2025/07/18

Manuel Alegre abre a porta à participação nas legislativas de 2009

No seu artigo desta semana no jornal “Público”, intitulado “Contra o Medo, Liberdade”, onde faz duras críticas à condução política de Sócrates, Manuel Alegre abre a porta à participação do seu movimento de cidadãos nas legislativas de 2009. O que pode revelar-se um problema complicado para Sócrates, ameaçando a maioria absoluta do PS. A hipótese é alicerçada nas excelentes votações obtidas pelo poeta nas presidenciais e por Helena Roseta em Lisboa, e parece estar a fazer o seu caminho em vários sectores da esquerda, que defendem não se poder alienar um capital político, que oscila entre os dez e os vinte por cento de votantes, e não se reconhece nos partidos de esquerda existentes.

No seu artigo desta semana no jornal “Público”, intitulado “Contra o Medo, Liberdade”, onde faz duras críticas à condução política de Sócrates, Manuel Alegre abre a porta à participação do seu movimento de cidadãos nas legislativas de 2009. O que pode revelar-se um problema complicado para Sócrates, ameaçando a maioria absoluta do PS.
Porém, o Movimento de Intervenção e Cidadania que Alegre, Roseta e outros activistas criaram há mais de um ano não pode, enquanto tal, disputar as eleições, obrigando à formação de um partido político. O que pode alterar, também, de uma maneira radical a atitude do PS para com Alegre e Roseta. Quer nas presidenciais, quer nas intercalares em Lisboa, Sócrates e o PS nunca levantaram a voz contra o poeta e a arquitecta, o que não deixa de ser curioso já que eles se atravessaram no caminho dos candidatos oficiais socialistas, ainda por cima homens de grande peso político como Mário Soares e António Costa. Porém, nas legislativas, com Sócrates a poder conhecer na pele o efeito nocivo de uma candidatura oriunda da família alegrista, as coisas podem ser muito diferentes. Com Sócrates a fazer um ataque cerrado à família alegrista. Esta quarta-feira, na entrevista que deu à SIC, José Sócrates já deu sinais
da forma como pode vir a tratar Alegre, respondendo duramente ao artigo do poeta. Já se percebeu, também, que quando existem danos directos na esfera do líder socialista, a máxima é a de que “quem se mete com Sócrates leva”. O que, de certo modo, dá razão a uma das critícas do artigo de Alegre, de que o PS gira hoje à volta do seu líder.
No final do seu artigo, numa parte que passou despercebida a muitos analistas, Manuel Alegre escreve sobre o futuro político imediato: “sei, por experiência própria, que não é fácil mudar um partido por dentro. Mas também sei que, assim como, em certos momentos, como fez o PS no verão quente de 75, um partido pode mobilizar a opinião pública para combates decisivos, também pode suceder, em outras circunstâncias, como nas presidenciais de 2006 e, agora, em Lisboa, que os cidadãos, pela abstenção ou pelo voto, punam e corrijam os desvios e o afunilamento dos partidos políticos. Há mais vida para além das lógicas de aparelho. Se os principais partidos não vão ao encontro da vida, pode muito bem acontecer que a recomposição do sistema se faça pelo voto dos cidadãos. Tanto no sentido positivo como negativo, se tal ocorrer em torno de uma qualquer deriva populista. Há sempre esse risco. Os principais inimigos dos partidos políticos são aqueles que, dentro deles, promovem o seu fechamento e impedem a mudança e a abertura.”

O perigo populista

Outro aspecto curioso do texto de Alegre é o alerta em relação a uma hipotética deriva populista. O voto dos cidadãos tem, segundo o poeta, uma vertente positiva, que se depreende ser aquela que se tem traduzido nas votações expressivas nas presidenciais e em Lisboa, e uma vertente negativa, que poderá ser a que se venha a traduzir em movimentos populistas à direita. O poeta, que demonstra aqui toda a sua sagacidade política, parece antever que o preço a pagar por Sócrates, e pela democracia portuguesa, por ter desideologizado o PS e ter deixado que toda a vida política esteja centrada em si, pode ser o aparecimento de um fenómeno populista à direita, também sem ideologia, que combata Sócrates com as mesmas armas da demagogia e, sobretudo, da propaganda.
Refira-se que no artigo, Alegre põe em causa a personalização da política com Sócrates: “Não tenho qualquer questão pessoal com José Sócrates, de quem muitas vezes discordo mas em quem aprecio o gosto pela intervenção política. O que ponho em causa é a redução da política à sua pessoa. Responsabilidade dele? A verdade é que não se perfilam, por enquanto, nenhumas alternativas à sua liderança. Nem dentro do PS nem, muito menos, no PSD. Ora isto não é bom para o próprio Sócrates, para o PS e para a democracia. Porque é em situações destas que aparecem os que tendem a ser mais papistas que o Papa. E sobretudo os que se calam, os que de repente desatam a espiar-se uns aos outros e os que por temor, veneração e respeitinho fomentam o seguidismo e o medo.”
A hipótese a que Manuel Alegre abre a porta, não só para as legislativas de 2009 mas também para as europeias que as antecedem, sobretudo numa altura em que são muitas as interrogações que se colocam sobre a construção europeia, é alicerçada, tal como o próprio afima nas excelentes votações obtidas pelo poeta nas presidenciais e por Helena Roseta em Lisboa, e parece estar a fazer o seu caminho em vários sectores da esquerda, que defendem não se poder alienar um capital político, que oscila entre os dez e os vinte por cento de votantes e não se reconhece nos partidos de esquerda hoje existentes. Como é sabido, Helena Roseta teve dez por cento dos votos nas eleições de 15 de Julho em Lisboa e Manuel Alegre obteve 18 por cento de votos nas presidenciais. O facto de tanto Manuel Alegre e Helena Roseta terem obtido estes bons resultados num quadro em que enfrentaram os candidatos de todos os outros quadrantes à esquerda, do PS ao Bloco de Esquerda, passando pelo PCP, pode tê-los convencido de que esse capital político não pode ser alienado, até porque, dentro da linha tipíca do pensamento de Alegre e Roseta, os votos recebidos são uma responsabilidade, havendo o dever de concretizar os anseios de quem votou no poeta, na arquitecta e nos seus activistas. Recorde-se que nas presidenciais, Alegre enfrentou Mário Soares, Jerónimo de Sousa e Francisco Louçã, ganhando o campeonato à esquerda. Já Helena Roseta levou a melhor Sá Fernandes e Ruben de Carvalho.

