2025/07/19

Sondagens confirmam a tendênciapor Rui Teixeira Santos

O professor Freitas do Amaral tem, por razões que só ele sabe, essa convicção que António Guterres não vai ser candidato presidencial do PS, e que, nessas circunstâncias, ele ainda tem alguma hipótese da ser o candidato da esquerda. Há actos que Freitas do Amaral poderia evitar.

O professor Freitas do Amaral tem, por razões que só ele sabe, essa convicção que António Guterres não vai ser candidato presidencial do PS, e que, nessas circunstâncias, ele ainda tem alguma hipótese da ser o candidato da esquerda. Há actos que Freitas do Amaral poderia evitar. E, o resultado está à vista: ele não leva um só voto para o PS, nem dá mais credibilidade aos socialistas, ou ao engenheiro Sócrates. Pelo contrário, irrita o centro e a direita, ou seja, mobiliza o centro e a direita.
As razões de Freitas do Amaral, para além das tácticas, são subscritas por todos os europeus: nenhum Governo europeu merece ganhar eleições, excepto se não houver alternativa melhor. É o efeito da anemia económica, do disparate do Pacto de Estabilidade e Crescimento.
Todos fizeram a mesma política; todos cometeram os mesmos erros; e todos estiveram calados, coniventes no desastre. Mas, como acontece em França ou na Alemanha, a questão é que a alternativa não é melhor que a situação. E, é, por isso, que os governos ganham as eleições na Europa. (O caso espanhol é excepcional e tem a ver com a gestão do 11-M.)
Ora, em Portugal, não há nenhuma razão para este governo e esta maioria parlamentar perderem as eleições. Ou melhor dito, não há nenhuma razão para esta oposição as ganhar.
As sondagens estão aí para confirmar (apesar das limitações) a tendência de perda de peso eleitoral da esquerda: da maioria absoluta do PS já ninguém fala e ela era uma certeza, há menos de quatro semanas. Na sondagem de ontem, publicada na “Visão”, a direita já estava a dois pontos do PS. Ora, com mais de três semanas de campanha eleitoral, parece evidente que a direita vai recuperar esses pontos, até porque a dinâmica de perda do PS parece incontrolável.
A partir daqui, todos os cenários são possíveis, desde que excluam uma maioria absoluta de um só partido. E, neste sentido, o eleitorado responde à letra a António Guterres, que desprezou a maioria absoluta do queijo limiano, quando sentiu que as dificuldades económicas estavam de volta e abandonou o governo, permitindo o regresso da direita ao poder, condicionada, contudo, com a necessidade de fazer uma política de contenção, em face da situação das finanças públicas: o PS não merece maioria absoluta.
Assim, não podendo o próximo parlamento ser dissolvido, por falta de poderes presidenciais, pelo menos até ao Verão de 2006, sendo instável a solução de um governo minoritário do PSD ou do PS e estando inviabilizada qualquer hipótese de Frente Popular ou acordo com incidência governamental, à esquerda (em face do radicalismo do BE e da memória da experiência governamental dos governos provisórios, onde o PS esteve aliado ao PCP no Governo), as alternativas que se colocam passam por entendimentos entre o PSD e o PP (conforme acordo celebrado), o PS e o PP (por causa do regime e da questão NATO, de acordo com Paulo Portas) ou, finalmente, pelo Bloco Central (o pacto de regime necessário segundo Jorge Sampaio).
Ou seja, a solução de estabilidade política desejada pelo Presidente da República só será possível, no quadro instável de coligações, que servem objectivos parcelares de política externa ou de reformas financeiras, mas que não traduzem opções ideológicas fracturantes na sociedade portuguesa.
E é exactamente isso que explica esta mobilização que se começa a sentir à direita. Torna-se inevitável o balizamento europeu das opções nacionais e a consolidação das Finanças Públicas, numa opção liberalizante que reduza necessariamente o peso do Estado na economia e, portanto, reforme o Estado Social.
Neste contexto, com mais ou menos disparates e erros de contas ou projecções, com mais ou garotices e cartas com mimos entre partidos, a estratégia dos partidos acaba por ser muito semelhante e a diferença programática quase irrelevante.
Sobra então o carisma de cada candidato e a táctica da campanha. A filosofia política tem aqui o seu novo espaço de reflexão: entre o “Ser” o “Acontecimento”. Nas sociedades europeias, o “Acontecimento” secundariza o “Ser”, torna mesmo a “Verdade” irrelevante, como se viu no 11-M em Madrid.
O agente político fica condicionado pelo destinatário e não pelo ser. Ou seja, ele não é agente, mas consequência. O Governo circunscreve-se ao universo da representação e, subitamente, distinguimos a democracia como regime, da democracia enquanto processo político. O Governo torna-se governância, do mesmo modo que, na eleição política, se exclui a ideologia.
A política não é determinante da História, nem emana dela. A política e a História traduzem-se em universos diferentes: até o Bloco de Esquerda já abandonou a ideia da revolução proletária e a conversa da vanguarda operária.
Esse sentimento enorme, herdado do Romantismo do século XIX, de que fazíamos parte do processo histórico, desapareceu, como que confiscado pela história do pensamento ocidental. E, agora, sem Deus nem demónio, só nos sobra, melhor, somos confrontados com o universo da representação, com o “cenário de celofane” que é a política europeia, esta grande herança de um século XX que, afinal, não foi apenas de tragédia, guerra e genocídio (de que o Holocausto faz parte).
É, aqui, que ganha Pedro Santana Lopes.

