2025/07/03

FC Porto “arrasa” concorrência

Seis jogos, seis vitórias e sete pontos de avanço sobre os eternos rivais. É este o registo surpreendente do FC Porto no início da Liga Bwin. Se na Taça da Liga os dragões decepcionaram ao serem afastados pelo Fátima, no campeonato nacional o clube das Antas não está a dar a mínima hipótese aos outros candidatos. Caso a situação não se inverta nas próximas jornadas, o conjunto de Jesualdo Ferreira, que também tem beneficiado com alguns deslizes invulgares do Sporting e Benfica, arrisca-se a conquistar prematuramente o tricampeonato português.

O dragão não está a dar as mínimas hipóteses aos seus eternos rivais, neste início da Liga Bwin. Em seis jogos, o conjunto orientado por Jesualdo Ferreira venceu por outras tantas ocasiões, tendo marcado 18 golos e sofrido apenas dois. E recorde-se que os portistas já defrontaram equipas como o Sp. Braga, Sporting e Boavista. Seja como for, refira-se que o conjunto nortenho venceu os três desafios em casa, tendo apontado 11 golos e sofrido apenas um, enquanto o registo “fora” é idêntico: três jogos, três vitórias, sete golos marcados, um sofrido. No que diz respeito aos jogadores em maior destaque, Lisandro Lopez tem sido o atleta em melhores condições e aquele que mais tem produzido. Já Ricardo Quaresma é outro dos “suspeitos do costume”, mantendo-se como um dos atletas mais desequilibradores do campeonato nacional e o principal “municiador” do ataque dos azuis e brancos. Relativamente a Lucho Gonzalez, continua a ser o “pêndulo” do meio-campo dos campeões nacionais e, provavelmente, o jogador mais influente da estratégia portista.

Sporting de Paulo Bento

Com seis jornadas disputadas na Liga Bwin, os leões ocupam o quarto lugar da tabela e já estão a uns insólitos sete pontos de distância do FC Porto. A formação de Paulo Bento tem um registo de três vitórias, dois empates e uma derrota, precisamente contra os dragões, tendo apontado nove tentos e sofrido quatro. Em casa os leões venceram dois encontros e empataram inesperadamente por uma ocasião diante o Vitória de Setúbal, e marcaram sete golos e sofreram três. Já “fora”, a formação verde e branca venceu por uma vez, empatou também por uma ocasião e soma ainda uma derrota, apresentando um “goal-average” de apenas +1 (2-1). Em relação aos jogadores em destaque, de sublinhar, inevitavelmente, o avançado Liedson e o defesa central Polga que, inexplicavelmente, continua sem regressar à selecção brasileira. Já Miguel Veloso também tem estado em bom nível, enquanto o médio e capitão de equipa, João Moutinho, ainda está à procura da melhor forma. Relativamente ao guardião Stojkovic tem-se apresentado tanto em excelente nível, como por exemplo diante o Dínamo de Kiev, como cometido erros incompreensíveis e que já custaram quatro pontos aos leões (dois frente ao FC Porto e outros tantos diante o Vitória de Setúbal).

Camacho pede tempo

Com menos um ponto que o Sporting, surge o Benfica na quinta posição com duas vitórias e quatro empates. Em três desafios disputados em casa, as águias empataram por duas vezes, uma delas diante o clube de Alvalade, e ganharam por apenas uma ocasião, verificando-se um “goal-average” de +6 (7-1). Já “fora” de casa, o clube da Luz apresenta o mesmo registo que em casa: uma vitória e dois empates, tendo apontado por quatro golos e sofrido um. No que diz respeito aos jogadores em destaque, Rui Costa tem sido o atleta em melhores condições e aquele que mais tem produzido, ao contrário dos avançados Nuno Gomes e Óscar Cardozo, que, recorde-se, foi a segunda contratação mais cara das história do Benfica. Já Dí Maria e Cristián Rodriguez prometem vir a ser elementos preponderantes de um Benfica que tem sentido a falta do “trinco” Petit, que se encontra a recuperar de uma lesão. De realçar ainda as excelentes prestações do guarda-redes, Quim.

“Outsiders” da Liga Bwin

Apesar de ainda só terem sido realizadas seis jornadas, Marítimo e Vitória de Guimarães surgem como as principais surpresas deste início de temporada. No que diz respeito à formação da Madeira, está classificada na segunda posição com treze pontos alcançados, após ter ganho quatro jogos, empatado um e perdido outro. Já o Vitória de Guimarães de Manuel Cajuda, que, recorde-se, disputou a Liga de Honra na temporada passada, surge surpreendentemente na terceira posição com 12 pontos alcançados através de três vitórias e outros tantos empates.

