2025/07/05

Euro sobe com possível acção da Alemanha

A moeda única esteve esta semana em alta pela primeira vez em quatro sessões, devido à especulação de que a Alemanha vai agir para reduzir a turbulência financeira na Europa.
O governo da chanceler alemã, Angela Merkel, está a dar sinais finalmente que vai intervir para ajudar a reduzir a turbulência financeira na Europa.

Alemães vão apoiar economias de Leste e o euro

A moeda única esteve esta semana em alta pela primeira vez em quatro sessões, devido à especulação de que a Alemanha vai agir para reduzir a turbulência financeira na Europa.
O governo da chanceler alemã, Angela Merkel, está a dar sinais finalmente que vai intervir para ajudar a reduzir a turbulência financeira na Europa.
Já na quarta-feira o ministro das Finanças alemão, Peer Steinbrück, disse que a Alemanha vai “mostrar a sua capacidade de agir”, no âmbito das dificuldades financeiras sentidas por alguns países da Zona Euro.
“Os países da Zona Euro começaram a reconhecer a importância do sistema financeiro e estão a tomar medidas para lidar com a situação de modo apropriado”, disse um perito do Societe Generale Asset Management à Bloomberg.
Os problemas da falta de financiamento das dívidas de países como a Grécia colocaram em tensão a moeda europeia e a própria credibilidade da Europa política, mas foi depois da ameaça do colapso das economias de leste, a quinta alemã, que Berlim se sentiu pressionada a agir.

Obrigações europeias

A ideia de lançar um pacote de obrigações europeias, mesmo com um prémio elevado para socorrer estas situações, está em cima da mesa, para além da última possibilidade, descartada pelos alemães, do BCE poder avançar para a emissão de moeda.
Quando se fala de obrigações europeias frequentemente referem-se coisas distintas: emitir títulos para financiar projectos de investimento e criar mecanismos de gestão integrada da dívida pública na Zona Euro. Ambas as discussões têm raízes no passado. A actual crise poderá dar “fôlego” às duas.
A ideia de emitir obrigações em larga escala, secundadas pelo Orçamento da UE, marcou o debate nos anos 90, quando o presidente da Comissão, Jacques Delors, propôs no seu “Livro Branco” a construção de infra-estruturas pan-continentais.
A Europa estava, também então, em recessão, mas igualmente em contagem decrescente para a moeda única. E esta estratégia permitia relançar as economias sem comprometer o processo de ajustamento orçamental exigido a cada um dos países para a entrada no euro. A proposta nunca saiu da gaveta, devido à oposição da Alemanha (recentemente reunificada), que receava um aumento da sua “factura” europeia.
As obrigações europeias regressaram agora ao discurso político. Há quem as entenda como foram apresentadas por Delors. Mas há uma corrente cada vez mais forte a defender que têm de ser dados passos concretos para integrar o mercado da dívida pública da Zona Euro.

Banco Mundial defende acção coordenada europeia

No “Financial Times”, de quarta-feira, Robert Zoellick, presidente do Banco Mundial, colocava o dedo na ferida, afirmando que a Europa tinha de ter uma acção concertada para fazer face ao colapso das economias de Leste. O modelo seguido o ano passado para intervir na crise húngara pode ser repetido agora para o Leste, sem que isso signifique necessariamente esquecer o euro, conforme anteviram quarta-feira os mercados.
A Alemanha levou tempo a perceber que o euro estava ameaçado, mas está a ser rápida na percepção das dificuldades no leste.
Para salvar os bancos dos países de leste são necessários apenas 300 mil milhões de euros e provavelmente mais 150 mil milhões para apoio às balanças de pagamentos dos países, valores perfeitamente ao alcance dos alemães. A coordenação entre a Europa e os organismos multilaterais, como o BM e o FMI, pode ser a solução imediata para fazer face a uma crise desencadeada pela falta de crédito nos países de leste, por causa da saída dos bancos da Europa mais rica.

Ministro das Finanças alemão admite possibilidade de socorrer outros países da Zona Euro

O grande sinal veio de Berlim. As coisas estão a mudar e provavelmente a crise pode levar a uma maior coesão europeia. O ministro das Finanças alemão, Peer Steinbrueck, afirmou mesmo, abrindo o jogo, que alguns países da Zona Euro podem ser forçados a socorrer outros Estados-membros da região que estão com problemas em financiar a sua dívida.
“Alguns países estão a começar a ter dificuldades com os seus pagamentos”, alertou Peer Steinbrueck. “Os tratados da Zona Euro não prevêem nenhuma ajuda para países insolventes mas, na realidade, os outros Estados devem socorrer os que estão em dificuldade”, defendeu o responsável da pasta das Finanças da Alemanha.
Peer Steinbrueck recusou-se a nomear os países que estão com em dificuldades, mas adiantou que a Irlanda está “numa situação muito difícil”.

JuergeN Michels, economista do Citigroup, considera muito pouco provável que seja a Alemanha a ajudar os Estados-membros em dificuldades. “A opção mais provável é que o Banco Europeu de Investimento ou outra organização internacional comece a ajudar esses países, através da compra de obrigações públicas ou de ajuda directa”, refere o economista.

Portugal pode ser atingido

A queda das moedas das principais economias do Leste Europeu acentuou-se, ameaçando estes países com uma espiral semelhante à vivida pela Islândia, mas com um efeito potencial de contágio muito maior para a Zona Euro, incluindo Portugal.
O forint húngaro caiu 2,2 por cento face ao euro e registou um novo mínimo histórico. O zloty, a divisa polaca, caiu para um novo mínimo de cinco anos face ao euro, acumulando já uma perda de 36,8 por cento durante os últimos doze meses. E a coroa checa perdeu 2,2 por cento do seu valor para o euro, ficando no mínimo dos últimos cinco anos.
As divisas destes países do Leste europeu parecem cada vez mais frágeis, penalizadas pelo forte abrandamento das economias, o desequilíbrio externo acumulado ao longo dos anos, o elevado nível de endividamento dos agentes económicos em moeda estrangeira e a incapacidade dos respectivos governos para, sozinhos, enfrentarem estas pressões dos mercados. Um cenário que, embora de forma menos grave, faz recordar a espiral de depreciação da divisa em que entrou a Islândia em Setembro do ano passado.
Como afirmava quarta-feira na edição online do “Financial Times” uma analista do Commerzbank, “a capacidade dos bancos, empresas e particulares para fazer face aos empréstimos contraídos deteriora-se a cada depreciação das moedas, o que, por sua vez, reduz ainda mais a confiança nas divisas do Leste europeu”.

