2025/07/06

Rui Campos Guimarães, director-geral da COTEC

“O aumento do investimento tem de estar associado a uma gestão mais eficiente para rentabilizar os recursos do País”

“Flexibilização [laboral] pode ser essencial para a geração de mais competitividade, inovação e emprego”

Portugal subiu no “Ranking dos Países Inovadores”, passando da 22ª posição para a 17ª posição na UE27 e passou a integrar o grupo dos Moderate Innovators (ver caixa). Rui Campos Guimarães diz em entrevista ao SEMANÁRIO, que “o facto de Portugal apresentar a terceira maior taxa de crescimento nos vinte e sete países representa também um factor de atracção para as empresas mais inovadoras”. O director-geral da COTEC refere ainda, que “a flexibilização [laboral] pode ser essencial para a geração de mais competitividade, mais inovação e mais emprego.”

Qual é a importância do European Innovation Scoreboard?
O European Innovation Scoreboard (EIS) é o instrumento da Comissão Europeia, mais concretamente da Direcção-geral de Empresas e Indústria, para a avaliação e comparação do desempenho dos Estados Membros (e de um número limitado de outros Estados que a ele aderiram) no domínio da inovação.
Através de uma análise conjunta de vários indicadores estatísticos, baseada fundamentalmente nos dados do Eurostat, conduz a um resultado conjunto, o Summary Innovation Index. Este índice é a principal referência internacional no posicionamento dos países em torno da inovação. Em países como Portugal, onde os resultados são ainda inferiores aos da média dos países considerados, esta análise é especialmente útil pois permite identificar as dinâmicas de convergência com os países mais desenvolvidos nesta área.

Quais as vantagens do crescimento dos indicadores?
Os indicadores do EIS procuram, desde a sua primeira publicação, em 2001, reunir informação não apenas ao nível dos recursos humanos, financeiros, tecnológicos e de conhecimento, mas também no que respeita a impactos económico-sociais do processo de inovação.
No nosso entender, o EIS na sua versão de 2007 e anteriores não conseguia reflectir adequadamente as características específicas dos países do Sul da Europa. No âmbito da COTEC Europa, o Professor Vítor Corado Simões coordenou um grupo de trabalho com o objectivo de contribuir com sugestões de melhoria deste instrumento e que, comparando o EIS 2007 com o EIS 2008, permitiu que 19 em 29 indicadores fossem revistos ou substituídos por outros considerados mais ajustados.
Importa ainda referir que Espanha subiu uma posição no ranking do EIS e Itália desceu quatro, passando estes países a ocupar o 16º e 19º lugar, respectivamente. Mais do que a alteração técnica no cálculo do indicador, o facto de Portugal subir cinco posições no ranking dos vinte e sete países da União Europeia (passando a ocupar o 17º lugar) é um reflexo de mudanças verificadas no nosso País.
Esta evolução não se faz num dia. Muitos dos indicadores, como a qualificação dos recursos humanos, são geracionais. Mesmo a inovação realizada nas empresas é uma aposta de longo prazo, podendo em alguns sectores decorrer mais de uma década entre o lançar deste processo e sua concretização. O crescimento reportado é, por isso, de grande importância.
Acredito que esta posição e o facto de Portugal apresentar a terceira maior taxa de crescimento nos vinte e sete países representa também um factor de atracção para as empresas mais inovadoras, pela crescente importância das redes colaborativas enquanto ambiente propício à inovação.

Quais foram os tipos de inovações que foram consideradas para este ranking?
O conceito de inovação subjacente à análise segue a terminologia da OCDE segundo a qual a inovação corresponde à implementação de uma nova solução, quer se trate de um novo produto (bem ou serviço), processo, método organizacional ou de marketing. Na COTEC, caracterizamos a inovação de uma forma extremamente sintética como “a conversão de conhecimento em valor económico ou social”.
O EIS 2008 apresenta um conjunto de indicadores que permite uma melhor cobertura das variáveis relevantes e evita uma sobrevalorização da vertente tecnológica e da propriedade intelectual que caracterizavam os EIS anteriores.

Quais são os (três) líderes deste ranking?
Os países que encabeçam esta lista são a Suíça, a Suécia e a Finlândia.

O que nos falta para chegar ao topo da tabela?
Embora todos os indicadores contribuam para esse objectivo, quando procuramos padrões comuns aos líderes da tabela, identificamos alguns factores críticos.
Desde logo, estes países dispõem de recursos humanos com elevada qualificação. Neste capítulo temos uma das nossas principais fragilidades. Apesar de alguma convergência resultante da taxa de crescimento ser aproximadamente o dobro da média comunitária, Portugal parte com uma enorme desvantagem, pelo que devemos (Estado e empresas) reforçar as medidas de recuperação nesta matéria.
O indicador mais referido para estes três países refere-se ao tratamento dos resultados intermédios do processo de inovação (throughput). Esta dimensão avalia principalmente questões associadas à propriedade intelectual. No que se refere à submissão de patentes, Portugal apresenta um registo mais de catorze vezes inferior à média comunitária. Este é um factor que nos penaliza menos do que em anos anteriores mas que deve motivar sérias análises.
Finalmente, salientaria a questão do apoio externo. O financiamento das actividades de I&D, embora ainda abaixo da média comunitária, tem sido alvo de importantes medidas públicas, desde a implementação de algumas infra-estruturas fundamentais como o acesso a banda larga, até aos sistemas de incentivos no âmbito do QREN. Na COTEC procuramos também reforçar o nosso papel de catalisador entre as empresas e outros agentes que intervêm no sistema de inovação.

