2025/07/08

“Com o apoio de Jardim ficou claro que Santana vai ganhar”

Rui Gomes da Silva, vice-presidente do PSD e apoiante de Santana Lopes, diz em entrevista ao Semanário que se antes da declaração de Alberto João Jardim, Santana Lopes era já um candidato com grandes hipóteses de vitória, com o apoio do presidente do Governo Regional da Madeira “ficou claro que Santana Lopes será o próximo líder do PSD.”

Rui Gomes da Silva, vice-presidente do PSD e apoiante de Santana Lopes, diz em entrevista ao Semanário que, se antes da declaração de Alberto João Jardim, Santana Lopes era já um candidato com grandes hipóteses de vitória, com o apoio do presidente do Governo Regional da Madeira “ficou claro que Santana Lopes será o próximo líder do PSD”. O dirigente social-democrata refere também, no âmbito da política geral, que a revisão em baixa sobre o crescimento económico para 2008, confirma que as previsões do governo de José Sócrates eram falsas e irrealistas. Sobre a reforma do mapa judiciário, implicando o encerramento de muitos tribunais, Rui Gomes da Silva refere que “se vai agravar a situação de desertificação do país”, constituindo mais “uma machadada no interior do país”. Por último, em matéria de política externa, Rui Gomes da Silva critica a acção de Sócrates na Venezuela. Em primeiro lugar porque as relações próximas com Hugo Chávez podem prejudicar as relações com alguns países europeus. Basta ver as críticas que o presidente venezuelano fez recentemente a Ângela Merkel. Em segundo lugar pelo facto de descentrar a política externa portuguesa das relações com o Brasil.

Depois do apoio de Alberto João Jardim a Santana Lopes como vê as perspectivas para a candidatura do ex-primeiro-ministro?
Acho que com o apoio do Dr. Alberto João Jardim está defendido o quadro de apoios partidários das maiores estruturas do PSD do país, e isso leva a que o Dr. Santana Lopes seja neste momento, e a partir desse apoio, o melhor candidato para vir a vencer as eleições directas. Se antes era uma possibilidade com grandes hipóteses de obter vencimento, acho que a partir da declaração do Dr. Alberto João Jardim ficou claro que o Dr. Santana Lopes será o próximo líder do PSD.

Qual é a posição do PSD sobre o mapa judiciário? E a sua posição pessoal?
Achamos um erro este braço de ferro que o Governo faz sobre o mapa judiciário. Tive oportunidade de ouvir todas as partes envolvidas na questão do mapa judiciário, o Bastonário da Ordem dos Advogados, o Bastonário da Ordem dos Notários, a Associação Sindical dos Juízes, o Sindicato do Ministério Publico, o Sindicato dos Oficiais de Justiça, todas as partes interessadas na organização da justiça em Portugal, todas estas mesmas partes, todos estes sindicatos, foram unânimes em se pronunciarem contra o mapa judiciário, contra a reformulação apresentada pelo Partido Socialista.
Mas aquilo que para o PSD mais revelou foi que com a presente proposta se vai agravar a situação de desertificação do País, bem como o facto de se seguirem medidas e soluções já tentadas na saúde e na educação, que visam apenas o encerramento de tribunais, como houve o encerramento de hospitais, de centros de atendimento, como há encerramentos de escolas. Portanto, é mais uma machadada no interior do País, é mais uma machadada nesta necessidade de sermos solidários com as pessoas que não vivem nos grandes centros urbanos.

O governo reviu em baixa o crescimento económico. Como avalia estes resultados?
É no fundo a confirmação daquilo que o PSD tem vindo sempre a dizer. Dissemo-lo no debate do orçamento, dissemo-lo mais tarde em vários debates da Assembleia da Republica. Que as realidades que o Governo trouxe para o Orçamento de Estado, e as realidades que fizeram e ainda fazem, é uma maneira de mostrar aos portugueses que é possível uma recuperação, são completamente falsas, são no fundo realidades sem nenhuma sustentação, ou são números sem nenhuma sustentação na realidade. São quadros macroeconómicos que não existem, que não vão existir, e portanto levarão a uma situação económica gravíssima nos próximos meses, até fim de 2009.

O PM está em visita à Venezuela, em vésperas da Cimeira União Europeia-América Latina. Que expectativas têm para essa cimeira?
Deveria ser uma cimeira com a qual Portugal teria grandes expectativas. Não penso que a solução política que está a ser seguida pelo Governo, e com a tentativa de ligação bilateral a alguns países da América latina, seja a melhor, por duas ou três razões. A primeira, não havendo uniões económicas na América Latina, isso dificulta o relacionamento com a Europa, tal como ela existe em termos de união económica, de União Europeia. Depois porque o facto de poderes de soluções calvinistas, estarem a ser seguidas na América Latina dificulta também o relacionamento com uma Europa, com os países democráticos da Europa. Em terceiro lugar porque Portugal deveria privilegiar o relacionamento com o Brasil, e portanto esta tentativa de entendimento com outros países da América Latina que não o Brasil, são situações que, quanto a nós, não deveriam ser uma prioridade. Não deixam de ser importantes, mas a prioridade de Portugal deveria ser o Brasil. Por isso é que houve tanto investimento nos últimos anos, até em Governos em que o próprio primeiro-ministro José Sócrates era membro desse mesmo Governo, estou-me a referir ao governo do Engenheiro Guterres, e por isso a prioridade deveria ser o Brasil. Não percebo por que é que o Governo abandonou essa prioridade. |

“Sinto uma necessidade de renovação no BE”

Francisco Louçã já anunciou que pretende continuar no partido, pelo menos, até às eleições de 2009. Ana Drago, em entrevista ao SEMANÁRIO, elogia as qualidades do líder, que, considera, “até são reconhecidas pelos seus adversários”. A deputada do Bloco realça, no entanto, que “é o momento de se fazer alguma crítica interna e avançar com a renovação de cargos e do projecto político”.