Zona Euro penalizada

Para os países da Zona Euro, a ocorrência de um colapso de uma divisa do Leste da Europa traria consequências muito mais graves do que as do caso islandês. Isto porque os bancos da Zona Euro entraram de forma agressiva nestes mercados durante os últimos anos. São elevados os montantes dos empréstimos concedidos em euros a húngaros, polacos e checos e que, a cada depreciação das divisas, ficam mais difíceis de amortizar.
Esta semana, a agência de notação financeira Moody’s alertou para a possibilidade de redução dos ratings atribuídos aos bancos da Zona Euro com uma presença forte nos mercados do Leste europeu. Estão em causa activos que ascendem a mais de 1000 milhões de euros. A Áustria é, de longe, o país mais exposto, já que, segundo a Moody’s, metade do seu negócio se realiza nos países do Leste europeu. Mas Portugal também não escapa aos efeitos de contágio, com destaque para a forte presença na Polónia da Jerónimo Martins e do BCP.
Recorde-se que esta ameaça já levou o Banco Central Europeu, no final de 2008, a dar uma ajuda à Hungria, quando o país passou por uma primeira ameaça de colapso da sua divisa. Agora, torna-se cada vez mais provável uma nova intervenção deste género.

“Spread” nacional no máximo

Se, nos países do Leste europeu, as pressões dos mercados se fazem sentir por via da depreciação das divisas, dentro dos países da Zona Euro os problemas surgem através da subida do custo da dívida pública.
Esta semana, os países em que o risco de incumprimento do Estado no pagamento da dívida pública é considerado maior – Grécia, Irlanda, Portugal, Itália e Espanha – viram o diferencial dos juros das suas obrigações subir de forma acentuada face à Alemanha.
No caso português, a diferença das emissões a 10 anos chegou aos 174,9 pontos base, constituindo novo máximo desde que o euro foi lançado.
É neste cenário que têm vindo a aumentar os apelos para a criação de uma emissão de obrigações pan-europeias, que permitissem a todos os países financiar-se no mercado ao mesmo preço. O problema é que, como assinalou ontem um analista da Standard & Poor’s, o risco atribuído a uma emissão desse tipo seria igual ao do país actualmente com o risco mais elevado. Ou seja, a Alemanha poderia ter de aceitar endividar-se a uma taxa semelhante à hoje suportada pela Grécia. Todas estas pressões, em conjunto com os riscos de contágio do Leste europeu, constituem uma ameaça à união monetária europeia e colocaram ontem o euro no seu valor mais baixo dos últimos três meses face ao dólar.
Mas este tipo de problemas é um exclusivo da Europa. Nos EUA, o estado da Califórnia, que se fosse um país teria a oitava maior economia do mundo, está cada vez mais sob a ameaça de um default na sua dívida. O governador Arnold Schwarzenegger já avisou que se o aumento de impostos que propõe não for aprovado terá de parar centenas de obras públicas e despedir milhares de funcionários.

UE encaminha processo contra países com alto défice orçamentário

Após avaliar programas de estabilidade de 17 países membros da UE, a Comissão Europeia encaminha processos contra seis por causa de défice orçamentário excessivo.
Nesta quarta-feira (18/02), a Comissão Europeia avaliou a política orçamentária de 17 países membros. Apesar da crise económica e financeira, a Comissão não pretende deixar de controlar o novo endividamento dos Estados-membros, limitado a 3% do Produto Interno Bruto (PIB) pelo Pacto de Estabilidade do euro.
Sobretudo quatro países estavam na mira da Comissão Europeia: França, Espanha, Irlanda e Grécia. No ano passado, o défice orçamentário das quatro nações já ultrapassou a taxa máxima permitida pelo Tratado de Maastricht. No ano corrente, o novo endividamento de tais países deverá ser ainda maior.
Por esse motivo, o espanhol Joaquín Almunia, comissário europeu de Assuntos Económicos e Monetários, encaminhou nesta quarta-feira processo por défice excessivo contra esses quatro países, além de Malta e Letónia. No final do processo, o Conselho de Ministros das Finanças da UE poderá aplicar multas de 0,2% a 0,5% do PIB aos infractores do Pacto de Estabilidade.

Saneamento das finanças estatais

As regras do Pacto de Estabilidade assinado pelos 27 países membros da UE são, em princípio, simples. Se um país ultrapassar por dois anos consecutivos o limite de novo endividamento, terá problemas com Bruxelas. Neste caso, a Comissão Europeia poderá processá-los e impor multas bilionárias. Para isso, no entanto, é necessária uma maioria de dois terços no Conselho de Ministros.
Em 2005, o pacto foi reformulado. Em situações como a actual crise económica, a marca de referência para novo endividamento pode ser levemente ultrapassada, de forma temporária. Almunia lembrou que, devido à difícil crise financeira e económica actual, os orçamentos públicos dos países membros da UE estão sobrecarregados.
Almunia argumenta que a aplicação do Pacto de Estabilidade ajuda a sanear as finanças estatais, para que as próximas gerações não sejam prejudicadas. O comissário ressaltou ainda que o pacto deve ser usado de forma flexível, sem colocar em risco a credibilidade da política fiscal.

Alemanha ainda não ultrapassou limite

Com um défice orçamentário de 2,9% neste ano, a Alemanha ainda não pertence aos países a serem advertidos por Bruxelas. Segundo prognóstico da UE, no entanto, o país poderá ultrapassar o limite de 3% em 2010.
A França, por outro lado, deverá apresentar, em 2009, um défice orçamentário de 4,4%; a Espanha, de 5,8% e a Irlanda, de 9,5%.
Almunia apresentará as suas avaliações ao Comité Económico e Financeiro da UE, além de um cronograma para redução do défice. Esse grémio, com representantes dos países membros, da Comissão Europeia e do Banco Central Europeu (BCE), tem um prazo de duas semanas para dar seu parecer.
Após isso, o comissário espanhol poderá dar entrada formal no processo por défice excessivo, algo ainda a ser votado pelo Conselho de Ministros.
Além dos 17 países membros submetidos a avaliação nesta quarta-feira, Bruxelas analisará os programas de estabilidade da Itália, Luxemburgo, Portugal e Lituânia em 25 de Fevereiro próximo.