Alegre pode pescar no PS e Sócrates pescar à direita

A hipótese de o movimento de Alegre se erigir em partido e concorrer às legislativas de 2009, pode, na verdade, a concretizar-se, baralhar por completo o xadrez político. Caso o movimento de cidadãos crescesse à custa do PS, com um resultado à volta dos quinze por cento de votos, e tirasse a maioria absoluta a Sócrates, o cargo de líder do PSD poderia voltar a ser apetecível, com os pesos pesados de laranja a ponderarem, de novo, as suas posições. Ameaçando, também de novo, o lugar de Marques Mendes (ou Luís Filipe Menezes). De facto, perante estas condições adversas para o PS, um candidato laranja carismático que conseguisse unificar as tendências poderia sonhar com o regresso ao poder, ainda por cima quando o CDS-PP atravessa uma crise de que não se vê o fim à vista. Até a hipótese de uma maioria absoluta laranja não é, neste cenário, de descartar. Caso tal acontecesse, não seria, porém, apenas Sócrates o perdedor. Também Alegre e Roseta conheceriam o sabor amargo de histórias que parecem de sonho e que depois se transformam num pesadelo. Eles que, adivinha-se, fariam uma campanha em 2009 a dizer que era preciso dar força ao movimento de cidadãos, para obrigar Sócrates a uma política de esquerda (e, eventualmente, a uma coligação, dando aplicação a um chavão do PCP desde há vinte anos que os comunistas nunca souberam nem puderam concretizar) confrontavam-se com a tragédia de a sua actuação ter levado a direita de regresso ao poder. Enquanto a direita esteve em crise, o voto em Alegre e Roseta funcionou, mas quando aquela renasceu, esse mesmo voto revelar-se-ia fatal para toda a esquerda.
Mas o filme dos acontecimentos também pode ser outro. Mesmo com o movimento de cidadãos a concorrer em 2009, Sócrates poderá obter maioria absoluta para o PS. Caso em que se confirmaria que Sócrates é mesmo um fenómeno político a marcar o século XXI. Mesmo perdendo votos à esquerda, Sócrates compensava essas perdas com ganhos pescados à direita, no eleitorado tradicional do PSD e do CDS. Enquanto Mário Soares tinha sido superado por Alegre e António Costa tinha visto Helena Roseta deixá-lo com uma votação sofrível de 29,5 por cento, Sócrates não deixava a família alegrista comer-lhe as papas na cabeça e era ele, mais uma vez, quem se ficava a rir. Com maioria absoluta no bolso, vendo o PSD mais uma vez destroçado, o CDS de regresso ao partido do táxi (ou da lambreta), e o PCP e o BE cabisbaixos pelo facto de o movimento dos cidadãos ter penetrado fundo nos seus eleitorados. Ironia das ironias, o PS, que em quase quarenta anos de democracia, nunca conseguiu arrumar o PC, podia ver em 2009 os comunistas reduzidos à sua menor expressão eleitoral de sempre. À custa de Manuel Alegre. Refira-se que se este cenário-maravilha para Sócrates se viesse a concretizar, o líder socialista poderia, de novo, renunciar às críticas ao movimento de cidadãos, à semelhança do que fez nas presidenciais com Alegre e em Lisboa com Roseta.

