2025/07/05

Atenções recaem sobre a intervenção do PR

O que espera do discurso de Cavaco nas comemorações do 25 de Abril?

Simões Ilharco

As atenções recaem sobre a intervenção do Presidente da República amanhã no Parlamento. O que espera do discurso de Cavaco no 25 de Abril? À pergunta do SEMANÁRIO, respondem diversas personalidades.

José Lello
“Sem recados rocambolescos”

“Espero um dicurso de Estado, institucional, claro e sem recados rocambolescos.”

Paula Teixeira da Cruz
“Um incentivo”

“Espero uma abordagem da situação económica e social e, como sempre vem sendo próprio do Presidente, um incentivo em momentos difíceis, sem perder de vista o rigor e a exigência.”

Saldanha Sanches
“Nunca um 31 de Julho”

“Espero que seja mais relevante do que o tema escolhido no dia 31 de Julho.”

Odete Santos
“Sem grandes coisas”

“Eu não espero grandes coisas. Espero que ele diga que isto do ponto de vista económico está muito mau, que foi o que disse sobre as recentes previsões do Banco de Portugal, mas não espero que proponha medidas revolucionárias, até porque está de acordo com a política do engº Sócrates.”

Feliciano Barreiras Duarte
“Apontar pistas”

“Que procure chamar a atenção para os problemas com que o País se confronta actualmente e que aponte algumas pistas para ultrapassar a actual crise.”

Pressão para audição de Sócrates intensifica-se

Há cada vez mais pressões no Ministério Público para ouvir José Sócrates sobre o caso Freeport. Mas a questão é explosiva pelas consequências políticas desta diligência, ainda por cima no ano de todas as eleições.

Guerra aberta no MP

Há cada vez mais pressões no Ministério Público para ouvir José Sócrates sobre o caso Freeport. Mas a questão é explosiva pelas consequências políticas desta diligência, ainda por cima no ano de todas as eleições.

Há cada vez mais pressões no Ministério Público para ouvir José Sócrates sobre o caso Freeport. Mas a questão é explosiva pelas consequências políticas deste acto, ainda por cima no ano de todas as eleições.
O caso Freeport não pára e os socialistas começam a ficar mais preocupados. Para o mês que vem o país entra em campanha eleitoral para as europeias, umas eleições que podem ser decisivas como primeiro patamar das legislativas de Setembro. A possibilidade de Sócrates ser ouvido pessoalmente, no quadro das investigações, como testemunha é um acto que as oposições não deixaram de aproveitar politicamente. Refira-se que esta diligência, a realizar-se terá mesmo de ser feita pessoalmente e não por escrito. O mesmo aconteceu, há dez anos, em relação a Paulo Portas, no quadro da investigação sobre a Universidade Moderna.
Esta foi, talvez, a semana mais agitada do caso Freeport. Tudo começou na sexta-feira, com a exibição pela TVI de parte do DVD em que Charles Smith envolve Joé Sócrates no caso. Na mesma noite, o primeiro-ministro fez um comunicado em que volta a refutar as acusações, considerado-as absolutamente difamatórias, anunciando a apresentação de queixas-crimes contra a TVI, como órgão difusor, e contra Charles Smith. No dia seguinte, o próprio Charles Smith negou alguma vez ter difamado Sócrates. Recorde-se que o DVD emitido pela TVI é matéria que faz parte da investigação inglesa no Freeport.

Há dois meses, Cândida Almeida, uma das magistradas que investiga o caso, disse, numa entrevista à RTP 1 que se recusava a ver o DVD porque se tratava de uma prova nula, recolhida ilegalmente. Esta afirmação provocou alguma polémica nos meios judiciais em geral e até no seio do Ministério Público. Independentemente da natureza do acto, até um leigo perecebe que a análise de uma prova nula pode ser muito útil para obter novas pistas ou ajudar a construir um puzzle por finalizar, no âmbito de uma determinada estratégia de investigação.