Crise agrava quadro

Programas conjunturais bilionários e as sequelas da crise financeira fizeram com que o défice orçamentário voltasse a subir nos países da União Europeia.
Para evitar o pior – uma profunda recessão -, o Estado está implementando programas de ajuda conjuntural, suprindo a baixa da demanda privada, apoiando os bancos e evitando assim o colapso do sistema financeiro. Isso sobrecarrega ainda mais os orçamentos públicos. Resta saber se algum dia essas dívidas poderão ser pagas.
Aliás, segundo um membro do Banco Central Europeu (BCE), Lorenzo Bini Smaghi, a economia da Zona Euro enfrenta a “mais séria crise económica desde a II Grande Guerra Mundial”.
A recessão mundial “vai ter sérias repercussões nas nossas economias e na edificação das nossas sociedades”, afirmou Bini Smaghi, num evento em Berlim, citado pela Bloomberg, acrescentando que “eles vão estar expostos a constrangimentos e a um ‘stress’ severo”.
O Fundo Monetário Internacional, no dia 28 de Janeiro, reviu em baixa as suas estimativas para o crescimento económico a nível mundial para 0,5% dos anteriores 2,2%.
Isto, a acontecer, será a mais fraca expansão desde a II Grande Guerra Mundial.
A economia da Zona Euro contraiu-se o máximo no quarto trimestre, desde que há registos, ou seja, desde 1995, uma vez que a crise financeira prejudicou as exportações e as empresas reduziram o investimento.
“Tenho a sensação que alguns responsáveis políticos pensam que as suas economias vão regressar ao estado equilibrado que tinham antes do início da crise”, afirmou o responsável, acrescentando que “eles parecem não estar a perceber que isso já era, na verdade um estado de desequilíbrio, caracterizado pelo excesso de empréstimos ao sector privado. Esta percepção poderá conduzir a decisões políticas inadequadas”.
Uma lição que se retira da crise é a de que a política monetária deve permanecer orientada de forma estável e não “ceder a pressões”, sublinhou Bini.
Os responsáveis do BCE, nomeadamente o presidente do BCE, Jean-Claude Trichet disseram que estão relutantes em seguir o exemplo da Reserva Federal dos EUA em baixar os juros para perto de zero.
“O que é mais importante para nós é que os responsáveis políticos não se concentrem meramente em soluções de curto prazo e, em vez disso, adoptem uma perspectiva de longo prazo, com o objectivo de assegurar uma recuperação sustentada”, disse Trichet no Parlamento esta semana.
O responsável disse ainda que “também precisamos de nos assegurar que as decisões de hoje não provoquem desordens no futuro”.

Resultados em Portugal

Entretanto, o impacto dos pacotes de apoio começa a fazer-se sentir. O primeiro-ministro, José Sócrates, anunciou que as medidas de apoio ao emprego, que entraram em vigor no último dia de Janeiro, já envolveram 12 mil pessoas.
“São pessoas que estariam no desemprego se não fossem estas medidas”, disse José Sócrates à saída de uma reunião da Comissão Permanente de Concertação Social.
A reunião teve como objectivo dar a conhecer aos parceiros sociais os resultados das medidas de combate à crise que o governo tem vindo a pôr em prática, nomeadamente na área do emprego.
Por seu turno, o governador do Banco de Portugal, Vítor Constâncio, considera que as medidas orçamentais já anunciadas pelo Governo ainda não produziram o seu efeito, mas ao longo de 2009 deverão contribuir para controlar “o ritmo de recessão.” Ao mesmo tempo o governador garante que os bancos estão a financiar a economia. Recorde-se que os bancos nacionais não têm problemas de activos tóxicos, estando inclusivamente a conseguir emitir dívida não garantida pelo Estado.
Vítor Constâncio, que falou à margem de um encontro que a CIP está a realizar com associações de empresários, salientou que o ano de 2009 vai ser de recessão mundial, “o que acontece pela primeira vez desde a II Guerra Mundial, com consequências que se prolongarão em 2010, onde pode já haver um crescimento positivo relativamente fraco”.
“No quarto trimestre houve um colapso do comércio mundial. Esperamos que não continue ao mesmo ritmo, até porque as medidas que foram tomadas pelos Governos e bancos centrais começam a produzir efeito”, salvaguardou o governador.
“As medidas orçamentais ainda não se concretizaram devidamente. Ao longo de 2009 esperamos que produzam os seus efeitos e controlem o ritmo de recessão”, acrescentou a mesma fonte.
Por outro lado, Vítor Constâncio avança ainda que actualmente não há um problema de financiamento às empresas e que a subida dos “spreads” está enquadrada num mercado “liberalizado” e onde há concorrência.

Juergen Stark
Membro do BCE afasta cortes agressivos dos juros perante ausência de risco de deflação
Juergen Stark, membro do conselho de governadores do Banco Central Europeu (BCE), considera que os “cortes agressivos nas taxas de juros aumentam a incerteza” e sublinhou que o BCE irá manter a sua política monetária, no combate à crise económica global, dado que a região não enfrenta riscos de deflação.
As afirmações foram feitas ao “Financial Times”, numa entrevista publicada na edição de ontem. Stark admitiu que o preço do dinheiro na Zona Euro poderá voltar a descer, mas salienta que não deve ser reduzido até níveis muito baixos, ou de uma forma muito rápida.
O BCE já efectuou quatro cortes na taxa de juro, desde Outubro. Dos 4,25%, a taxa directora foi descendo até aos actuais 2%. Na reunião deste mês Jean-Claude Trichet, presidente da autoridade monetária, manteve inalterada a taxa, admitindo efectuar uma nova redução do preço do dinheiro em Março.
Juergen Stark justifica a perspectiva de que não se deve reduzir as taxas de juro de uma forma muito agressiva, com o facto de acreditar que a economia da região, que está em contracção, não enfrentar o risco de deflação. Na mesma entrevista, sinalizou que o BCE poderá rever em baixa as previsões de crescimento e de inflação já no próximo mês.

Juros
Euribor regista primeira subida em 92 sessões

A taxa Euribor a doze meses registou ontem uma subida, interrompendo o ciclo de quedas que vinha a registar desde 10 de Outubro.
Assim, a Euribor a 12 meses avançou para os 2,085%, a primeira subida desde 10 de Outubro.
Já a Euribor a três meses, usada como referência sobretudo para os créditos às empresas, caiu para 1,888%, o valor mais baixo de sempre e inferior à taxa de referência do Banco Central Europeu (BCE), que é de 2%, enquanto a Euribor a seis meses, a taxa mais utilizada nos créditos à habitação do mercado português, desceu para 1,982%.
Os analistas são unânimes em esperar uma nova descida dos juros pelo BCE em Março, uma vez que é esperado agravamento das condições económicas na zona euro.
Os mercados aguardam por um sinal da Alemanha, que irá intervir para travar a turbulência financeira na Europa, depois do ministro das Finanças alemão ter afirmado que é altura da maior economia europeia mostrar o que pode fazer neste campo, disseram especialistas à Bloomberg.