Final antecipada da taçapor Manuel Lopo de Carvalho

Se o futebol em Portugal fosse assim, já não dizemos sempre mas 50% das vezes, os estádios estariam cheios por regra e não por excepção.
Dir-se-ia então que afinal os portugueses gostam de futebol e não, como é habitual referir-se, que gostam apenas dos seus clubes.
Os portugueses, como se prova de cada vez que as suas equipas de clube ou a selecção nacional jogam bem, deliram com o facto.

1 – Jogo fantástico de emoção este último Benfica-Sporting!
Se o futebol em Portugal fosse assim, já não dizemos sempre mas 50% das vezes, os estádios estariam cheios por regra e não por excepção.
Dir-se-ia então que afinal os portugueses gostam de futebol e não, como é habitual referir-se, que gostam apenas dos seus clubes.
Os portugueses, como se prova de cada vez que as suas equipas de clube ou a selecção nacional jogam bem, deliram com o facto. Nessas situações demonstram claramente que não podem gostar mais de futebol.
A questão central é que a qualidade do futebol praticado em Portugal é muito fraca. As situações como as desta final antecipada da Taça de Portugal são, infelizmente, as excepções que confirmam a regra.
Poder-se-á fazer algo para melhorar esta situação?
Estamos em crer que sim, mas para isso é preciso vontade e iniciativa para o fazer. A palavra cabe aos dirigentes da Federação Portuguesa de Futebol e à Liga de Clubes. É nossa convicção que existem condições para que se possam dar passos concretos na revitalização do futebol no nosso país.
As soluções já foram por variadíssimas vezes apontadas e passam, nomeadamente, pela redução dos quadros competitivos, pela redução do número de estrangeiros (brasileiros incluídos) de qualidade duvidosa a actuar no nosso país, pela formação e autonomia dos árbitros, pela qualificação dos dirigentes e treinadores.
Haja vontade que a oportunidade há muito esperada parece estar a surgir.