Rsistir às pressões eleitoralistas

Entretanto, quarta-feira, na entrevista que deu à SIC, Sócrates apresentou-se confiante no futuro. Por mais de uma vez, em perguntas relacionadas com as várias adversidades que tem sofrido, entre as quais o caso da licenciatura pela Universidade Independente e as vaias sucessivas de que tem sido vítima, a últimas das quais no Estádio da Luz, Sócrates referiu que elas têm constituído um incentivo para seguir em frente, consciente de que está a exercer o seu dever, depois de ter encontrado o país numa situação lastimosa em 2005.
O primeiro-ministro abordou vários temas da actualidade, tendo considerado “inadmissível” a resistência do governo regional da Madeira em aplicar em lei do aborto, apelidando de “ensurdecedor o silêncio” dos líderes do PSD e CDS–PP sobre esta matéria.
Sócrates avisou que a Madeira “vai ter que aplicar a lei, porque é uma lei da República e porque resulta da vontade popular”. Em resposta, Alberto João Jardim referiu, ao seu jeito, que “quem está obcecado com a Madeira, precisa de se tratar”, dando sequência a algumas vozes do PSD-Madeira que já avisaram que a lei dificilmente será aplicada na Madeira, pelo menos no quadro actual dos meios existentes. A situação pode redundar num impasse que apenas poderá ser resolvida pelos bons ofícios do Presidente da República. Recorde-se que Cavaco Silva alertou na semana passada para a necessidade de a lei do aborto ser cumprida em todo o território nacional.
Na mesma entrevista, Sócrates garantiu que a despesa pública vai continuar a descer até 2009, rejeitando ceder a eventuar pressões eleitoralistas para as legislativas de 2009, o que pode ser um discurso que agrade à direita e a mobilize para votar Sócrates em 2009. ” A despesa em percentagem do PIB desceu em 2006, vai descer em 2007, também em 2008 e em 2009″, até atingir os 40 por cento do produto interno bruto”, considerou Sócrates. Sobre a mobilidade na função pública, Sócrates afirmou que perto de 900 funcionários públicos já estão na situação de mobilidade especial e que a reestruturação dos serviços públicos continuará a ser feita de acordo com o que está na lei e de acordo com as necessidades dos serviços. O chefe de governo garantiu que as reestruturações dos vários ministérios vão ser feitas em função do que está na lei e que vai ficar a cargo de cada serviço a definição das suas necessidades em termos de recursos humanos para fazer face aos objectivos que tem que cumprir. Para o primeiro-ministro todas as medidas implementadas no âmbito da Reforma da Administração Pública (o novo regime de carreiras, vínculos e remunerações, o novo sistema de avaliação, a mobilidade especial, a redução de organismos da administração pública e a redução em 25 por cento das chefias intermédias) tem apenas como objectivo melhorar a qualidade dos serviços.

As críticas de Alegre à política do Governo

No seu artigo, centrado no direito à liberdade, Manuel Alegre não perdeu a oportunidade de criticar a política do governo em diferentes áreas. Num só parágrafo, utilizando a forma negativa, o poeta é demolidor: “Não vou demorar-me sobre a progressiva destruição do Serviço Nacional de Saúde, com, entre outras coisas, as taxas moderadoras sobre cirurgias e internamentos. Nem sobre o encerramento de serviços que agrava a desertificação do interior e a qualidade de vida das pessoas. Nem sobre a proposta de lei relativa ao regime do vínculo da Administração Pública, que reduz as funções do Estado à segurança, à autoridade e às relações internacionais, incluindo missões militares, secundarizando a dimensão administrativa dos direitos sociais. Nem sobre controversas alterações ao estatuto dos jornalistas em que têm sido especialmente contestadas a crescente desprotecção das fontes, com o que tal representa de risco para a liberdade de imprensa, assim como a intromissão indevida de personalidades e entidades na respectiva esfera deontológica. Nem sobre o cruzamento de dados relativos aos funcionários públicos, precedente grave que pode estender-se a outros sectores da sociedade. Nem ainda sobre a tendência privatizadora que, ao contrário do Tratado de Roma, onde se prevê a coexistência entre o público, o privado e o social, está a atingir todos os sectores estratégicos, incluindo a Rede Eléctrica Nacional, as Águas de Portugal e o próprio ensino superior, cujo novo regime jurídico, apesar das alterações introduzidas no Parlamento, suscita muitas dúvidas, nomeadamente no que respeita ao princípio da autonomia universitária.”

“As pessoas estão cansadas dos jogos político-partidários”

Helena Roseta, candidata independente à Câmara Municipal de Lisboa, defende, em entrevista ao SEMANÁRIO, uma maior participação dos cidadãos à frente dos destinos da autarquia, bem como uma efectiva reabilitação da cidade, mostrando-se também contra um eventual fecho do aeroporto da Portela.

Em que medida é que a sua candidatura à CML poderá ser uma alternativa e trazer algo de novo à cidade?
É uma alternativa porque acho que as pessoas chegaram a um ponto, em que estão um pouco cansadas dos jogos político-partidários, tal como tem acontecido. A câmara cai porque os partidos não se entenderam, por haver um clima de suspeição e porque se chegou a uma situação de colapso financeiro. Portanto, acho que é preciso mudar de atitude, mudar de equipa, mudar de gente e sobretudo mudar de maneira de trabalhar e é isso que a minha candidatura propõe. Ela foi viabilizada por 5550 assinaturas, por isso estou aqui com essa legitimidade e aquilo que tenho estado a propor é a necessidade de encontramos um núcleo de medidas de emergência, para aplicar na câmara e na cidade, que permitam inverter o rumo.