Greenspan diz que os EUA podem não estar a fazer o suficiente para obter a recuperação
Nacionalizações na agenda americana

O choque entre os liberais americanos e os defensores das soluções europeias está a dividir a sociedade americana. As nacionalizações aparecem como solução para economistas próximos de Obama, que vão na linha das soluções socialistas da Europa, enquanto a grande maioria dos senadores republicanos continua reticente aos avanços socialistas da nova administração. Mas esta semana Greenspan veio também ele abrir a porta a uma maior intervenção pública.
Os Estados Unidos podem estar a fazer muito pouco para reparar o seu sistema financeiro e promover a desejada recuperação económica. Esta foi a opinião de Alan Greenspan, antigo presidente da Reserva Federal norte-americana, expressa esta semana.
O Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, assinou esta semana a lei de aprovação do pacote de estímulo económico no valor de 787 mil milhões de dólares (622 mil milhões de euros). O estímulo económico será dado através de reduções de impostos e mais investimento federal.
Obama comprometeu-se também a consagrar a maioria dos 315 mil milhões de dólares que restam do fundo de resgate da banca, aprovado pelo Congresso em Outubro, à revitalização da indústria financeira.
Mas Greenspan declarou à Bloomberg, em entrevista antes de um discurso no Clube Económico de Nova Iorque, que “a quantidade de dinheiro de ambos os pacotes poderá não ser suficiente para solucionar o problema”.
No discurso em Nova Iorque, o antigo presidente da Fed afirmou que a actual crise é algo que acontece uma vez num século e que acabará por passar. Recorde-se que a economia norte-americana registou a mais forte contracção desde 1982, ao desacelerar 3,8%, em ritmo anual, no quarto trimestre de 2008.
Greenspan, que dirige agora a sua empresa de consultadoria em Washington, advertiu para o facto de o impacto positivo que poderá advir do pacote de estímulo poder eclipsar-se, se os EUA não conseguirem resolver os problemas do seu sistema financeiro. “À luz da experiência do Japão na década de 90, temos de garantir que a reparação do sistema financeiro precede qualquer grande estímulo orçamental”, comentou.
Aquele responsável considera também que, para se estabilizar o sistema bancário e restaurar os níveis habituais de concessão de crédito, são necessários mais fundos para o programa de compra de activos tóxicos (TARP).
Greenspan salientou igualmente a importância do reforço de capital na banca. “Os bancos não vão conceder mais crédito enquanto não se sentirem confortáveis com a quantidade de capital que detêm”, declarou.
Greenspan sublinhou também a importância de travar a queda dos preços das casas, situação que está a penalizar a banca. “Enquanto não conseguirmos estabilizar o segmento dos activos dos balanços da banca, esta crise não terminará”, disse.
Os bancos norte-americanos registaram 758 mil milhões de dólares de perdas com o crédito desde que a crise começou. Muitas dessas perdas estão relacionadas com investimentos hipotecários que perderam valor com o colapso do mercado imobiliário.
“Lamentavelmente, a perspectiva de preços estáveis das casas ainda está a muitos meses de se efectivar”, considerou Greenspan, adiantando que o declínio do mercado imobiliário e a forte queda dos mercados accionistas de todo o mundo já destruíram mais de 40 biliões de dólares de riqueza, o que equivale a dois terços do PIB mundial do ano passado.

INE
Economia afunda mas emprego resiste

Apesar de a economia portuguesa ter afundado no último trimestre de 2008, a taxa de desemprego manteve-se, durante esse período, praticamente inalterada, ao subir uma décima face ao trimestre anterior, mas permanecendo nos mesmos 7,8% que haviam sido registados no último trimestre de 2007.
Segundo o INE, a população desempregada – estimada em 437,6 mil indivíduos – sofreu mesmo um decréscimo de 0,4% face ao trimestre homólogo de 2007, ainda que tenha aumentado 0,9% em relação ao trimestre anterior.
Feitas as contas para o conjunto do ano de 2008, a taxa de desemprego média foi de 7,6%, o que traduz uma descida de 0,4 pontos percentuais por comparação com 2007. Em termos absolutos, a população desempregada situou-se em 427,1 mil indivíduos, tendo diminuído 4,8% em relação ao ano anterior. A população empregada, por seu turno, registou um acréscimo anual de 0,5%.
Este desfasamento entre a evolução da actividade e do mercado de trabalho é um fenómeno normal, em especial na economia portuguesa, mas a maioria dos analistas antecipava que, em face da profunda retracção do PIB observada na recta final do ano, os números do desemprego fossem já mais sombrios.
A economia nacional registou uma contracção de 2,1% no quarto trimestre do ano passado, em termos homólogos, e “encolheu” 2% em relação a trimestre anterior, deixando, no conjunto do ano, a taxa de crescimento em zero.

Fortes quebras no investimento e exportações explicam contracção portuguesa

Por outro lado, a contracção da economia portuguesa no quarto trimestre do ano ficou a dever-se sobretudo “às reduções significativas do investimento e das exportações”, assinala o Instituto Nacional de Estatística na síntese económica e de conjuntura. O INE tinha já revelado que o PIB português recuou 2,1% no quarto trimestre do ano passado, face ao mesmo período de 2007, embora não avançasse na altura com a evolução das componentes do PIB.
Na síntese económica e de conjuntura, o INE adianta que a quebra do PIB ficou a dever-se sobretudo “à forte contracção do investimento e das exportações”.
Segundo a mesma fonte, o indicador de clima económico e o indicador de actividade económica voltaram agravar-se do terceiro para o quarto trimestre, sendo que “em Janeiro, o indicador de clima económico atingiu o mínimo histórico da série iniciada em 1989”.

Eurostat aponta para 32,1 mil milhões de euros
Zona Euro teve um défice comercial recorde em 2008
A Zona Euro registou o pior défice comercial da sua história em 2008, tendo atingido os 32,1 mil milhões de euros, segundo os dados do Eurostat, o gabinete de estatísticas europeu, que apresentou hoje a sua primeira estimativa para a balança comercial da UE e da Zona Euro de Dezembro de 2008.
Em 2007, a Zona Euro registara um excedente comercial de 15,8 mil milhões de euros. Desde a sua criação em 1999, a Zona Euro já conhecera dois anos de défice comercial, mas nunca tinha ultrapassado os 30 mil milhões de euros.
A União Europeia no seu conjunto registou também em 2008 o pior resultado desde 1999. O défice comercial dos 27 países da UE agravou-se cifrando-se em 241,3 mil milhões de euros, contra um saldo negativo de 192,4 mil milhões em 2007, o que representa uma subida de 25,4 por cento.
É a primeira vez desde 1999 que o défice comercial da UE ultrapassa os 200 mil milhões de euros, precisa o Eurostat.
No mês de Dezembro, a Zona Euro registou um défice do seu comércio exterior de 700 milhões de euros, quando em Novembro tinha sido de 5,8 mil milhões em Novembro. As exportações caíram 0,9 por cento face a Novembro, enquanto as importações recuavam 3,9 por cento face ao mês anterior.