Como é que está a assistir a este aumento exponencial, pelo menos em termos mediáticos, da criminalidade violenta?
Há uma diferença na forma como a criminalidade violenta tem vindo a aparecer no espaço público e os seus números. Há um paradoxo entre a forma como a criminalidade violenta tem preocupado a população e a forma como ela acontece. Nós, hoje, temos a percepção que existem em Portugal redes organizadas de criminalidade sofisticada que fazem tráfico de pessoas, tráfico de droga e tráfico de armas. Portanto, percebemos que ao nível da investigação criminal, na prevenção, não está a haver a capacidade de investigar essas redes. Temos um acesso muito facilitado às armas e temos crimes que têm uma escalada de violência e um número de mortos absolutamente insustentável.

E em resposta, o que se deve fazer?
Deve haver um forte investimento na investigação criminal para desmantelar estas redes e não possibilitar o acesso às armas, que é o que, no fundo, vai criar a criminalidade tão violenta. Mas também temos de ter políticas de prevenção ao nível da população. Temos regiões do país onde, de facto, as pessoas se sentem muito inseguras. E isso não é aceitável num regime democrático.

Esta criminalidade violenta poderá ser uma manifestação da “grave crise social” que o relatório da SEDES diz que Portugal está à beira?
É muito difícil fazer esse tipo de afirmações imediatas. A criminalidade violenta não se relaciona apenas com o angariar recursos para uma pessoa viver. Tem a ver com outro tipo de fenómenos: a desestruturação das redes de bairro, formas de vida, a perspectiva das pessoas terem a trajectória de ingressarem no trabalho e de organizarem uma família. Mas é muito difícil dizer que a criminalidade violenta resulta imediatamente de uma crise social.

O mesmo relatório denuncia uma crescente descredibilização da classe política junto dos cidadãos. Na qualidade de dirigente do BE sente isso?
Na qualidade de dirigente do BE e de cidadã. Existe um enorme descrédito da política democrática, muito em torno dos principais dirigentes. Mas não diria que atinge todos os partidos do espectro partidário.

O Bloco está fora da descredibilização.
Diria que sim. Mas eu sou suspeita a fazer essa avaliação. Creio, também, que esse tipo de avaliação não se estende ao PCP. Ou seja, a descredibilização estende-se mais aos partidos que fazem parte do arco da governação: do PS ao CDS. Histórias que conhecemos de processos que lesaram os interesses públicos e a total descoincidência entre promessas que se fazem em altura de eleições e as práticas governativas levam a que as pessoas sintam uma enorme falta de confiança na classe política.

Excluiu o BE e o PCP da mácula da descredibilização. Existe uma superioridade moral de uma certa esquerda em relação aos restantes partidos?
Não. A superioridade moral não é chamada para a política. Tem a ver com a forma como forças políticas e sociais se organizam e quais são os seus projectos. Não deve existir uma avaliação moral Essa é uma análise que os indivíduos, em casa, farão.
Por vezes fica a ideia que o BE se arroga de uma certa superioridade moral.
Longe disso! O BE discute matérias que tocam a vida das pessoas e que têm a ver com injustiças, ausências de liberdade e atropelos de direitos. Isto não é a mesma coisa do que discutir futebol. Portanto, uma pessoa quando discute matérias destas obviamente que se entusiasma, tem paixão, tem crença e se sente indignada. Não se pode discutir estas coisas como se fosse uma questão teórica ou que não tivesse importância nenhuma. Quando discutimos matérias de política apaixonamo-nos e deixamo-nos levar por essa indignação. Não creio que isso corresponda a mostrar uma superioridade moral. Mas também não aceito que me arrastem e ao projecto político onde estou para a ideia que somos todos iguais e que temos as mesmas responsabilidades naquilo que acontece no país. Não é bem verdade: o meu partido não é financiado pela Somague e há razões para isso.

Mas se o BE chegar à governação…
Essa ideia de que o ocupar o lugar do poder necessariamente implica uma mácula… não creio que seja assim. Não pode ser assim. Nem todos os dirigentes do PS que ocuparam o poder em determinados momentos estão envolvidos nas grandes negociatas do chamado “centrão dos interesses”. Tem de se fazer distinções. Não aceito essa coisa de sermos todos amalgamados. Mas isso não é uma superioridade moral; é uma prática política, uma responsabilidade, um compromisso.

Neste cenário de contestação, Maria de Lurdes Rodrigues tem condições para continuar à frente do Ministério da Educação?
Nenhuma.

Acredita que José Sócrates a vai remodelar?
Não, não acredito. O primeiro-ministro toma isto como um teste pessoal à sua autoridade enquanto chefe do Executivo. Que é a forma mais errada de ver a avaliação dos professores. É necessário avaliar os professores para qualificar o sistema educativo, isso é consensual. O problema é que o Ministério criou um sistema muitíssimo burocrático, que impôs nas escolas a meio do ano lectivo. Nada estava planeado e as escolas ficaram absolutamente assoberbadas.