Sucintamente, em que consiste o programa de Desenvolvimento Sustentado da Inovação Empresarial?
Numa primeira fase, foram desenvolvidos quatro projectos que resultaram na disponibilização do Modelo de Interacções em Cadeia, o Manual de Identificação e Classificação das Actividades de IDI, as primeiras Normas Portuguesas de Gestão da IDI e o instrumento de auto-avaliação Innovation Scoring tendo estes instrumentos sido aplicados a um conjunto de 15 empresas associadas da COTEC.
Nesta segunda fase, em curso desde meados de 2008, estamos a trabalhar no sentido de alargar a aplicação destas ferramentas ao maior número possível de empresas. Trata-se de uma iniciativa considerada estratégica no âmbito do plano de actividades da COTEC e que, no horizonte de 2010, pretende mobilizar cerca de 700 empresas para a gestão da inovação com um foco muito claro na geração de mais e melhores resultados de inovação.

Qual o objectivo do programa de DSIE?
Esta iniciativa procura estimular e apoiar as empresas nacionais, em particular os Associados da COTEC, no desenvolvimento da inovação de uma forma sustentada.
Baseado nos conceitos apresentados na 3ª edição do Manual de Oslo, o modelo de inovação empresarial desenvolvido pela equipa coordenada pelo Professor João Caraça constitui uma análise sobre os tipos de conhecimento, os processos internos e as interfaces que sustentam o processo de inovação empresarial.
O Manual desenvolvido pelo INESC Porto apresenta as actividades que devem consideradas na cadeia de valor da investigação, desenvolvimento e inovação. Esta identificação é fundamental para que as empresas possam contabilizar, reportar e gerir aquelas actividades.
Para implementar nas empresas um modelo de gestão sistemático, as normas portuguesas para a gestão de IDI constitui o referencial simples e organizado numa metodologia plan-do-check-act.
De forma contínua, como um check-up, deve ser monitorizada a inovação nas empresas através do sistema de innovation scoring, disponível universalmente e de forma gratuita através de uma plataforma on-line.

Quais as empresas alvo?
Começar-se-á naturalmente pelas empresas associadas e por aquelas que se encontram inseridas na Rede PME Inovação COTEC. Simultaneamente – porque a COTEC adopta sempre uma postura inclusiva – estender-se-á a iniciativa a um conjunto de mais cerca de 500 empresas que se julga estarem em boas condições de absorverem estas boas práticas de inovação.

E qual é a importância deste programa?
O nosso País está a recuperar do seu atraso ao nível do investimento em I&D. É importante referir que Portugal é o país da Europa onde a despesa em I&D mais cresceu entre 2005 e 2007, cerca de 46%, muito acima da média europeia que se situa abaixo de 1%.
A participação das empresas neste esforço tem sido decisiva. Pela primeira vez na história portuguesa, em 2007, a despesa do sector empresarial em I&D ultrapassou a despesa do sector não empresarial. A despesa das empresas situa-se nos 0,61% do PIB, face a 0,57% do agregado Estado, Ensino Superior e Instituições Privadas sem Fins Lucrativos.
A COTEC acredita que o aumento do investimento tem de estar associado a uma gestão mais eficiente para rentabilizar os recursos do País. A inovação, essencial à actividade empresarial, só é um bom investimento quando é bem gerida.

Este programa poderá ajudar a ultrapassar a crise?
Sim, naturalmente numa perspectiva de preparação para o re-arranque da nossa economia, quando outros factores o permitirem.

Em que medida?
Tipicamente, em alturas de recessão económica, as emergências do curto prazo sobrepõem-se às medidas estruturantes, com impacto no médio e longo prazo. Por outro lado, as crises constituem momentos mais propícios à reestruturação das organizações, podendo converter-se, assim, em oportunidades.
Sendo a inovação o motor da nova economia do conhecimento em mercados globais, é – e será cada vez mais – uma condição necessária para a saúde das empresas.
Acreditamos que esta iniciativa venha a ter enorme impacto na forma como as nossas empresas conduzem as suas actividades de investigação, desenvolvimento e inovação. As empresas que, neste domínio, melhor implementarem os seus sistemas de gestão ganharão enormes vantagens competitivas no futuro.

No seu entendimento, qual o estado das empresas em Portugal?
Há das mais avançadas e competitivas até às menos aptas a concorrerem em mercados globais ou sequer a defenderem-se no seu mercado nacional. E o que se passa com as empresas também é verdade para sectores de actividade económica.

O que deveria ser mudado?
Naturalmente, haverá que reforçar as empresas que, no presente e no futuro previsível (é importante sublinhar o futuro previsível), reúnam condições de competitividade baseadas em conhecimento que lhes permitam ser líderes em mercados internacionais progressivamente globalizados.

Na globalidade, como caracteriza os recursos humanos em Portugal?
Embora os indicadores que caracterizam a população adulta (dos 25 aos 64) revelem debilidades acumuladas ao longo de décadas, a verdade é que nos indicadores de recuperação Portugal já surge numa situação mais confortável (por exemplo, no que se refere à percentagem da população com 25 a 34 anos – a que mais conta em termos de inovação – com o ensino secundário concluído ou com graus de licenciatura ou de doutoramento ou às taxas de crescimento recentes nestes indicadores).