Já esta semana, o caso conheceu um novo epicentro. O novo presidente do Sindicato dos Magistados do Ministério Público eleito, João Palma, pediu uma audiência ao Presidente da República, Cavaco Silva, para denunciar a existência de pressões no caso Freeport. Esta manifestação do SMMP começou por ser recebida com incomodidade por Belé,m, na medida em que João Palma anunciou, desde logo, a agenda da reunião. Por sua vez, o facto de ela surgir imediatamente depois da eleição de Palma, prestou-se a interpretações de aproveitamento político e pojecção mediática. Mas, já esta semana, o incómodo acabou por ser ultrapasado pelos acontecimentos. Na comunicação social, surgiu o nome do procurador Lopes da Mota, director do Eurojust, uma estutura de cooperação judiciária ao nível europeu, como tendo feito, alegadamente, pressões junto de magistrados com o Freeport a cargo, designadamente, Vítor Magalhães e António Paes, tal como foi divulgado durante a semana por vários órgãos de comunicação social. Lopes da Mota desmentiu, porém, quaisquer pressões. Esta semana, face ao empolamento do caso, o procurador-geral da República sentiu-se no dever de emitir um comunicado em que desmentiu a existência de quaisquer pressões, declarações que o PS, através de Vitalino Canas, fez questão em frisar. Nesta quarta-feira, como o caso não parasse de suscitar dúvidas e especulações, Pinto Monteiro resolveu chamar Lopes da Mota à PGR. Os dois magistrados alegadamente pressionados, Vítor Magalãres e António Paes Faria, também foram chamados por Pinto Monteiro. Segundo foi referido por vários órgãos de comunicação social, Pinto Monteiro pretendeu que fosse subscrita uma declaração conjunta em como não tinham existido pressões. Vitor Magalhães e Pais Faria recusaram-se, porém, a assinar.
Segundo referiu ontem o Jornal de Noticias, os procuradores Paes Faria e Vítor Magalhães, colocados no Departamento Central de Investigação e Acção Penal, “vão com a sua versão até onde for preciso”, garantiu uma fonte ao JN, que pediu anonimato.
Segundo referia, também, o JN é a segunda vez que é posta em causa a conduta de Lopes da Mota, ex-colega de José Sócrates no primeiro Governo de António Guterres. Lopes da Mota foi já alvo de um processo disciplinar, por suspeitas de ter fornecido à presidente da Câmara de Felgueiras, Fátima Felgueiras, uma cópia da denúncia que daria lugar à investigação do chamado caso do “saco azul” da autarquia, antes de a Polícia Judiciária iniciar a investigação. O processo acabou por ser arquivado.

Entretanto, já depois destes acontecimentos, o presidente do SMMP reiterou o pedido de audiência com o Presidente da Repúbolica. A dúvida é saber se Cavaco recebe Palma antes da sua tomada de posse, que se realiza só a 16 de Abril, ou só depois desta data.
Todas estas vicissitudes inerentes ao caso Freeport tiveram esta semana fortes repercurssões políticas, mas curiosamente quase todas vindas da a´rea socialista. Mário Soares criticou as fugas de informação do processoe aproveitou para tecer considerações sobre a inverdade das mesmas, aparentemente secundando Sócrates, que desde o início considera que estamos perante uma campanha negra contra si. Também o líder parlamentar socialista, Alberto Martins, afirmou que Sócrates está a ser vítima de “calúnia”, “intriga” e “maledicência” de quem o quer envolver no caso. Fora da linha destas intervenções, João Cravinho disse que «o DVD exibido é um elemento que fez muita mossa e representa um conjunto de afirmações extremamente graves» Cravinho pediu, ainda, que tudo seja averiguado.

PPE impõe Durão Barroso

Foi a semana de todas as movimentações na Europa, por causa da reeleição de Durão Barroso. Nicolas Sarkozy era o mais entusiasta em relação à hipótese de substituição do actual presidente da Comissão Europeia, de forma a encerrar um mau ciclo para a Europa, com o fracasso do Tratado de Lisboa e a crise económica e financeira.