Cunha Rivara, o Orientalista português faz 200 anos

Ao contrário de portugueses com mentalidade colonial e interessados em implantar a língua portuguesa, ignorando ou desprezando as culturas nativas, Cunha Rivara acreditava que a língua portuguesa só podia ser melhor difundida em Goa através das línguas vernáculas dos goeses, nomeadamente o Concani e o Marata, como meio da instrução pública.

J. H. da Cunha Rivara: o Orientalista português faz 200 anos

Joaquim Heliodoro da Cunha Rivara foi filho de uma linhagem não-portuguesa, uma mistura de famílias italiana e espanhola. Nasceu em Portugal, em Arraiolos, região famosa pelos seus tapetes, em 23 de Junho de 1809. Comemora-se este ano o 2.º centenário do seu nascimento. Cunha Rivara, além de uma rua com o seu nome, tem também um agrupamento de escolas a ele dedicado. Embora formado em Medicina pela Universidade de Coimbra, tal como fora o caso do seu pai, começou a sua carreira como professor de filosofia nas escolas, e serviu como bibliotecário na Biblioteca Pública de Évora. Foi eleito deputado para a Assembleia da República em 1853, e terminou a sua carreira como secretário do Governo e comissário de Estudos na Índia Portuguesa. Ficou quase 22 anos na Índia e regressou a Portugal em 1877, onde morreu dois anos depois, sem qualquer sinal visível de reconhecimento público. Não era de admirar perante a tradição portuguesa de ciúme e inveja que o célebre jesuíta luso-brasileiro António Vieira descreveu no seu estilo inimitável: “Lusitânia, assim chamada, porque não deixa a ninguém luzir.” Este será o primeiro de uma série de artigos que lhe irei dedicar, no decorrer deste ano, para lembrarmos este administrador-historiador que deixou a sua marca em Goa, combinando patriotismo com investigação e estudos.
Ao contrário de portugueses com mentalidade colonial e interessados em implantar a língua portuguesa, ignorando ou desprezando as culturas nativas, Cunha Rivara acreditava que a língua portuguesa só podia ser melhor difundida em Goa através das línguas vernáculas dos goeses, nomeadamente o Concani e o Marata, como meio da instrução pública. Logo após a sua chegada a Goa, Cunha Rivara transmite esta sua convicção numa conferência de inauguração da Escola Normal em Nova Goa (Panjim), em 1 de Outubro de 1856. O texto da sua conferência saiu publicado no Boletim do Governo, n.º 78″.
Dois anos mais tarde, em 1858, produziu o seu Ensaio Histórico Recomendável na Língua Concani. Ao contrário de muitos outros textos portugueses que não encontraram tradutores, A.K. Priolkar decidiu incluir uma tradução do Ensaio como Parte II do seu livro “The Printing Press in Índia” (Bombay, Marathi Samshodhana Mandala, 1958, pp. 141-236) para comemorar o centenário da sua publicação, e como parte das celebrações do 4.º centenário da introdução da invenção de Gutenberg em Goa. Infelizmente, A. K. Priolkar procurou puxar a brasa à sua sardinha, fazendo um aproveitamento ideológico para a sua campanha contra Concani. Defendia que Concani era dialecto ou versão corrupta do Marata. As opiniões do orientalista Robert X. Murphy e do carmelita italiano Francis Xavier, citadas por Cunha Rivara, serviam bem as expectativas de Priolkar. A vivência e os conhecimentos culturais de Cunha Rivara na Península Ibérica fizeram-no mais sábio, se não era mera prudência respeitar a semelhança e a distinção do Marata e Concani, desenhando paralelo com as línguas espanhola e portuguesa. O Ensaio de Cunha Rivara deveria ser divulgado entre os jovens nas escolas de Goa para ser conhecido do público comum uma versão fiável das vicissitudes da língua Concani durante o domínio colonial português. Até quase 1684 a Igreja católica em Goa estimou e activamente cultivou a língua Concani como um meio eficaz da pregação do cristianismo e exercício pastoral. Os decretos dos cinco concílios provinciais da Igreja em Goa, entre 1567 e 1606, bem como a Constituição da Arquidiocese de Goa e instruções das ordens religiosas aos seus sacerdotes nas paróquias, insistiram sempre na necessidade de produzir catecismos, confessionários, vocabulários e gramáticas que permitissem aos missionários interagir com os naturais. Ironicamente, foi durante esta fase aparentemente positiva que Concani absorveu uma grande dose da influência portuguesa. Enquanto os colonizadores podem vê-lo como o enriquecimento de Concani, os linguistas indianos (inclusive S.R. Dalgado na sua Introdução ao seu Dicionário Português-Concani, Bombaim, 1905, páginas XV-XVI) viram este facto como enfraquecimento da língua.
Cunha Rivara atribui a modificação da atitude dos missionários face à língua Concani a partir do século XVII à falta de zelo e perda do “cheiro da santidade”. Cunha Rivara, bem como a maior parte dos investigadores até à data, inclusive o jesuíta Delio Mendonça, o actual director do Xavier Centre of Historical Research em Goa, que na sua tese de doutoramento publicada recentemente Conversions and Citizenry (2002), não conseguiram ver a conexão entre o conflito crescente entre os religiosos brancos e o número crescente dos clérigos nativos que reivindicavam o seu legítimo lugar na hierarquia e serviço pastoral.
O descontentamento do clero nativo e a sua exigência para assumir os cargos de párocos foram vistos como uma ameaça ao seu sustento pelas ordens religiosas, que resistiram com unhas e dentes às pretensões do clero nativo. Apelaram à coroa como autoridade legítima sobre a Igreja do Padroado, ultrapassando a autoridade dos arcebispos locais, que, como era o caso do Frei Brandão em 1680, mostrava-se favorável aos padres nativos. É óbvio neste contexto que os franciscanos e os jesuítas promoveram e defenderam a legislação anti-Concani de 1684 para privar os clérigos nativos da sua vantagem linguística e cultural perante os paroquianos. Há correspondência inédita dos franciscanos da província goesa de Bardez com a coroa portuguesa, conservada na Biblioteca Nacional de Lisboa. Descrevem os padres naturais como bêbados e devassos, com ódio aos homens de pele branca (linguagem realmente racista mesmo no nosso tempo) por temerem que eles os denunciassem às autoridades! O único objectivo deste discurso racista foi convencer o rei que os padres naturais não eram moralmente e politicamente competentes e dignos para se lhes confiar as paróquias.
Apesar do conhecimento deste passado e as implicações racistas da legislação anti-Concani, o patriotismo de Cunha Rivara não lhe permitia às vezes ser fiel às tarefas de historiador imparcial. Cunha Rivara ocupou o cargo de secretário do Governo durante os tempos turbulentos do Motim dos Cipaios (1857) e a sua preocupação esteve direccionada para o fluxo dos rebeldes da Índia britânica para a jurisdição portuguesa do Estado da Índia. Os Arquivos de Goa guardam a correspondência classificada como Estrangeiros, onde se pode investigar mais sobre esse assunto. A montagem da rede de telégrafo nessa altura veio ajudar na coordenação das operações “antiterroristas” entre os dois poderes coloniais. As autoridades portuguesas na Índia colaboraram com o poder britânico nessa crise, mas não cederam os rebeldes refugiados em Goa ao braço judicial inglês. Concordaram que fossem deportados para Timor algumas centenas de rebeldes (incluindo inteiras famílias). A deportação foi efectuada utilizando transporte marítimo provido pelos ingleses, que queriam assegurar que os elementos rebeldes chegassem ao longínquo destino. A Coroa britânica, grata pelos serviços prestados por Cunha Rivara, queria homenageá-lo com condecoração, o que não veio a acontecer devido ao veto do Governo Português.
É nesse contexto do Motim dos Cipaios e dos goeses que serviam no exército Marata, como era o caso dos Pintos de Candolim, Cunha Rivara dedicou-se ao estudo de uma conjuração dos sacerdotes e militares goeses, que um século antes (1757) planeavam expulsar os portugueses de Goa. Cunha Rivara intitulou o seu livro “A Conjuração dos Pintos”, embora os Pintos não fossem os protagonistas da conjuração. Teremos mais sobre este assunto e outros nos artigos que se seguirão. Para já concluo com referência passageira a uma polémica que Cunha Rivara lançou, sugerindo no seu Ensaio que a casta Chardó entre os católicos goeses talvez fosse uma versão católica da subcasta Karadhe de Brâmanes na região Maharashtra-Karnataka.

