2025/07/12

A clausura e o luto de Lorca

Uma casa, seis mulheres e Lorca revisitado de forma moderna. O clássico do autor espanhol “A Casa de Bernarda Alba” é adaptado pelo grupo Teatro à Parte que, simbolicamente, homenageia o autor, dando o nome “A Casa de Lorca” à peça. No contexto da Guerra Civil espanhola, o confronto intemporal entre liberdade e repressão é transposto para palco. O SEMANÁRIO aproveitou para conversar com o encenador da peça, Jorge Parente, de forma a desvendar algumas das inovações que o Lorca do século XXI nos traz.

Porquê Lorca, um autor tão desconcertante?
Fazer Lorca é um desafio estimulante para qualquer encenador e para qualquer amante de poesia e depois porque, quando li esta obra, era fascinante ver como Lorca criava uma desenvoltura e agilidade enorme na linguagem, tornando vivas as próprias personagens da peça. Foi, no fundo, a partir da leitura que nasceu a curiosidade por encenar este espectáculo, que fala de sentimentos, de valores e beleza.

Há, portanto, uma preferência pessoal por este autor?
Sim, podia escolher outro e estando a dirigir um grupo amador de teatro não tenho interesse em criar texto próprio, caso contrário estaria a dirigir um grupo profissional de teatro. Eu, de facto, gosto de sentir uma peça a cativar-me ou a motivar-me pelas personagens e pelo texto.

Na sua lógica “desconstruir para construir”, em que pontos pegou para alterar o texto original?
O meu processo de encenação tem sempre essa máxima e isso de facto dá-me grande gozo. Eu vou procurar respostas no texto e depois vou mais longe do que o próprio autor me dá a entender. O gozo de pegar numa peça é para mim cortar cenas, cortar personagens, reinventar outros espaços, dar vozes a personagens que não tinham voz. Na “Casa do Lorca” eu tive a ousadia de criar cenas, mas com uma particularidade que é o facto de as cenas criadas por mim terem sido feitas com base em palavras de outros textos do próprio autor. Nunca palavras inventadas por mim, mas sim palavras do próprio Lorca.

A intenção em colocar os actores como alter-egos das mulheres da casa tem que propósito?
Eu estou a trabalhar com um grupo de 23 elementos onde a maioria são homens. Desse modo, e tendo em conta que as personagens principais da peça são mulheres, que faria aos homens? Houve uma necessidade de criar um espectáculo para todos os elementos do grupo e é esse processo que me dá gozo. Já foram feitas várias versões de “A Casa de Bernarda Alba” mas, de facto, esta forma com que montei o espectáculo é de facto muito minha e original. Ao funcionarem como alter-ego das mulheres, funcionam também como mecanismo de espelho, inverso a cada uma delas e, ao mesmo tempo, duplo de cada uma das personagens. Retirei praticamente os diálogos e transformei-os em monólogos que representam cada uma das filhas. No fundo eles mostram ao público aquilo que elas são, aquilo que escondem e não dizem à mãe castradora que têm. Representam a crueldade, a raiva escondida no inconsciente das mulheres. Funcionam como uma psique daquele universo feminino. Esta é de facto a grande curiosidade pois, mulheres que vivem a esconder os seus sentimentos são aqui demonstradas de forma muito mais provocadora, e o teatro é também feito de provocação.

Acha que no actual contexto social esta peça ainda funciona como espelho da realidade?
Esta peça funciona de facto como espelho. Há uma série de mulheres que podem identificar-se com a peça. No fundo acaba por ser o costume. O luto que a Bernarda mãe provoca nas filhas era na altura um costume real e uma tradição levada a extremos. É dentro deste excesso que leva a que aquelas mulheres sejam altamente reprimidas e que uma série de conflitos interiores nasçam nelas de forma extrema até à morte, até porque a morte está sempre presente em Lorca.

Parecia aliás que Lorca já previa que esta seria a sua última peça…
Esta foi a última peça dele e por isso a peça funciona como homenagem, daí chamar-se a “Casa de Lorca” e não “A Casa de Bernarda Alba”. Pegando numa frase do próprio autor, “depois de morrer, continuarei a viver”. Penso que ele quis dizer com isto para os leitores e para o público continuarem a ler e a acompanhar a obra dele. Seria a forma de ele continuar vivo depois de morto. Inicio até o espectáculo com uma cena inventada em que começa com o fuzilamento dele e onde diz precisamente essa frase. Ao longo da representação ele interfere na peça, não em diálogo, mas num plano simbólico com incidência sobre o universo dele. Ele vai “parir as personagens femininas” que criou.

E a nível cénico como é que criaram a Casa?
Eu trabalho com as imagens e alguém me disse um dia que eu era um “arquitecto do espaço cénico”. Quando pego numa obra, não quero que ninguém crie um espaço por mim. Gosto de fazê-lo. Eu vejo tudo e quando ensaio imagino desde logo o espaço. E nesta peça o espaço é de certa maneira minimalista e aproveito esse facto para o colocar de forma simbólica, tendo como forte presença uma jaula. O lado da jaula representa a prisão e então quis mostrar isso de forma simbólica. São os homens que utilizam mais a jaula, já que representam o lado mais surrealista da peça, ao passo que as mulheres estão no plano naturalista.