Sarkozy ficou isolado

Foi a semana de todas as movimentações na Europa, por causa da reeleição de Durão Barroso. Nicolas Sarkozy era o mais entusiasta em relação à hipótese de substituição do actual presidente da Comissão Europeia, de forma a encerrar um mau ciclo para a Europa, com o fracasso do Tratado de Lisboa e a crise económica e financeira. Mas o projecto implicava colocar um homem com forte peso à frente da Europa, Tony Blair ou José Maria Aznar, cada qual com vida política própria e autonomia de decisão, o que poderia ser um perigo interesses europeus muito habituados a que quem mande na União Europeia sejam quatro ou cinco países grandes, em consenso, e a administração de Bruxelas. Ângela Merkel, ainda hesitante face ao jogo de Sarkozy, acabou por se convencer de que Durão Barroso era o homem certo e o PPE, o partido europeu onde a chanceler alemã tem grande influência, deu ontem o seu apoio à eleição de Barroso.
Tal como aconteceu em 2004, Barroso acaba por ser o homem útil ao sistema. Quem apostou nele há cinco anos, decididamente que hoje não se arrepende. Barroso é um excelente executor, que não levanta ondas e que não é inconveniente nem irreverente politicamente.

Foi a semana de todas as movimentações na Europa, por causa da reeleição de Durão Barroso. Nicolas Sarkozy era o mais entusiasta em relação à hipótese de substituição do actual presidente da Comissão Europeia, de forma a encerrar um mau ciclo para a Europa, com o fracasso do Tratado de Lisboa e a crise económica e financeira. Mas o projecto implicava colocar um homem com forte peso à frente da Europa, Tony Blair ou José Maria Aznar, a definir de acordo com os resultados das eleições europeias de Junho. Um homem com vida política própria e autonomia de decisão, o que poderia ser um perigo interesses europeus muito habituados a que quem mande na União Europeia sejam quatro ou cinco países grandes, em consenso, e a administração de Bruxelas. O risco da escolha de Blair ou de Aznar, para além da autonomia política, era o facto de um ou outro líder da Europa ter mais influência junto destas estrelas políticas e “furar” o esquema do Directório. Ângela Merkel, que tal como o SEMANÁRIO noticiou na semana passada, também ponderava a substituição de Barroso, acabou por recuar, certamente sensível à ameaça para o status quo europeu. O Partido Popular Europeu, onde a chanceler alemã tem uma grande influência, deu ontem o seu apoio à reeleição de Barroso. Curiosamente, no início desta semana, Gordon Brown apoiou publicamente Durão Barroso, numa intervenção conjunta onde os dois homens se expuseram politicamente de tal modo que ficou patente que havia algo em curso para segurar Barroso. O apoio de Brown pode ter sido indiciador, desde logo, da luz verde de Washington à reeleição de Barrosso, bem como um sinal de que o primeiro-ministro inglês podia não ver com muito bons olhos o reaparecimento de Blair na cena política. Recorde-se que Brown esteve mais de dez anos na segunda linha política, exactamente por causa do poder e da projecção de Blair. Um novo estrelato do antigo primeiro-ministro inglês poderia implicar que a estrela de Brown voltasse a empalidecer, o que poderia ser perigoso para quem quer ganhar as próximas legislativas a Gordon Brown.
Tal como aconteceu em 2004, Barroso acaba por ser o homem útil ao sistema. Quem apostou nele há cinco anos, decididamente que hoje não se arrepende. Barroso é um excelente executor, que não levanta ondas e que não é inconveniente nem irreverente politicamente. É certo que manutenção de Barroso pode trazer pouco élan à Europa, num momento em que a confiança é fundamental, mas a estrutura de poder europeia parece confiar mais nos velhos métodos tradicionais do que em fogachos políticos e psicológicos. A escolha de Barroso tem ainda o benefício de não abrir uma guerra política entre socialistas, populares e liberais para escolherem entre Blair e Azbar, em face dos resultados das europeias. Mesmo se os populares mantiverem a maioria no Parlamento Europeu, é provável que os socialistas reclamassem a presidência da Comissão Europeia. O conflito politico que se geraria podia não ser nada adequado a um momento de crise económica, em que se torna quase grotesco estar a fazer chincana política. Refira-se que para além de Ângela Merkel, Sílvio Berlusconi e outros líderes europeus, presentes na reunião onde o PPE anunciou o apoio a Barroso, também Manuela Ferreira Leite marcou presença, dando, assim, o seu apoio pessoal e político à recandidatura de Durão Barroso.