2 – Mas voltando ao Benfica-Sporting há que referir que o resultado conseguido pelo Benfica pode ter tido consequências gravosas para o clube.
Como assim, dirão alguns, então o Benfica não ganhou?
Lá ganhar ganhou, mas arrisca-se a que esta vitória seja apenas de curto prazo. A sua consequência foi dar um novo fôlego a uma solução organizativa demonstrada e reconhecidamente incapaz de levar a equipa e o clube a algum lado, de forma consistente.
Um resultado negativo teria como consequência o despedimento do idoso, teimoso e senil treinador italiano Trapattoni, que o portista José Veiga, com a cobertura do presidente L.F. Vieira, foi buscar, em terceira escolha, para treinar o Benfica. Os erros cometidos pelo treinador, a forma defensiva como insiste em pôr a equipa a jogar, a pouca consideração que os adeptos nutrem por ele, não permite esperar nada de bom para o futuro. Nem ele, Trapattoni, espera. O seu ar acomodado, displicente, derrotado, diz tudo.
Esta vitória sobre o Sporting tem pois muitas semelhanças com o que no ténis se chama “salvar um match point”.
Depois da derrota incrível sofrida em Janeiro em Alvalade, em mais uma demonstração clara da incapacidade do treinador, o Benfica ressurgiu das profundezas e goleou o Boavista com uma boa exibição. Estava salvo o primeiro “match point”. Uma derrota neste jogo teria tido efeitos terríveis na carreira do clube esta época.
Depois veio a derrota humilhante em casa contra o Beira-Mar, com nova dose de responsabilidade de Trapattoni. Foi o regresso ao fundo do poço. A vitória sobre o Sporting representou pois nova ressurreição do Benfica, o que constituiu como que a salvação do segundo “match point”
Até onde irá o Benfica nesta saga de se safar “in extremis”?
Em nossa opinião a lado nenhum.
Porém, agora que eliminou o Sporting com o brilho a que todos pudemos assistir, o Benfica tem uma nova janela de oportunidade, tendo ganho espaço de manobra para, sem a pressão dos resultados negativos, tomar as medidas que são evidentes e necessárias para tentar salvar a época futebolística, evitando a necessidade, de risco elevado, de ter de salvar mais “match points”
E quais são estas?
Para já as duas primeiras e mais óbvias são o agradecimento e acerto de contas com o treinador Trapatoni e com o portista José Veiga.
É só uma questão de tempo.
Ou saem agora a bem, ou saem brevemente a mal e debaixo dos insultos e desconsiderações dos sócios e simpatizantes do Benfica.
Compete aos dirigentes eleitos terem o discernimento necessário para o efeito.
Será que o fazem?
Duvidamos, mas é altura de referir que chegou a sua vez de terem o seu primeiro “match point” para salvar.
A ver vamos.

Semanário – Desporto 143por Manuel Lopo de Carvalho

1 – Terminado que está o defeso importa agora fazer uma breve análise da forma como o mesmo decorreu para as tradicionais equipas candidatas ao título de campeão, bem como avançar com algumas previsões para o campeonato que agora vai começar.