Nos últimos anos as leis laborais têm vindo a flexibilizar as condições de trabalho. De que maneira esta situação não contribui para a situação de precariedade que vivemos?
Do ponto de vista individual, contribuirá certamente para a precariedade, particularmente dos menos aptos. Mas o equilíbrio que sobretudo interessa estabelecer com ponderação (que inclui a solidariedade que todos devemos aos mais desprotegidos) é de natureza social (que, todos concordarão, não corresponde certamente à máxima segurança individual de cada um de nós). Para ser mais concreto: a flexibilização (que afectará negativamente alguns) pode ser essencial para a geração de mais competitividade, mais inovação e mais emprego (que afectará positivamente a sociedade como um todo). O equilíbrio nunca será fácil de estabelecer e, naturalmente, dependerá do contexto económico e cultural de cada sociedade.

A COTEC tem cumprido a sua missão?
Indubitavelmente tem-se esforçado por isso, e tem-no feito com critério. No seu arranque, em 2003, teve a preocupação de definir cuidadosamente a sua estratégia de actuação, tendo em conta, por um lado, as suas limitações e, por outro, a natureza do nosso Sistema Nacional de Inovação. E tem adoptado sempre uma postura de entidade ao mesmo tempo desafiadora e cooperante. Orgulhamo- nos do que temos realizado, mas competirá a outros julgar se estamos a cumprir.

Portugal sobe no “Ranking dos Países Inovadores”

A Comissão Europeia divulgou em Bruxelas o “European Innovation Scoreboard 2008”, o principal ranking de inovação que mede as performances absolutas e relativas dos 27 países da EU e de mais 8 países da OCDE. De acordo com os resultados do “European Innovation Scoreboard”, Portugal subiu no “Ranking dos Países Inovadores”, passando da 22ª posição para a 17ª posição na UE27 e passou a integrar o grupo dos Moderate Innovators. Esta melhoria traduziu-se numa taxa de crescimento nos indicadores de inovação acima do dobro da média europeia e permitiu a Portugal ser o 5º país que mais progrediu.
O ranking faz ainda referência à excelente evolução verificada nos indicadores relativos à qualificação dos recursos humanos e ao facto de Portugal ter sido também o 5º país europeu que mais melhorou no indicador relativo aos efeitos económicos da inovação.
No opinião de Artur Santos Silva, Presidente da COTEC, “para a obtenção destes resultados foi fundamental o estreito diálogo entre a COTEC e o Plano Tecnológico, no sentido de tornar o nosso país mais inovador e mais competitivo. Com esse objectivo, a COTEC está no terreno com um projecto muito ambicioso, o “Desenvolvimento Sustentado da Inovação Empresarial”, que prevê que até 2010, 650 empresas tenham implementado processos de organização e gestão da inovação adequados e focados na obtenção de mais e melhores resultados de inovação”.

Ausência do “chip” do automóvel terá multas

Entrará em funcionamento após a publicação da portaria regulamentar (daqui a dois meses). Será gratuito nos primeiros seis meses e custará, depois, entre os 10 os 15 euros. Uma coisa é certa: o “chip” que não é “chip” não exige que por este meio se conheça a conta bancária.

O “chip” que não é “chip” pode ser de produção nacional num negócio de 150 milhões

O Governo apresentou, esta semana, um novo “identificador” do automóvel, que dá pelo nome de Dispositivo Electrónico de Matrícula (DEM). Será um identificador electrónico semelhante ao da Via Verde, servirá para pagamento de todas as portagens, e a sua não existência na viatura (quando se tornar obrigatório) equivale, para efeitos do Código da Estrada, à ausência da chapa de matrícula, com multas entre os 600 e os 3.000 euros. Entrará em funcionamento após a publicação da portaria regulamentar (daqui a dois meses). Será gratuito nos primeiros seis meses e custará, depois, entre os 10 os 15 euros. Uma coisa é certa: o “chip” que não é “chip” não exige que por este meio se conheça a conta bancária. A rentabilidade para a empresa que ficar com o negócio vale cerca de 150 milhões de euros, admitindo-se que possa ser uma produção nacional.