Director do Departamento de História na Universidade Lusófona (Lisboa) e Sócio da Academia Portuguesa da História

“Não há falta de médicos, estão é mal distribuídos”

Um estudo da Entidade Reguladora da Saúde revela que Portugal tem uma média de 6,39 médicos de família por cada 10 mil habitantes. Curiosamente esta relação supera a meta prevista para o ano de 2010 pelo Plano Nacional de Saúde.

Portugal tem uma média de 6,39 médicos de família por cem mil habitantes

Um estudo contraria a versão oficial: “Não há falta de médicos, estão é mal distribuídos”

Um estudo da Entidade Reguladora da Saúde revela que Portugal tem uma média de 6,39 médicos de família por cada 10 mil habitantes. Curiosamente esta relação supera a meta prevista para o ano de 2010 pelo Plano Nacional de Saúde. E fica à frente das de outros países como o Reino Unido (5,57) e os Estados Unidos (seis), embora fique muito aquém do que acontece, por exemplo, na Espanha, em Itália, na França ou no Reino Unido. Com a leitura dos dados “não pode concluir-se que haja falta de médicos, pois apenas 5% dos utentes não tem médico de família, mas sim que estão mal distribuídos”, como diz o presidente da ERS, Álvaro Almeida. A ser assim, os dados contrariam a versão oficial (e não só) de que “há falta de médicos para cobrir, em termos médicos, todos os utentes do espaço nacional”.

O estudo do “Acesso aos Cuidados de Saúde Primários” do Serviço Nacional de Saúde (SNS), realizado pela Entidade Reguladora da Saúde (ERS) revela alguns dados que a maioria não esperaria, como seja a da premissa de que, em média, “há 6,39 médicos de família por cada 10.000 habitantes em território nacional”. São os distritos do Porto (com o rácio de 5,42), Braga (5,48), Leiria (5,84), Aveiro (6,01, Santarém (6,15 e Viseu (com 6,22), aqueles que revelam “menor capacidade de oferta”, em termos de médicos de família por habitantes.
Os dados, agora tornados públicos, sustentam que, a nível nacional, há 6,39 médicos por cada dez mil pessoas, mais do que os seis traçados, como meta para 2010, no Plano Nacional de Saúde. A ser assim, o estudo acaba por contrariar a versão das autoridades oficiais, a começar pelos responsáveis pelo Ministério da Saúde, que continuam a usar o discurso de que “há falta de clínicos para cobrir em termos médicos todos os utentes do universo português”.
Comparando os dados nacionais com as metas fixadas noutros países — 5,57 no Reino Unido e 6,8 nos Estados Unidos da América — a nossa média até é melhor, mas ficam aquém da realidade do espaço da União europeia. Exemplo: Dados de 2004 revelam que há sete médicos de clínica geral por 10 mil habitantes em Espanha e Reino Unido, nove em Itália e 17 em França.
Esta comparação é “muito linear”, para o presidente da ERS, Álvaro Almeida. Na verdade, ele prefere sublinhar que “o estudo concluiu que 5% dos utentes portugueses não têm médico de família, mas tal não significa que sejam insuficientes a nível nacional”. Porquê? Na sua opinião, “estão é mal distribuídos, com muitos distritos abaixo do padrão do nosso Plano Nacional de Saúde (PNS)”.
E, para sustentar a sua opinião, cita o próprio texto do estudo, quando reconhece que “a capacidade potencial de resposta da rede de Centros de Saúde face à população residente é mais reduzida nos distritos urbanos do litoral, com excepção de Coimbra, Lisboa e Setúbal”.
Luís Pisco, coordenador da Missão para os Cuidados Primários, é o primeiro a fazer um alerta para “o risco e a tentação de se olhar para médias nacionais”. E, claro, também levanta o argumento da “má distribuição dos médicos” pelo território nacional.
Reconhece: “Nos centros de Lisboa e do Porto, a perder população, se calhar há médicos a mais, mas nas periferias já não é assim, pelo contrário”.

Idade e graus de acesso

Numa análise mais cuidada e mais fina, a ERS tentou avaliar a relação que existe entre o número de médicos e a população que, na realidade, precisa da mais cuidados, isto é, dos zero aos quatro anos e além dos 65 anos. Neste caso, segundo a leitura da ERS, “as regiões com mais pessoas nesta idades são as que revelam maior rácio de médicos por habitantes”.
No que se refere à acessibilidade e avaliando a oferta de cuidados no que toca à proximidade física, o estudo conclui que “só 0,03% da população — 35 localidades, metade das quais em Viana do Castelo e Faro — vive a mais de 30 minutos de um Centro de Saúde ou de uma extensão de saúde”. São as regiões, com mais população, aquelas que mais unidades têm por cada cem quilómetros quadrados.
Conjugando estes dados com o número de médicos, constata-se que Braga, Bragança, Viseu e Portalegre são as sub-regiões de saúde com “piores graus de acessibilidade”.