Durão: 40 anos de poder

Para Barroso, a sua reeleição é mais uma vitória pessoal. Com um novo mandato de cinco anos em Bruxelas, Barroso fica excelentemente colocado para sair de presidente da Comissão Europeia em 2014 e candidatar-se a Presidente da República em 2016, numa altura em que Cavaco já não poderá recandidatar-se. A sua candidatura a Belém parece mesmo natural. Caso seja candidato e caso ganhe as presidenciais, Durão pode fazer quase trinta anos de exercício quase sucessivo de funções publicas, tendo começado como primeiro-ministro de 2002 a 2004, presidente da Comissão Europeia de 2004 a 2014 e Presidente da República de 2016 a 2026. A juntar aos dez anos de governação, como secretário de Estado e ministro nos governos de Cavaco dá mais dez anos de funções executivas, o que contabiliza quase quarenta anos de poder. Os planos de Barroso só podem ser ameaçados por um candidato forte do PS nas presidenciais. Quem?
Sócrates, Guterres ou Vitorino?

Ferreira Leite aceita coligação com o CDS-PP em Lisboa

Santana Lopes poderia ter a sua candidatura comprometida, no que concerne a um bom resultado eleitoral, caso a direcção do PSD rejeitasse uma coligação com o CDS-PP, ou Manuela Ferreira Leite não tivesse mantido a postura firme de apoio a Santana.

Apesar de resistências na direcção laranja

Direcção do PSD poderá estar contra eventual tomada de posição de Ferreira Leite em aceitar coligação com o CDS-PP em Lisboa.