É só a questão da avaliação que merece crítica?
Há várias questões. O ensino especial, por exemplo, vai ter um efeito gravíssimo sobre os membros mais vulneráveis do sistema educativo. Quando toda a agente percebe que o sistema de avaliação, tal como está montado, é errado e não há ninguém que o defenda; é muito estranho que haja um Governo que insista em levá-lo para a frente. Isso só é explicável da forma como José Sócrates tem apresentado a coisa: como já cedeu, em parte, nas questões da saúde – remodelando um ministro; ele crê que, ao remodelar Maria de Lurdes Rodrigues, o seu Governo perde aquilo que ele gosta de chamar de “ímpeto reformista”. José Sócrates acredita que isto é um teste à sua autoridade. Que é a forma mais errada de ver o problema…

José Sócrates está a personalizar nele próprio esta questão.
Acho que sim. Na entrevista que ele deu à SIC há uns dias a trás, o primeiro-ministro coloca a questão nestes termos: a avaliação dos professores sou eu. Ele quer chegar a 2009 e dizer ao país “contra tudo e contra todos eu impus uma avaliação dos professores”. Está-se a tornar numa birra do primeiro-ministro para afirmar a sua autoridade. E os grandes prejudicados são os alunos.

Há quem diga que o BE é o partido dos professores. Acha que esta contestação vivida na educação tem trazido benefícios eleitorais? As sondagens mostram isso.
Não sei. Grande parte do que é a batalha em torno da educação não passa pelo Parlamento. É muito centrada entre associações de professores, sindicatos e o Ministério. Até se dá pouca relevância ao que sucede no Parlamento ao nível da educação. Nós tentamos confrontar a bancada do PS com os problemas da educação, mas não sei se tiramos dividendos.

O Governo já entrou em campanha eleitoral?
Em parte sim. O Governo já entrou numa lógica de campanha eleitoral. Acho mesmo que aquela que tem sido a actuação da ministra da Saúda é um bocadinho indicativa. A ministra da Saúde não diz nada. Somente diz que está a avaliar o sistema, a ver as propostas, a ver a possibilidade de avançarmos… Havia uma lógica de racionalização do SNS que, agora, fica mais ou menos em stand by. Sem que se saiba o que vai acontecer ao que já fechou ou se o que estava para fechar vai fechar ou não. Mas, acima de tudo, aquilo que são as parcerias público-privadas no âmbito da saúde vão continuar.

E o BE quando é que dá o tiro de partida para a campanha eleitoral?
O Bloco vai tentando sempre construir proposta política. O BE dá o tiro de partida para a campanha eleitoral quando começar a ter a capacidade de estar mais fora do Parlamento.

Acha que o Bloco é um partido fechado na Assembleia da República?
Não, não acho. Nós tentamos sempre, sempre, sempre contraria isso. Esta casa [a entrevista foi realizada no Parlamento] produz muita coisa interna que às vezes não tem assim tanta relevância, mas que prende as nossas agendas pessoais. Todos os deputados do Bloco fazem o esforço de tentar fugir e não perder a capacidade de ir lá fora e falar com as pessoas. No próximo ano, obviamente, devemos apostar mais na capacidade de chamar gente ao Parlamento e de nós sairmos daqui.

Louçã disse que coligações com o PS nem pensar; Sá Fernandes vem dizer que em Lisboa, com ele, não será bem assim. Em que situação ficamos?
Todos nós compreendemos que o acordo que se fez em Lisboa, nestas últimas eleições, resultou da crise política mais profunda que a Câmara Municipal alguma vez viveu. Tinha-se batido no fundo em termos de credibilidade, das dívidas, de capacidade de fazer alguma política para a cidade. O acordo que se fez entre António Costa e José Sá Fernandes foi sobre pontos específicos muito claros. Isso tem permitido, até agora, responder a essa profunda crise que a CML tem vivido. Passados estes dois anos de articulação entre o vereador Sá Fernandes e António Costa, é preciso repensar quais as políticas que Lisboa necessita. É mais clarificador para a cidade se as diferentes forças políticas tiverem a capacidade de apresentar os seus projectos. E acho que José Sá Fernandes também concorda com isto.

Se este balão de ensaio correr bem, por que não continuar com a experiência?
É preciso perceber também o que António Costa pretende para Lisboa. Muitas propostas de António Costa nestas eleições não tinham a ver com a nossa visão para a CML. Nomeadamente, a questão dos despedimentos. António Costa, no início, achava que era necessário despedir grande parte dos trabalhadores. Mas esta articulação entre ele e Sá Fernandes permitiu integrar um conjunto de falsos recibos verdes nos trabalhadores da Câmara.

