A Portugal Telecom e o BESI querem tirar partido do novo alinhamento espanhol com os italianos, evitando ter que comprar a posição espanhola na Vivo, que estaria avaliada entre os 2,5 e os 3,5 mil milhões de euros. Mas este alinhamento português pode condenar o grupo a prazo ao controlo por parte dos espanhóis, como ia acontecendo ainda recentemente, se António Mexia e Américo Amorim tivessem conseguido a fusão entre a Galp e a EDP. Para já nasceu esta semana, como o SEMANÁRIO antecipava, o primeiro grupo europeu de telecomunicações. Os velhos monopólios públicos privatizados das telecomunicações vão mudar necessariamente.
A banca Intesa-Sanpaolo vendeu ontem a sua participação no Santander para poder entrar no capital da Telecom Itália, o operador de telecomunicações italiano. Foi mais um passo na tomada de controlo por parte dos espanhóis da Telefónica da operadora italiana, criando assim o primeiro grande operador europeu de telecomunicações. A consolidação do sector na Europa.
Telecom Itália passou para o controlo de Telefónica
A Telecom Itália passou a ter como principais accionistas o operador espanhol Telefónica e um grupo de empresas italianas, depois do acordo de compra da totalidade das acções “holding” Olimpia. Num comunicado, a Pirelli anunciou que a operação, que deve ainda obter a luz verde das autoridades da concorrência, tem um preço “provisional quase de 4.100 milhões de euros” . A Olimpia, que com 18% das acções controla a Telecom Itália, pertence em parte ao grupo Pirelli (80%) e à Syntonie – da família Benetton – (20%), que anunciou também o seu acordo de venda a um consórcio formado pela Telefónica (parceiro industrial do grupo), pela Generali d’Assurances, pelos bancos Mediobanca e Intesa-Sanpaolo, e a própria Benetton. Fecha-se assim um longo caminho, desde que o grupo Pirelli anunciou a sua intenção de vender uma participação da Olimpia.
O novo consórcio controlará 23,6% da Telecom Itália, acrescentando aos 18% da Olimpia, com 1,54% e 4,06%, que a Mediobanca e a Generali possuem, respectivamente, do principal grupo italiano de telecomunicações.
A Telefónica disporá 42,3% do novo consórcio, enquanto o Generali d’Assurances terá 28,1%, os bancos Intesa-Sanpaolo e Mediobanca 10,7%, cada um, e Benetton 8,2%. O acordo permite à companhia espanhola incorporar o conselho de administração da Telecom Itália com dois administradores, número proporcional à sua participação económica de 10% na companhia. O montante da operação será determinado pela diferença entre os 2.4 milhões de acções que a Telecom Itália possui na Olimpia, avaliados a 2.82 euros cada uma, e pelo endividamento financeiro líquido da Olimpia, calculado na data do acordo, que compreenderá também os 337 milhões de dividendos pagos pela Telecom Itália.
Desde que o presidente de Pirelli confirmou a sua intenção de vender uma quota-parte majoritária da Olimpia, o grupo estudou diversas opções, e em Fevereiro passado a Telefónica confirmou já a existência de contactos, mas as conversações finalmente foram congeladas, até ao acordo político entre Zapatero e Prodi sobre o controlo italiano da Endesa, através da ENEL e em associação com a Acciona.
Sucessivamente, no início deste mês a Amérique Móvel (mexicana), de Carlos Slim – um grande concorrente de Telefónica na América Latina -, e a americana AT&T iniciaram conversações exclusivas com Pirelli, para obter 33% da Olimpia. As notícias criaram uma revolta no mundo político italiano, devido ao receio que o primeiro operador nacional de telecomunicações pudesse terminar em mãos estrangeiras. A AT&T finalmente tem decidido anular as negociações, no dia 16 passado, ao mesmo tempo que a Intesa-Sanpaolo e a Mediobanca procuravam construir uma aliança que permitiria a compra da Olimpia, o que levou à entrada em cena de Telefónica. A Telecom Itália, com presença em oito países, conta como principais activos com 32.4 milhões de linhas de telefone móvel em Itália, os 25.4 milhões no Brasil e os 8.7 milhões de clientes de banda larga em Itália.
Aliança das telecomunicações europeias
A entrada da operadora espanhola no capital do Telecom italiana, com uma participação indirecta de 10%, supõe primeira a grande aliança entre dois operadores europeus de telecomunicações. Um consórcio formado pela Telefónica, o parceiro industrial do grupo, a Generalli d’Assurances, os bancos Mediobanca e Intesa-Sanpaolo, e a companhia Benetton, que compraram a holding Olimpia, o que os transforma nos principais accionistas da Telecom Itália. Trata-se da primeira grande aliança entre dois operadores europeus de telecomunicações, antigamente monopólios de Estado, depois do fracasso do acordo entre a PT e a Telefónica, devido à traição dos espanhóis, que tentaram fazer mais-valias com o acordo lateral com a Sonae, no processo da OPA à PT.