Santana Lopes poderia ter a sua candidatura comprometida, no que concerne a um bom resultado eleitoral, caso a direcção do PSD rejeitasse uma coligação com o CDS-PP, ou Manuela Ferreira Leite não tivesse mantido a postura firme de apoio a Santana. Da parte dos militantes de topo da máquina laranja, poderá ter havido eventualmente, movimentações com vista a travar a corrida de Pedro Santana Lopes à câmara da capital, e, prendê-lo assim em Lisboa, longe da ribalta da vida politica nacional.
Uma vez mais a história repete-se. Santana Lopes, antes de avançar para as urnas, confronta-se primeiro com os seus inimigos internos, para depois – aí sim – avançar para a campanha. Depois do apoio incondicional de Manuela Ferreira Leite à sua candidatura, com rasgados elogios de parte a parte, parece que fortuitamente, calhou uma vez mais, à direcção do PSD, fazer das suas ao “menino guerreiro”.
Primeiro, através da tentativa de retirar palco político ao ex-líder do PSD, mediante oposição à sua candidatura a Lisboa e de tentar encobrir a obra de Pedro Santana Lopes enquanto homem “no leme” dos destinos da capital.
Porem, estes intentos não surtiram efeito junto de Manuel Ferreira Leite, e, para espanto de muitos, e admiração de mais alguns – “o político das sete vidas” dizem – Pedro Santana Lopes, foi mesmo o escolhido por Manuela Ferreira Leite para concorrer à câmara lisboeta.
Tudo aponta para que Manuela Ferreira Leite, não deixe cair por terra esta cooperação com Pedro Santana Lopes. É quase certo que Ferreira Leite aceita a coligação do PSD com o CDS-PP à câmara municipal de Lisboa.
Perante a derrota, de alguns dos sectores da máquina laranja, incapazes de travar o ímpeto com que a líder laranja tomou a decisão de apoiar Pedro Santana Lopes – lembre-se que a corrida à câmara Lisboeta é uma prova onde muitos querem participar – restou apenas duas hipóteses. A primeira, dificultar a campanha do ex-autarca durante a corrida. A segunda, dificultar essa mesma corrida mesmo antes de ela começar.
Sabendo o quão difícil é denegrir a imagem de Santana Lopes, junto da opinião pública mais favorável à sua candidatura, isto é, junto da franja do eleitorado mais fiel a Santana. Parece que, decisores de primeira linha no PSD viraram-se para a tentativa de bloquear a coligação, entre o PSD de Santana Lopes e Manuela Ferreira Leite e o CDS-PP, liderado pelo antigo ministro da defesa de Santana, Paulo Portas.
Gorada a primeira hipótese, optando pela segunda, os opositores internos de Santana entraram em gestão de danos. Impossibilitados de evitar a candidatura, tentaram cortar ao candidato laranja a percentagem de 5,5 a 7% correspondentes às intenções de votos no CDS-PP. Mas ao que tudo indica a coligação PSD/CDS-PP a Lisboa vai mesmo avançar.
Muito por força da líder Manuela Ferreira Leite e um pouco pela falta de expressão dos opositores, não só à coligação mas também de Santana Lopes, do lado do CDS-PP. Lembre-se que, mostrando-se pouco entusiasmado com a ideia de o partido concorrer coligado com o PSD para a Câmara de Lisboa nas próximas autárquicas, Ribeiro e Castro considerou que “o partido só tinha ganhar em termos de representatividade” se apresentasse uma candidatura própria ao eleitorado com as suas propostas para a cidade. “O CDS tem de ser capaz de apresentar uma candidatura autónoma, mas se quem tem responsabilidades no partido não tem capacidade para fazer vingar uma lista própria, então essas pessoas deveriam sair e dar o lugar a outros”, defendeu na altura o ex-líder democrata cristão. Porem a assembleia concelhia do CDS-PP de Lisboa aprovou por 73 por cento dos votos, o início das conversações com o PSD para formalizar uma coligação com os sociais-democratas nas autárquicas na capital, expressando o apoio esmagador à coligação. Recorde-se que PSD e CDS têm actualmente 21 coligações autárquicas, onde se destacam as de Porto, Gaia, Coimbra, Sintra, Cascais, Aveiro, Famalicão, Lamego ou Nelas.
Este apoio incondicional de Manuela Ferreira Leite a Pedro Santana Lopes tem para laivos de surpresa. Enquanto presidente da distrital de Lisboa do PSD, aquando das autárquicas de 2001, Manuela Ferreira Leite foi uma das pessoas que maiores reservas levantou à existência de uma coligação pré-eleitoral em Lisboa com o partido liderado por Paulo Portas. Contudo, a vitória de Pedro Santana Lopes sem maioria absoluta acabou por criar as condições políticas para o acordo pós-eleitoral que se seguiu.
Derrotados que estão, os opositores internos que compõem as engrenagens da máquina laranja, resta agora a Pedro Santana Lopes confrontar uma vez mais, em ritmo recorde de candidaturas nos últimos anos aos mais variados cargos, o eleitorado.

Pacto de regime

Sem excluir a hipótese de um Bloco Central, o primeiro-ministro deu a entender que enquanto o PSD não perceber que o investimento público é a questão central para sair da crise, o acordo de regime não tem pernas para andar. Ferreira Leite respondeu com um mega-pacote para as PME mas o PS parece querer que o PSD reveja a sua posição sobre as grandes obras públicas, o aeroporto e o TGV.

Bloco Central depende de entendimento sobre investimento público

Esta foi a semana onde vários socialistas se pronunciaram sobre o Bloco Central, abrindo as portas a um entendimento com o PSD. Primeiro foi o líder da UGT, João Proença, curiosamente à saída de uma audiência com Manuela Ferreira Leite. Depois foi Mário Soares, no seu habitual artigo semanal. Logo a seguir foi a vez do porta-voz do PS, Vitalino Canas, e, surpreendentemnente, do ministro Augusto Santos Silva, que nos últimas semanas esteve debaixo de fogo por causa da suas declarações temerárias, ora criticando o PSD, ora a ala esquerda do PS. A rematar, esteve Sócrates. Sem excluir a hipótese de um Bloco Central, o primeiro-ministro deu a entender que enquanto o PSD não perceber que o investimento público é a questão central para sair da crise, o acordo de regime não tem pernas para andar. Ferreira Leite respondeu com um mega-pacote para as PME mas o PS parece querer que o PSD reveja a sua posição sobre as grandes obras públicas, o aeroporto e o TGV.