Pode enunciar as principais prioridades/projectos da sua candidatura à CML?
A minha candidatura resume-se a duas propostas: reabilitação e participação. Entendemos a reabilitação da cidade como um todo e não apenas a habitação, os fogos devolutos, mas também o espaço público, as ruas, os espaços verdes, reabilitar o próprio sentimento de nos sentirmos agradados e satisfeitos de viver nesta cidade e isso implica uma quantidade enorme de medidas, mas sobretudo mais uma vez uma atitude, porque temos pouco dinheiro e não podemos fazer megaprojectos e essa atitude é o que chamamos de “acupunctura urbana”, ou seja, conseguirmos fazer muito, com pouco dinheiro, independentemente da dívida e que possa ter resultados. Outra coisa que propomos, e que é um traço distintivo da nossa candidatura em relação às restantes, é o problema da participação dos cidadãos, pois toda a gente fala na participação, mas a única candidatura que é realmente participada, desde a sua base e desde a sua origem é esta, tendo inclusive reflexos no nosso programa. Nós estamos já a praticar aquilo que defendemos, que é a participação das pessoas, quer na candidatura e no nosso programa, pois hoje em dia não é possível governar uma cidade, sem que os cidadãos sejam uma parte activa na governação, é isso que ninguém conseguiu fazer até agora e que nós achamos que é imprescindível.

Como caracteriza a gestão autárquica em Lisboa, levada a cabo pelo último executivo?
Acho que chegamos a um ponto de ruptura financeira, não apenas por responsabilidade pelos últimos dois anos, mas por uma responsabilidade acumulada. A câmara chegou a uma situação de desequilíbrio estrutural e está numa situação de desgoverno. Precisamos de agir imediatamente sobre as dívidas imediatas, as de curto prazo, mas precisamos sobretudo de fazer uma reestruturação geral do orçamento da câmara. Temos que baixar a despesa e aumentar a receita. Temos de baixar a despesa sobretudo na contratação de serviços externos, nas assessorias políticas, pois são as coisas onde é preciso cortar. Temos que aumentar a receita, sobretudo com uma melhor cobrança dos impostos municipais, pois há taxas que são cobradas com muito atraso. Há aqui uma quantidade enorme de gente que não está a cumprir o seu dever em relação à cidade. Quanto às medidas de emergência, penso que não há nenhuma maneira de talhar uma situação de asfixia financeira. Vai ter de se declarar a ruptura financeira da câmara e já se devia ter feito isto, por iniciativa do anterior presidente, Carmona Rodrigues, que não o fez. A primeira coisa a fazer, para quem ganhar as eleições, deverá ser fazer uma proposta à Assembleia Municipal e declarar a ruptura financeira, renegociar a dívida com a banca e com os fornecedores. Esta hipótese da ruptura financeira abre a possibilidade da câmara contrair algum empréstimo de imediato, para a renegociação da divida a curto prazo. Senão fizer isso, já ultrapassou todos os limites de endividamento e já não pode pagar.

Que implicações terá, para a cidade, um eventual encerramento do aeroporto de Lisboa, em virtude da possível construção do novo aeroporto na Ota?
É um erro fechar o aeroporto da Portela, porque tem uma função central na cidade. Poderá ter que ser complementado por um aeroporto próximo, mas nunca se pode encerrar em definitivo um aeroporto que faz falta à cidade. Lisboa é uma cidade que está a declinar e quando isso acontece na sua situação de perder actividade e atractividade, tirar-lhe uma solução é um erro. No caso concreto de Lisboa e em termos turísticos, a cidade tem um bom desempenho e tem aumentado a capacidade de atracção turística. Ao darmos uma machadada numa das actividades que até tem um bom desempenho, iremos ter um grande prejuízo para a cidade e por isso opor-me-ei.

Lisboa é hoje uma cidade voltada de costas para o rio Tejo e a duas velocidades, com zonas bem planeadas e estruturadas, mas também uma cidade antiga com vários edifícios devolutos e degradados. Que medidas tomaria para inverter a actual situação?
Em relação à frente ribeirinha, a questão principal é que esse território é gerido de uma maneira diferente do que é o resto da cidade. Para a cidade funciona o PDM onde existem regras e onde os cidadãos têm direito de se pronunciar sobre elas e de ter a sua opinião. No que diz respeito à frente ribeirinha, a regra é outra, porque é a Administração do Porto de Lisboa que tem a tutela desta área e que gere essa área sem ouvir os cidadãos. Penso que isto é quase uma esquizofrenia, porque o território é o mesmo e tem que haver uma nova entidade gestora para a frente ribeirinha, que incorpore a Administração do Porto de Lisboa, a CML, eventualmente a Armada, que também tem funções naquela área e outras entidades públicas, se for caso disso, para gerirem aquele território, como uma condição, de que não se podem aprovar grandes projectos de execução naquela área sem ouvir os cidadãos. Quanto à questão das zonas dos prédios vazios, temos, de acordo com os últimos números, cerca de 70 mil fogos vazios e isto é negativo para a cidade. Há, portanto, uma série de medidas a tomar, conforme estas diferentes classificações. Para os fogos mais degradados que precisam de reabilitação, há projectos que precisam de ser feitos, há financiamento público para a reabilitação através do Programa Pró-Vida, há a possibilidade de tornar mais rápida a aprovação dos projectos de reabilitação, através de uma via verde para a reabilitação e há a possibilidade de se aplicar o que já está na lei, que é uma taxa cada vez mais alta do IMI, enquanto os prédios não estão a ser utilizados para as suas funções. Usando estes instrumentos ou mais alguns, penso que vamos conseguir voltar a dar vida a zonas vazias da cidade.