“É uma mudança que pode, não somente durante os próximos anos dar origem ao nascimento duma grande companhia europeia de capital difuso, mas também levar à outras companhias nacionais a seguir o mesmo caminho”, escrevia esta semana o jornal económico “Il Linguado 24 Ore”. O eixo Telefónica-Telecom IT cria, além disso, um concorrente de primeiro plano à escala global e, sobretudo, para ex-monopólios europeus, como a França Telecom e Deutche Telekon.
O grupo Telefónica ocupava já a quinta posição no sector de telecomunicações a nível mundial por capitalização bolsista, mas a estreia como operador europeu integrado é o principal valor desta aliança. Com esta operação, avaliada provisoriamente em 4,1 mil milhões de euros, a Telefónica reforça as suas relações com a Telecom IT, companhia com o qual já subscreveu acordos de colaboração na Alemanha, e reforça a sua posição na Europa e a América Latina. A Telecom IT controla o operador de telefone móvel Tim no Brasil, onde os espanhóis estão presentes através da Vivo com a Portugal Telecom.
A operação sobre a Olimpia foi considerada com “satisfação” pelo ministro italiano de Comunicações, Paolo Gentiloni, que indicou, num comunicado, que “tomava nota da responsabilidade demonstrada pelo sistema financeiro italiano”.
Por seu lado, tal como fez Sócrates em Portugal, depois de falhada a OPA da Sonae, o primeiro-ministro italiano, Romano Prodi, reiterou a sua neutralidade sobre o futuro de Telecom, mas indicou que lhe “agradava o renovado compromisso também por parte de instituições financeiras italianas”. Recorde-se que, do acordo de contrapartidas para a compra da Endesa por parte da ENEL, o governo Zapatero exigiu a Prodi, que esteve esta semana em Lisboa, o controlo da Telecom IT e a fusão da Abertis com a Autostrada. Este último acordo levou já à exclusão de Vasco de Mello da Brisa do conselho de administração da operadora de auto-estradas catalã, aliás, como ao afastamento entre a Telefónica e a PT.
As empresas portuguesas poderão agora procurar alinhamentos europeus alternativos a Espanha, o que garante ao país a possibilidade de diversificar dependências numa altura em que os espanhóis, para lá de controlarem parte do sistema financeiro nacional (através do Santander, La Caixa/BPI, BBVA e 10 Caixas de Aforro), apostam em dominar a grande distribuição (El Corte Inglés, Zara, etc.) e as mentalidades, através da TVI e do “Diário Económico”.
Aliança entre a Vivo e a TIM Brasil
Depois da anunciada cisão entre a PT e a PTM, o mercado não espera grande inovação na gestão da operadora nacional e o BES já começou a dar sinais que pretende que tudo fique como no tempo de Miguel Horta e Costa. O negócio no Brasil parece ser uma prioridade de Henrique Granadeiro e do BESI, que controla a posição do grupo na PT. Ambos não querem para já pagar o controlo da Vivo e tentam ver mais-valias para a participada luso-espanhola em S. Paulo. Numa nota, a Espírito Santo Research (ESR) lembrava, esta semana, que a Telefónica está em negociações com a PT acerca do controlo conjunto da Vivo e que a posição de 10% na PT está avaliada no mercado em 1,1 mil milhões de euros. A mesma fonte considera assim que a entrada na Telecom Itália “abre as portas para a Telefónica tentar ficar com os activos no Brasil e levantar dúvidas sobre a sua permanência no futuro no capital da PT e da Vivo”.
A ESR adianta outros cenários ao desfecho da parceria entre a PT e a Telefónica. “Não descartamos a opção de que venha a ocorrer uma operação de consolidação no mercado móvel brasileiro, ou algum tipo de aliança entre a Vivo e a TIM Brasil”.
A ESR lembra, contudo, que uma aliança entre a Vivo e a TIM teria sempre que ser aprovada pelo regulador das telecomunicações (Anatel) e outras autoridades reguladoras. “De qualquer forma, outro aspecto positivo desta operação é que a Telefónica consegue que o seu principal concorrente na América Latina, Carlos Slim, não possa aceder a estes activos (TIM Brasil), o que reduz as ameaças de concorrência à Vivo”, conclui o banco de investimento.