2025/07/17

Festival Super Bock Super Rock arranca a 27 de Março

Na nona edição do festival, Coldplay e Beth Gibbons & Rustin’ Man constituem-se como nomes a destacar no Festival Super Bock Super Rock, que arranca no dia 27 deste mês, em Lisboa, cerrando portas a 12 de Abril, todavia já em Madrid, Espanha.

Cerca de uma vintena de concertos estão já agendados, em mais esta edição do festival, promovido pela Música no Coração, repartindo-se entre Lisboa, Porto, Évora e Madrid, à semelhança do que sucedeu no ano transacto, em que alguns espectáculos decorreram mesmo fora do país, nomeadamente em Vigo (Espanha).

Outra das inovações previstas para a edição de 2003 relaciona-se com a realização de noites temáticas, que têm início com a “Noite Hip-Hop” a 01 e 02 de Abril, e onde marcarão presença os norte-americanos De La Soul e os Portugueses Sam The Kid, Micro, Fuse e Mundo Complexo.

Segue-se a “Noite Electro”, a 02 e 03 de Abril, com os Trash Palace, projecto dirigido por Dimitri Tikovi, os Zentex, os Antalgic bem como os dj’s Plagia, Pit Pull, Yari e Pan Sorbe.

Os extravagantes e lusitanos Blasted Mechanism e os espanhóis Los Planetas protagonizarão a “Noite Ibérica”, no dia 06 de Abril em Lisboa e dia 12, no encerramento do festival, desta feita em Madrid.

Para além das noites temáticas, esta nona edição conta com um ciclo de conferências que decorrerão em Lisboa e no Porto, com vista ao debate de temas sociais relacionados com o fenómeno musical, nomeadamente a questão dos impostos aplicados neste segmento de mercado, o hip hop, o papel do “disc- jockey”, do promotor e do jornalista.

Noutras noites, outros espectáculos a destacar no cartaz do festival, nos quais se registam agradáveis presenças, onde se poderão incluir a dos Brasileiros Charlie Brown Jr., Madrugada, Xutos & Pontapés, Beth Gibbons & Rustin’ Man, Lemon Jelly e dos Britânicos Coldplay, naquele que poderá ocorrer como um dos grandes concertos do ano.

UE avisa Turquia que pode sofrer com fim do processo de paz do Chipre

A Comissão Europeia avisou a Turquia que a sua candidatura à integração da União pode sofrer com o colapso do processo de paz no Chipre.

O porta-voz da comissão, Jean-Cristophe Filori disse, hoje, que a União prosseguirá com a assinatura do tratado de adesão com a parte grega do Chipre, no dia 16 de Abril, tal como planeado.

Se não existir um acordo de paz na ilha na altura da candidatura da Turquia, em Dezembro de 2004, será muito difícil recomendar o início das negociações, uma vez que “seria muito esquisito negociar a entrada de um país que não reconhece um dos nossos Estados-membro”, afirmou Filori.

As negociações no Chipre falharam, hoje, quando a minoria turco-cipriota rejeitou o plano proposto pelas Nações Unidas e estas anunciaram o fim dos esforços de reunificações da ilha antes da entrada na União Europeia, em 2004.

Moo-hyun quer americanos na Coreia do Sul

O Presidente sul-coreano, Roh Moo-hyun disse, hoje, que a Coreia do Sul tem de aceitar a presença dos 37 mil militares norte-americanos no país por mais algum tempo.

Num discurso proferido na academia militar da Coreia do Sul, Moo-hyun disse que a questão da diminuição da presença norte-americana não é nova, mas que agora não é altura para debatê-la, dada a ameaça da Coreia do Norte.

“O mais importante é que estejamos totalmente preparados. Desde que nos mantenhamos preparados, não existirá uma verdadeira crise. Enfrentaremos a situação sem medo e completaremos os preparativos para uma eventual mudança de circunstâncias”, afirmou o Presidente recém empossado.

Estas declarações vêm menos de uma semana depois do secretário para a Defesa dos Estados Unidos, Donald Rumsfeld, ter dito que a presença norte-americana na fronteira entre as Coreias já não era bem vinda e que, como tal, poderia vir a ser terminada.

A Coreia do Norte testou um míssil de curto alcance na segunda-feira, numa altura em que a tensão devido à retoma do programa nuclear é cada vez maior. No início do mês, caças norte-coreanos interceptaram um avião de espionagem norte-americano.

Vitalino Canas”Ferro será candidato às próximas eleições legislativas”

Insistindo em responsabilizar o governo de Durão Barroso por todos os males económicos que se abatem sobre o país, o deputado socialista Vitalino Canas não esconde a necessidade da existência de consensos entre o PS e o PSD.