A primeira constatação que me permito referir é que o F.C.Porto continua fortíssimo, o Sporting reforçou-se bem, voltando a ter uma equipa competitiva, o Benfica ficou na mesma e o Boavista caiu a pique em termos de qualidade e competividade.
Analisando um pouco melhor o sucedido nestes três meses de não futebol, verificou-se que fruto do encaixe financeiro proveniente das vendas de Hélder Postiga e de Ricardo Quaresma e mais recentemente de Cristiano Ronaldo, o F.C.Porto e o Sporting conseguiram reforçar as suas equipas com jogadores de indiscutível qualidade. Jogadores como McCarthy, Pedro Mendes, Ricardo, Polga e Rochemback são indiscutíveis mais valias que dão garantias de bom rendimento. Acresce que o F.C.Porto conseguiu não vender Deco o que, em meu entendimento, foi a sua melhor contratação de todo este período.
Do lado oposto, ou seja, dos “pobrezinhos” verifica-se que o Boavista vendeu os seus melhores valores, sendo a queda em termos de rendimento desportivo evidente. O Boavista não tem este ano uma equipa para aspirar a mais que o meio da tabela. Os primeiros resultados são disso prova evidente.
Quanto ao Benfica a situação é ligeiramente melhor no plano desportivo pois não vendeu, até ver, nenhum dos seus jogadores mais importantes, mas também não reforçou a equipa em lugares claramente carenciados, apesar dos apelos angustiados do seu treinador.
No âmbito das expectativas que foram criadas em redor do Benfica, quer pela comunicação social, quer pelos dirigentes encarnados, é que a situação não é nada favorável. De um ambiente de grande expectativa quanto a reforços, em que quase todos os dias era anunciado um “truta” como praticamente contratado, em que o presidente da SAD prometia aos sócios a vinda de Rui Costa, em que o treinador referia que o Benfica devia comprar jogadores como o já referido Rui Costa ou, pasme-se, Ronaldinho Gaúcho, eis que para a nova época a equipa aparece com dois únicos “reforços”: Alex e Ronald Garcia! O primeiro parece que é bom rapaz mas não é claramente daquele filme. Quanto ao segundo, o treinador deu-lhe de imediato guia de marcha para o Alverca, apesar de ter custado trezentos mil contos!
Resultado: o desânimo nas hostes benfiquistas é generalizado.
Existe porém uma situação que pode alterar um pouco este estado de espírito que é o facto de se aproximarem as eleições no clube pelo que é muito provável que o candidato do regime, ou como se dizia no tempo da ditadura, o candidato da situação, tire da manga algum coelho, perdão jogador, e o acene aos sócios como um troféu de caça. Vamos ver, pois a probabilidade que isto aconteça é grande. Até lá, porém, a descrença está instalada entre os benfiquistas.
Em conclusão, no campeonato do defeso o campeão foi o Sporting seguido de perto pelo F.C.Porto. Em terceiro lugar mas bem distanciado e a perder fulgor competitivo vem o Benfica. Em quarto lugar nesta competição aparece o Boavista claramente em queda e com prespectivas futuras algo sombrias.
2 – No que respeita às previsões para o campeonato, estas apontam para uma luta entre o F.C.Porto e o Sporting para o primeiro lugar.
Começando pelo F.C.Porto, pode dizer-se que ao manter o Mourinho, Deco e com os reforços que conseguiu não vai ver diminuída a sua capacidade. Apresenta-se pois como o principal favorito.
O Sporting conseguiu ver-se livre de um treinador que só foi bom enquanto dispôs do abono de família chamado Jardel e contratou um técnico português com provas dadas, embora, a meu ver, com excessivas preocupações defensivas. Por outro lado reforçou a defesa e o meio campo que apresentavam claros sinais de perca de competitividade. No ataque é que a situação não está brilhante. As saídas de Quaresma, Ronaldo e a dispensa de Jardel não foram compensadas devidamente. A contratação de Silva é claramente insuficiente. Está, porém, anunciado pela direcção leonina a contratação de um “matador” para a frente de ataque. Se tal se verificar o Sporting pode aspirar seriamente a lutar com o F.C.Porto pelo primeiro lugar. Caso contrário deverá ter assegurado o segundo lugar.
Quanto ao Benfica, depois do defeso desastroso que protagonizou, direi que não é expectável que possa ir além do terceiro lugar.
Com efeito, o Benfica deixou-se claramente ultrapassar quer pelo F.C.Porto e pelo Sporting em termos de reforço da equipa principal. Dispõe de um treinador que está clara e publicamente descontente com o incumprimento das promessas que a SAD lhe terá feito quanto a reforços. Está manietado com uma situação de quase exclusivo com o empresário José Veiga, a qual vai seguramente provocar fortes tensões internas com o treinador e o seu empresário. Não tem estádio próprio para jogar até meados de Outubro e não dispõe de centro de estágio e treinos tendo que andar a treinar onde calha. Tem uma Direcção que se demitiu das suas funções e uma SAD que muito promete e pouco faz. Tem eleições em Outubro, o que sempre desestabiliza o poder instalado. Não tem dinheiro, nem grandes perspectivas de o arranjar.
Face a este panorama não se vê como seja possível considerar o Benfica candidato ao título. Só se for com a ajuda de Nossa Senhora de Fátima.
Quanto aos “outsiders”, e dado o desaparecimento do mapa por parte do Boavista, apenas o Vitória de Guimarães se apresenta com alguns argumentos para incomodar os grandes. Parecem-me contudo insuficientes para que o clube possa aspirar a algo mais que o quarto lugar.
Em conclusão, e com o risco que todas as previsões têm associadas, aqui fica a minha aposta para o campeonato que agora se inicia: F.C.Porto – 1º lugar; Sporting – 2º lugar; Benfica – 3º lugar; Vitória de Guimarães – 4º lugar.
Em Maio de 2004 veremos se tinha razão antecipadamente, ou se me enganei redondamente!
Como benfiquista faço votos para que o engano prevaleça, que possa dar a mão à palmatória e comemorar efusivamente a vitória do meu clube de sempre. Já não seria sem tempo.

Semanário – Desporto 143por Manuel Lopo de Carvalho

1 – Terminado que está o defeso importa agora fazer uma breve análise da forma como o mesmo decorreu para as tradicionais equipas candidatas ao título de campeão, bem como avançar com algumas previsões para o campeonato que agora vai começar.