Estatísticas e jogadores

Num campeonato nacional constituído por 45,2% de jogadores lusos, 31,8% de brasileiros, 3,2% de argentinos, 2% de sérvios, 1,6% de uruguaios e 16,8% de atletas das mais variadas nacionalidades, e numa altura em que já foram realizadas seis jornadas, já foram disputados 48 desafios, tendo sido apontados 93 golos, o que perfaz uma média de 1,94 tentos por jogo. Refira-se que o empate tem sido o resultado mais frequente (43,8% dos encontros), enquanto as vitórias das equipas que jogam em casa registam uma percentagem de 39,6% e as derrotas dos anfitriões apresentam uma taxa de 16,7%. De salientar também que 72,9% dos desafios terminaram com menos de três golos e 27,1% dos encontros acabou com mais de três tentos apontados. Finalmente, os dragões são a formação nacional que necessita de menos minutos para apontar um golo (49 minutos), seguindo-se o Marítimo (54 minutos) e o Sporting, Vitória de Setúbal e Vitória de Guimarães (60 minutos). Já o Benfica surge na sexta posição deste ranking, necessitando de 77 minutos para desferir um remate certeiro. Relativamente aos jogadores, Lisandro Lopez do FC Porto é o melhor marcador com seis golos em cinco partidas disputadas (1,2 tentos por jogo), enquanto o defesa central Bruno Alves, também dos actuais campeões nacionais, é o atleta com mais minutos em campo até ao momento: 540 minutos.

A ode ao documentário

A quinta edição do doclisboa decorre entre 18 e 28 de Outubro. Este é o único festival de cinema documental do País e a programação foi apresentada esta semana na Culturgest. O melhor da produção contemporânea de documentário nacional e internacional regressa para onze dias de projecções, em regime intensivo, com muitas estreias absolutas no nosso país.

O doclisboa é o único festival de cinema em Portugal exclusivamente dedicado ao documentário. O ano passado, naquela que era a sua quarta edição, o doclisboa apostou na capitalização do interesse dos espectadores portugueses pelo documentário e conseguiu trazer às salas da Culturgest um público muito numeroso e entusiasta, conseguindo 22 500 espectadores, reflectindo um índice de ocupação de salas na ordem dos 70%.
O documentário é a temática essencial e foi-se criando ao longo destes quatro anos uma cada vez maior consciência das suas potencialidades e diversidade.
O doclisboa tem apostado na descoberta de novos territórios e na vitalidade do cinema do real.
Em 2007, o festival mantém os principais objectivos das edições anteriores “mostrar ao público português filmes importantes e multipremiados internacionalmente que ainda não chegaram às salas de Lisboa, permitir uma reflexão mais aprofundada sobre temas contemporâneos e de actualidade, dar a conhecer de forma mais sistemática a cinematografia de outros países, organizar debates que mobilizem o público em torno de filmes importantes e de temas transversais, presentes em várias obras”.
Através das suas diferentes actividades, o festival é, também, um motor de transformação do documentário em Portugal (distribuição, financiamento, profissionalização). O festival permite uma reflexão mais aprofundada sobre temas contemporâneos e de actualidade, sendo assim um agente que intervém sobre a sociedade portuguesa, um local onde os filmes se discutem e se pensam nas suas abordagens de produção e artísticas.
Durante 11 dias serão exibidos cerca de 120 filmes, divididos entre a competição internacional (longas, curtas e primeiras obras) competição nacional e investigações. Haverá ainda secções paralelas: “Diários Filmados e auto-retratos”, uma oportunidade única para rever clássicos e raridades que falam da vida dos realizadores ligada ao cinema; “Vento Norte”, que nos traz alguns dos melhores filmes nórdicos; “Riscos e Ensaios”, que reformula a secção Ficções do Real Número Zero.
A “Mostra Retrospectiva: Lech Kowalski” será certamente um dos momentos mais altos do festival. Lech Kowalski, realizador de origem polaca e cidadania inglesa, é uma figura maior do cinema underground americano. Os seus filmes são, desde o início, uma observação das margens, um encontro com outsiders.
Este ano o festival propõe-se a trazer novamente a Lisboa, em primeira-mão, o melhor da produção nacional e internacional de documentário: onze dias de projecções em regime intensivo, ainda com mais filmes, mais secções e mais actividades complementares do que nas anteriores edições.
Este ano surgem algumas novidades relativamente às edições anteriores. O doclisboa terá um segundo espaço de projecção nas duas salas do Cinema Londres. Assim todos os filmes em competição passarão duas vezes, assim como os outros filmes das secções paralelas e extracompetição. O Cinema São Jorge será um espaço importante dos últimos dias do festival – 26, 27 e 28 de Outubro. Por um lado, com sessões escolares organizadas (sexta-feira, 26 de Outubro), por outro, com uma matiné infantil (sábado, 27 de Outubro).
Outra das novidades desta 5.ª edição é a Maratonadoc, que terá lugar no último domingo do festival. Um ou dois comissários escolherão de entre os filmes presentes no festival cerca de 15 dos seus preferidos e farão a apresentação dessas obras. A Maratona terá lugar nas duas salas do cinema São Jorge, a partir das 11 da manhã de dia 28, até de madrugada.
Paralelamente ainda estão programados encontros profissionais entre produtores e realizadores portugueses e representantes do mercado internacional, sob o título “Docbreakfast” e ainda a primeira edição do workshop doclisboa escolas, com o objectivo de aproximar os alunos das escolas de cinema e os jovens realizadores às regras internacionais do meio profissional de documentário.
Este festival é, sem dúvida, um ponto de encontro privilegiado do público com realizadores e outros profissionais nacionais e estrangeiros do documentário e um fórum aberto de reflexão e discussão sobre o estado do mundo e a situação do cinema documental contemporâneo.
Este festival é uma co-produção entre a Apordoc e a Culturgest com o apoio do Ministério da Cultura/ICAM, Câmara Municipal de Lisboa, Egeac e Programa Europeu Media. Patrocinador oficial: Sony. Organização: Apordoc – Associação pelo Documentário. Poderá encontrar mais informação em www.doclisboa.org.