Admite algum entendimento/coligação pós-eleitoral com alguma força política?
Vai ser necessário que todas as forças políticas se entendam, porque a situação é de tal maneira crítica, que nem sequer admito que as pessoas se estejam a candidatar para irem para a oposição. E, portanto, estão-se a candidatar para a vereação e esta é o executivo municipal. Quando estiver na câmara aquilo que vou querer é que todos participem no executivo, dependendo da vontade de cada um e que tenham também acordado as medidas que vamos tomar. Contudo, vai ser difícil, mas, nem me passa pela cabeça, ver a câmara, nesta fase de crise, a ser governada com uma parte do executivo a tentar governar e a outra parte a tentar desfazer.

Nesta sua candidatura à CML, o que será para si um resultado positivo ou um resultado negativo?
Um resultado positivo é ela existir e esse já o tenho. Seja qual for o resultado que venha a ter, o simples facto de sozinha, sem partidos, sem máquinas, sem agências, sem dinheiro, sem sedes, sem redes, sem estruturas, estar a disputar a presidência da câmara de Lisboa, como o estou a fazer, em condições de “taco a taco” com candidaturas que estão alicerçadas em estruturas, com muita bagagem e com muita experiência, prova duas coisas. Primeiro, que há espaço para uma candidatura com estas características e, por outro lado, prova que há algum reconhecimento das capacidades que eu e as pessoas da minha lista temos nesta matéria. Qualquer resultado que possamos vir a ter vai ser um milagre da cidadania, e eu estou muito convicta que isso está já está a acontecer.

Alcochete pode ser campo de tiro para Sócrates por Paulo Gaião

Numa semana em que Rui Costa se queixou que o Benfica não o defendeu dos ataques de Joe Berardo, Mário Lino também não viu Sócrates defendê-lo dos ataques de Francisco Van Zeller

Sócrates está cada vez com menos espaço de manobra para escolher a Ota como localização para o aeroporto. Muita gente, talvez adivinhando os interesses socialistas que se jogam no Oeste, não tem perdido a oportunidade de provocar o primeiro-ministro, encostando-o mais à parede com a ideia de que o governo não vai desistir da localização na Ota. Marcelo Rebelo de Sousa disse no domingo passado que o negócio está feito. Francisco Van Zeller chegou a dizer, esta segunda-feira, que há forças subterrãneas no próprio ministério das Obras Públicas, ao nivel de secretários de Estado, que tudo vão fazer para que o aeroporto se faça na Ota. Belmiro de Azevedo, que apelida a OTA de nado-morto, também parece convencido que o governo não vai recuar na localização do aeroporto. Lobo Xavier defendeu esta quarta-feira que a localização em Alcochete serve apenas para tapar a hipótese da Portela + 1 não sendo uma alternativa real à OTA.
Ora Sócrates já provou que não se deixa cercar. Quando menos se espera é capaz de encontrar uma saída. A hipótese de o governo escolher Alcochete e calar os que tinham a certeza que o primeiro-ministro ia optar pela Ota pode ser uma jogada política de mestre, feita a menos de dois anos das eleições legislativas. Sócrates também já demonstrou que não fica paralisado pelos interesses que giram à sua volta, fora ou dentro do PS, protegido que está pelo poder que exerce e pelo brilho que as sondagens de popularidade lhe continuam a dar. Não será, assim, pelos alegados interesses socialistas em redor da Ota que Sócrates não deixará de agir e decidir.
O primeiro-ministro também tem sido muito hábil a tomar decisões e não só resolver um assunto mas dois ou três, numa estratégia de largo espectro, onde se matam vários coelhos com uma só cajadada. É verdade que com a escolha de Alcochete, Sócrates poderia ter sérios problemas no governo. Talvez Mário Lino chegasse a pedir a demissão, ele que pôs a cabeça no cepo quando se entusiamou com os desertos na margem sul e os “jamais, jamais”. Mas há males que vêm por bem. O problema com Lino pode ser a oportunidade para Sócrates fazer uma remodelação governamental profunda, a menos de dois anos das eleições legislativas. Aliás, é muito curioso que o homem que se concertou com o governo no sentido de apresentar um estudo sobre Alcochete em nome da CIP, tenha sido o mesmo que atacou o ministério de Mário Lino, sem que Sócrates tenha levantado um dedo em defesa da equipa das Obras Públicas. Ontem o pedido de Alberto Martins para que Lino explique o financiamento do TGV também diz muito.
Também é verdade que o recuo do governo na Ota é uma forma de Sócrates dar razão a Marques Mendes, que há muito se bate contra a localização do aeroporto a Oeste. Mas tal poderá considerar-se uma derrota para Sócrates? Talvez não. As vantagens políticas podem ser muito superiores aos prejuízos. Com a escolha de Alcochete, Sócrates dá uma ajuda Mendes. Mas não tem sido o líder do PSD o principal seguro de vida de Sócrates? Com Mendes, Sócrates não arrisca surpresas e pode ter no bolso as eleições de 2009. Não arrisca, por exemplo, que Luís Filipe Menezes queira tirar o lugar a Mendes e que apareça por aí um velocista do cavaquismo ou do barrosismo (que por acaso estiveram em peso no programa Prós e Contras da RTP1) para prejudicar o caminho triunfal do líder socialista. Por sua vez, com o grande troféu anti-Ota para mostrar, Marques Mendes prova que fez uma bela oposição, o que lhe pode garantir um resultado honroso em 2009, ao ponto de ser suficiente para se querer manter na liderança do PSD depois desta data. Por sua vez, com o recuo na Ota, Sócrates pode obter, ainda, duas pequenas satisfações, com repercussões eleitorais. Obriga Marcelo Rebelo de Sousa, Belmiro de Azevedo, Francisco Vanzeller e Lobo Xavier a retratarem-se. Por outro lado, com a revisão da OTA, Sócrates dá uma bofetada aos detractores que dizem que ele é uma cabeça dura e poderá ganhar ainda mais simpatias junto do eleitorado e da opinião pública. Que, já se percebeu, prefere Alcochete à Ota, sensibilizada pelo argumento fácil de que o Estado não tem de pagar terrenos na margem Sul, ao contrário do que se passa no Oeste.