Se a coligação está a dar frutos positivos…Temos que perceber quais as propostas de António Costa a partir de 2009. Não creio que a política de António Costa para a cidade de Lisboa tem alguma coisa a ver com a proposta de José Sócrates para o país. São duas partes diferentes do PS. Mas não ponho as minhas mãos no fogo. Todos nós ganhamos, em 2009, que os projectos sejam claros. Se António Costa concordar em todos os aspectos com o que tem vindo a ser a estruturação do programa do BE, mas de pessoas independentes como o Sá Fernandes, então, logo se vê. Mas acho que é muito difícil isso acontecer. António Costa será, em parte, condicionado pela estrutura do PS. Podemos ser ingénuos e pensar que tudo correrá bem e que vamos ser todos muito amigos. Mas as coisas são o que são. António Costa, certamente, terá vontade de também fazer distinções em relação ao projecto do BE. Se calhar, é melhor toda a gente clarificar bem qual o seu projecto e as pessoas atribuem a sua confiança a uns ou a outros.

Sá Fernandes é independente. Pode voltar costas ao BE e juntar-se a António Costa.
Creio que não. José Sá Fernandes não está connosco por um acaso. Tem havido um projecto construído entre independentes e o Bloco. Temos tido uma consonância de pontos de vista, que se mantém. Não vejo razão para, subitamente, haver uma mudança de lado.

Não há ninguém no BE que possa suceder a Francisco Louçã? Estamos a assistir à eternização do líder.
Eternização é um bocadinho excessivo. Em 2009 serão dez anos. O problema não é que o BE não tenha tido a capacidade de gerar e criar diferentes dirigentes, responsáveis e protagonistas. O Francisco Louçã – e até os seus adversários o reconhecem – é um excelente porta-voz de um programa político. Uma pessoa muito competente e um excelente comunicador.

Mas não há ninguém no BE que seja tão bom ou melhor que Francisco Louçã?
Não estou a dizer que o Francisco Louçã é a perfeição em pessoa. Ele tem os seus defeitos – e eu bem os conheço. Mas é um excelente porta-voz de um projecto político. Isso, obviamente, cria sempre dificuldades: quem é que é capaz, tão bem, de protagonizar essa passagem de…

… Há medo de suceder ao líder carismático?
Não sei se há medo. Mas há a percepção que a política são propostas, mas também reconhecimentos. As pessoas, na rua, reconhecem o Francisco Louçã e vão ter com ele.

Também reconhecem a Ana Drago. Gostaria de ser líder do BE?
Devo-lhe dizer que não. É uma enorme responsabilidade e é muito trabalhoso. Eu, como dirigente do Bloco e deputada, sinto que às vezes há um momento em que é preciso saber respirar. Nós somos tudo isto mas não somos apenas isto. Enquanto pessoas gostamos de nos interessar por outras coisas. O Francisco Louçã faz por mês 2 mil quilómetros.

Sente internamente uma necessidade de renovação no BE?
Sinto. Até minha. Já estou em política mais visível há 5 anos.

O BE deveria entrar num novo ciclo e emergir uma nova geração?
Acho que essa nova geração vai surgindo. Agora, é preciso que também tenha espaço para fazer a sua afirmação. Uma década é muito pouco tempo para organizar uma força política, mas já é o suficiente para nos permita fazer uma avaliação. Começa a ser o momento de haver uma geração que vem olhar para as forças e fraquezas do Bloco. É o momento de se fazer alguma crítica interna e avançar com a renovação de cargos e do projecto político.

2009 será um ano vários desafios eleitorais. A Ana Drago está disponível para estar presente em quais?
É uma decisão que ainda não tomei. Gosto de ser deputada. Quando chego ao final do dia sinto-me útil e que fiz qualquer coisa que gosto e que mexe comigo. Mas também não sei se devo ficar aqui tanto tempo e não devo ir experimentar transformar o mundo em noutros sítios.

Onde?
Gostava muito de trabalhar numa organização que tivesse um impacto mais local.

Câmara Municipal do Porto, por exemplo?
Não estou a falar de instituições de política, mas da sociedade civil.

Está a ponderar abandonar a política?
É uma questão que está sempre presente. Sou um receptáculo de gente que tem histórias muito dolorosas. E eu tento tornar essas histórias mais visíveis e pressionar o poder de modo a que isso não aconteça. Mas às vezes não consigo resolver os problemas da vida das pessoas – o que é muito frustrante.

Barack Obama ou Hillary Clinton?
John Edwards.|

Os abusos sexuais podem ser inventados?

Freud chegou à conclusão que as experiências sexuais precoces podiam ser imaginadas mais do que realmente vividas e experimentadas. Como articular esta posição com a perspectiva actual de que o abuso sexual infantil é muito mais comum do que se pensava no tempo de Freud, bem como com as denúncias constantes de abuso sexual infantil? Coimbra de Matos, Carlos Amaral Dias, Celeste Malpique, Eurico Figueiredo, Eduardo Sá, Jaime Milheiro, João Seabra Diniz e Rui Coelho deram as suas opiniões ao nosso jornal.


Coimbra de Matos: “O abuso sexual infantil tinha menos visibilidade social. Há, actualmente, um exagero de “denúncias” – é um fenómeno de rebound: a acusação precipitada alimenta a caça às bruxas. Só nos falta um “Ministério de Combate aos Vícios e Exaltação das Virtudes”.

Carlos Amaral Dias: “O que Freud afirmou não é incompatível com a verificação contemporânea de que o abuso sexual infantil é frequente. Porém, a grande maioria dos pacientes que nos procuram para psicanálise, provêm mais dos que “viveram” imaginariamente o que nós designamos por sexualidade infantil do que qualquer experiência proveniente do real.
Quanto ao resto, as fantasias sexuais inconscientes nunca fizeram primeira página dos jornais nem ontem, nem hoje, nem provavelmente amanhã.”