A vitória da táctica políticapor Rui Teixeira Santos

A derrota de Marques Mendes é um aviso para José Sócrates. É um novo modo de fazer política, sobretudo, táctico, mas que ganha eleições. Sócrates deve saber que aquilo a que António Vitorino chama “populismo” é mais que uma táctica para cativar o eleitorado. É, mesmo, um método para conquistar o poder.

A derrota de Marques Mendes é um aviso para José Sócrates. É um novo modo de fazer política, sobretudo, táctico, mas que ganha eleições. Sócrates deve saber que aquilo a que António Vitorino chama “populismo” é mais que uma táctica para cativar o eleitorado. É, mesmo, um método para conquistar o poder.

Os momentos psicológicos da mudança no PSD

Do ponto de vista da análise política, o mais interessante, na vitória de Luís Filipe Menezes, nas directas de sexta-feira no PSD, não foi tanto o seu discurso, nem a surpresa das ditas elites da direita e da esquerda, nem mesmo o ter mandado para a reforma o cavaquismo e o barrosismo, que oportunistamente continuavam a viver das rendas da política.
O mais interessante foram mesmo dois ou três números de verdadeira táctica política que poderão ter virado o resultado e que mostram que a oposição mudou.
Em primeiro lugar, a neutralização de Ferreira Leite ficará nos livros de registo de tácticas políticas, com uma estratégia de envolvimento por parte da candidatura de Luís Filipe Menezes, que impediu a presidente da Mesa do Congresso de, publicamente, vir apoiar Marques Mendes, criando um limbo à volta do seu voto que, objectivamente, não beneficiou o antigo líder.
Há dois momentos significativos para tudo mudar: primeiro, a golpada dos Açores e os votos da Amazónia, que travam Ferreira Leite e desacreditam Marques Mendes. Percebendo a questão da aparente “chapelada” nos Açores, Manuela Ferreira Leite propõe que todos possam votar com as quotas pagas até ao acto, o que é inviabilizado pelo Aparelho de Marques Mendes. Guilherme Silva percebe o embaraço, talvez ciente dos números.
Como retaliação, os mendistas avançam com a alegada compra de votos ou pagamentos colectivos de quotas no último dia. A candidatura de Luís Filipe Menezes treme, até mesmo com as declarações de Pacheco Pereira em desespero.
Finalmente, o golpe de misericórdia em Mendes: os votos da Amazónia. Já ninguém discutia se havia ou não fraude do lado de Mendes. Apenas se era na Amazónia e se eram mais ou menos votos. Mendes estava “frito”.
Em segundo lugar, a maneira como os menezistas fazem prolongar até às quatro da manhã a reunião da Conselho de Fiscalização Nacional, neutralizando assim o contra-ataque preparado por Guilherme Silva, empurrando a decisão para longe da hora dos telejornais e reduzindo o seu impacto mediático.
Mas, sobretudo, as jogadas de Luís Filipe Menezes, dando a entender a Ferreira Leite que podia desistir. A presidente da mesa do Congresso pedia então a Menezes – foi aqui que cometeu o erro fatal, pois ficava sem espaço para apoiar Mendes – que não tomasse nenhuma posição sem lhe falar. Menezes arrasta para as três da tarde a sua conferência de imprensa, quando já não havia espaço para mais ninguém falar. Nem mesmo para Ferreira Leite. O efeito mediático da avalancha dos barões a apoiarem Mendes estava destruído e o líder já não podia ser apontado como “campeão da ética”.
Menezes ia a votos e a máquina não conseguia garantir a reeleição de Mendes, surpreendida com a confusão. Menezes ganhou.
De certo modo, há aqui um regresso ao PSD de Sá Carneiro, dos métodos e tácticas nos grandes congressos fundadores da democracia. Calculista, inteligente, político.
E, nesse sentido, também vindo do Norte, como o fundador do PSD que Balsemão substituiu, Luís Filipe Menezes faz voltar a política à agenda do País, de um país cinzento, cansado das missas de Marcelo e alienado no futebol e nos casos de polícia. Torna isto tudo pelo menos muito mais divertido.
Mas sobretudo, Luís Filipe Menezes evita a solução Balsemão, que o “Expresso” trazia no passado fim-de-semana: o fim das directas e a devolução do poder aos barões barrosistas, em aliança com o que restava do cavaquismo. Falhou tudo diante do resultado devastador de Menezes.