São Berardo da Luz. Com a liberdade que o dinheiro lhe dá, Joe Berardo veio dizer que o rei vai nu no Benfica. Mas o empresário até podia ter ido mais longe porque há muitos anos que está quase tudo errado no Benfica. Rui Costa é apenas a ponta de um icebergue onde se sentam Luís Filipe Vieira, José Veiga, Fernando Santos, Manuel Vilarinho, até Joaquim Oliveira, um grupo que parece ligado por interesses e conveniências pessoais, passando ao lado da avaliação pelos resultados no Benfica, o que era de todo natural que acontecesse num clube de futebol. Não é normal que depois de não ter tido um único êxito, confirmando em absoluto aquilo que muitos tinham a certeza que ia acontecer, Fernando Santos se tenha atrevido, há cerca de um mês, a garantir, quase com provocação para a comunicação social, que ficava no Benfica. Ora, o facto é que Fernando Santos ficou mesmo. A um mês de começar a nova época de futebol, nunca como hoje os benfiquistas se sentiram tão pouco galvanizados com a equipa, adivinhando já novos fracassos. Valeu-lhes, agora, São Berardo para levantarem os ânimos. Porém, tal como Rui Costa não é o maior culpado mas quem o contratou, aqui a responsabilidade é de quem tem permitido a Fernando Santos estas liberdades.
Não é normal que depois de ter saído da estrutura directiva do Benfica, para gerir judicialmente um caso pessoal, José Veiga tenha voltado ao Benfica, como se não houvesse outros dirigentes. Se Veiga fosse um génio da gestão, se tivesse dado muitos títulos ao Benfica, se fosse detentor do passe de dois ou três jogadores fora-série, podia entender-se o regresso do empresário. Mas Veiga é um gestor vulgar, não tem passes maravilha e a única coisa que conseguiu ganhar para o Benfica foi o título de há três anos, num verdadeiro campeonato de coxos, onde o Benfica ganhou, como podia ter ganho o Sporting ou o Porto, porque o demérito dos três foi igual. Não é normal que o antecessor de Luís Filipe Vieira na presidência do Benfica, homem que detém um lote razoável de accões do Benfica e que continua a ser um homem influente na direcção do clube possa ter anunciado impunemente há cerca de um ano, numa profecia pintada a negro, que o clube não ia ganhar título nenhum… até 2011.

“Há cinco candidatos do sistema e dois falsos independentes”

Manuel Monteiro pretende assumir o papel de José Sá Fernandes da direita na Câmara Municipal de Lisboa. Em entrevista ao SEMANÁRIO, o candidato refere que será “a voz dissidente, a voz anti-sistema, a voz de ruptura com o ‘status quo’ que permitiu que a CML tenha cavalgado para o pântano onde efectivamente se encontra”. Monteiro alertou, ainda, que “controlar os bairros sociais é controlar um sindicato de votos”.

O que é que a sua presença teria acrescentado ao debate de Terça-feira entre sete dos doze candidatos à Câmara Municipal de Lisboa?
É sempre difícil falar em causa própria. O debate demonstrou que há cinco candidatos do sistema e dois falsos independentes, é bom realçarmos isto. Helena Roseta só é candidata independente porque o PS não a quis como candidata, é um facto; Carmona Rodrigues é candidato independente porque o PSD lhe tirou o tapete, se o PSD o quisesse manter ele continuaria a ser o candidato do partido.
Na minha perspectiva, as questões de fundo que dizem respeito a Lisboa não são tratadas e não foram abordadas no debate de terça-feira. Houve uma tentativa de consensos, de coligações… penso que está tudo a tentar dizer: “votem em mim para eu ser vereadorzinho”. A minha lógica, ao contrário, é de ruptura. A CML e a cidade têm problemas que nenhum dos senhores que estiveram no debate tem coragem para abordar.