O “chip” afinal não vai ser um “chip”, mas apenas um pequeno aparelho que será colocado no pára-brisas do automóvel, como já acontece com o da Via Verde. Terá, entre outras funções, a de ser o novo instrumento de pagamento de portagens. Do carro, mas também de outro tipo de veículos, como reboques, motociclos e triciclos autorizados a circular em auto-estradas e vias equiparadas.
Será gratuito nos primeiros seis meses (o prazo conta a partir da entrada em vigor da portaria, daqui a dois meses, mais ou menos) e depois o preço irá de 10 a 15 euros. Embora no projecto se estipule que entrará em funcionamento após a publicação da portaria regulamentar, na prática o Governo concede um ano para todos os carros se adaptarem.
Os proprietários ou titulares dos carros já em circulação deverão instalar o DEM, tal como acontece já com a Via Verde. No caso dos carros novos, a responsabilidade da sua instalação é dos representantes oficiais das marcas, isto é, um carro novo já deve trazer o DEM.
A partir do momento em que seja obrigatório (um ano após a entrada em vigor da portaria regulamentar), a não existência do dispositivo equivale, para efeitos do Código da Estrada, à ausência da chapa de matrícula, com multas entre os 600 e 3.000 euros.
O formato e a tecnologia do DEM são em tudo semelhantes ao conhecido identificador Via Verde. Os princípios do seu funcionamento também são semelhantes à cobrança electrónica da Via Verde, embora se adopte um conjunto de regras suplementares que vão garantir o anonimato do utente, se este assim o quiser. Saiba ainda que com ele poderão pagar-se todas as portagens, recorrendo à via reservada à cobrança electrónica.
Claro que a instalação do aparelho será fiscalizada pelas autoridades policiais, nos termos do Código da Estrada. E nas inspecções periódicas, serão os Centros de Inspecção Técnica de Veículos os responsáveis pelo controlo do seu funcionamento.
Para os que já têm Via Verde, se o titular deste contrato não se opuser, o seu identificador será convertido automaticamente em DEM.
E onde o encontrará? Será distribuído pelas entidades de cobrança de portagem e pelos CTT no caso dos carros já a circular. Nos carros novos serão os representantes oficiais a adquiri-los.
Quanto ao sistema de pagamento há quatro módulos. O utente associa o seu DEM a uma entidade de cobrança credenciada, celebrando de forma voluntária um contrato de adesão autorizando o débito em conta bancária; o utente realiza junto de uma entidade de cobrança credenciada (os CTT, por exemplo) o pré-carregamento de um determinado valor monetário, em que o anonimato do utente é garantido; o utente realiza esse pré-pagamento junto da entidade de cobrança, sendo este pré-pagamento associado à identificação do utente, que fica com uma relação comercial “personalizada”; e há ainda o pós-pagamento nas auto-estradas e pontes, onde seja devido o pagamento de portagem e que apenas disponham de um sistema de cobrança electrónica, mas neste caso o utente tem cinco dias úteis para pagar.

DEM pode ir muito mais longe

O Governo tinha projectado (e tem) outras funcionalidades extra. Foram adiadas para bem da aprovação deste projecto e à espera de “melhor oportunidade”.
Na verdade, em Novembro, o secretário de Estado das Obras Públicas, Paulo Campos, chegou a confirmar, depois de ter enviado o projecto de diploma para a Comissão Nacional de Protecção de Dados, que “seria um sistema inovador, com várias funcionalidades para além do mero controlo de passagem nas portagens das novas auto-estradas”. Chegou a revelar algumas, como “parquímetros sem necessidade de talões, controlo imediato de seguro do carro e da inspecção actualizada”.
Agora, o projecto não tem nada disso, mas o Governo não exclui que as recupere, se este novo dispositivo for bem recebido e não subsistirem dúvidas sobre a protecção de dados.
Tudo depende, porque, na verdade, o modelo original do dispositivo electrónico poderia até “servir para controlar os veículos a circular sem seguro ou sem inspecção, obrigatórios, que seriam imediatamente apanhados nos sistemas de controlo públicos”.
Seja como for, a verdade é que a rentabilidade prevista para a empresa que ficar com o negócio está avaliada em 150 milhões e o Governo não exclui a hipótese de produção nacional do DEM.
O Governo está a andar com cautela? Está. Trata-se de um diploma sensível, sobretudo quando se recordam as “dúvidas já levantadas” por Cavaco Silva. É que um eventual veto do Presidente não permitiria avançar com o projecto nesta legislatura, por se tratar de uma proposta do Executivo e não da Assembleia da República.

Chávez referenda eternidade presidencial

Os venezuelanos irão às urnas no próximo domingo para se pronunciarem sobre uma emenda constitucional, num referendo que servirá para sondar o apoio ao presidente Hugo Chávez e o desejo do povo de mantê-lo no poder depois de 2012, ano em que acaba o seu segundo e último mandato, face as actuais leis.

Venezuelanos vão às urnas no domingo

O presidente venezuelano acha-se o garante máximo da Pátria venezuelana e como tal quer prolongar o seu mandato ad aeternum

Os venezuelanos irão às urnas no próximo domingo para se pronunciarem sobre uma emenda constitucional, num referendo que servirá para sondar o apoio ao presidente Hugo Chávez e o desejo do povo de mantê-lo no poder depois de 2012, ano em que acaba o seu segundo e último mandato, face as actuais leis.
“Todos às urnas, que não haja um homem honesto sem votar pelo ‘sim'”, é o apelo feito por Chávez, confiante numa vitória esmagadora, defendendo que a emenda “dá mais força à democracia venezuelana” e que a sua permanência no poder “garantirá a paz”.
Segundo especifica a Constituição, o presidente venezuelano, que chegou ao poder em 1999, deve deixar o cargo após as próximas eleições presidenciais, altura em que termina o segundo mandato.
Para dar a volta à situação que impossibilita o carismático líder venezuelano de se voltar a candidatar, irá ser feita uma modificação de cinco artigos do ordenamento jurídico do país, o que vai permitir que Chávez se volte a candidatar quantas vezes quiser, assim como os governadores, munícipes, vereadores e deputados da Venezuela.