Eduardo Sá: “Se me permite chamar-lhe a atenção, as famílias hoje são, incomparavelmente, mais cuidadosas para com as crianças. No final do século XIX era banal que as crianças (quando não tomavam contacto regular com a sexualidade dos adultos) fossem, precocemente, iniciadas na sexualidade através de episódios de assédio, de abuso e de violação. No século XIX o abuso era, incomparavelmente, mais banal do que no século XXI! Quando Freud reparou nas “cicatrizes” irreparáveis que essas experiências precoces desencadeavam, chamou a atenção para o modo como a sexualização precoce era maligna. E escorregou na sua leitura, quando perspectivou a sexualidade como um eixo de todo o desenvolvimento infantil. Os danos do abuso sexual eram, naquela altura como hoje, tomados como terríveis e malignos. As construções em redor da sexualidade só seriam possíveis, com Freud como hoje, quando as crianças eram, de alguma forma, expostas à sexualidade dos adultos. As crianças nunca fantasiam em torno da sexualidade se nunca forem expostas à sexualidade. Portanto, imaginar, compulsivamente, em torno da sexualidade já supõe um presumível maltrato sexual. Em resumo, construções compulsivas acerca da sexualidade e os abusos sexuais serão dois degraus diferentes de um mesmo continuum que faz com que as crianças adoeçam com a ajuda de maus-tratos seuxais.”

Rui Coelho: “Não sei se necessariamente o abuso sexual é mais comum do que se pensava, o que há e, felizmente, é uma crescente consciência desta problemática, discutida nultifactorialmente de modo a que o cidadão tenha uma apercepção que anteriormente não tinha, fosse por desconhecimento, omissão ou, até, hipocrisia e/ou cinismo. Há, assim, fundamentalmente um maior cuidado e vigilância pelos Direitos da Criança, mas se calhar ainda é preciso fazer mais, pois está-se, potencialmente, a promover uma melhor prevenção na Saúde Mental.”

Jaime Milheiro: “Os processos de construção e de funcionamento da realidade interna em nada contrariam o que hoje se observa.”
“O trabalho fundamental de Freud foi sobre a realidade interna, que será sempre uma organização pessoal e característica de cada um, distinta da realidade externa que é a todos comum. Foi da descoberta dos processos de construção e de funcionamento dessa realidade interna que ele retirou as conclusões que refere, as quais em nada contrariam o que hoje se observa. Trata-se de leituras diferentes, em planos diferentes.”

Eurico Figueiredo: “Tanto o problema do abuso sexual precoce como das fantasias sexuais precoces são, como diria o Marques de la Palisse, possíveis.”
“Os problemas que coloca, o problema do abuso sexual precoce e das fantasias sexuais precoces, são, como diria o Marques de la Palisse, os dois possíveis. O quadro psicanalítico, em si, não é suficiente para em cada caso podermos saber qual é a verdade!”

Celeste Malpique: “A psicanálise é a procura da verdade sobre si-mesmo e não se avança sem algum sofrimento.”
“É o que acontece a qualquer analisando que, inicia a análise com desejo de colaborar para se aliviar dos sintomas que o atormentam e que ,ao longo do processo se debate entre o desejo de se conhecer e a resistência que inconscientemente oferece ao seu autoconhecimento, pois terá de se confrontar com angústias e aspectos que a si próprio ocultava…A psicanálise é a procura da verdade sobre si-mesmo e não se avança sem algum sofrimento.”

João Seabra Diniz: “Os processos psíquicos são também reais, porque são algo realmente vivido pela pessoa e, portanto, são para ela reais”
“A pergunta levanta uma questão fundamental da história da teoria psicanalítica e um ponto de teoria que é impossível esclarecer devidamente aqui. Trata-se do papel da fantasia, da elaboração imaginativa que se faz, ou não faz, das experiências que se vão vivendo, e que pode ter uma dimensão distante da consciência clara. Freud pensou inicialmente que as narrativas que ouvia dos seus pacientes correspondiam a factos realmente acontecidos. Sobre isso baseou uma primeira formulação da sua teoria das neuroses.
Com o andar do tempo, foi descobrindo que a construção imaginativa feita sob o impulso de forças mais ou menos inconscientes e a partir de experiências relacionais, poderia também produzir sintomas, como se se tratasse de factos realmente acontecidos. Lembro-me de um artigo publicado já há bastantes anos no International Journal of Psychoanalysis, que no seu título desusado procurava afirmar a mesma ideia: “A fantasia realiza aquilo que representa”. Quando pensamos em realidade referimo-nos, em princípio à realidade física. No entanto, os processos psíquicos são também reais, porque são algo realmente vivido pela pessoa e, portanto, são para ela reais.
Mas atenção. Freud nunca disse que não existia o abuso sexual das crianças. Disse que os sintomas poderiam ser produzidos pela dinâmica da fantasia, sem que os factos acontecidos correspondessem exactamente ao que era imaginado e à interpretação que se lhes dava.
Penso que sempre se soube que o abuso sexual de crianças não era um acontecimento raro. O que acontece é que actualmente se está mais atento a esses factos, ao passo que anteriormente haveria a tendência a minimizar a sua gravidade. Mais despertos para este problema, temos que reconhecer que, muitas vezes, estamos ainda à procura da melhor maneira de actuar para proteger devidamente a criança, salvaguardando os seus interesses, no imediato e no futuro.”|