Madeira entre o Federalismo Fiscal e a Independência

Alberto João Jardim teve a sua nona vitória eleitoral na Madeira. Desta vez, esteve de volta a verdadeira política. No centro da antecipação das legislativas regionais este é o desenho institucional do Estado e eventualmente o fim definitivo do Estado Unitário, em vésperas de ressurgimento do Estado Federal Europeu, aliás, este fim-de-semana presente na reunião da Penha Longa entre a Comissão Europeia e a tróica que preside ao Conselho Europeu.

Basicamente com a introdução da nova Lei das Finanças Regionais, o Governo de Lisboa acabou com o modelo de desenvolvimento da Madeira assente nas transferências do Orçamento do Estado (autorizadas ou não através da emissão de dívida pública) e da União Europeia.
Ao indexar as transferências ao nível de desenvolvimento das regiões com base no princípio da solidariedade, a Região Autónoma da Madeira é confrontada com a necessidade de mudar o seu padrão de desenvolvimento, para manter os níveis de crescimento económico e social que tem conseguido nos últimos 30 anos de governo de Alberto João Jardim.
E a única alternativa que tem, em face da reduzida poupança local, é a da captação de investimento estrangeiro. E para isso Jardim precisa de ter mecanismos autónomos para ser fiscalmente competitivo e deste modo compensar a insularidade da região.
Por outro lado, como também está a acontecer com a Escócia, que deverá declarar a independência de Inglaterra e separar-se do Reino Unido dentro de três anos, a Madeira não tem o menor interesse em ser contribuinte líquido para o continente. Tanto mais que as funções de soberania, como a defesa, representação externa e moeda, passarão para a competência da União Europeia, no quadro da nova federação a desenhar no novo tratado constitucional europeu.
Nestes termos, o que os madeirenses votaram foi, basicamente, o fim do federalismo mitigado inscrito no estatuto das regiões autónomas e na Constituição da República Portuguesa (a região não pode criar impostos mas pode mudar as percentagens que incidem sobre impostos nacionais, ao contrário da autonomia política e financeira dos municípios que apenas podem mexer em taxas) e a revisão constitucional, no sentido do federalismo fiscal, dando às regiões autónomas total autonomia em matéria fiscal, dentro naturalmente dos limites impostos pelo Pacto de Estabilidade e Crescimento, ou seja, dentro da exigência de equilíbrio orçamental nos termos definidos pelo PEC (défice até 3% do PIB).
Ou seja, mais do que uma vitória política sobre o PS, os madeirenses, ao darem a votação expressiva ao PSD, lançam um ultimato à Assembleia da República para que, em 2009, quando tiver poderes constituintes, incluir na Constituição o novo estatuto fiscal para as regiões. Porque se o não fizerem, a Madeira terá necessariamente todo o interesse político e financeiro em avançar para a independências nacional, no quadro da União Europeia, tal como acontecerá dentro de três anos com a Irlanda do Norte e a Escócia.
Foi consciente dista nova situação que Cavaco Silva apelou esta semana ao diálogo entre o Governo central e o regional.
Igualmente Marques Mendes colocou o dedo na ferida. O líder do PSD considerou, logo, no domingo, que a vitória de Alberto João Jardim na Madeira foi “uma derrota para o primeiro-ministro, José Sócrates, que deve tirar daí ilações”.
“É importante para a coesão nacional que não haja conflitos e o primeiro-ministro deve reflectir sobre esta derrota e não insistir em teimosias”, disse Marques Mendes, referindo-se à Lei de Finanças Regionais, que considerou “injusta e de bloqueio financeiro à Madeira”.

“Deixem a Madeira e seu povo trabalhar”

No discurso de vitória, o presidente do Governo Regional foi bem explícito quanto ao significado do resultado, mas tentou reduzir a área de conflitualidade com Lisboa, para manter a unidade nacional.
O líder do PSD/Madeira, Alberto João Jardim, afirmou que o “interesse nacional exige bom senso, calma, isenção, responsabilidade, tanto dos órgãos de Estado como de governo próprio da região”. Jardim, que falava logo após alcançar a nona vitória consecutiva nas eleições legislativas na Madeira, declarou que “uma democracia civilizada aceita a vontade de um povo”, acrescentando que “tudo o que se passou está ultrapassado”. “Deixem a Madeira e o seu povo trabalhar”, apelou.
Jardim aproveitou ainda para alisar politicamente o seu mandato, afirmando que “Portugal não pode continuar doente com a permissividade em males sociais graves como a droga. Doente com absurdos a que chamam causas fracturantes, mas que mais não são do que decadência, inversão de valores, ausência de cultura, tragédias familiares e aumento da criminalidade”. “Recuso que a Madeira esteja sujeita a uma inflação legislativa nacional incompetente, a qual obstrui sistematicamente o investimento, alarga a praga burocrática, asfixia a economia e provoca o desemprego”, disse. “Recuso a montagem de um Estado policial em Portugal destinado também a perseguir quem não alinha pelo pensamento único subtilmente institucionalizado”, acrescentou.
Alberto João Jardim disse ainda recusar “um aparelho de justiça ideologicamente penetrado, mediaticamente exibicionista e que invada áreas dos restantes poderes de Estado”.
Mas depois desta parte do seu discurso que o líder madeirense votou à verdadeira questão em debate nestas eleições intercalares. O líder madeirense sustentou apoiar “todas as movimentações populares democráticas que visem mudanças de fundo em Portugal”. E, foi claro: “Defendo o princípio da unidade diferenciada, em que a Madeira, no quadro da unidade nacional, tem direito ao seu sistema de desenvolvimento próprio e diferente, ficando para o Estado apenas as competências que consubstanciam a essência, e só esta, da mesma unidade nacional.”