No entanto, Vitalino Canas garante que se o seu partido não chegar ao poder com uma maioria absoluta não afasta a possibilidade de se aliar aos comunistas para constituir governo. Desmistificando a questão da crise de liderança no PS, garante que Ferro Rodrigues conduzirá a caravana socialista ao longo do “deserto” político da oposição.

A oposição do PS a este governo tem sido cada vez mais branda. Será que o PS deixou de piscar o olho à esquerda e se volta cada vez mais para o centro?

Não creio que tenha havido qualquer desaceleração na intensidade da oposição. O PS reconhece que o país está numa situação difícil quer do ponto de vista financeiro, quer, sobretudo agora, do ponto de vista económico. Já mostrámos que as responsabilidades pela situação económica actual cabem em grande medida ao governo, que optou por uma estratégia político-económica completamente errada e temos feito uma oposição marcando bem essa diferença entre o PS e o PSD.

Por outro lado, naturalmente que estando numa fase em que não são previsíveis eleições para breve, o PS tem que fazer uma oposição responsável e tem de apresentar políticas alternativas àquelas que estão a ser implementadas pelo governo. Tem também que se mostrar capaz de, quando for necessário, entrar em consensos com o governo.

Está definitivamente posto de parte um futuro cenário de união da esquerda para fazer face a este governo?

Nós estamos numa fase idêntica àquela que se verificou em 1987, em que o sistema político estava desgastado pelo esgotamento de certas soluções políticas. O eleitorado foi confrontado com o facto de estarem esgotadas situações de governos minoritários e optou claramente, a partir daí, por soluções ou de maioria absoluta ou de quase maioria absoluta.

Eu creio que nas próximas eleições vai ter que ser necessário apresentar ao eleitorado soluções de maioria absoluta. Quer pela direita, quer pela esquerda. Acredito que ao nível da direita o processo está adiantado. É visível que o CDS-PP está numa situação de aceitação de prática absorção por parte do PSD, esse é o trajecto que está a ser seguido.

Ao nível da esquerda isso vai ter que ser também reflectido, ou seja, vai ter que ser apresentada ao eleitorado uma solução que possa implicar a existência de um governo de esquerda que tenha maioria absoluta na Assembleia da República. Creio, contudo, que não está nesta altura muito avançada qualquer solução que vá nesse sentido, pois aliás é cedo para isso, mas se é possível prever que isso aconteça para daqui a três ou quatro anos.

Quando houver eleições, tanto na esquerda como na direita, vai ter de ser apresentado ao eleitorado uma solução que passe por um governo com maioria absoluta.

Pode então antever-se uma coligação com os comunistas?

Vamos ver. O PS terá de apresentar ao eleitorado, como um grande partido de governo ao nível da esquerda, uma estratégia de poder que passe ou por governar sozinho, mas só com maioria absoluta, ou se não tiver maioria absoluta, com outro partido. Mas creio que ainda é cedo para dizer como será a configuração dessa solução que terá que ser apresentada ao eleitorado.

Quando a esquerda se une o PS não está lá, tal como aconteceu na greve geral. É um erro de estratégia ou uma mera desunião no seio do partido em relação às matérias em causa?

Não estou de acordo com isso. Em relação ao pacote laboral o PS teve uma posição muito clara, apresentou propostas e tem estado a discutir essas propostas.

Mas houve momentos decisivos nos quais o PS não esteve…

Nós no PS tomamos as nossas posições que veiculam o partido, mas não fazemos nenhuma perseguição aos militantes que querem ir mais longe em relação às posições que são tomadas. Isso não implica que não haja uma posição sempre clara do PS em relação às questões. Depois, há militantes que podem querer ir noutro sentido e isso não impede que o partido tenha essa posição clara.

O PS está unido?

Tenho a certeza que o PS está bastante unido. Pelas reuniões da Comissão Política, da Comissão Nacional, pelas posições públicas que tem assumido, pelas posições também ao nível do grupo parlamentar, o PS tem mostrado que está bastante coeso em torno de uma certa liderança e de um certo projecto.

Está portanto unido em torno de Ferro Rodrigues…?

O PS, neste momento, está unido em torno da liderança de Ferro Rodrigues.

O PS não está a atravessar uma crise de liderança?

Não existe nenhuma crise de liderança. Existe sim a situação normal dos ciclos eleitorais. Obviamente que quando o ciclo eleitoral é um ciclo de quatro ou quase cinco anos, como sucede ser este, em que há um bom resultado eleitoral e depois há uma certa travessia do deserto, é óbvio que não podemos estar sempre ao mesmo ritmo.

Tem que ter ritmos diferenciados. Estamos numa situação em que o ritmo que o PS tem imprimido à sua política é um ritmo que se adapta bem à fase do ciclo eleitoral em que nos encontramos.