A revolução sexual de Freud

Sigmund Freud efectuou uma verdadeira ruptura na sexualidade, ao romper com a sua base exclusivamente biológica, anatómica e genital para fazer dela a essência psíquica da actividade humana, criando também uma teoria totalmente inovadora sobre sexualidade infantil. Os textos de Freud sobre a matéria têm mais de cem anos mas a sua marca de modernidade faz com que pareçam escritos no presente. O SEMANÁRIO publica extractos dos seus ensaios sobre a teoria da sexualidade, editados pela Publicações Europa-América.
“Um aspecto da visão popular da pulsão sexual é que ela está ausente na infância e só desperta no período de vida a que se dá o nome de puberdade. No entanto, isto não é só um simples erro, como também tem tido graves consequências, porque é principalmente a essa ideia que devemos a nossa ignorância quanto às condições fundamentais da vida sexual. Um estudo aprofundado das manifestações da infância revelar-nos-ia provavelmente as características essenciais da pulsão sexual e mostrar-nos-ia o curso do seu desenvolvimento e o modo como é composta a partir de verias fontes.
É visível que os autores que se ocupam a explicar as características e reacções dos adultos dedicam muito mais atenção ao período arcaico compreendido pela vida dos antepassados do indivíduo – isto é – reconhecem muito mais influência à hereditariedade – que a outro período arcaico, que está compreendido no tempo de vida do próprio indivíduo – isto é, a sua infância. Seria de supor que a influência deste último período seria mais fácil de compreender e que deveria ser considerado antes da infância da hereditariedade. É certo que na literatura a respeito desta matéria encontramos ocasionalmente comentários sobre a actividade sexual precoce em crianças pequenas – sobre erecções, masturbação e até actividades que se assemelham ao coito. Mas são sempre citadas apenas como acontecimentos excepcionais, como raridades, ou como exemplos horríveis de uma depravação precoce. Que eu saiba, nem um único autor reconheceu a existência regular de uma pulsão sexual na infância; e a razão para essa estranha omissão deve procurar-se, penso eu, em parte nas convenções sociais, que os autores respeitam devido à maneira como eles próprios foram educados, e em parte num fenómeno psicológico que até hoje ninguém conseguiu também explicar. O que tenho em mente é aquela amnésia peculiar que, no caso da maioria das pessoas, mas de modo algum em todas, lhes esconde o princípio da sua infância, até aos seus 6 ou 8 anos. Até agora, não nos ocorreu sentir qualquer espanto perante essa amnésia, embora pudéssemos ter tido boas razões para fazê-lo. Porque sabemos por outras pessoas que, durante esses anos, dos quais mais tarde nada retemos na memória além de algumas recordações ininteligíveis e fragmentárias, reagimos com vivacidade a impressões, que éramos capazes de exprimir dor e alegria de um modo humano, que dávamos provas de sentir amor, ciúme e outros sentimentos apaixonados que na altura nos emocionavam profundamente, e até fazíamos comentários considerados pelos adultos como excelentes provas de possuirmos um bom discernimento e os começos de uma capacidade de julgamento. E, de tudo isto, depois de adultos, não temos o mínimo conhecimento próprio! Por que razão se deixa ultrapassar a esse ponto pelas outras actividades da nossa mente? Temos, pelo contrário, boas razões para crer que em nenhum outro período a capacidade para receber e reproduzir impressões é maior que precisamente nos anos da infância.
Por outro lado, devemos presumir, ou devemos convencer-nos pelo exame psicológico de outras pessoas, que essas mesmas impressões que esquecemos deixaram no entanto as mais profundas marcas na nossa mente e tiveram um efeito determinante sobre todo o nosso desenvolvimento. Não pode pois haver nenhuma real abolição das impressões da infância, mas antes uma amnésia semelhante à que os neuróticos exibem para com acontecimentos posteriores, e cuja essência consiste simplesmente em manter essas impressões fora da consciência, isto é, em recalcá-las. Mas quais são as forças que provocam esse recalcamento das impressões da infância? A pessoa que conseguir resolver este enigma terá também explicado, penso, a amnésia histérica.
Entretanto não podemos deixar de observar que a existência de uma amnésia infantil nos fornece mais um ponto de comparação entre os estados psíquicos das crianças e os dos psiconeuróticos. Já encontrámos um outro ponto na teoria a que chegámos no sentido de a sexualidade dos psiconeuréticos ter permanecido, ou sido levada de volta, a uma fase infantil. Poderá ser que, afinal de contas, também a amnésia infantil possa estar em relação com os impulsos sexuais da infância?
Além disso, a conexão entre a amnésia infantil e histeria é mais que um simples jogo de palavras. A amnésia, que ocorre devido ao recalcamento, só é explicável pelo facto de o sujeito já estar de posse de um reservatório de traços de memória que foram retirados do uso consciente e que agora, por elo associativo, atraem para si o material que as forças do recalcamento pretendem repelir da consciência. Pode dizer-se que, sem amnésia infantil, não haveria amnésia histérica.
Estou convencido de que a amnésia infantil, que transforma a infância de todos nós em algo de semelhante a uma época pré-histórica e que lhe esconde o começo da sua própria vida sexual, é responsável pelo facto de, regra geral, não se dar importância à infância no desenvolvimento da vida sexual. As lacunas que assim surgiram no nosso conhecimento não podem ser preenchidas por um único observador. Já em 1896 insisti no significado dos anos da infância para a origem de certos fenómenos importantes ligados à vida sexual, e desde então ainda não parei de sublinhar o papel de desempenhado pelo factor infantil na sexualidade.”|