Esta foi a semana onde vários socialistas se pronunciaram sobre o Bloco Central, abrindo as portas a um entendimento com o PSD. Primeiro foi o líder da UGT, João Proença, curiosamente à saída de uma audiência com Manuela Ferreira Leite. Depois foi Mário Soares, no seu habitual artigo semanal. Logo a seguir foi a vez do porta-voz do PS, Vitalino Canas, e, surpreendentemnente, do ministro Augusto Santos Silva, que nos últimas semanas esteve debaixo de fogo por causa da suas declarações temerárias, ora criticando o PSD, ora a ala esquerda do PS. A rematar, esteve Sócrates. Sem excluir a hipótese de um Bloco Central, o primeiro-ministro deu a entender que enquanto o PSD não perceber que o investimento público é a questão central para sair da crise, o acordo de regime não tem pernas para andar. Recorde-se que o PSD tem criticado as mega obras públicas, aeroporto e TGV, que o PS propôs e cujos programas de execução já começou a aplicar.
Ferreira Leite respondeu a Sócrates com um mega-pacote para as PME mas o PS parece querer que o PSD reveja, precisamente, a sua posição sobre o aeroporto de Alcochete e, sobretudo, o TGV.
Esta quarta-feira, após ter visitado as obras de uma escola em Odivelas, o primeiro-ministro foi confrontado com as perguntas dos jornalistas sobre a possibilidade de um acordo com o PSD. Sócrates referiu: “O Governo entende que é preciso reforçar o investimento público, mas infelizmente tenho notado que há partidos que apenas tentam desmerecer tudo o que se faz”, acrescentando “que seria bom se todos percebessem que o investimento público é a questão central para combatermos a crise económica internacional”, disse. Ficou. Assim, claro, que para haver um Bloco Central este ponto programático é essencial. Tanto Vitalino Canas como Augusto Santos Silva já tinham deixado no ar esta reserva a uma futura plataforma de entendimento entre os dois grandes partidos portugueses.
Em declarações ao “Jornal de Negócios”, Vitalino Canas referiu: “Hoje em dia, tendo em conta as dificuldades, seria obviamente importante haver o maior consenso possível”, disse ao Negócios o porta-voz do PS, Vitalino Canas. Por sua vez, Augusto Santos Silva disse: “notamos evolução no discurso do PSD. A severidade da crise implica o esforço de todos os partidos”. No entanto, ambos fizeram questão de dizer que o PSS tem estabelecido divergências importantes com o PS em matérias indiscutíveis de governação. Não mencionando directamente a questão, ambos os socialistas falavam na necessidade de haver acordo de regime sobre a necessidade de investimento público maciço para fazer frente à crise. A favorecer os argumentos do PS, e a dar alento à sua defesa, estão vários factores, quer nacionais, quer internacionais. Em primeiro lugar, o facto de nos EUA, que continuam a ser o farol do mundo, o recém-eleito Barack Obama ter exactamente esta política de investimento público como meio de sair da crise. Em segundo lugar, o facto de o Prémio Nobel da Economia, Paul Krugman, defender também esta posição. Em terceiro lugar, a circunstância de a maioria dos economistas portugueses também ver como única solução para resolver a crise que se faça investimento público, de forma a criar emprego.
Nesta segunda-feira, João Proença, contrariou, porém, este unanimismo socialista, pelo menos no que respeita às grandes obras. O líder da UGT considerou: “Os investimentos não têm nada a ver com o combate à crise porque só vão começar a ser realizados daqui a quatro, cinco, seis anos, são investimentos estruturantes. Outra coisa completamente diferente são aqueles investimentos que possam entrar rapidamente em execução e, aqui, devem ser privilegiados projectos com impacto social significativo”, acrescentou. Para João Proença, há dois sectores prioritários para este projectos rápidos, a saúde e a educação, no que está em linha com os projectos do governo de construir novas escolas um pouco por todo o país e, assim, tentar aumentar o emprego e o rendimento. O líder da UGT teve ainda uma palavra para as PME: “Tudo o que nós queremos é fortalecer e fazer sobreviver as pequenas e médias empresas que são essas que criam emprego”. Também aqui Proença segue as linhas do governo. Ainda esta quarta-feira, José Sócrates, depois de reunir com os parceiros sociais, apresentou um plano de flexibilização dos apoios às PME, de forma a que aquelas recebam mais rapidamente os dinheiros provenientes do QREN.
Por sua vez, no artigo de opinião que publica no “Diário de Notícias”, Mário Soares escreveu: “Sucede que sendo o ano de 2009 um ano extremamente difícil, no plano económico e social – como toda a gente já percebeu -, é também um ano de eleições. O que pode ser uma mistura altamente explosiva, se não houver bom senso. Não se pode ignorar que a crise é global e só – em consequência disso – é que chegou a Portugal. Não é, portanto, da responsabilidade do Governo em funções, nem dos partidos da oposição, sejam de esquerda ou de direita. É fácil, convenhamos, apontar o dedo ao primeiro-ministro e gritar: “Aí está o rosto da crise!” Mas não é verdadeiro nem justo. Tenhamos em conta que o povo português não é estúpido e tem já a sabedoria de quase 35 anos de democracia. Sejamos pois sensatos e responsáveis, sem deixarmos de nos bater pelos nossos ideais. É útil para todos. E acima de tudo, para Portugal.”
Refira-se quem em 2003, Mário Soares fez o primeiro e único Bloco Central até hoje, num governo de que era primeiro-ministro, tendo como vice-primeiro-ministro, o então líder do PSD, Mota Pinto. Este governo fez um acordo com o FMI, o segundo no espaço de cinco anos, e pós em curso um plano de austeridade que implicou, por exemplo, colocar fim ao subsídio estatal em relação a muitos produtos essenciais, o que fez disparar os preços e colocou os portugueses mais pobres numa situação aflitiva.