Eleições na Madeira: Cavaco Silva deseja “diálogo útil”

Foi neste ambiente e depois da resposta de Vitalino Canas pelo PS em Lisboa, que denunciou a pouca democraticidade na Madeira, que o Presidente da República, Cavaco Silva, teve necessidade de manifestar o desejo de que se instale um ambiente de confiança e diálogo útil entre o Governo da República e os órgãos regionais da Madeira.
Cavaco Silva, que falava aos jornalistas em Aveiro, no início da semana, defendeu que deve haver uma cooperação institucional entre o Governo da República e os governos regionais.
Cavaco Silva defendeu que deve haver uma cooperação institucional entre o Governo da República e os governos regionais. Salientando que a população da Madeira manifestou a sua vontade “de forma muito clara”, o Presidente da República frisou que vai agora haver uma nova Assembleia Legislativa Regional e um novo Governo, esperando que as relações com o Governo da República “tenham em atenção o futuro, para dar resposta às ambições de mais desenvolvimento da Madeira”.
“O passado é passado. Desejo que se instale um ambiente de confiança e diálogo útil e que se olhe para o futuro. Tenho defendido a cooperação institucional entre os poderes autonómicos e o Governo da República e não deixarei de trabalhar nesse sentido”, disse.
Cavaco Silva sublinhou que “a Lei das Finanças Regionais foi aprovada pela Assembleia da República e promulgada pelo Presidente da República, depois de submetida ao Tribunal Constitucional e só a Assembleia da República pode alterar a Lei”, que esteve na base da convocação de eleições na Madeira.
“Não me compete apreciar o que a Assembleia da República deseja fazer”, declarou, adiantando que vai receber Alberto João Jardim em audiência, tal como vai fazer com o presidente do Governo Regional dos Açores.

Barroso discute Tratado Constitucional com presidências europeias

A vitória de Sarkozy veio consolidar a posição de Durão Barroso à frente da Comissão Europeia e garantir o acordo da França a um Tratado Constitucional mínimo, que regule apenas a estrutura institucional da União Europeia. Como os Estado Unidos, o novo tratado constituirá o acto fundador da Federação Europeia, que terá por membros os Estados que o subscreverem. Direitos e competências passam a ser definidas pelo Conselho Europeu, como já aconteceu com as questões energéticas. A Europa vai passar a ter um presidente do Conselho Europeu e as presidências rotativas deverão ficar reservadas apenas para as áreas específicas (Finanças, Ambiente ou Administração Interna, por exemplo). Este fim-de-semana, na Penha Longa, a Europa tem licença para avançar.

A actual e as próximas presidências da União Europeia reúnem-se este fim-de-semana em Sintra para uma “discussão aberta”, dando-se especial destaque ao delicado assunto do tratado constitucional europeu. Aquela que seria inicialmente uma minicimeira entre alguns líderes europeus veio a transformar-se num encontro muito restrito entre a Alemanha e os países que irão liderar a União Europeia nas próximas presidências, estando ainda por se saber quais os critérios de Durão Barroso para tal escolha