E Quais são?
Não ouvimos falar da transparência, como factor verdadeiramente incisivo; não ouvimos falar dos fenómenos de corrupção, pois estes senhores pactuaram directa ou indirectamente com o sistema que permitiu a existência de corrupção na cidade de Lisboa, pondo de lado, à esquerda, Sá Fernandes e Ruben de Carvalho. Mas a verdade é que todos estiveram relacionados com o sistema que permite a existência de arquitectos na CML que possuem amplos gabinetes cá fora. Há quem diga que muitas das obras municipais que são aprovadas na cidade de Lisboa são curiosamente aquelas que têm arquitectos cá fora e que simultaneamente também trabalham na Câmara, não ouvimos falar disto.
Se eu lá tivesse estado teria dito que comigo não há vereadores na CML com gabinetes lá fora, teriam de fazer uma opção. Portanto, isto são testemunhos muito objectivos das novidades trazidas pela minha presença. Por outro lado, teria dito que muitas das grandes aberrações que têm sido feitas em Lisboa em matéria urbanística, são feitas com o silêncio da Ordem dos Arquitectos, cuja bastonária é a arquitecta Helena Roseta.

Pretende, portanto, ser um candidato de ruptura, de cisão, de denúncia…Eu sou um candidato dissidente. Embora esteja envolvido numa candidatura, tenho saudades de homens como Nuno Krus Abecassis ou Gonçalo Ribeiro Teles, que falavam de Lisboa com Paixão e que verdadeiramente se dedicaram à cidade. Aquilo a que hoje assistimos, salvo honrosas excepções, é a uma lógica de funcionalismo, isto é, as pessoas são candidatas porque têm de ser candidatas. No debate de terça-feira, o dr. Fernando Negrão até se enganou e falou de Setúbal em vez de Lisboa. Eles são candidatos mas não queriam vestir esse papel, tanto Telmo Correia, como António Costa, ou Fernando Negrão.
Os únicos candidatos, dos sete, que têm uma visão estratégica para a cidade, embora não seja a minha, são Ruben de Carvalho e José Sá Fernandes. Eu sou, num outro patamar que não o da esquerda, a voz dissidente, a voz anti-sistema, a voz de ruptura com o status quo que permitiu que a CML tenha cavalgado para o pântano onde efectivamente se encontra.

Ao Trazer humoristas para a sua campanha não está a denegrir a imagem da democracia?
Quando os partidos pagam milhares de euros para terem os chamados cantores “pimba” nos seus comícios, julgo que essa preocupação não existe. À nossa maneira e em função dos nossos meios, que são claramente menores face às demais candidaturas, estamos a trazer o humor, promovendo jovens actores. Os textos desses jovens actores vão interpretar a mensagem política que me parece essencial e que será a coluna vertebral da minha candidatura.

Falemos dessa mensagem política. O que é que um vereador do PND pode trazer para a Câmara de Lisboa?
A lógica do sistema político é ter de conquistar votos seja onde for e, portanto, não dizer nada que possa pôr em causa a conquista de votos. Eu não. Eu vou ao centro da questão. A minha primeira reforma passaria por extinguir todas as empresas municipais. É preciso dividir Lisboa em quatro grandes áreas e atribuir a concessionários privados os Lixos, os jardins, os estacionamentos. Três áreas muito concretas que entregaria a privados com o compromisso, no contrato de concessão, destes absorverem as pessoas que hoje trabalham na CML. Deste modo, contribuiríamos para o emagrecimento da Câmara e consequente diminuição dos custos de funcionamento.

Diminuição do passivo da CML.
Exacto. Por outro lado, há muito gente avençada na Câmara que trabalha o triplo de muitos senhores que estão no quadro e que não põem lá os pés, embora recebam o ordenado ao fim do mês. Estes senhores têm de ter uma guia de marcha e irem para casa. Como seria fundamental que pessoas que estão nos gabinetes de juristas, de arquitectos ou de engenheiros da Câmara, formalmente a tempo inteiro, mas na prática part-time para depois terem os seus complementos, fossem também convidados a rever a sua situação e a sair.
Em nome da reforma administrativa interviria rapidamente nos bairros sociais. Rendas a dois eurosEstão a brincar comigo! Permitir que continuem a viver pessoas em casas da Câmara que têm segunda habitação fora da cidade de Lisboa e que ostentam níveis de riqueza superiores a muita gente que pede dinheiro a um banco para comprar casa? Não!
Não é admissível que uma empresa que gere a habitação social gaste mais do que aquilo que recebe. O que a GEBALIS gasta na manutenção do parque habitacional, estamos a falar de 25 mil fogos e de 110 mil pessoas, é superior às suas receitas. Hoje, controlar os bairros sociais é controlar um sindicato de votos. Por exemplo, no Bairro da Boavista e no Bairro do Casal dos Machados há grupos de cidadãos organizados em carrinhas para irem votar em determinados partidos. Estas situações conduzem a que as casas sejam atribuídas em função da filiação partidária. E ninguém fala disto…

Que pelouro escolheria se fosse eleito presidente da CML?
Se fosse presidente da CML assumiria para mim a condução estratégica da cidade. Ou seja, não quereria um pelouro específico, mas teria o planeamento como objectivo principal. A questão do planeamento é fundamental. Subsidiariamente teria comigo a educação e a cultura. É um crime estar a acontecer em Lisboa uma situação que se está a verificar no resto do país, que é o encerramento de escolas.

CCB Fora de Si!

O CCB deu “carta-branca” aos seus programadores no sentido de dar uma nova visibilidade e usufruto dos espaços exteriores da instituição. O objectivo é a revolução, o libertar dos espaços na sua plenitude. O resultado é uma programação, que, com poucas excepções, se passará nos jardins, praças e esplanadas
do CCB durante os meses de Julho e Agosto de 2007. Mega Ferreira vira o CCB do avesso e põe em prática uma ideia há muito aguardada: CCB Fora de Si!