Aliança Santana-Menezes trava avanço de cavaquistas

Nas últimas semanas, Santana Lopes e Luís Filipe Menezes tiveram algumas divergências, o que foi aproveitado pelos cavaquistas para intervirem. Porém, esta semana, os dois homens fizeram declarações recíprocas de admiração e fidelidade, o que pode ter travado, para já, novas investidas dos adversários. Entretanto, caso o líder do PSD aceite a realização de directas antecipadas, antes das eleições legislativas de 2009, o SEMANÁRIO sabe que Ferreira Leite é o nome desejado pelos cavaquistas.

Nas últimas semanas, Santana Lopes e Luís Filipe Menezes tiveram algumas divergências, o que foi logo aproveitado pelos cavaquistas e barrosistas para intervirem. Porém, esta semana, ambos fizeram declarações recíprocas de admiração e fidelidade, o que pode ter travado, para já, novas investidas dos adversários desta direcção do PSD. Estas movimentações dos dois homens, fazendo prever um caminho e depois revelando-se outro, muito diferente, estão a deixar desconcertados, sabe o nosso jornal, muitos opositores de Menezes.
No fim-de-semana, em entrevista à TSF, Santana Lopes referiu que Menezes “tem sido irrepreensível” e que tem uma “relação exemplar” com o líder social-democrata.
Esta terça-feira, na SIC-Notícias, Luís Filipe Menezes correspondeu a esta declaração, de um modo semelhante, até com os mesmos termos. O líder laranja considerou que Santana “tem sido de uma lealdade irrepreensível, cumprindo “escrupulosamente” as decisões da direcção do partido, acrescentando que o líder parlamentar laranja “tem a minha confiança, a minha solidariedade, o meu respeito e o meu apoio. Tinha, tem e terá”. Saber se os dois homens têm sabido resistir a todas as pressões para se tornarem desavindos, conseguindo manter a unidade, ou se tudo não passa de uma encenação política de ambos, visando, precisamente, condicionar a accão política dos adversários, é a grande questão que se coloca. Levar os adversários a cometerem erros de avaliação, pode ser a principal motivação de Menezes e Santana. Refira-se que, nas últimas semanas, assistiu-se a um quase ambiente insurrecional no PSD, daqueles onde o partido tem sido fértil nos últimos anos e que parecem prenunciar movimentações com vista à mudança. Manuela Ferreira Leite multiplicou-se em declarações políticas, Paula Teixeira da Cruz criou o seu clube de reflexão, António Borges reapareceu mais uma vez, Nuno Morais Sarmento acordou da sua hibernação política, já esta semana, para criticar a proposta de Menezes de acabar com a publicidade na RTP 1 caso venha a ser primeiro-ministro. A possibilidade de existirem novas eleições directas no PSD, ainda antes das eleições legislativas de 2009, tornou-se o grande tema de discussão em vários sectores da oposição a Menezes, tendo como base o facto de, já com quatro meses de liderança, o actual líder laranja não ter revelado um programa e uma estratégia coerente para fazer uma oposição eficaz a José Sócrates. Nuno Morais Sarmento referiu, por exemplo, que Menezes não tem correspondido, sequer, como líder da oposição, quanto mais como candidato a primeiro-ministro. Recorde-se que este género de critícas foi o pão nosso de cada dia no tempo de Marques Mendes, inclusivé vindas de Menezes.
No caso de directas antecipadas, a importância de uma campanha junto das bases parece ser crucial. Foi, aliás, este um dos principais segredos da vitória de Menezes. Tendo presente esta realidade, alguns sectores menezistas não se têm cansado de acusar muitos dos críticos do actual líder de não representarem ninguém no partido, a não ser a si próprios, dando, assim, a entender, que teriam poucos votos caso fossem a directas. Porém, a perspectiva dos critícos é pouco sensível a este ataque. Entre os cavaquistas e os barrosistas há a noção de que as lógicas aparelhísticas podem de nada valer se, efectivamete, os militantes social-democratas perceberem que há uma real e forte hipótese de um nome credível e com uma política e estratégia coerente conduzir o PSD de regresso ao poder já nas legislativas de 2009, desfazendo uma meta com que Sócrates já conta. A verificar-se uma luta nestes termos, seria o confronto entre o apelo basista de Menezes e a jogada da cartada do poder, funcionando com uma das naturezas mais fortes do PSD, partido com vocação mais de governo do que de oposição.

