais duas provas. Desta vez específicas, isto é, na sua área de docência: outro teste escrito e uma oral ou prática, consoante seja oriundo de línguas, ciências experimentais, Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) ou expressões.
Uma coisa é comum e certa, logo à partida: se tiver menos de 14 valores em apenas uma das três, fica excluído da carreira docente. E, tal como acontece em qualquer exame de vulgares alunos, a classificação final é calculada pela média aritmética dos resultados em cada prova.
Como se isto não bastasse, o ingresso da carreira passa a depender de uma prova de avaliação de conhecimentos e competências, seguindo-se depois um “período probatório com a duração mínima de um ano lectivo, durante o qual o trabalho do candidato é supervisionado e avaliado por um professor titular”.
Os professores titulares, que estão no topo da carreira e a quem cabe já as tarefas de gestão e administração das escolas e a avaliação dos colegas para progressão na carreira, vão ter também nas suas mãos a chave da entrada na classe dos candidatos a professores.

Disfarçar o desemprego de milhares

O Governo acha que “com estes exames, a carreira docente fica reservada para quem possui requisitos para um desempenho de grande qualidade”. A ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, faz um “balanço positivo das alterações à carreira”. Defende, mesmo, que “as escolas estão a fazer um esforço enorme para combater o abandono e o insucesso escolar”. E, por isso, conclui que “é em função disso que devemos fazer uma avaliação dos resultados”.
Por sua vez, os sindicatos consideram que a medida pretende “única e exclusivamente disfarçar o desemprego”.
Para Mário Nogueira, secretário-geral da Fenprof, “todo o estatuto da carreira docente está construído para que o ministério veja num grupo de professores os carrascos dos outros docentes”. Diz o sindicalista, com um certo ar de ironia: “Em 90 minutos, num qualquer azar, o jovem é eliminado. Esquece-se que sai da faculdade já sujeito a quatro outros obstáculos, como a avaliação da formação científica, a avaliação no estágio profissional como contratado. E, quando entra para o quadro, vencidas três etapas, ainda está sujeito a um período probatório de um ano”. Para este dirigente da Fenprof trata-se de “uma prova carregada de uma certeza, a de que milhares de jovens são automaticamente eliminados”. E, é, ainda, “uma forma do ministério dizer que as dezenas de milhar de docentes no desemprego não são afinal professores”.
A dirigente da Federação Nacional de Educação (FNE), Maria Arminda Bragança, condena a imposição de uma nota mínima (14 valores)”. Em seu entender é “uma hipocrisia e coloca mesmo a formação concluída em cursos reconhecidos e financiados pelo Ministério da Ciência e Ensino Superior”. De acordo com esta dirigente da FNE “a existir alguma mudança na formação dos professores, esta teria de ser feita ao nível do Ensino Superior”.

Os exames em pormenor

Os docentes vão ter 20 dias úteis para estudar, uma vez que, no endereço electrónico da Direcção Geral de Recursos Humanos será “anunciada a data da prova, 20 dias úteis antes da sua realização”, assim como “um guia, que informará o candidato, desde os custos da inscrição à bibliografia recomendada”.
Sabe-se, ainda, que os exames serão feitos em “centros de provas”, cujos coordenadores (nomeados pelas respectivas direcções regionais) terão de constituir “bolsas de professores titulares que assegurem a correcção das provas”.
Ficarão dispensados da prova, os docentes com cinco anos de serviço efectivo e que tenham celebrado contrato em dois dos últimos quatro anos (anteriores portanto ao ano lectivo de 2007/2008) e cuja avaliação do desempenho tenha sido igual ou superior da “Bom”.
Mesmo assim, para o cumprimento desta lei, o Governo vai ter aprovar, em despacho, o calendário da prova, a duração das orais, os custos das inscrições e a nomeação do designado Júri Nacional.

Galp Energia aprova fusão por incorporação da Gás de Portugal

Foi aprovado o projecto de fusão por incorporação da GDP na Galp Energia. Actualmente a GDP é uma empresa totalmente detida pela petrolífera nacional. Em comunicado à CMVM, a Galp mostrou a intenção de efectuar a fusão sem a convocação de uma assembleia-geral e apontando o primeiro trimestre de 2008 como prazo para a conclusão da operação.