Sócrates que se acautele

A partir de agora há mudança. Pelo menos da forma. E, em política, quantas vezes a forma não é tudo. Menezes não se deslumbrou em entrevistas às revistas cor-de-rosa ou a falar a todo o momento. Marca o seu tempo. Gere a imagem.
Em política, a conquista do poder justifica estes jogos tácticos inteligentes. A encenação, que é também parte do poder. Os meios justificam os fins, sem ingenuidade.
É, basicamente, o regresso da política tacticista, em vez da “conversa” dos grandes princípios – sempre tão relativos e tão ao sabor de modas – que marcaram a direita nos últimos dez anos e que, de certo modo, contribuíram para o descrédito da própria direita.
É o regresso da táctica, do jogo de espelhos, da inteligência florentina à política. Aliás, Luís Filipe Menezes não deixa equívocos na sua moção ao Congresso: quer mudanças, a começar pela lista para o Parlamento Europeu, indo todos para a rua. Saudável e clarificador… (Seguramente o inacreditável Pacheco Pereira sairá também do PSD, perdendo, naturalmente, o palco na SIC…)
Mas, este novo ciclo da oposição reserva, também, surpresas ao primeiro-ministro e ao PS. A começar pelos impostos, que Sócrates não quis descer. Menezes não quer tapar a boca a Marcelo e evitar que Ferreira Leite se ponha em bicos de pés ou, mesmo, que Cavaco Silva volte a falar do monstro.
O “monstro” é o Estado, gastador e gigante, que o “novo” PSD quer diminuir, para depois diminuir o défice e, finalmente, poder, consistentemente, baixar os impostos. Dito assim não é nenhum apoio a Sócrates. É mesmo uma dificuldade, pois Menezes já está a tirar espaço ao primeiro-ministro.
Ao dizer que só com o défice abaixo dos 2% é que se pode descer impostos, Menezes não está a fazer economia (não há razão nenhuma económica para ser 2 ou 3 ou 4 por cento o défice do OE, sobretudo, quando estamos no euro e os outros pagam os nossos excessos), mas a fazer política e bem feita.
Menezes está a tirar espaço ao PS para poder descer impostos e fazer uma utilização eleitoralista do Orçamento do Estado antes das legislativas de 2009.
Basicamente, o que Luís Filipe Menezes está a dizer é que sem continuar com as reformas até níveis de segurança claros, o dinheiro que se diminuir na receita pública vai fazer falta depois e pesar no relançamento da economia.
Nesse sentido, o PSD, dirá Menezes, fará tudo para poder baixar os impostos. Mas, consistentemente. Credivelmente… depois do défice ficar abaixo dos 2%. Tudo o resto é pura demagogia e irresponsabilidade…
No próximo Congresso do PSD, Menezes já está a pensar em 2009. Não tem nada a perder, nem assumiu nenhum compromisso. Foi, exactamente, assim que conquistou o PSD.
A bola ficará, portanto, do lado de Sócrates. Se baixar os impostos, com o défice acima dos dois por cento, pode contar com o “selo” de gastador, populista e eleitoralista.
Sócrates que se acautele. Para que não lhe aconteça o mesmo que a Marques Mendes…

A vitória de Luís Filipe Menezes por Paulo Gaião

Ou Cavaco se adapta aos novos tempos e diminui o nível
de cooperação estratégica com Sócrates, ou não é liquido que o PSD de Menezes lhe dê um apoio efectivo
à recandidatura