Oposição manifesta-se

A poucos dias do tão aguardado referendo têm aumentado as manifestações contra Chávez e a sua ideia de prorrogação de mandato, contudo, apesar de muito participadas, estas têm sido altamente controladas pelas forças da ordem, agora muito próximas do Presidente, o que faz crescer o receio de possíveis perseguições àqueles que agora se apresentam na oposição. Em algumas localidades do país estão mesmo a ser preparadas milícias pró-Chavez que irão “obrigar” todos a exercerem os seu direito de voto.
“No domingo temos a oportunidade de fazer Chávez entender que tem um amplo período para governar e que depois tem que ceder o posto a alguém do seu próprio partido ou à oposição. Temos que derrotar essa ideia de permanência no poder, de que ele é imprescindível”, declarou a politóloga Maruja Tarre em declarações à AFP.
O governo rejeita o termo “reeleição indefinida” e ressalta que a emenda abre apenas a possibilidade de o povo manter os bons governantes no poder, se assim desejar.
“A cada seis ou quatro anos, o povo venezuelano avaliará a gestão do Presidente, governadores e deputados e decidirá se merecem continuar”, reiterou à imprensa o ministro da Informação, Jesse Chacón.

Incerteza nos resultados

Os principais centros de sondagens da Venezuela consideram, a dois dias do referendo, que é impossível fazer prognósticos sobre quem sairá vitorioso. Segundo eles, não há uma vantagem clara e as respostas dos consultados não são tão confiáveis como noutras ocasiões, “o medo faz com que muitos digam uma coisa e nas urnas optem por outra”, disse uma fonte da oposição ao SEMANÁRIO.
Os membros do governo asseguram que as sondagens são-lhes favoráveis e que a vitória do ‘sim’ é “irreversível”.
Por seu turno, a oposição, que conquistou um importante espaço nas eleições regionais de Novembro, confia na vitória do “não”, resultado que, manteria o princípio da alternância no poder.
Além disso, os críticos de Chávez afirmam que a questão da reeleição contínua já foi incluída num projecto de ampla reforma à Constituição, rejeitado num referendo em 2007.
“O povo não quer reeleição, é um mecanismo inconveniente para a democracia. A proposta de emenda não resolve os problemas. Queremos a unidade, a reconciliação e isso é o que podemos conseguir votando “não”, declarou recentemente o líder do partido de oposição Copei, Luis Ignacio Planas.
A campanha eleitoral foi curta, porém intensa. Apesar dos 14 plesbícitos nos últimos dez anos, espera-se que os venezuelanos participem massivamente nesta nova consulta.
“Não tenho dúvidas de que está em marcha o plano “derrubem o rei”, de me tirar o quanto antes (…) Estão se a preparar para não aceitar os resultados eleitorais no caso muito provável de favorecerem a revolução”, afirmou Chávez.
Mais uma vez, o presidente, que possui grande popularidade, esteve omnipresente na campanha, na qual percorreu o país pedindo apoio à emenda, ligou para militantes, jogou basebol, num jogo a favor do “sim” e comemorou os seus 10 anos no poder manifestando o desejo de permanecer por mais uma década.

Walesa atemoriza Chávez

O ex-presidente polaco, Lech Walesa, pretende deslocar-se, na sexta-feira, a Caracas no intuito de se encontrar com representantes da sociedade civil, mas o presidente Hugo Chávez deu a entender que pode vetar a entrada no país do dirigente europeu, de forma a proteger a “dignidade da Venezuela”.
Walesa, emblemático líder sindical e prémio Nobel da Paz, confirmou numa entrevista ao jornal El Nacional que chegará à Venezuela na sexta-feira para se encontrar com representantes do movimento estudantil e ONGs.
“Nós somos obrigados a fazer respeitar a dignidade da Venezuela. Ele pode dizer isto onde lhe der vontade fora da fronteira venezuelana, mas aqui, dentro da Venezuela, não”, declarou Chávez, referindo-se a declarações recentes de Walesa, que é muito crítico em relação ao governo de Chávez. O ex-presidente polaco afirmou várias vezes que é preciso apoiar a oposição venezuelana e acusou Chávez de ser “demagogo” e “populista”.

Quique Flores e Paulo Bento com futuro indefinido

Quique Flores e Paulo Bento poderão abandonar os cargos de treinadores do Benfica e Sporting, respectivamente, no final da presente temporada. No que diz respeito ao técnico espanhol, afirmou esta semana que está disponível para regressar ao seu país “a qualquer momento”, bastando para tal que coincida a sua vontade com “a necessidade'” de qualquer equipa da Liga espanhola.

Quique Flores e Paulo Bento poderão abandonar os cargos de treinadores do Benfica e Sporting, respectivamente, no final da presente temporada. No que diz respeito ao técnico espanhol, afirmou esta semana que está disponível para regressar ao seu país “a qualquer momento”, bastando para tal que coincida a sua vontade com “a necessidade'” de qualquer equipa da Liga espanhola. Já em relação à situação de Paulo Bento, a sua permanência em Alvalade está dependente da vontade da próxima direcção, mas, ao que tudo indica, o treinador luso deverá acompanhar Filipe Soares Franco que, recorde-se, já sublinhou que não se irá recandidatar a um novo mandato.