O Conselho de Administração da petrolífera nacional aprovou a fusão por incorporação da Gás de Portugal (GDP), pretendendo desta forma concentrar na GDP Distribuição as participações nas sociedades que desenvolvem actividades ligadas ao gás natural.
Em comunicado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), a Galp informou que “foi aprovado pelos órgãos de gestão das sociedades envolvidas o Projecto de Fusão por incorporação da sociedade por si integralmente detida GDP, na Galp Energia”. O mesmo documento indica que “a fusão será realizada ao abrigo do artigo 116.º do Código das Sociedades Comerciais, sem convocação das assembleias-gerais das sociedades intervenientes, e deverá estar concluída no primeiro trimestre de 2008”.
A Galp afirma ainda que “a fusão não terá qualquer impacto” no trabalho seguido na consolidação das contas, uma vez que se trata de uma “fusão de uma sociedade por si integralmente detida, no âmbito de um processo de reestruturação interna” anunciou em comunicado à CMVM. Fonte da empresa ao SEMANÁRIO disse que este processo possibilitará “a simplificação da estrutura da empresa” sendo a consolidação das contas um dos objectivos primários da fusão.
Foi no início deste mês que a energética nacional decidiu propor ao Conselho de Administração a aprovação da fusão por incorporação da GDP, tendo como objectivo concentrar na GDP Distribuição as participações nas sociedades que desenvolvem actividades ligadas ao gás natural. No comunicado enviado à CMVM, a Galp Energia informou ter deliberado “propor ao Conselho de Administração a aprovação da fusão por incorporação da GDP”, empresa por si integralmente detida, pretendendo “concentrar numa outra sub holding existente, a GDP Distribuição, SGPS, S.A., as participações nas sociedades que desenvolvem actividades ligadas ao gás natural, bem como eliminar um patamar de consolidação e contribuir para a simplificação da estrutura do Grupo Galp Energia”.

Cavaco e as decisões dos reguladorespor Rui Teixeira Santos

O Presidente da República nunca pensou bem o Estado. É apenas um economista e não um cientista político ou mesmo um jurista. Mas as grandes polémicas dos últimos tempos exigem a clarificação das novas formas de intervenção do Estado na sociedade e na economia.

O Presidente da República nunca pensou bem o Estado. É apenas um economista e não um cientista político ou mesmo um jurista. Mas as grandes polémicas dos últimos tempos exigem a clarificação das novas formas de intervenção do Estado na sociedade e na economia. O Estado e a lei são pressupostos dos mercados e não o seu contrário. O primado da política é um princípio que os tecnocratas e a OCDE (leia-se pensamento estratégico americano para exclusivo consumo europeu, ou seja, que não é aplicado nos EUA) não gostam. Mas é da própria natureza do Estado/Polis, enquanto relação contratual de cidadãos, numa sociedade democrática.
A questão coloca-se nos três planos em que foi discutida esta semana: na empresarialização das estradas de Portugal, na eventual ulterior privatização de partes do capital, na decisão sobre o aeroporto da OTA com a consagração do parecer técnico na decisão final e com a relação entre os Governos e as autoridades da concorrência.
Não será necessário dar aqui uma lição de Direito Administrativo Económico, mas interessa firmar uma tendência: o estado moderno europeu é actualmente, mesmo depois das privatizações, muito mais intervencionista do que alguma vez foi. O direito administrativo económico ganha, aliás, nova relevância no Direito Público, desenvolvendo-se hoje a intervenção pública, menos através das empresas públicas ou das entidades empresariais públicas – embora elas continuem a ser decisivas para a realização de algumas funções do Estado – mas, sobretudo, através da actividade regulamentar – desde a CMVM até à Autoridade da Concorrência ou toda a espécie de entidades reguladoras e disciplinas regulamentares das actividades privadas onde a administração pública surge a controlar.
A obsessão do controlo e da intervenção não existe apenas quando o Estado detém o capital das empresas, como se fazia até aos anos oitenta, seguindo, aliás, o modelo recomendado para a Europa – nomeadamente na área das infra-estruturas – pela OCDE para a gestão dos fundos do Plano Marshall e, no caso português – para além dos programas de fomento salazaristas a partir de 1931 ou dos Planos de Fomento quinquenais, a partir de 1953 – com recurso, mesmo, às nacionalizações, nos anos setenta.
Os mesmos economistas que contaminaram as escolas europeias no pós-guerra e que acabaram por chegar ao poder a partir dos finais da década de setenta do século passado, rapidamente perceberam que o “Estado era mau gestor” e que acabava por deixar fora do perímetro do poder áreas sociais relevantes que gostariam de controlar.
Por outro lado, a pressão dos défices públicos forçava os Estados a privatizar, uma política que se revelou essencial para o alargamento das classes médias – capitalismo popular – mas também para se absorverem as enormes quantidades de fundos roubados na URSS, em colapso, ou originários do mercado negro, nomeadamente, da droga, ou ainda dos Fundos de Pensões dos “baby bommers”.
Embora a ideologia dominante, aliás bem assente nas novas doutrinas financeiras neo-liberais (Nozick), apontasse para a ideia do regresso ao Estado Mínimo e à critica aos modelos de apoio social aos empobrecidos pela preguiça ou imprudência, o certo é que a intervenção do Estado se tem vindo a alargar substancialmente. E onde? Exactamente na regulamentação mais apertada e no controlo mais sofisticado da actividade das empresas e das famílias. É aqui que se faz, agora, a fractura entre os organicistas, que querem reformar o Estado para o fazer crescer, e os personalistas que acreditam na iniciativa privada e no humanismo.