Luís Filipe Menezes parte de expectativas muito baixas, o que faz com que os seus resultados futuros sejam muito promissores. Além do mais, tem a experiência de Santana Lopes para aprender com os erros passados. A receita passa por Menezes fazer quase tudo diferente de Santana. Seguir o seu próprio caminho, não se deixar levar por amiguismos, não fazer viragens de 180 graus nem concessões abissais.
A história de Santana não é a de Menezes. Se, no futuro, com as muitas vicissitudes que o tempo costuma trazer, o acaso permita que Santana ajuste contas com a história, Menezes até pode estar lá para dar um empurrãozinho. Mas nada deve fazer para forçar as coisas. Os santanistas mais significativos, como Rui Gomes da Silva e Helena Lopes da Costa, estão com Menezes. Este é um valor acrescentando que o novo líder deve gerir cuidadosamente. Impedindo que se forme a impressão de que Gomes da Silva e Lopes da Costa são uma espécie de mandatários de Santana, quaisquer que sejam os seus cargos futuros. De forma a virar a página…
Os tempos correm de feição a Menezes. O próprio facto de não ser deputado e não poder ser líder parlamentar pode ser utilizado a seu favor. No Parlamento, agora com debates de quinze em quinze dias, Menezes não precisa de se expôr, de ficar sujeito a avaliações com Sócrates, na posição sempre ingrata de quem está na oposição. O palco pode ser dele noutro local. Menezes não tem se preocupar com o que foi a vida infernal de Ribeiro e Castro. O autarca de Gaia sempre teve direito aos holofotes.
Até uma nova “gaffe” de Mário Soares veio revelar-se feliz para Luís Filipe Menezes. O ex-presidente da República considerou uma “desgraça” o que se passou no PSD. Depois sentiu-se no dever de emendar a mão. No final, Menezes já era muito amigo dele, o autarca de Gaia até tinha proposto Soares para nome de rua e o velho líder socialista contrapôs Cal Brandão.
Se fizer as coisas bem, Menezes até pode ser um caso de sucesso. Mesmo se perder para José Sócrates nas eleições legislativas de 2009, até com maioria absoluta do PS, a sua liderança pode não ficar em causa. Imagine-se que Menezes alcança um “score” muito acima dos 30 por por cento, beneficiando do efeito novidade, do voto de descontentamento com Sócrates, do voto útil do PP no PSD. Menezes ficaria a grande distância do resultado de Santana Lopes em 2005, o que contribuiria mais para o fortalecer. Recorde-se o caso de Ferro Rodrigues nas legislativas de 2002, em que o hoje embaixador na OCDE ficou a apenas dois pontos percentuais de Durão Barroso, acabando por continuar na liderança do PS (depois hipotecada por causa do caso Casa Pia).
Para além da disputa que fará com Sócrates em 2009, Menezes tem muitos outros trunfos para jogar. Apesar da sua promessa de serem as bases a decidir, é ele quem vai escolher ou dar luz verde aos candidatos às eleições europeias e às municipais, pelo menos no que se refere às grandes cidades. Também é ele, naturalmente, quem vai referendar as listas de deputados nas legislativas de 2009. Nas presidenciais de 2011, é igualmente Menezes quem vai ter uma palavra a dizer na recandidatura de Cavaco Silva.
O papel de Cavaco. Uma mistura paradoxal entre a necessidade de ajudar Marques Mendes e o excesso de confiança na sua vitória, fez Cavaco Silva não ter algumas precauções. A luz verde que teve que dar para Alexandre Relvas ser o mandatário da candidatura de Marques Mendes (depois de ter sido seu director de campanha) expôs a Presidência da República desnecessariamente. O mais surpreendente é que esta atitude nem se enquadra no estilo de Cavaco, muito sensato e prudente.
Cavaco tem tido, na Presidência da República, encargos excessivos. Quase como se tivesse de expiar alguma coisa. A sua coabitação de sonho com Sócrates é muito castrante e está na base, aliás, de boa parte dos problemas que Marques Mendes sentiu durante o seu mandato. O envolvimento de Cavaco nas directas, através de Relvas e de outros cavaquistas insuspeitos, pode ser visto, até, como uma forma de compensação política e psicológica face aos danos provocados a Mendes. Ora a ciência política e a sua estratégia não se compadece, muitas vezes, com mecanismos que lhe são exteriores.
Cavaco apresentou-se às presidenciais, em 2006, com o objectivo de fazer dois mandatos. Voluntária ou involuntariamente, o desempenho de Cavaco em Belém foi até hoje no sentido de ser reeleito com os votos do PSD e a não oposição do PS, passando pela não apresentação de um candidato próprio dos socialistas, como aconteceu com a reeleição de Mário Soares em 1991. Ora, a eleição de Menezes faz com que o que parecia seguríssimo há uma semana, deixe de o ser. Ou Cavaco se adapta aos novos tempos e diminui o nível de cooperação estratégica com Sócrates, ou não é liquido que o PSD de Menezes lhe dê um apoio efectivo à recandidatura. Se tal acontecesse, era ingrato para Cavaco apresentar-se em 2011 com o PS como o único entusiasta da sua reeleição.
Por sua vez, caso decida dar sinais de distanciamento de Sócrates, a posição do Presidente da República também pode não ser agradável, porque a vitória não é certa (e Cavaco gosta de coisas quase garantidas). No entanto, se ganhar o segundo mandato, o triunfo será mais gratificante e o PSD poderá ter finalmente um Presidente da República em Belém. Verdadeiramente seu.
A eleição de Menezes veio tornar tudo possível. Até com Santana Lopes. Para líder parlamentar do PSD, Santana não faz sentido. Só ofuscaria Menezes e podia levar, quase inevitavelmente para o Parlamento, a carga do seu passado. Santana está mortinho há dois anos para confrontar Sócrates. Ora esta guerra pessoal e política ficou lá atrás e interessa a Menezes afastar-se dela a sete pés. Mas já a hipótese de Santana ter uma luz intermitente do PSD para cumprir um dos seus sonhos e ser candidato a Belém, não deve ser descartada (mesmo com a candidatura ao lado de Cavaco). Ora, na perspectiva de Menezes, a candidatura de Santana em 2011 pode cumprir, se for caso disso, dois desideratos. Dar uma bofetada de luva branca a Cavaco e compensar Santana. Se Cavaco voltasse a ganhar Belém, tudo como dantes em relação ao actual PR. Por sua vez Santana teria, neste cenário, a sua prova dos nove em matéria de derrotas. Já se Santana ganhasse, Menezes ficaria como padrinho desse sonho realizado.