Ferreira Leite podia ganhar a Sócrates


Caso o líder do PSD aceite a realização de directas antecipadas, antes das eleições legislativas de 2009 o SEMANÁRIO sabe que Ferreira Leite é o nome desejado pelos cavaquistas. De forma a que se diminuam os riscos e que a estratégia dê certo. Precisamente, combatendo áquela que pode ser a armadilha tecida por Santana e Menezes, levando os adversários a jogo quando já têm montado no terreno, nas distritais e concelhias, através das bases profundas, a cama em que se vão deitar. É aqui que surge o nome de Manuela Ferreira Leite. A ex-ministra das Finanças de Durão Barroso escreveu na semana passada, no “Expresso”, um pequeno artigo com grande fôlego político, começando por dizer que “governar não é um trabalho técnico que se esgota na produção legislativa e não transpõe as paredes do Conselho de Ministro”, numa alusão ao autismo do primeiro-ministro e às criticas de que é alvo de desfazamento da realidade do país, e terminando a dizer que de pouco vale a Sócrates remodelar o governo, diminuindo tensões, quando é o próprio primeiro-ministro que está na origem do problema. Os cavaquistas parecem estar convencidos que nenhum dos nomes que mais se têm agitado nos últimos meses para enfrentarem Menezes, casos de António Borges, Paula Teixeira da Cruz, Aguiar Branco ou mesmo Rui Rio, garante um sucesso fiável. Ferreira Leite tem a grande vantagem de ter mantido pontes com o menezismo e o santanismo, quer no Congresso pós-directas, quer em declarações equidistantes que fez, sempre com a preocupação do interesse do partido, quer, ainda recentemente, através da sua participação central nas últimas Jornadas Parlamentares do partido. Este estatuto de independência de Ferreira Leite poderia ter efeitos paralisantes na estratégia de Santana e Menezes. Por outro lado, segundo os cavaquistas, a ex-ministra teria fortes hipóteses de levar a melhor sobre Sócrates nas legislativas de 2009. Resta saber se Ferreira Leite está disponível para corresponder aos anseios dos opositores de Menezes e Santana.|

A última cartada de Clinton

Na semana que antecedeu o decisivo ciclo de eleições primárias para definir o candidato democrata à Casa Branca, Hillary Clinton e Barack Obama aguçaram
argumentos num aguerrido debate televisivo, em que ambos os candidatos criticaram mutuamente as suas propostas, nomeadamente na área da saúde. Vitórias nos estados do Ohio e Texas são essenciais para Clinton ganhar novo fôlego, contrariando desta maneira as 11 vitórias seguidas de Obama.

Numa altura em que Obama e Clinton ultimam estratégias para atacar a vitória no Ohio e Texas, aumentam o tom nas acusações às suas propostas. Num debate televisivo na Universidade de Cleveland, os dois pré-candidatos à Casa Branca foram bastante duros nas suas acusações, especialmente na área da saúde, ponto crucial da campanha e tópico com especial relevância para os norte-americanos, que se queixam dos mais de 47 milhões de cidadãos norte-americanos sem seguro de saúde.
“Deveríamos fazer um debate baseado em informação rigorosa e não em informação falsa, enganadora e desacreditada, em especial em algo tão importante”, referiu a senadora de Nova Iorque.
Na resposta, Obama lembrou que Hillary se tem referido às propostas que ele fez de forma errada, enganando os eleitores. “A senadora Clinton tem-nos feito constantemente ataques negativos, através de e-mail, panfletos, anúncios e não nos queixamos porque percebemos que essa é a natureza destas campanhas.”
Hillary conta com um apoio de 50% da população no Ohio, contra 43% a favor de Obama. Já no Texas, as intenções de voto encontram-se muito mais próximas: 48% para Hillary contra 47% para Obama, segundo uma sondagem divulgada pelos jornais “The Washington Post” e ABC. No mesmo dia, Vermont e Rhode Island também votarão suas primárias.
Confrontada sobre uma possível retirada caso perca nestes estados, Hillary responde categoricamente que “isso não irá acontecer”, preferindo realçar o empenho colocado nos debates e nas campanhas junto dos norte-americanos.
Segundo alguns analistas, a ex-primeira dama acredita que vencerá nos dois principais estados que participarão nas próximas primárias, mesmo após as 11 derrotas consecutivas sofridas frente ao senador de Illinois. Obama ganhou em todos os estados que foram a votos desde a “superterça” de 5 de Fevereiro, quando 21 estados realizaram as suas votações primárias.
A pensar na proximidade à comunidade latina, os dois candidatos devem ainda ter um novo debate antes da próxima terça-feira. Os latinos são uma comunidade especialmente densa no Texas e estão até agora mais próximos de Clinton, já que Obama representa a comunidade negra, tradicional rival dos hispânicos no mercado de trabalho norte-americano.

Obama já debate com McCain

Mas não só contra Hillary Clinton é que Obama tem debatido ideias. Actual líder nas pesquisas para próximo inquilino na Casa Branca, o senador pelo Illinois abordou o conflito no Iraque, levando o mais que possível candidato republicano John McCain a retomar o debate sobre aquele cenário de guerra.
O impopular conflito é um dos principais temas da campanha. Os democratas defendem uma rápida retirada das tropas, o que, segundo McCain, seria uma forma de rendição e representaria uma vitória para os extremistas islâmicos.
“Tenho algumas notícias”, disse McCain. “A Al Qaeda está no Iraque. Chama-se Al Qaeda no Iraque. Meus amigos, se sairmos, eles não vão estabelecer uma base, vão tomar um país, e não vou permitir que isso aconteça.”
Mas a posição de McCain foi de certa forma afectada por um depoimento na quarta-feira do director dos Serviços Secretos dos EUA, Michael McConnell, ao Senado. McConnell disse que a Al Qaeda sofreu duros reveses no ano passado no Iraque e teve centenas de membros mortos ou capturados, embora ainda seja “capaz de realizar ataques letais”.|