Mais vale ir do que telefonar?

Um dos elementos (não desprezíveis) do estudo é a forma de marcação das consultas. Só 14% dos 1.031 inquiridos, em 101 centros de saúde sorteados, incluindo Unidades de Saúde Familiar, marcaram consulta por via telefónica. Mesmo assim, com alguma dificuldade pois 9% teve de ligar três vezes, ou mais, para conseguir marcá-la.
Trata-se de um dado “importante” para a ERS, pelo que Luís Pisco garante que “esta é uma das matérias que a actual reforma em curso pretende melhorar”.
Já agora fique a saber que, ao contrário do que se supunha, 81% dos inquiridos dão nota positiva ao horário e 68% ao tempo de espera no dia da consulta. Mesmo assim somaram 89% aqueles que esperaram “um mês para ter a marcação de consulta assegurada”.
Um último item: o conforto e a higiene são positivos para a maioria.

Crise económica é a maior do período pós-guerra

A secretária de Estado americana, Hillary Clinton, deslocou-se ao Japão, durante a semana que agora termina, naquela que foi a sua primeira visita ao exterior, enquanto secretária de Estado. O Japão rumando depois à Indonésia, em uma nova etapa de sua primeira viagem oficial como chefe da diplomacia dos Estados Unidos.

Japão mergulha na crise

A economia nipónica, tida como uma das mais fortes do planeta, encontra-se num estado extremamente frágil, culpa da crise que não perdoa nem aos mais ricos

Os sinais que vinham revelando a debilidade da economia do país do sol nascente têm vindo a acentuar-se, contudo, nos últimos tempos esses tornaram-se bem mais visíveis e chegou a altura dos responsáveis admitirem o que já não pode ser escamoteado, a economia japonesa encontra-se numa fase de recessão. O facto de atravessar este período negro aumenta o descontentamento dos seus cidadãos, habituados a não serem atormentados com questões do género, e que agora vêem a sua nação a sofrer aquela que já é considerada, pelas próprias autoridades, como a pior recessão desde o final da II Guerra Mundial, altura em que se iniciou o milagre nipónico, que fez com que um dos países mais atingidos pelo conflito e que viu parte do seu território reduzido a nada, ascendesse a pulso e se tornasse numa das maiores potências económicas ao nível global.
A economia daquele país sofreu, só no último trimestre do ano transacto, a maior contracção das últimas décadas, tendo o seu PIB sido reduzido em cerca de 13% face ao período homólogo de 2007. Esta quebra funcionou como uma espécie de dano colateral face às recessões que afectaram os principais parceiros comerciais do país, como os Estados Unidos e a União Europeia, aliados económicos, que em crise profunda deixaram de comprar os produtos japoneses, facto que afundou as exportações nipónicas.
Tendo em conta os dados do trimestre anterior, o PIB contraiu-se 3,3%, segundo anunciou a entidade responsável pela estatística nipónica. Este parâmetro caiu pelo terceiro trimestre consecutivo, o que fez o país declarar oficialmente o estado de recessão. A contracção apurada nos últimos três meses do ano passado ficou acima do estimado por vários especialistas em economia, cujos estudos apontavam para uma quebra estimada em 11,6%. A contracção intertrimestral de 3,3% é superior ao registado noutras economias do mesmo género, como é o caso da americana, que se contraiu em 1% e da Zona Euro que caiu 1,5%.
No quarto trimestre, as exportações do Japão reduziram-se a um nível nunca antes visto, de 13,9%, face ao terceiro trimestre, muito por culpa da quebra da indústria automóvel e do ramo da electrónica, duas das maiores áreas de exportação do país. Grandes industriais como a Toyota, a Hitachi e Sony já reportaram prejuízos e estão a despedir milhares de empregados.
A economia nipónica encontra-se a atravessar “a pior crise desde 1945”, segundo afirmou o ministro da Economia, Kaoru Yosano, agora demissionário, depois de uma insólita aparição numa conferência de imprensa, após um encontro do G7, em que o responsável governamental nipónico aparentava um elevado estado de embriaguez, desmentido pelo próprio, que culpou o jet lag e os medicamentos para a gripe, como responsáveis da sua incapacidade em se expressar e mover. “Esta é a pior crise desde o fim da guerra. Não há nenhuma dúvida quanto a esse assunto”, disse Yosano, em declarações à comunicação social.
“A economia japonesa, cujo crescimento depende bastante das exportações de automóveis, de maquinaria e de produtos electrónicos, foi literalmente devastada” pela crise, avançou o mesmo.
“O Japão será incapaz de recuperar sozinho. Não há fronteiras na economia. A nossa economia vai recuperar ao mesmo tempo que as dos outros países”, continuou o governante, acrescentando ainda que “reconstruir a economia nacional é uma questão de responsabilidade frente aos outros países”.

Administração Obama quer colaborar com os japoneses

A secretária de Estado americana, Hillary Clinton, deslocou-se ao Japão, durante a semana que agora termina, naquela que foi a sua primeira visita ao exterior, enquanto secretária de Estado. O Japão rumando depois à Indonésia, em uma nova etapa de sua primeira viagem oficial como chefe da diplomacia dos Estados Unidos.
Durante sua estada em Tóquio, Hillary encontrou-se com o primeiro-ministro Taro Aso, com quem discutiu sinergias a serem concertadas entre o Japão e os EUA e falou sobre a Coreia do Norte. A secretária também conversou a respeito da visita do chefe do governo japonês à Casa Branca, prevista para a próxima semana.
Conforme havia já anunciado à chegada ao Japão, Aso será o primeiro líder estrangeiro a ser recebido na Casa Branca pelo Presidente Barack Obama.
Numa conferência de imprensa conjunta com o ministro dos Negócios Estrangeiros Hirofumi Nakasone, Hillary advertiu a Coreia do Norte contra o possível lançamento de um míssil intercontinental e destacou a importância de uma desnuclearização “completa e verificável”.
A imprensa nipónica destacou a visita da senhora Clinton como um sinal da mudança que o Governo de Obama propõe e de uma nova atitude norte-americana, segundo os japoneses, “mais dispostos a escutar”.
Depois do país do sol nascente, a responsável pela política externa de Washington rumou a Jacarta, para se reunir com os governantes indonésios, um dos aliados dos norte-americanos na zona.

David Fonseca lança o seu mais recente livro “Histórias Possíveis”

A arte de contar histórias é um talento raro mas tão necessário no mundo da escrita como o simples acto de comer ou dormir. David Machado, vencedor do prémio Branquinho da Fonseca, revela uma simplicidade e organização ímpar na forma como escreveu o seu mais recente livro de contos “Histórias Possíveis”.