BES, BPI e CGD ganharam a AG do BCP

Só o BES o BPI e a CGD lucraram com o desfecho da última Assembleia-Geral do BCP. A confusão continua e o governo do banco não se clarificou, como convém à sua concorrência. Que saídas, agora, para o BCP? Berardo não deve convocar nova Assembleia-Geral e aceitará qualquer solução. Jogando na antecipação, Paulo Teixeira Pinto poderia surpreender o mercado e levar aos accionistas um nome que achasse ter condições para lhe suceder. Teixeira Pinto sairia, neste cenário, sem ser empurrado, mas porque teria construído uma solução de governo para o BCP. Contadas as espingardas, chegou o momento da diplomacia inteligente.

Os advogados de Joe Berardo e Moniz da Maia anteciparam o desfecho da Assembleia-Geral, de segunda-feira passada, e evitaram uma derrota, retirando os pontos da ordem de trabalhos e afastando a razão de ser da reunião de accionistas do BCP. Na noite de domingo, o acordo estava praticamente conseguido entre os accionistas, mas, na segunda-feira, tudo voltava à estaca zero e a contagem de espingardas, feita anteriormente, obrigava acções rápidas. No final, os protagonistas tentaram evitar mais polémicas públicas, percebendo que, objectivamente, o banco começava a perder valor, e que a concorrência era a primeira beneficiária, ao mesmo tempo que se começavam a clarificar as posições.
Pedro Teixeira Duarte assumia-se como investidor de longo prazo, distante dos dois mais evidentes protagonistas divididos e defensor do que se convencionou chamar “a terceira via”. É, aliás, esta que, cada vez mais, começa a fazer sentido, sobretudo, porque os principais investidores estrangeiros estarão de saída, a começar no Fortis, que, certamente, quererá realizar os 780 milhões, que vale a sua posição no BCP, para evitar ter que pedir aos seus accionistas nove biliões de euros para comprar a operação do BBN Amro na Holanda.
Também, a Sonangol tem que ir devagar no BCP. Ninguém se mete com os negócios angolanos, enquanto eles estiverem confinados ao BPN e ao BANIF. Mas, se José Eduardo dos Santos quiser controlar o BCP vai ter problemas e sérios.
Por outro lado, a crise de liquidez está a desmotivar os accionistas estrangeiros que alinharam com Jardim Gonçalves, ao mesmo tempo que muitos dos accionistas nacionais, alavancados em crédito, não aguentam estavelmente ser referências do BCP, sobretudo, com as acções a caírem quase mil milhões de euros, como aconteceu a seguir à Assembleia-Geral de segunda-feira. Os bancos credores começam a ficar nervosos e impacientes e, por isso, haverá muita gente a saltar fora.