França redefiniu a Europa

Quando, em 2005, o Tratado Constitucional europeu foi rejeitado popularmente pela Holanda e pela França, ficava claro que seria preciso algum tempo para o retomar do processo. A esperada vitória de Sarkozy nas eleições francesas do domingo passado foram o pretexto para o relançar desta questão na agenda dos países que lideram a UE este ano.
O Presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, Angela Merkel, o primeiro-ministro português, José Sócrates, e o primeiro-ministro esloveno devem ser presenças certas na histórica vila portuguesa, juntamente com o presidente do Parlamento Europeu.
Aquela que estaria para ser uma minicimeira entre um conjunto muito reservado de líderes europeus, ficou reduzida apenas aos líderes dos países que lideram ou irão liderar a União Europeia. Este recuo de Barroso deu-se no seguimento de fortes críticas por parte da imprensa internacional, que logo especulou acerca de uma possível formação de um círculo reservado para a resolução das principais questão da União Europeia.
Apesar de oficialmente justificado, o facto de Durão Barroso ter deixado de parte a grande maioria dos Estados-membros, numa altura em que é essencial a união por parte de todos os 27, deixou alguns altos responsáveis de várias nações da UE, perplexos.
A este propósito, Romano Prodi falou que nem todas as medidas implementadas da União têm de ser desenvolvidas por todos os membros. “Não temos que avançar necessariamente todos juntos e à mesma velocidade. Gostava que tal acontecesse, mas nem sempre é possível.” Prodi referiu também que os acordos de Schengen e o Euro não foram implementados em bloco.
O primeiro-ministro italiano havia também sido um dos convidados por parte de Barroso, mas o gabinete de Prodi deverá declinar o convite, visto não querer servir para fomentar as fracturas já existentes entre alguns membros da UE. Fica assim uma vez mais em causa o critério utilizado pelo presidente da Comissão, já que Prodi não exerce nenhum cargo relevante no âmbito da União.
A decisão de Barroso em reservar esta cimeira para apenas alguns membros deverá prender-se com a operacionalidade com que conseguirá manter as conversações, embora demonstre riscos políticos que poderão lançar críticas ferozes à sua política para esta questão. A actual e as próximas presidências desempenharão um papel fundamental no âmbito do tratado constitucional europeu e é certo que Portugal terá em mão a maior fatia dessas funções, isto numa altura em que assume a presidência após a eleição do novo Presidente francês.

A viabilidade do referendo

Julho será o mês em que Portugal iniciará a liderança da presidência da União Europeia e o fim do mandato alemão será marcado pela definição do calendário para as conversações sobre o processo constitucional, tendo ficado estabelecida, como data final para a ratificação do texto, o ano de 2009.
O caminho agora a trilhar deverá encontrar obstáculos que se prendem com o facto de muitos líderes europeus não se mostrarem dispostos a regressar ao modo de consulta popular para a aprovação do Tratado Constitucional. Nicolas Sarkozy é a mais alta voz dessa posição e o novo Presidente francês demonstrou durante a campanha que é a favor de um minitratado revisto e encurtado, a ser ratificado directamente pelo parlamento. Nos próximos meses e até ao fim da presidência alemã, o eixo Paris-Berlim deverá ser retomado no sentido de solucionar esta crise.
Até agora, o Tratado Constitucional foi referendado em 18 países, tendo sido rejeitado em dois deles, Holanda e França, sendo que existem ainda sete Estados pelos quais o processo ainda não foi consultado, entre os quais Portugal e o Reino Unido.
Sob pena de nova vitória do “não”, é urgente que os membros da UE alcancem um consenso no que toca à alteração do texto numa União cada vez mais fracturada.

BES e PT apostam nas relações com a Telefónica no Brasil

A Portugal Telecom e o BESI querem tirar partido do novo alinhamento espanhol com os italianos, evitando ter que comprar a posição espanhola na Vivo, que estaria avaliada entre os 2,5 e os 3,5 mil milhões de euros. Mas este alinhamento português pode condenar o grupo a prazo ao controlo por parte dos espanhóis, como ia acontecendo ainda recentemente, se António Mexia e Américo Amorim tivessem conseguido a fusão entre a Galp e a EDP. Para já nasceu esta semana, como o SEMANÁRIO antecipava, o primeiro grupo europeu de telecomunicações. Os velhos monopólios públicos privatizados das telecomunicações vão mudar necessariamente.

A banca Intesa-Sanpaolo vendeu ontem a sua participação no Santander para poder entrar no capital da Telecom Itália, o operador de telecomunicações italiano. Foi mais um passo na tomada de controlo por parte dos espanhóis da Telefónica da operadora italiana, criando assim o primeiro grande operador europeu de telecomunicações. A consolidação do sector na Europa.