Esta é a primeira vez, desde a sua abertura em 1993, que o CCB apresenta uma programação para os meses de Verão. Novo-circo, fanfarras, música do mundo, teatro móvel, marionetas, jogos de água e instalações juntam-se a uma programação de jazz, com as quintas de jazz, para fazer do Verão de 2007 uma estação diferente.
CCB Fora de Si é uma programação desenhada para um público internacional. A ideia é que aqueles que, na época de férias, visitam o CCB e procuram pólos de interesse cultural, tenham uma oferta diferente. Há muito que se questionava por que não havia programação no CCB durante o Verão, porque não se programava mais nos espaços exteriores. A resposta surge agora, no tom de solução e de ideia genial, sendo que finalmente a instituição frui do ar livre, das condições atmosféricas dos meses de Verão. Aproveitamento do espaço no seu todo é a ideia-base.
O programa estende-se ao longo de Julho e Agosto e distribui-se pelos vários espaços. Juntam-se companhias portuguesas e estrangeiras, artistas de várias nacionalidades e apresentam-se actividades e espectáculos em diversas áreas.
De quinta-feira a domingo a programação intensifica-se com o objectivo de oferecer sentidos culturais aos fins-de-semana dos lisboetas e de todos os turistas que passam pela capital, apresentando à tarde e à noite propostas de espectáculos que primam pela inovação e heterogeneidade.
A iniciativa conta com o apoio do Instituto do Turismo de Portugal e da Agência de Turismo de Lisboa.
A abertura acontece no dia 1 de Julho (às 18h30). Cavalos brancos pousados no topo da fachada que convidam à entrada. As nuvens descem à terra e os gigantes sobem ao céu, com a envolvência sonora do percussionista Rui Júnior e os seus cem músicos. Esta instalação de insufláveis “Quadriga, Nuvens e Figuras Flutuantes”, de Max Streicher, estará no espaço até Setembro.
Max Streicher é um escultor, oriundo de Toronto, que trabalha com formas cinéticas insufláveis e traz a Lisboa figuras da natureza humana e animal.
Destaque para bandas e músicas oriundas de vários pontos do mundo, como os Balcãs ou o Rajastão, circo marroquino com um grupo acrobático de Tânger. A oferta é diversificada.
O teatro de objectos europeu é trazido por João Calixto, Turak, com “Pequena Fábrica de Pinguins”, de 27 a 29 de Julho, e pela Compagnie de Chemins de Terre, com “Polichineur de Tiroirs”, de 20 a 22 de Julho.
Marionetas reformadas de tamanho natural propõem pequenos espectáculos enquanto servem às mesas dos restaurantes, pela companhia Tof Théatre.
“Sensazione” é outra parte deste todo programativo, uma feira de circo e arte, que vem da Bélgica, com máquinas que convidam o público a pôr em marcha os seus mecanismos, a partir de uma participação acrobática, de 6 a 12 de Julho na Praça do Museu, numa concepção de Peter De Bie e Charlotte Heller, Laika & Time Circus. Uma feira colorida que procura o despertar de sentidos.
Estas duas companhias juntaram-se porque gostam de interacção entre actores e público, e porque estão convencidas de que um novo género teatral ambulante pode ser criado, saltando barreiras que amarram o teatro a um formato mais conhecido.
Pelas mãos do artista francês Flop, chegam experiências com objectos de luz que deslumbram as crianças com a ajuda do sol e da lua. Ocupam o Jardim das Oliveiras de 5 de Junho a 15 de Agosto.
O teatro chega-nos não só da Europa, mas também das Beiras, do Norte e do Alentejo. O Teatro Regional da Serra do Montemuro apresenta “Splash!”, de 13 a 15 de Junho, no Caminho Pedonal. O Teatro das Beiras traz-nos teatro humorístico, com “Piratas! O Mistério de Maria de la Muerte”, em que convida o público a fazer parte da tripulação de uma grande aventura. É teatro do território rural português a invadir o espaço urbano!
E ainda fanfarras com “Taraf Goulamas”, uma fanfarra culinária, com saxofones e ervas aromáticas, “Jaipur Kawa Brass Band”, da Índia: dez músicos, uma bailarina e um faquir, e a “Kumpania Algazarra”, a fanfarra portuguesa de inspiração internacional.
A magia é revelada por “Walkarround Magic” e “Formal Close-Up Show” em vários locais ao ar livre, de 13 a 15 de Julho.
“Walkarround Magic” pode acontecer, inesperadamente, ao lado de alguém que pára ou se senta para conversar ou descansar. É isto que esta programação pode ter de tão intenso, a surpresa e a qualidade da variedade de acontecimentos e movimentos. “Formal Close-up Show” é um espectáculo em que a plateia se reúne e é convidada a participar na execução de efeitos surpreendentes.
Estes são apenas alguns dos destaques de uma vasta programação que se apresenta em Lisboa nos meses de Verão. CCB Fora de Si é a grande aposta de um urbanismo intenso misturado com a arquitectura paisagista que o espaço tem para oferecer. Os olhos postos no rio, no jardim e nos movimentos que se criam. Lisboa em movimento.