A primeira constatação que me permito referir é que o F.C.Porto continua fortíssimo, o Sporting reforçou-se bem, voltando a ter uma equipa competitiva, o Benfica ficou na mesma e o Boavista caiu a pique em termos de qualidade e competividade.
Analisando um pouco melhor o sucedido nestes três meses de não futebol, verificou-se que fruto do encaixe financeiro proveniente das vendas de Hélder Postiga e de Ricardo Quaresma e mais recentemente de Cristiano Ronaldo, o F.C.Porto e o Sporting conseguiram reforçar as suas equipas com jogadores de indiscutível qualidade. Jogadores como McCarthy, Pedro Mendes, Ricardo, Polga e Rochemback são indiscutíveis mais valias que dão garantias de bom rendimento. Acresce que o F.C.Porto conseguiu não vender Deco o que, em meu entendimento, foi a sua melhor contratação de todo este período.
Do lado oposto, ou seja, dos “pobrezinhos” verifica-se que o Boavista vendeu os seus melhores valores, sendo a queda em termos de rendimento desportivo evidente. O Boavista não tem este ano uma equipa para aspirar a mais que o meio da tabela. Os primeiros resultados são disso prova evidente.
Quanto ao Benfica a situação é ligeiramente melhor no plano desportivo pois não vendeu, até ver, nenhum dos seus jogadores mais importantes, mas também não reforçou a equipa em lugares claramente carenciados, apesar dos apelos angustiados do seu treinador.
No âmbito das expectativas que foram criadas em redor do Benfica, quer pela comunicação social, quer pelos dirigentes encarnados, é que a situação não é nada favorável. De um ambiente de grande expectativa quanto a reforços, em que quase todos os dias era anunciado um “truta” como praticamente contratado, em que o presidente da SAD prometia aos sócios a vinda de Rui Costa, em que o treinador referia que o Benfica devia comprar jogadores como o já referido Rui Costa ou, pasme-se, Ronaldinho Gaúcho, eis que para a nova época a equipa aparece com dois únicos “reforços”: Alex e Ronald Garcia! O primeiro parece que é bom rapaz mas não é claramente daquele filme. Quanto ao segundo, o treinador deu-lhe de imediato guia de marcha para o Alverca, apesar de ter custado trezentos mil contos!
Resultado: o desânimo nas hostes benfiquistas é generalizado.
Existe porém uma situação que pode alterar um pouco este estado de espírito que é o facto de se aproximarem as eleições no clube pelo que é muito provável que o candidato do regime, ou como se dizia no tempo da ditadura, o candidato da situação, tire da manga algum coelho, perdão jogador, e o acene aos sócios como um troféu de caça. Vamos ver, pois a probabilidade que isto aconteça é grande. Até lá, porém, a descrença está instalada entre os benfiquistas.
Em conclusão, no campeonato do defeso o campeão foi o Sporting seguido de perto pelo F.C.Porto. Em terceiro lugar mas bem distanciado e a perder fulgor competitivo vem o Benfica. Em quarto lugar nesta competição aparece o Boavista claramente em queda e com prespectivas futuras algo sombrias.
2 – No que respeita às previsões para o campeonato, estas apontam para uma luta entre o F.C.Porto e o Sporting para o primeiro lugar.
Começando pelo F.C.Porto, pode dizer-se que ao manter o Mourinho, Deco e com os reforços que conseguiu não vai ver diminuída a sua capacidade. Apresenta-se pois como o principal favorito.
O Sporting conseguiu ver-se livre de um treinador que só foi bom enquanto dispôs do abono de família chamado Jardel e contratou um técnico português com provas dadas, embora, a meu ver, com excessivas preocupações defensivas. Por outro lado reforçou a defesa e o meio campo que apresentavam claros sinais de perca de competitividade. No ataque é que a situação não está brilhante. As saídas de Quaresma, Ronaldo e a dispensa de Jardel não foram compensadas devidamente. A contratação de Silva é claramente insuficiente. Está, porém, anunciado pela direcção leonina a contratação de um “matador” para a frente de ataque. Se tal se verificar o Sporting pode aspirar seriamente a lutar com o F.C.Porto pelo primeiro lugar. Caso contrário deverá ter assegurado o segundo lugar.
Quanto ao Benfica, depois do defeso desastroso que protagonizou, direi que não é expectável que possa ir além do terceiro lugar.
Com efeito, o Benfica deixou-se claramente ultrapassar quer pelo F.C.Porto e pelo Sporting em termos de reforço da equipa principal. Dispõe de um treinador que está clara e publicamente descontente com o incumprimento das promessas que a SAD lhe terá feito quanto a reforços. Está manietado com uma situação de quase exclusivo com o empresário José Veiga, a qual vai seguramente provocar fortes tensões internas com o treinador e o seu empresário. Não tem estádio próprio para jogar até meados de Outubro e não dispõe de centro de estágio e treinos tendo que andar a treinar onde calha. Tem uma Direcção que se demitiu das suas funções e uma SAD que muito promete e pouco faz. Tem eleições em Outubro, o que sempre desestabiliza o poder instalado. Não tem dinheiro, nem grandes perspectivas de o arranjar.
Face a este panorama não se vê como seja possível considerar o Benfica candidato ao título. Só se for com a ajuda de Nossa Senhora de Fátima.
Quanto aos “outsiders”, e dado o desaparecimento do mapa por parte do Boavista, apenas o Vitória de Guimarães se apresenta com alguns argumentos para incomodar os grandes. Parecem-me contudo insuficientes para que o clube possa aspirar a algo mais que o quarto lugar.
Em conclusão, e com o risco que todas as previsões têm associadas, aqui fica a minha aposta para o campeonato que agora se inicia: F.C.Porto – 1º lugar; Sporting – 2º lugar; Benfica – 3º lugar; Vitória de Guimarães – 4º lugar.
Em Maio de 2004 veremos se tinha razão antecipadamente, ou se me enganei redondamente!
Como benfiquista faço votos para que o engano prevaleça, que possa dar a mão à palmatória e comemorar efusivamente a vitória do meu clube de sempre. Já não seria sem tempo.