Quique não coloca de parte um regresso a Espanha “a qualquer altura”. Apesar de ter assinado um contrato com o Benfica válido até 2010, o treinador dos encarnados surpreendeu esta semana quando, numa entrevista a um jornalista espanhol, afirmou que não descarta a possibilidade de voltar a seu país a curto prazo, bastando para tal que coincida a sua vontade com “a necessidade'” de qualquer equipa da Liga espanhola, “em qualquer momento de qualquer temporada”.
Na mesma entrevista, Quique Flores, que, de acordo com algumas fontes, já terá sido sondado pelo Atlético de Madrid e pelo Getafe, aproveitou para sublinhar que após o período de adaptação ao Benfica, considera ter alcançado no seu trabalho “a normalidade como nos clubes anteriores” que dirigiu, adiantando ainda que “não há nada para inventar” e que apenas espera enriquecer o Benfica com “estabilidade e alguma dose de ilusão”. No que diz respeito às recentes críticas que fez a Reyes, o treinador espanhol afirmou que “não foi nada de especial”. “Queremos que renda, e esse caminho, por vezes, exige uma viragem mais brusca. O importante é intuir que, no final do processo, terá seguramente um saldo positivo'”, disse o técnico das águias, acrescentando ainda que “esperava mais” de Balboa, mas que “não é tarde”: “O lugar que ocupa está muito bem entregue e a tarefa dele complicou-se”. Di Maria foi outro dos jogadores comentados por Quique, que frisou que o argentino era “um jogador em crescimento, com tudo o que isso supõe. Tem potencial e humildade para melhorar, e isso é muito importante”.

Paulo Bento com futuro indefinido
No que diz respeito ao Sporting, o seu treinador também tem dado que falar, colocando-se a possibilidade de abandonar Alvalade no final da temporada. E, de acordo com algumas fontes, é mais do que certo que a ligação de nove anos (quatro como jogador e cinco como treinador) entre Paulo Bento e o clube leonino termine em Julho,
Recorde-se que o técnico luso tem contrato com os leões até final da presente época, mas até ao momento ainda não recebeu nenhuma proposta para renovar o seu vínculo. Esta situação verifica-se uma vez que o actual presidente verde e branco, Filipe Soares Franco, não se irá recandidatar a mais um mandato e pretende deixar a decisão de manter o actual treinador para a próxima direcção. “É uma situação em que vamos ser presos por ter cão e presos por não ter”, afirmou na semana passada o ainda dirigente dos leões, adiantado ainda: “Se renovarmos (com Paulo Bento) vão haver críticos a dizer que deveríamos ter dado liberdade à próxima direcção. Se não renovarmos, vão surgir críticas a dizer que deveríamos ter segurado o treinador”. Sobre o alegado interesse de alguns clubes estrangeiros, como o Atlético de Madrid, na contratação do ainda treinador sportinguista, Soares Franco disse: ‘O interesse e os elogios feitos a Paulo Bento não me surpreendem. Já disse a minha posição em relação ao Paulo Bento. Não vamos alterar absolutamente nada. Não fico surpreendido. É normal que os bons treinadores e de sucesso sejam seguidos no estrangeiro.
Refira-se que com Paulo Bento no comando, o Sporting não conseguiu vencer o campeonato nacional, mas conquistou duas Taças de Portugal e duas Supertaças e foi por três vezes consecutivas à Liga dos Campeões, feito inédito na história do clube, tal como o apuramento esta época para os oitavos-de-final da prova.

Sócrates mais distante da maioria absoluta

O caso Freepoort pode ter tornado mais difícil a obtenção de maioria absoluta por parte do PS. As sondagens publicadas esta semana mostraram que José Sócrates ficou fragilizado. Mesmo com o encerramento do caso, Manuela Ferreira Leite poderá sempre sair beneficiada.

Consequências políticas do caso Freeport

O caso Freepoort pode ter tornado mais difícil a obtenção de maioria absoluta por parte do PS. As sondagens publicadas esta semana mostraram que José Sócrates ficou fragilizado. Mesmo com o encerramento do caso, Manuela Ferreira Leite poderá sempre sair beneficiada. Neste cenário, abrem-se muitas interrogações. Sócrates aceitará governar em minoria? Estará disponível para um Bloco Central ou preferirá um acordo com um pequeno partido? À esquerda ou à direita?