Telecom Itália passou para o controlo de Telefónica

A Telecom Itália passou a ter como principais accionistas o operador espanhol Telefónica e um grupo de empresas italianas, depois do acordo de compra da totalidade das acções “holding” Olimpia. Num comunicado, a Pirelli anunciou que a operação, que deve ainda obter a luz verde das autoridades da concorrência, tem um preço “provisional quase de 4.100 milhões de euros” . A Olimpia, que com 18% das acções controla a Telecom Itália, pertence em parte ao grupo Pirelli (80%) e à Syntonie – da família Benetton – (20%), que anunciou também o seu acordo de venda a um consórcio formado pela Telefónica (parceiro industrial do grupo), pela Generali d’Assurances, pelos bancos Mediobanca e Intesa-Sanpaolo, e a própria Benetton. Fecha-se assim um longo caminho, desde que o grupo Pirelli anunciou a sua intenção de vender uma participação da Olimpia.
O novo consórcio controlará 23,6% da Telecom Itália, acrescentando aos 18% da Olimpia, com 1,54% e 4,06%, que a Mediobanca e a Generali possuem, respectivamente, do principal grupo italiano de telecomunicações.
A Telefónica disporá 42,3% do novo consórcio, enquanto o Generali d’Assurances terá 28,1%, os bancos Intesa-Sanpaolo e Mediobanca 10,7%, cada um, e Benetton 8,2%. O acordo permite à companhia espanhola incorporar o conselho de administração da Telecom Itália com dois administradores, número proporcional à sua participação económica de 10% na companhia. O montante da operação será determinado pela diferença entre os 2.4 milhões de acções que a Telecom Itália possui na Olimpia, avaliados a 2.82 euros cada uma, e pelo endividamento financeiro líquido da Olimpia, calculado na data do acordo, que compreenderá também os 337 milhões de dividendos pagos pela Telecom Itália.
Desde que o presidente de Pirelli confirmou a sua intenção de vender uma quota-parte majoritária da Olimpia, o grupo estudou diversas opções, e em Fevereiro passado a Telefónica confirmou já a existência de contactos, mas as conversações finalmente foram congeladas, até ao acordo político entre Zapatero e Prodi sobre o controlo italiano da Endesa, através da ENEL e em associação com a Acciona.
Sucessivamente, no início deste mês a Amérique Móvel (mexicana), de Carlos Slim – um grande concorrente de Telefónica na América Latina -, e a americana AT&T iniciaram conversações exclusivas com Pirelli, para obter 33% da Olimpia. As notícias criaram uma revolta no mundo político italiano, devido ao receio que o primeiro operador nacional de telecomunicações pudesse terminar em mãos estrangeiras. A AT&T finalmente tem decidido anular as negociações, no dia 16 passado, ao mesmo tempo que a Intesa-Sanpaolo e a Mediobanca procuravam construir uma aliança que permitiria a compra da Olimpia, o que levou à entrada em cena de Telefónica. A Telecom Itália, com presença em oito países, conta como principais activos com 32.4 milhões de linhas de telefone móvel em Itália, os 25.4 milhões no Brasil e os 8.7 milhões de clientes de banda larga em Itália.

Aliança das telecomunicações europeias

A entrada da operadora espanhola no capital do Telecom italiana, com uma participação indirecta de 10%, supõe primeira a grande aliança entre dois operadores europeus de telecomunicações. Um consórcio formado pela Telefónica, o parceiro industrial do grupo, a Generalli d’Assurances, os bancos Mediobanca e Intesa-Sanpaolo, e a companhia Benetton, que compraram a holding Olimpia, o que os transforma nos principais accionistas da Telecom Itália. Trata-se da primeira grande aliança entre dois operadores europeus de telecomunicações, antigamente monopólios de Estado, depois do fracasso do acordo entre a PT e a Telefónica, devido à traição dos espanhóis, que tentaram fazer mais-valias com o acordo lateral com a Sonae, no processo da OPA à PT.
“É uma mudança que pode, não somente durante os próximos anos dar origem ao nascimento duma grande companhia europeia de capital difuso, mas também levar à outras companhias nacionais a seguir o mesmo caminho”, escrevia esta semana o jornal económico “Il Linguado 24 Ore”. O eixo Telefónica-Telecom IT cria, além disso, um concorrente de primeiro plano à escala global e, sobretudo, para ex-monopólios europeus, como a França Telecom e Deutche Telekon.
O grupo Telefónica ocupava já a quinta posição no sector de telecomunicações a nível mundial por capitalização bolsista, mas a estreia como operador europeu integrado é o principal valor desta aliança. Com esta operação, avaliada provisoriamente em 4,1 mil milhões de euros, a Telefónica reforça as suas relações com a Telecom IT, companhia com o qual já subscreveu acordos de colaboração na Alemanha, e reforça a sua posição na Europa e a América Latina. A Telecom IT controla o operador de telefone móvel Tim no Brasil, onde os espanhóis estão presentes através da Vivo com a Portugal Telecom.
A operação sobre a Olimpia foi considerada com “satisfação” pelo ministro italiano de Comunicações, Paolo Gentiloni, que indicou, num comunicado, que “tomava nota da responsabilidade demonstrada pelo sistema financeiro italiano”.
Por seu lado, tal como fez Sócrates em Portugal, depois de falhada a OPA da Sonae, o primeiro-ministro italiano, Romano Prodi, reiterou a sua neutralidade sobre o futuro de Telecom, mas indicou que lhe “agradava o renovado compromisso também por parte de instituições financeiras italianas”. Recorde-se que, do acordo de contrapartidas para a compra da Endesa por parte da ENEL, o governo Zapatero exigiu a Prodi, que esteve esta semana em Lisboa, o controlo da Telecom IT e a fusão da Abertis com a Autostrada. Este último acordo levou já à exclusão de Vasco de Mello da Brisa do conselho de administração da operadora de auto-estradas catalã, aliás, como ao afastamento entre a Telefónica e a PT.
As empresas portuguesas poderão agora procurar alinhamentos europeus alternativos a Espanha, o que garante ao país a possibilidade de diversificar dependências numa altura em que os espanhóis, para lá de controlarem parte do sistema financeiro nacional (através do Santander, La Caixa/BPI, BBVA e 10 Caixas de Aforro), apostam em dominar a grande distribuição (El Corte Inglés, Zara, etc.) e as mentalidades, através da TVI e do “Diário Económico”.