Uma vida vale 438 eurospor Jorge Ferreira

Eu sei que é politicamente correcto dizer bem de Bagão Félix. Eu sei que a vida humana vale pouco em Portugal.

Eu sei que a vida de cada pessoa não é susceptível de ser avaliada em numerário. Eu sei que para Guilherme Silva até morreu pouca gente nos fogos. Eu sei que há o pacto de estabilidade. Eu sei que há a necessidade de conter o défice.

Eu sei que meio país está de férias e que não é bom incomodar o descanso de quem não se preocupa. Eu sei que há atrasos no pagamento de inúmeras prestações sociais como nunca houve. Eu sei que há desempregados à espera do subsídio a que têm direito e nunca mais chega. Eu sei que o Estado deve milhões a fornecedores.

Mas apesar disso tudo não resisto a um desabafo. Li na página 7 do “Correio da Manhã”, de 12 de Agosto deste ano da desgraça de 2003 e não acreditei. Mas parece que se confirma. No pacote de apoios sociais que disponibilizou para apoiar as vítimas dos incêndios, o Governo reservou-se a caridade de atribuir a cada família que teve vítimas mortais nos fogos a quantia de 438 euros. Oitenta e sete mil oitocentos e onze escudos.

Um morto num incêndio é o que vale. Nem mais nem menos. Um ordenado mínimo, mais tostão menos tostão, perdão, mais cêntimo menos cêntimo.

Eu sei que o ministro fez questão de dizer que desta vez a burocracia não vencerá e as famílias receberão em dinheiro vivo. Vá lá: sempre se poupa algum em formulários, impressos e outros bens perecíveis. Desta vez as pessoas não têm que ir ao banco, nem ao tribunal, receber esses gloriosos 438 euros. Receberão em vivo por um morto.

Suponho que o Governo entenderá esta capacidade de pagar em dinheiro vivo como exemplo de capacidade de acção. Como uma expressão de operacionalidade e prontidão. De eficácia tecnocrática.

Não vou entrar na demagogia dos estádios do Euro 2004, nem dos ordenados arábicos de alguns assessores de ministros, nem do desperdício que existe na Administração Pública, nem… (o director deu-me limite de caracteres para hoje).

Mas vou entrar no bom nome do Estado. Está em causa. Vou entrar na humanidade do Estado. Está em causa. Vou entrar no prestígio do Estado. Está em causa. Vou entrar no humanismo que às vezes se expõe em entrevistas para embelezar a comunicação, mas que depois desaparece nos fumos da desgraça. É falso.

E não me venham com as tretas da baixa política. Cheira a desespero de quem sabe que falhou. Portugal, além de respeito pelos mortos, talvez jamais tenha precisado tanto de política como agora. Da séria.

Francamente.

Lisboa, 14 de Agosto de 2003