A moda das entidades reguladoras

O passo seguinte foi a moda, inaugurada nos anos noventa, das entidades reguladoras, que subtraíram competências aos governos, que apesar de tudo continuam constitucionalmente a ser administrativamente a entidade de recurso, mas que assim evitam o desgaste político da decisão.
Os governos, mesmo os de direita, acabaram por ser muito mais intervencionistas – apesar do aparente respeito pela propriedade privada. Com o advento da massificação ideológica televisiva e com o neo-populismo dominante, os políticos “light” não quiseram assumir a responsabilidade dos seus actos, sem perceberem sequer que com isto estavam a enfraquecer, já não apenas o seu poder, mas sobretudo a ideia que os cidadãos deles guardam.
O Estado tornou-se menos transparente, no sentido em que o escrutínio das decisões políticas passou a ser feito por entidades administrativas, sem verdadeiro controlo por parte dos cidadãos ou dos seus representantes. O défice democrático é patente numa Autoridade Reguladora da Comunicação Social, na Entidade Reguladora das Telecomunicações ou mesmo na Autoridade da Concorrência. Basicamente, eram as antigas Direcções Gerais que, agora, passaram a ser “Autoridades” de competência técnica, que tomam obviamente decisões politicas, em nome da sua alegada competência técnica. Só que, depois, a competência técnica não existe e, sem que haja bom senso nem controlo democrático, assistimos aos disparates da Autoridade da Concorrência ou aos tiques persecutórios económicos da ASAE – que, esta semana, até encerrou um Hipermercado.
Há quem diga que com os salários que se pagam, não é possível recrutar melhor que Abel Mateus ou António Nunes. Mas, o problema não é o facto destes homens não terem bom senso nem competência. O problema é o do modelo do Estado. O problema é político.
Quando, ontem, o Presidente da República aconselhou o Estado e as empresas a respeitarem as decisões das autoridades da concorrência, não alimentando políticas que venham a exigir a intervenção destes reguladores, estava basicamente a subverter o Estado e as relações de hierarquia no Estado. Não é uma autoridade administrativa que se sobrepõe à decisão politica do governo. O Presidente da República não pode dizer que o órgão central da administração se tem que subordinar ao órgão técnico-administrativo.
Ao falar durante a abertura da II Conferência de Lisboa sobre o Direito e a Economia da Concorrência, que decorreu no Centro Cultural de Belém, Cavaco Silva considerou que “é importante que os Governos não alimentem políticas que, mais tarde, venham a exigir intervenções por parte das autoridades da concorrência”, frisando que é também crucial que os Estados, tal como as empresas, respeitem as decisões das autoridades reguladoras”.
Nada disto. Acima das decisões das autoridades reguladoras está a ética, o bom senso, a lei e as decisões políticas dos governos. Só depois é que entram as decisões da Administração Reguladora do Estado, ou seja das entidades reguladoras. Elas – da CMVM à Autoridade da Concorrência, ou mesmo o Banco de Portugal – não são Órgãos de Soberania, mas estruturas administrativas do Estado.
O problema de Cavaco Silva é o mesmo quando se pronuncia acerca do novo Aeroporto de Lisboa. A escolha da localização é política, embora fundamentada em critérios técnicos. A escolha da localização não pode ser de técnicos. Eles não têm a visão do conjunto. A tecnocracia decide sempre mal. Ao empurrar a decisão para o Laboratório Nacional de Engenharia e Tecnologia Industrial, o presidente Cavaco Silva passa a decisão para o “lobby” dos engenheiros, em nome de uma alegada independência e competência académicas, que estariam acima da própria democracia e dos seus representantes.
Ora isto é o que um político não pode fazer, pois está a destruir a confiança que deve existir entre os eleitos e os cidadãos. São intervenções pouco reflectidas como estas que desacreditam a classe política.
Ao colocar no mesmo plano dos órgãos de soberania as entidades reguladoras, Cavaco Silva presta um mau serviço ao País.