Aliança entre a Vivo e a TIM Brasil

Depois da anunciada cisão entre a PT e a PTM, o mercado não espera grande inovação na gestão da operadora nacional e o BES já começou a dar sinais que pretende que tudo fique como no tempo de Miguel Horta e Costa. O negócio no Brasil parece ser uma prioridade de Henrique Granadeiro e do BESI, que controla a posição do grupo na PT. Ambos não querem para já pagar o controlo da Vivo e tentam ver mais-valias para a participada luso-espanhola em S. Paulo. Numa nota, a Espírito Santo Research (ESR) lembrava, esta semana, que a Telefónica está em negociações com a PT acerca do controlo conjunto da Vivo e que a posição de 10% na PT está avaliada no mercado em 1,1 mil milhões de euros. A mesma fonte considera assim que a entrada na Telecom Itália “abre as portas para a Telefónica tentar ficar com os activos no Brasil e levantar dúvidas sobre a sua permanência no futuro no capital da PT e da Vivo”.
A ESR adianta outros cenários ao desfecho da parceria entre a PT e a Telefónica. “Não descartamos a opção de que venha a ocorrer uma operação de consolidação no mercado móvel brasileiro, ou algum tipo de aliança entre a Vivo e a TIM Brasil”.
A ESR lembra, contudo, que uma aliança entre a Vivo e a TIM teria sempre que ser aprovada pelo regulador das telecomunicações (Anatel) e outras autoridades reguladoras. “De qualquer forma, outro aspecto positivo desta operação é que a Telefónica consegue que o seu principal concorrente na América Latina, Carlos Slim, não possa aceder a estes activos (TIM Brasil), o que reduz as ameaças de concorrência à Vivo”, conclui o banco de investimento.

Carmona desautoriza Marques Mendes e não renuncia à CML

As sondagens dão o PS no limiar da maioria absoluta em Lisboa, o que pode aconselhar o partido a escolher um candidato de “luxo”, apostar no voto útil e rejeitar coligações à esquerda. António Costa ou Ferro Rodrigues são vistos como nomes possíveis, permitindo a Sócrates dar compensações políticas à ala esquerda do PS e gerir equílibrios no interior do partido. Entretanto, no PSD o momento é de grande agitação, à procura de um candidato disponível para uma missão quase impossível. Fernando Seara é uma das hipóteses e talvez o candidato preferido Marques Mendes. Ontem, Carmona Rodrigues fez críticas severas à oposição de esquerda mas, sobretudo, ao próprio PSD, queixando-se de falta de apoio e não renunciou, para já ao mandato. Carmona fica à espera da posição dos outros vereadores do PSD. Entretanto, Marques Mendes evitou comentar a atitude de Carmona mas reafirmou a necessidade de eleições.

Quando menos se esperava aconteceu. O presidente da Câmara de Lisboa, Carmona Rodrigues, foi esta semana constituído arguido no processo BragaParques, tendo ontem de manhã sido ouvido no DIAP pela procuradora Maria José Morgado durante cinco horas. À noite, numa conferência de imprensa à hora dos telejornais, Carmona fez declarrações bombásticas, tecendo críticas à oposição de esquerda mas, sobretudo, ao próprio PSD, queixando-se de falta de apoio e não renunciou, para já ao mandato. Carmona fica à espera da posição dos outros vereadores do PSD. Não escondendo a sua mágoa, Carmona começou por dizer que tem “consciência das limitacões enquanto homem não politico, não descartando “o facto de ter cometido erros, políticos e de comunicação”. Numa alusão à oposição de esquerda, o ainda presidente da Câmara de Lisboa referiu ter “tido uma oposição persecutória, liderada por pessoas e instituições”. Sobre o PSD, Carmona referiu que não sentiu “em muitas ocasiões o apoio de sectores do PSD” e defendeu que se devem realizar eleições para todos órgãos da CML, Câmara e Assembleia Municipal, ao contrário do que parece ser a posição oficial do PSD. Carmona enfatizou ainda, a sua qualidade de independente, dizendo que “o sistema partidário portuguê parece não estar preparado para aceitar independentes, corpos estranhos”. A rematar, Carmona teve a atitude inesperada, passando por cima de Marques Mendes, de não renunciar imediatamente ao mandato, referindo “se todos saírem, eu saio”, uma tomada de posição que foi vista em sectores do PSD como a de um homem em desespero de causa, ferido na sua honra, aliás como o próprio afirmou. Muito notada foi uma parte da intervenção de Carmona em que, reclamando a sua inocência no caso BragaParques, reenviou a descoberta da verdade para o julgamento, o que faz pressupor que Carmona poderá ser acusado brevemente. Entretanto, Sá Fernandes, em reacção às declarações de Carmona considerou que estamos perante uma “falha democrática”. Já Gaioso Ribeiro referiu que “já basta”.
Na quarta-feira, depois de reunir com Carmona, Marques Mendes deu uma conferência de imprensa, à hora dos telejornais, em que considerou não haver condições políticas para a vereação social-democrata continuar a dirigir Lisboa e defendeu a realização imediata de eleições intercalares para a capital nos próximos dois meses. Refira-se que, nos termos da lei em vigor, a realização de intercalares não prejudica nova consulta no calendário previsto, que é o final do ano de 2009, então para os dois órgãos, Assembleia Municipal e Câmara Municipal. Durante esta semana ainda foi muito falada a hipótese de Marina Ferreira, a terceira vereadora da lista do PSD, ascender à presidência. Para a estratégia social-democrata tudo era preferível a eleições mas o perigo do descrédito e da ingovernabilidade da Câmara fizeram Marques Mendes e Paula Teixeira da Cruz irem por outro caminho. Na sua intervenção, não se percebeu se Marques Mendes também aceitava fazer eleições para a Assembleia Municipal e não só para a Câmara, mas ainda na quarta-feira essa questão tornou-se crucial, levantada por toda a esquerda. O facto de o PSD e a direita serem maioritários na Assembleia Municipal, faz com que a vereação que for eleita nas próximas eleições, se não for afecta à maioria instalada, resultado das eleições de 2005, possa contar com alguns problemas para fazer passar as suas medidas, designadamente a proposta de Orçamento. Já esta quinta-feira, tanto Azevedo Soares como Paula Teixeira da Cruz responderam à esquerda, considerando que não faz sentido existirem eleições para a Assembleia Municipal. A vice-presidente do PSD declarou que a esquerda estava a cometer uma “confusão institucional”, que existiam “legitimidades democráticas distintas nos dois órgãos”. Os social-democratas sustentam ainda que a Assembleia Municipal tem funcionado bastante bem e que a sua dissolução equivaleria à perda de mandato de todos os presidentes das juntas de freguesia, considerando que isso um encargo pesado para quem tem desempenhado o seu trabalho com total normalidade. Por detrás desta tomada de posição do PSD pode estar, para além de não facilitar a vida ao PS, a estratégia de fazer ver aos lisboetas que é preciso um presidente da Câmara para uma maioria já eleita em 2005, havendo a preocupação de reclamar que o PSD termine um mandato que, por vissicitudes várias teve de interromper.