O caso Freepoort pode ter tornado mais difícil a obtenção de maioria absoluta por parte do PS. As sondagens publicadas esta semana mostraram que José Sócrates ficou fragilizado. Mesmo com o encerramento do caso, Manuela Ferreira Leite poderá sempre sair beneficiada. Neste cenário, abrem-se muitas interrogações. Sócrates aceitará governar em minoria? Estará disponível para um Bloco Central ou preferirá um acordo com um pequeno partido? À esquerda ou à direita?
José Sócrates pode ter criado, nos últimos quatro anos, uma imagem que parece pouco adequada às habituais necessidades de um governo de coligação, designadamente negociação e flexibilidade. Sócrates tem uma imagem de determinação, para os seus admiradores, e de teimosia, para os seus detractores. Como ficou provado na questão da avaliação dos professores, onde não cedeu às pressões dos sindicatos, dos professores e até de sectores do PS muito influentes. Neste quadro, uma coligação que tivesse como finalidade principal constituir uma maioria estável e um governo sólido, quer à direita, quer à esquerda, pode não vestir bem a Sócrates. Tal como se demonstrou nos governos de Durão Barroso e Santana Lopes, os executivos de coligação provocam grandes contrariedades ao primeiro-ministro, obrigado a fazer cedências e a não realizar, no fundo, as suas políticas. Ainda para mais, no concreto, tanto Paulo Portas como Francisco Louça não parecem ser líderes, quer um, quer outro, que facilitassem muito a vida a Sócrates. Portas é muito florentino e Louçã, para além das pulsões esquerdistas, muito inconvenientes para um liberal como Sócrates, é um purista. Mesmo assim, atendendo ao que se tem passado no Parlamento nos últimos meses, parece que Portas poderia mais facilmente fazer equipa com Sócrates. Em relação a Francisco Louçã, tem se notado uma grande crispação com o primeiro-ministro, ainda mais saliente porque ambos davam sinais, há dois ou três anos de terem uma excelente relação. Em termos estritamente políticos, uma coligação de Sócrates com o CDS parece mais coerente, face à moderação do líder socialista. A vantagem da coligação com o BE seria, por sua vez, o de esbater a imagem à direita de Sócrates, que não consegue ser atenuada, mal grado os apoios sociais, as nacionalizações e a proposta de regionalização, porque o PCP, através do seu ataque sem tréguas, consegue determinar a imagem de Sócrates.
No entanto, a hipótese de Sócrates recusar — mesmo vencendo as eleições, sem maioria – formar um governo minoritário, deixando essa incumbência a António Vitorino ou mesmo António Costa, parece hoje mais distante. A deterioração acentuada das relações com Cavaco Silva e a pressão do caso Freeport, que há-de manter os seus efeitos por algum tempo, podem obrigar Sócrates a ter de ir a jogo. Na verdade, Cavaco poderia não aceitar que outro socialista dirigisse o governo, sem se ter sujeitado às urnas. Por outro lado, os efeitos do Freeport fazem com que Sócrates tenha de se confrontar, mesmo que as perspectivas não se afigurem brilhantes.
Outro cenário é, naturalmente, o Bloco Central. Neste caso, em virtude de o objectivo máximo desta solução política ser o interesse nacional, a imagem que Sócrates criou de determinação ou teimosia, conforme os entendimentos, poderia ser adequada. A maior dúvida é saber se a dupla com Ferreira Leite funcionaria. Há quem diga que sim. Sócrates até poderia preferir Ferreira Leite, com uma imagem mediática débil, tirando proveito da situação. Recorde-se que no Bloco Central de 1983, Mário Soares tirou benefício da imagem politicamente mais débil de Mota Pinto. Por exemplo, com Passos Coelho na liderança do PSD, Sócrates já poderia ficar mais ameaçado. Nos últimos meses, Passos Coelho tem estado em campanha permanente, aparecendo em várias iniciativas, concedendo várias entrevistas à comunicação social e demarcando-se de Ferreira Leite em várias matérias, como a construção do TGV. A notoriedade pública de Passos Coelho é, assim, crescente. No seio do partido, Passos Coelho também tem apoios crescentes. Tudo junto, o ex-líder do JSD é um virtual candidato à liderança social-democrata, bem como candidato a primeiro-ministro, tal como esta semana, aliás, fez questão de afirmar em entrevista à SIC. No cenário de Bloco Central, Passos Coelho, mesmo que fosse vice de Sócrates – por, entretanto, ter chegado à liderança ou mesmo por Ferreira Leite lhe “oferecer” o lugar, já que nunca foi liquido que a hoje presidente do PSD fosse também candidata a primeiro-ministro – tem potencialidades para tirar partido da situação e tornar-se, com a ruptura do Bloco Central, o líder melhor colocado para vencer novas eleições. Noutro cenário, deixando ser Ferreira Leite a fazer a coligação com Sócrates, Passos Coelho também ficaria bem colocado para ser o sucessor virtual no PS, aparecendo sob os escombros do Bloco Central. Precisamente o que aconteceu com Cavaco em 1985.

Próxima legislatura concita as atenções gerais
Portugal ficaria ingovernável sem maioria absoluta?

Simões Ilharco

Com esta legislatura a chegar ao fim, as atenções viram-se para a próxima. À pergunta do SEMANÁRIO, “Portugal ficaria ingovernável sem maioria absoluta?”, respondem políticos dos mais variados quadrantes. As respostas perspectivam as condições de governabilidade do País, com ou sem maioria absoluta, que poderia ser de um ou mais partidos.

Vitalino Canas
“Difícil sem maioria”

“Portugal teria, nessas circunstâncias, se não houvesse nenhuma maioria absoluta, difíceis condições de governabilidade, tendo em conta a situação em que o País se encontra.”

Ana Drago
“Não, jamais!”

“Não, jamais! A maioria absoluta não é condição de governação, o que interessa é a capacidade democrática de apresentar respostas para os problemas do País.”

Carlos Encarnação
“Já está…”

“Portugal está ingovernável com a maioria absoluta do PS.”

Honório Novo
“Claro que não”

“Claro que não. Há exemplos diversos de governos sem maioria absoluta e que garantem estabilidade política e governabilidade.”

Luís Nobre Guedes
“Não ficaria”

“Não ficaria ingovernável. Portugal precisa de uma maioria absoluta de mais de um partido.”

É um ARTIGO DE OPINIÃO. Se for necessário ilustrar com pessoas a votarem nas eleições.

Legislativas de 2009 – PS mais votado mas PSD ganha as eleições. E agora?