O engenho de um contador de histórias

A arte de contar histórias é um talento raro mas tão necessário no mundo da escrita como o simples acto de comer ou dormir. David Machado, vencedor do prémio Branquinho da Fonseca, revela uma simplicidade e organização ímpar na forma como escreveu o seu mais recente livro de contos “Histórias Possíveis”. O SEMANÁRIO esteve à conversa com o escritor para perceber o que faz um bom contador de histórias.

Num mundo cada vez mais globalizado, onde a reinvenção da forma de contar histórias abunda de forma desmedida, somos bombardeados com narrativas de uma complexidade parodoxal que nos fazem perder todo o interesse no objecto que temos em mãos.
David Machado, um jovem escritor de 31 anos que venceu o Prémio Branquinho da Fonseca 2005, pela Fundação Calouste da Gulbenkian/Semanário Expresso com o livro infantil “A Noite dos Animais Inventados” vem, felizmente, contrariar esta tendência da literatura mundial.
Dotado de um estilo despojado de qualquer pretensiosismo, próprio de alguém que escreve porque gosta e conta histórias porque tem necessidade de o fazer, David Machado lançou recentemente um livro de 16 contos intitulado “Histórias Possíveis”, editado pela Editorial Presença, revelando-nos o seu talento de contador de histórias exímio, cujas personagens são influenciadas por acontecimentos subtis que roçam o bizarro.
Costuma-se dizer que nada na vida acontece por acaso havendo um lugar e um tempo para que tudo aconteça. A forma como o autor tropeçou na escrita aconteceu de foma natural e pouco planeada, embora se tenha desenvolvido de forma consistente a partir do momento em que decidiu não continuar a enveredar pelo mundo da economia e da gestão, curso que tirou no Instituto Superior de Economia e Gestão.
A opção pelos contos acaba por acontecer através de um convite. “Tudo começou com o convite feito por um amigo para escrever contos para um suplemento de um jornal que, a posteriori, teria continuação. Isso acabou por não acontecer. Eu tinha escrito dois primeiros contos e imaginei que podia pegar noutras ideias que tinha num caderno e continuar a escrever contos semelhantes com o mesmo tom e o mesmo número de páginas, para depois apresentá-los a um jornal. E isso também não aconteceu. Foi então que comecei a pensar em escrever um livro esquecendo em definitivo o jornal.” No entanto, David assume que não foi uma experiência que tenha corrido da melhor forma embora admita que “acabou por ser muito importante pela forma como aprendi com os erros que se fazem na escrita, nomeadamente na construção das personagens e na forma como a história se desenrola. Acabei de forma natural por aprender a maneira lógica de contar uma história.”
Outra das marcas da sua escrita acaba por nos ser bastante familiar. Nos seus contos existe um profundo sentido de portugalidade, embora não o assuma de forma explícita, acabando, confessa, por ser um reflexo do binómio campo-cidade que viveu toda a sua vida. “Foi algo que eu vivi ao longo da minha vida sem que eu o tenha conscientemente introduzido nas minhas histórias. Quando escrevi «O Fabuloso teatro do Gigante», foram claras as referências à literatura sul americana, o que me levou a pensar que me poderiam acusar de escrever livros que não eram portugueses. Contudo, acabou por acontecer precisamente o contrário, dizendo-se que eu captava o que era ser português”.
Já no que diz respeito ao portugal rural, patente no conto “Nada Por nós Caetano” David refere as influências que remontam à sua infância passada no campo. “Esse conto é baseado na aldeia da minha avó, onde eu passei sempre as férias. No entanto, os nomes que dou às aldeias são fictícios. Para mim é mais fácil escrever sobre um lugar fictício porque me dá mais liberdade para escrever o que me apetecer”.
Os contos apresentados são feitos de forma milimétrica, obedecendo a uma economia de palavras sempre difícil de gerir para quem escreve histórias que não excedem cinco páginas, com excepção dos dois últimos. Uma das ferramentas passa pela apresentação das personagens através da acção. “A forma de apresentar a acção em primeiro lugar acaba por ser a melhor forma, a meu ver, de apresentar as personagens devido ao formato curto de história pelo qual optei. Isto acaba por colocar o leitor directamente na acção.”
Por fim David Machado optou pelo uso da terceira pessoa nas suas histórias. “Durante muito tempo não escrevi na primeira pessoa devido a um medo que tinha em começar a falar por mim, algo que eu não quero de forma alguma que aconteça. O que eu espero é que um dia consiga distanciar-me o suficiente de mim para escrever na primeira pessoa.”
Nas histórias que nos apresenta destacamos a sua sensibilidade em captar as idiossincracias destas personagens e na descrição que faz das relações personagens com o mundo que as rodeia, que não tendo vidas particularmente excitantes tornam-se especiais pela forma como a sua simplicidade nos é apresentada. Destacamos nesse sentido ” Acostura de Clemente sobre uma costureira que acaba por ser uma espécie de cirurgiã, ou a história sobre um simples empregado de armazém que se torna no maior violinista do mundo, não por uma vontade mas por uma necessidade imperativa.

Contos Infantis

Além deste seu último livro, David Machado tem também mais um livro nos escaparates intitulado “O Fabuloso teatro do Gigante”, igualmente editado pela Editorial Presença, e um série de contos infantis. Esta sua actividade leva-o muitas vezes a estar na presença de crianças com as quais partilha experiências. Embora refira que é um processo interessante a forma espontânea com que as crianças reagem às conversas, considera que seria algo que faria facilmente com adultos.
“A minha relação com as crianças acaba por ser muito casual. Eu escrevi o meu primeiro conto infantil devido a um concurso de contos infantis (Prémio Branquinho da Fonseca). Quando concorri não foi por serem contos infantis. Encarei-o como sendo um pré-requisito que tinha de ser cumprido. Da mesma fora que participei num concurso em que o tema era a velhice ou num da Câmara Municipal de Lisboa em que tinha de escrever sobre a cidade”.
“Não é pelo facto de ir à escolas que excrevo melhor os contos infantis. Contudo, acaba por ser muito importante porque se torna gratificante saber que o livro não pára no momento em que ponho um ponto final. O livro é estudado nas escolas, fazem-se peças de teatro, desenhos, esculturas. Acabamos por partilhar experiências através de conversas. Isso é muito bom. Podiam ser graúdos, embora acabe por ser mais engraçado pelo facto das crianças serem muito espontâneas”.
É com satisfação que vemos David Machado no mundo da literatura. Uma lufada de ar fresco que nos recorda, através do seu engenho, o prazer que temos em ler boas histórias.