Capucho coloca-se na linha de partida

No entanto, esta linha de defesa de eleições só na Câmara sofreu ontem as primeiras brechas. Para além de Carmona, o presidente da Câmara de Cascais, António Capucho, colou-se ao PS e defendeu também a realização de eleições para a Assembleia Municipal. Capucho sustenta a sua posição em “questões éticas e de elementar coerência política”, lembrando que “é público que o PSD defende uma alteração à Lei Eleitoral das Autarquias (que coincide com a posição do PS), no sentido de se eliminar a eleição separada da Câmara Municipal e da Assembleia”. A posição de Capucho pode não ser totalmente inocente. Em primeiro, lugar, há quem considere no PSD que Capucho, mesmo perante uma conjuntura difícil, como a actual, poderia estar disponível para ser candidato por Lisboa. Por outro lado, sectores do PSD referem que a posição de Capucho também pode não ser alheia à vontade do ex-ministro do Bloco Central em candidatar-se à presidência da distrital de Lisboa do PSD, disputando o lugar a Paula Teixeira da Cruz. Recorde-se que o actual nº 2 de Capucho em Cascais, o social-democrata Carreiras, foi o grande opositor de Paula Teixeira da Cruz nas últimas eleições na distrital.
A hipótese Capucho não é alheia ao momento agitado que se vive no PSD, com o partido apanhado em mó de baixo com Carmona. As sondagens publicadas esta semana dão os social-democratas com 23 por cento, a vinte pontos do PS, que aparece no limiar da maioria absoluta. Desde que se percebeu que Carmona ia cair, as conversas e movimentações não pararam. Teixeira da Cruz, vice-presidente do PSD, que muitos vaticinam como futura líder e candidata a primeira-ministra, seria, em condições normais, a candidata natural do PSD a Lisboa. Há quem considere que ela era capaz de ganhar em 2009, numa conjuntura política mais favorável ao PSD. No entanto, agora, o “timing” não parece o ideal. E caso perdesse as intercalares, poderia hipotecar o seu futuro político. Não é por acaso que alguns sectores, próximos do PS, têm “puxado” pela sua candidatura a Lisboa.

Super Seara

Neste quadro ingrato para o PSD, outros nomes têm surgido. A hipótese de Fernando Seara sair de Sintra para enfrentar Lisboa, foi muito comentada nos últimos dois dias. Fernando Seara é uma figura prestigiada, muito mediática, com um perfil de técnico competente, muito activo, com muitas ideias. Não foi por acaso que Seara venceu a dupla de luxo João Soares/Jorge Coelho nas últimas autárquicas, havendo quem diga que ele é um desperdício em Sintra. Além do mais, o benfiquismo de Seara, semanalmente reavivado na SIC-Notícias, poderia fazer dele um candidato gerador de simpatias. O seu casamento com Judite de Sousa, figura prestigiada da comunicação social, também não deixaria de ser um trunfo de imagem. Fernando Seara pode, de facto, não ser apenas um mero candidato de recurso mas, efectivamente, ser o melhor candidato, colhendo as preferências de Marques Mendes e Paula Teixeira da Cruz. A semana laranja agitada deu lugar, ainda, a outros cenários, equacionados em sectores social-democratas. A hipótese de Santana Lopes estar disposto a ser candidato, colocando Mendes sem saber o que dizer, foi um deles. Recorde-se que em 2005 Santana manifestou vontade de ser recandidato à presidência da capital mas Mendes não o permitiu. Outro cenário que foi esta semana colocado na mesa foi a hipótese de ser o próprio Marques Mendes a candidatar-se a Lisboa. Porém, uma hipótese pouco provável. Nos últimos dias, Marques Mendes declarou, com ênfase, que quer ganhar as legislativas de 2009, vontade incompatível com uma candidatura a Lisboa. Se ganhasse a capital, Mendes tinha de dedicar-se à sua gestão, se perdesse tinha, provavelmente, de se demitir da liderança do PSD.