Reflexos da crise económica

A democracia está em crise?

Mário Soares alertou esta semana para os perigos da crise económica ter reflexos sociais e políticos graves, pondo em causa a própria democracia. O ex-Presidente da República recordou a crise de 1929 e o que ela acabou por originar na Europa, com o aparecimento de Hitler e o fortalecimento de Mussolini.

No artigo que escreveu esta semana no “Diário de Notícias”, Mário Soares alertou para os perigos da crise económica ter reflexos sociais e políticos graves, pondo em causa a própria democracia. Mário Soares recordou a crise de 1929 e o que ela acabou por originar na Europa, com o aparecimento de Hitler e o fortalecimento de Mussolini. Mário Soares escreveu o seguinte no “Diário de Notícias”: A crise global está a aprofundar-se todos os dias e por todos os cantos do nosso planeta. Implica, como tenho dito e repetido, uma ruptura do sistema capitalista financeiro-especulativo – que chegou ao fim, como há quase 20 anos sucedeu com a implosão do universo comunista -, donde sairá um novo modelo de desenvolvimento económico, social e ambiental, sustentável, capaz de vencer a crise.

Lembremo-nos, contudo, onde nos levou a grande crise de 1929: a uma crise profundíssima da democracia europeia e americana, que começou com a guerra civil espanhola (1936-1939) e com a ascensão dos regimes totalitários fascistas, nazis e comunista soviético (não esqueçamos o pacto germano-soviético de Hitler e Estaline, de 1939) que, derrotada a França, deixou a Inglaterra de Churchill como a única democracia em campo, a resistir. Valeu-nos a circunstância feliz (que agora se repetiu com Obama) de Franklin Delano Roosevelt ter ganho as eleições presidenciais em 1933 e depois em 1937 ter contribuído decisivamente, até 1945, ano da sua morte, exausto pela doença e pelas pesadíssimas responsabilidades dos anos de guerra. Foi o político, com Churchill, da Carta do Atlântico e que deu, ainda, o impulso inicial para a criação das Nações Unidas.