Por José Bourdain
(Politólogo)

Como Politólogo gosto de estudar o comportamento eleitoral dos portugueses.
Tenho acompanhado as diversas sondagens nos media e apesar de umas me merecerem mais crédito que outras (algo que não vou comentar aqui), não deixa de ser curiosa a sondagem da Intercampus (Junho de 2008) que aponta para os seguintes resultados nas eleições legislativas de 2009:
Partidos PS PSD BE CDU CDS-PP
% Votos 36,3% 34,9% 13,4% 10,1% 4,2%

Com base nestas percentagens, fiz alguns cálculos círculo a círculo (distrito), com base nos dados mais recentes do recenseamento eleitoral e reparei que, dada a forma como os votos são distribuídos e caso se verifiquem estes resultados no próximo ano, irá acontecer algo de inédito na história das eleições democráticas em Portugal à o PS é o partido mais votado mas o PSD vence as eleições com mais cinco deputados:
Partidos PS PSD BE CDU CDS-PP
Nº Deputados 88 93 25 19 5

Recordemo-nos que no primeiro mandato de Bush, este ganhou as eleições mas foi o seu adversário que obteve mais votos. Também na Grã-Bretanha já aconteceu por duas vezes o partido mais votado perder as eleições. Mas neste caso estamos perante sistemas eleitorais maioritários onde não é assim tão difícil que tal fenómeno ocorra. Acontece que o Sistema eleitoral português é de Representação Proporcional (apesar de ser dos mais desproporcionais da Europa e do Mundo).

Se realmente este fenómeno se verificar (facto que é perfeitamente possível), será a primeira vez na história de eleições democráticas em Portugal que tal acontecerá e será curioso observar a reacção dos eleitores, ou seja, como é que vão compreender que o partido mais votado perde as eleições. Estarão preparados? Que irá fazer o Presidente da República? Legalmente a solução é simples, ganha o PSD pois elegeu mais cinco deputados.

No entanto, se tal situação ocorrer, poderá gerar um impasse político e agitação social.
No que ao impasse político diz respeito e olhando para o número de deputados que cada partido elege, verifica-se que ao vencer as eleições, o PSD ou optará por um Governo de minoria – logo instável, ou só terá possibilidades de coligação com BE (cenário muitíssimo improvável) ou com o PS (improvável mas não totalmente impossível). No entanto, e se bem se recordam de algumas posições de constitucionalistas em 2005, o Presidente da República poderá convidar a formar Governo partidos que perderam as eleições mas que juntos formem uma maioria estável (situação idêntica à ocorrida em Timor). Neste cenário seria possível uma coligação de esquerda (PS + BE + CDU) – cenário difícil mas não impossível, ou então o PS + BE ou CDU + CDS – cenário que diria quase impossível; se bem que se retirarmos as devidas ilações do último congresso do CDS-PP, o seu líder parece estar disponível para se coligar com qualquer partido para formar Governo.
No que à agitação social diz respeito, poderemos ter uma reacção das pessoas a qualquer um destes cenários. Os apoiantes do PS não vão aceitar que tendo sido o partido mais votado, não seja este a formar Governo. Da mesma maneira que apoiantes do PSD não vão aceitar que tendo vencido as eleições, sejam outros partidos a formar Governo.

A possibilidade deste fenómeno ocorrer – um partido ter mais votos mas outro vencer as eleições, deveria fazer-nos pensar nas injustiças resultantes do actual sistema eleitoral. A título de exemplo, só nas últimas eleições legislativas este sistema deixou de fora mais de 500.000 eleitores, que foram efectivamente votar, pois o resultado seria idêntico quer tivessem votado ou não. Ou seja, o seu voto não serviu para que se sentissem representados. O sistema eleitoral tem de ser discutido publicamente e com seriedade, tem de ser um sistema acima dos partidos e respectivos interesses.

Se isto acontecer, talvez a sociedade civil sinta necessidade de apreciar propostas diferentes de alteração do sistema eleitoral, sendo que esse debate se irá, em meu entender, centrar-se nas seguintes questões:
1. Queremos um sistema maioritário – com menos partidos representados no parlamento mas com governos de maioria?
2. Queremos um sistema mais proporcional – com mais partidos representados e com governos de coligação (pois as maiorias serão difíceis de obter)?
3. Ou queremos uma terceira alternativa? Neste caso existem algumas propostas que já foram avançadas, incluindo uma de minha autoria, em que é possível obter ambas as situações – governos de maioria e mais partidos representados no parlamento?
Pela minha parte estou disponível para a discussão e para dar o meu contributo.

Se é certo que por um lado, este cenário é difícil de acontecer face às sondagens mais recentes – de um partido ter mais votos e perder as eleições, por outro lado não é assim tão difícil. Basta verificar que esta sondagem da Intercampus e outras realizadas no Verão de 2008 apontavam para uma votação próxima entre PS e PSD. As sondagens mais recentes situam PS na casa dos 40% e PSD na casa dos 30%. No entanto, é sabido que os eleitores penalizam os governos em função de dados negativos sobre a economia, desemprego, etc. É precisamente isso que vai acontecer durante os próximos 8 meses até ao dia das eleições. Assim sendo, prevejo efectivamente que as intenções de voto entre PS e PSD vão aproximar-se e que o PSD poderá ganhar as eleições mesmo com menos votos que o PS, facto que não deixa de ser altamente moralizador e motivante para os apoiantes do PSD e para a sua líder (a qual já liderava o partido aquando da sondagem da Intercampus…). Além disso, é bom não esquecer o “Voto Útil” no PSD proveniente da Direita, em particular o eleitorado descontente do CDS que sabendo que o seu partido não tem possibilidade de vencer as eleições poderá votar PSD.