Ferro faz caminho de Sampaio:
primeiro Lisboa e depois Belém

Os socialistas, apesar de confiantes na vitória, não querem servir de bobos da festa do PSD nestas eleições intercalares. Mesmo que os social-democratas enfrentassem o ónus de deixar Lisboa uma vez mais ingoverbável, caso minasssem a acção da vereação do PS a partir da Assembleia Municipal, ninguém sabe mesmo o futuro, principalmente em política. A possibilidade de o mandato intercalar correr mal ao PS não pode, assim, ser excluída, o que poderia fazer com que os socialistas voltassem a ficar com a capital em 2009. Ainda por cima, as autárquicas de 2009 deverão realizar-se depois das legislativas. Ora, pressupondo que Sócrates volta a ganhar as eleições, tal pode revelar-se, em termos de contrapesos políticos, favorável ao PSD. Este conjunto de incógnitas faz com que quem decida (ou quem receba luz verde) no PS para avançar para as intercalares, também tenha alguns riscos. Nesta óptica, os pesos pesados António Costa e Ferro Rodrigues, candidatos possíveis do PS, que fazem parte de uma sondagem de avaliação pedida pelos socialistas nos últimos dias, podem pensar duas vezes antes de avançar. Sobretudo em relação a António Costa a missão parece mais arriscada. Para ser candidato, Costa tinha de abandonar o governo, o que é um encargo pesado para o próprio e mesmo para Sócrares que, ao perder Freitas do Amaral, ficou só com o peso-pesado Costa ao seu lado. Caso perdesse as intercalares, Costa podia hipotecar a carreira política, o que seria um preço muito alto para quem é considerado, em muitos sectores socialistas, como o homem melhor colocado para suceder a Sócrates. Desde já, é público que Costa e Sócrates fizeram um pacto geracional para não guerrearem pelo poder, como fizeram Guterres, Gama e Sampaio. Já Ferro Rodrigues tem muito menos a perder. O hoje embaixador de Portugal na OCDE poderia ter em Lisboa uma excelente de oportunidade de regresso político, com muitas cartas para dar, ultrapassando o trauma da sua demissão, após Jorge Sampaio dar posse a Santana Lopes. Também Sócrates não deixaria, certamente, de ver na solução Ferro um bom golpe político mas tem um gesto para corrigir injustiças. Recorde-se que Sócrates pertenceu ao Secretariado de Ferro, sendo o único guterrista a fazê-lo. Uma vitória de Ferro em Lisboa poderia, ainda, abrir as portas de Belém ao ex-líder socialista, seguindo, ironicamente, o mesmo percurso político de Jorge Sampaio. Recorde-se que Ferro Rodrigues chegou a dar sinais numa entrevista, quando era líder do PS, de que poderia estar disponível para ser candidato presidencial nas eleições de 2006. Este cenário de Ferro Rodrigues como presidente da Câmara de Lisboa e potencial candidato a Belém, permitiria ainda que Ferro “protegesse” agora António Costa e não colidisse, no futuro, com as ambições políticas do hoje ministro da Administração Interna em suceder a Sócrates no governo. Para além dos nomes de Costa e Ferro Rodrigues, Maria de Belém também aparece como uma das figuras possíveis para concorrer à capital. Com a escolha de qualquer destes nomes, oriundos da ala esquerda do PS José Sócrates pode aproveitar as eleições em Lisboa para gerir equílibrios no interior do PS, dando compensações políticas à ala mais à esquerda do PS. Depois de Pina Moura ter ido para presidente da Media Capital, os poderes parecem necessitar de ser ajustados no PS. As eleições em Lisboa poderiam ser a oportunidade. Se esta linha em relação à ala esquerda do PS vingar, António José Seguro, o nome preferido pelo líder da concelhia socialista de Lisboa, Miguel Coelho, para se candidatar a Lisboa parece ter poucas hipóteses de ser o escolhido. Há dois meses, quando Gabriela Seara foi constituída arguida e se colocou a hipótese de eleições, Seguro deu sinais de estar disponível para o lugar, atitude que foi imediatamente coberta politicamente por sectores próximos de António Costa, dando também sinais de ele estar disponível para a corrida. Costa e Seguro têm uma rivalidade histórica e ambos têm ambições de liderar o PS, vendo na CML o trampolim para essas funções.