Ora, assim como a grande crise de 1929 nos levou muito perto do abismo, que seria a vitória do nazismo, a actual crise global, mais ampla do que a de 29 – esperemos que não aconteça -, pode pôr em causa a democracia, tal como a vivemos, as sociedades de bem-estar, de justiça social (ainda que relativa) e de liberdade… Não o esqueçamos! É por isso que – fixemo-nos em Portugal – os nossos políticos, democráticos, de todos os partidos, têm o dever de ser responsáveis e prudentes. Para benefício deles próprios, dos seus partidos e de Portugal.”

A situação que se vive torna muito actual um livro que foi editado em Portugal há dois anos, do historiador Niall Ferguson, da Civilização Editora. O autor recorda as características da crise de 1929 e o que ela originou. O SEMANÁRIO publica extractos desta obra: “Somente nalguns países é que uma mudança política para um regime ditatorial provocou ou até implicou a criação de novas políticas económicas. No mundo anglófono registaram-se vários casos de afastamento da ortodoxia económica que não acarretaram a erosão da democracia. O mesmo sucedeu na Escandinávia. Foram os sociais-democratas suecos que, nos anos 30, estabeleceram as fundações do estado-providência europeu, pós-1945. Ironicamente, noutros países a marginalização da democracia justificava-se muitas vezes, pela necessidade de políticas fiscais mais severamente ortodoxas, dado que o sistema parlamentares, com os seus interesses especiais representados na legislatura, impossibilitava a gestação de orçamentos equilibrados. Na verdade, os orçamentos desequilibrados geravam um estimulo geralmente benéfico à procura. Também devemos lembrar-nos dfe que as mudanças da política monetária não requeriam qualquer restrição da democracia, uma vez que, na maioria dos países, antes da depressão, os bancos centrais não eram democraticamente responsabilizados. Para alguns bancos, a sua independência do controlo parlamentar era juridicamente sagrada. Outros – nomeadamente, o Bank of England e o Banque de France – ainda eram considerados firmas privadas, sendo responsáveis perante os seus accionistas e não perante os eleitores, mesmo que o seu papel e modo de funcionamento fossem regidos por estatuto.
A história de uma vaga democrática, refluindo, é essencialmente uma história continental europeia. No mundo anglófono (à excepção da África do Sul que era apenas parcialmente anglófona e não democrática) a democracia nunca foi seriamente ameaçada. Entretanto, dado que os impérios da Europa Ocidental tinham saído da guerra incólumes, registando, com efeito, um ligeiro alargamento de territórios, quer a Ásia, quer a África não tinham, praticamente, qualquer democracia, nem antes, nem depois da guerra. O Japão, tal como iremos ver, foi o único país asiático que se deixou levar pela vaga democrática. Na América Latina, alguns países passaram, na verdade, de regimes mais ou menos democráticos para ditaduras: a Argentina, onde o exército derrubou o presidente radical, Hipólito Irigoyen, em 1930, bem como a Guatemala, as Honduras e a Bolívia. No entanto, para começar, a maioria dos países a sul do rio Grande não eram democracias e assim permaneceram. Um deles, a Costa Rica, era, em todos os respeitos, uma democracia. Entre guerras, alguns países – a Colômbia, o Peru e o Paraguai – conseguiam mesmo registar modestos progressos no sentido da democracia. O Chile sofreu um golpe militar, em 1924, mas em 1932, o General Carlos Ibáñez restaurou o governo constitucional.
De vinte e oito países europeus – recorrendo à mais lata definição credível da Europa – quase todos tinham adquirido alguma forma de governo representativo, durante a Primeira Guerra Mundial, ou depois. Contudo, oito já eram ditaduras, em 1925, e outros cinco tornaram-se ditaduras, em 1933. Cinco anos depois, restavam apenas dez democracias. A Rússia, tal como já constatemos, foi o primeiro a ceder, após os Bolcheviques terem encerrado a Assembleia Constituinte, em 1918. Na Hungria, os direitos civis começaram a ser restringidos já em 1920. Kemal tendo acabado de derrotar os gregos, estabeleceu o que era, efectivamente, um estudo unipartidário na Turquia, em 1923, para evitar que as suas políticas de secularismo fossem desafiadas por uma oposição islâmica. Todavia, os acontecimentos do ano anterior na Itália é que pareciam estabelecer um padrão mais geral.