Berardo não pedirá mais nenhuma AG

O próprio Joe Berardo, certamente, não irá pedir mais nenhuma Assembleia-Geral depois da loucura da última. Contadas as espingardas iria perder pelo que não se coloca a jeito. Por outro lado como agitador quer vender as acções com mais-valias e por isso vai ser o primeiro a aceitar qualquer solução. O mesmo se passará com Moniz da Maia e todo o grupo dos sete.
É antecipando isso que Paulo Teixeira Pinto foi, logo, dizendo, na segunda-feira, que não era o porta-voz de ninguém e que lembrava que tinha sido Jardim Gonçalves a escolhê-lo. Ficou claro que qualquer solução, no actual quadro de accionistas, só será aceite se Jardim e Pinto se afastem.
E, neste contexto, a busca de uma solução credível pode ser a jogada de antecipação de Paulo Teixeira Pinto, já nas próximas semanas, avançando com um nome que o actual CEO considere que está em condições de conduzir o banco.
A questão do governo do banco, nos termos em que ficou depois da última Assembleia-Geral, pode aguentar-se até à assembleia de Março de 2008, interessando isso aos concorrentes, pois é obvio que o BCP está a perder notoriedade e negócio, por causa do desgaste desta guerra de accionistas.
Neste cenário, como CEO e accionista, a última coisa que Paulo Teixeira Pinto se emprenharia era em destituições de colegas ou mesmo no afastamento de Jardim Gonçalves. Mas, como accionista e presidente executivo, poderia indicar aos accionistas um nome para seu sucessor – por exemplo, Santos Ferreira, Pedro Fernandes Homem ou António Horta Osório, ou, numa solução interna e pacificadora, mas de mais curto prazo, Alípio Dias (o homem dos equilíbrios do Bloco Central, empurrado para o lado de Jardim pelos acontecimentos) ou, numa solução mais fracturante, Francisco de Lacerda (líder da facção Mello dentro do BCP) ou João Talone, (estando postos de lado nomes como António Mexia ou António de Sousa) – que eles aceitassem e aceitassem convidar. Seria esse novo putativo CEO que iria dizer com quem quereria trabalhar, nomeadamente, com quem da Administração actual e do Conselho Geral e de Supervisão do banco. Seria ele a dizer se ficaria com alguns dos actuais administradores e responsáveis do banco (por exemplo, com Jardim Gonçalves) ou não, não tendo Paulo Teixeira Pinto ou Pedro Teixeira Duarte que se desgastarem com despedimentos e negociações de envelopes financeiros.
A antecipação de Paulo Teixeira Pinto, para lá de economicamente vantajosa, poderia, neste cenário, ser – não uma jogada politica, como pareceram algumas até agora – mas a confirmação de que o CEO quereria continuar a ter influência no banco, depois da sua eventual saída da Administração, evitando maiores desgastes directos, e, sobretudo, que, aos 47 anos, conseguiria gerir uma situação tão delicada como esta, demonstrando, afinal, estar à altura de outros protagonismos, dentro e fora do banco.
A entrevista de Pedro Teixeira Duarte, ao “Diário Económico”, ontem, era bem um sinal que, do lado da construtora, a paciência se estaria a esgotar e que haveria um público distanciamento relativamente às posições de Jardim Gonçalves. Pedro Teixeira Duarte sabe que a crise económica está a chegar e que a recessão em Espanha empurrará de volta ao País mais 100 desempregados, emigrados em Espanha, tornando a situação em Portugal insustentável.
Bom senso e agilidade diplomática são os trunfos a jogar agora. A crise global ajuda à maior contenção. E, quem for mais diplomata e mais inteligente acabará por sair bem de uma história que, na opinião pública, não deixa ninguém bem no retrato.

Instabilidade no banco não desvia CEO
das metas do “Millennium 2010”

Foi marcando esta agenda que Paulo Teixeira Pinto, logo depois da Assembleia-Geral, anunciou que o banco vai cumprir os planos e os prazos da abertura de novos balcões na Roménia e garante que vão “manter escrupulosamente as metas”. Dar um sentido de normalidade para que todos possam recuperar a face e o banco não perca mais.
“Vamos manter escrupulosamente as metas, nomeadamente a abertura de um banco na Roménia”, afiançou aos jornais o presidente do Banco Comercial Português à saída da AG.
Mas, reconheceu, também, que esta situação de sucessivas AG gerou algum impasse no banco: “esta situação terá obrigatoriamente de ser recuperada” em termos de “timing”.
Indagado pelos jornalistas ao final da AG sobre se pondera sair da instituição, Paulo Teixeira Pinto afirmou que vai “sair um dia e não vai ser daqui a 20 anos”, acrescentando que “a minha saída nunca fez parte de nenhum acordo” entre os accionistas, e que “o meu lugar esteve sempre à disposição dos accionistas”.
“O cargo de presidente do conselho de administração não é um emprego” e em jeito de desabafo disse que nos últimos dois anos apenas gozou cinco dias de férias.
Em relação ao futuro do banco, o CEO fez um apelo à estabilidade, dizendo que “o banco precisa de sair das primeiras páginas dos jornais”.
Para os próximos meses, e questionado sobre as eventuais negociações para se chegar a um consenso em relação aos estatutos, Paulo Teixeira Pinto diz “ser admissível” que se siga, agora, um “período de um a dois meses de discussão”, acrescentando “ser possível uma AG em Outubro. Mas não estou a dizer que vai haver uma AG em Outubro”.
E rematou, quando questionado sobre a existência de divergências com Jardim Gonçalves, que “não há divergências, nem pessoais, nem funcionais com Jardim Gonçalves”.

Operadores prevêem queda das acções
do BCP e rejeitam cenário de OPA

Os operadores do mercado nacional antecipam uma queda das acções do BCP e consideram que a instituição está demasiado instável para ser atractiva a uma oferta pública de aquisição (OPA), como o sugerido pelo empresário Joe Berardo.
“O mercado ainda está a tentar perceber o que se irá resolver em termos de futuro do BCP. Por isso, é mais provável que as acções venham a cair hoje do que a subir, mesmo apesar dos comentários do comendador Joe Berardo”, afirmou ao Jornal de Negócios Online Luís Duarte, do Caixa Banco de Investimento.
Posição partilhada por outro operador de uma corretora, que considera que “a enorme incerteza em relação a um entendimento entre accionistas do BCP deverá pressionar as acções”. Quanto à possibilidade de o banco estar vulnerável a uma OPA, o mesmo operador afirma que “existem demasiadas divisões na estrutura de liderança e na estratégia do BCP” para que o banco “consiga atrair alguma oferta de aquisição, como sugeriu Joe Berardo”.
O cenário de OPA foi lançado por Joe Berardo, um dos maiores accionistas da instituição e a enfrentar também grandes problemas para o pagamento das dívidas se a desvalorização continuar. “Não me admiraria nada que aparecesse por aí uma OPA”, afirmou empresário madeirense, que controla 6,8% do BCP. Berardo disse ainda “ter medo que daqui a uns dias, o banco comece a falar espanhol”.
A possibilidade deixada em aberto por Berardo não teve qualquer efeito de subida nas acções do BCP que desvalorizou significativamente nas sessões seguintes.

BES prevê dificuldades no acordo entre
accionistas do BCP

Por seu lado a Espírito Santo Research (ESR) considerou que não deverá ser fácil aos accionistas do BCP chegarem a um acordo final, em relação à estrutura de gestão do banco. A posição foi defendida pelo departamento de análise do BES, numa nota divulgada depois da Assembleia-Geral.
“O processo de negociação vai continuar, mas parece que será difícil aos accionistas do BCP atingirem um acordo final quanto à estrutura de gestão do banco”, defenderam os analistas Cristina Vieira da Fonseca, responsável pelo departamento de “research”, e Carlos Lobo.
Os analistas salientam que qualquer entendimento entre accionistas “só será possível se os conflitos internos forem esquecidos”, o que defendem que seria positivo para o banco.
Apesar da incerteza quanto à liderança do maior banco privado português, a casa de investimento recorda que as acções negoceiam com um prémio de OPA e que “um acordo interno poderá reduzir a probabilidade de uma oferta de aquisição”.

Rogério Alves: haverá nova assembleia
do BCP antes do fim do ano

Quem anima a possibilidade de uma Assembleia-Geral antecipada é, desta vez, a Teixeira Duarte. Endividada e dependente do BCP, no caso da Cimpor e da própria actividade da empresa, terá todo o interesse em marcar a próxima Assembleia-Geral, eventualmente apoiada por outros accionistas dos dois lados.
O advogado Rogério Alves, que representou a Teixeira Duarte na assembleia geral do BCP, afirmou, já depois de concluídos os trabalhos do encontro, que irá realizar-se nova reunião magna de accionistas ainda antes do final do ano, para escolher um novo modelo de governação para o banco.
O bastonário da Ordem dos Advogados acrescentou que a Assembleia de segunda-feira foi o primeiro passo para a pacificação interna do BCP e acrescentou que a retirada dos pontos da ordem de trabalhos foi um sinal de boa vontade dos accionistas para se conseguir a concertação e o consenso na instituição.
Mais uma vez, Paulo Teixeira Pinto pode ter, agora, a palavra. Ele pode dar a solução aos accionistas que não se entenderam até agora.