E será que Ferro Rodrigues chega ao fim do deserto ainda à frente do partido?

Tenho a certeza que o Eduardo Ferro Rodrigues será o candidato do Partido Socialista às próximas eleições legislativas. O PS tem, neste aspecto, regras que me parecem muito claras. Quando elege um determinado líder confere-lhe um mandato para disputar as próximas eleições e portanto Ferro Rodrigues vai, seguramente, disputar as próximas eleições.

O PS tem tido uma posição dúbia em relação à crise no Golfo Pérsico.

A posição do PS tem sido aí totalmente clara. O PS é, no contexto português, o partido que mais ferreamente tem assumido uma postura de veiculação ao Direito Internacional e o PS opõem-se à sua quebra quer pela administração Bush, quer por Sadam Hussein. Creio que essa posição não é uma posição dúbia.

É uma posição totalmente clara e penso que a única consistente que pode ser assumida por um país como Portugal, um país pequeno que tem um prestígio internacional a sustentar.

Mas a ausência do secretário-geral do partido no comício da Aula Magna não mostrou alguma desunião sobre esta matéria?

Não. Não há razões para se falar em desunião. A posição que o PS assumiu na comissão política foi uma posição assumida por unanimidade. Se há militantes que entendem que esta posição é recuada em relação àquela que deveria ser ou que é demasiado avançada em relação àquilo que devia ser, esses militantes têm toda a liberdade para se expressar nesse sentido.

A posição do PS foi definida na comissão política na qual se defende a resolução pacífica deste conflito e de acordo com o Direito Internacional.

O que acha da posição de Sampaio em relação a esta questão?

Eu revejo-me nessa posição. Tem sido uma posição próxima daquilo que defendo. Apesar de o senhor Presidente da República (PR) não estar naturalmente veiculado às posições do PS, creio que tem havido grande proximidade de posições.

Concorda o distanciamento de Sampaio?

Do ponto de vista constitucional não pode deixar de ser assim. O PR tem, de acordo com a Constituição, algum papel no acompanhamento internacional e da posição internacional do Estado português, mas quem conduz a diplomacia é o governo.

É o governo que exprime externamente a posição de Portugal. O PR limita-se a acompanhar essa posição, a estar informado e a exprimir as posições que entender sobre isso.

Acha que a esquerda poderá perder Belém para a Direita?

Não creio. Aliás, este governo está a ter uma estratégia que poderá ser profundamente negativa para as pretensões da direita a aceder à presidência da república. Para já, o Portugal continua a ser sociologicamente um país sobretudo virado à esquerda, apenas transitoriamente há maiorias de direita.

Para além disso a estratégia política do governo poderá fazer com que, no momento em que houver eleições presidenciais, as pessoas entendam que é necessário continuar a haver um presidente-árbitro. É flagrante que as propostas normalmente feitas pela direita são de presidentes interventivos, presidentes que comandam o sistema, como sucederá se o candidato for Cavaco Silva.

Ou seja, Cavaco Silva não resistirá a procurar comandar o sistema a partir da presidência da república. Essa será a proposta que fará ao país. Creio contudo, que o país prefere que em Belém esteja, não o comando, mas sim o árbitro e essa tem sido a proposta da esquerda.

E quem é que na esquerda teria esse perfil…?

Acho que ainda é muito cedo para se estar a enunciar uma lista de candidatos da esquerda, mas posso dizer-lhe que o PS descobrirá facilmente um candidato a Belém que tenha esse perfil.

Parece que para além de António Guterres mais ninguém quer fazer parte da corrida a Belém. Dá a sensação de que ninguém na esquerda se quer chegar à frente…

Não é altura para se discutir isso. Aliás, o próprio António Guterres não se chegou ainda à frente, portanto também se ignora se ele efectivamente pretende ser candidato à presidência da república ou não.

Acho que fazem muito bem os candidatos do PS, mesmo aqueles que alimentam essa ambição, ou que entendem que são capazes de exercer esse cargo, de não terem até agora formulado qualquer pré-candidatura, ao contrário do que já sucedeu ao nível da direita, nomeadamente, com Pedro Santana Lopes, de uma forma que até me parece estrategicamente errada.

Creio que fazem bem os eventuais candidatos do PS, e muitos temos, não se chegarem ainda à frente. Não o fez Guterres, não o fez o próprio Mário Soares, não o faz Victor Constâncio, António Vitorino, não o fará o próprio Eduardo Ferro Rodrigues em que poderá colocar-se na altura essa possibilidade.

Fazem bem em não se chegarem à frente nesta altura porque acho que ainda não é cedo.

Então para quando…?

Creio que o melhor momento para se lançar uma candidatura a Belém será cerca de um ano antes.

Critico visão demasiado pró-americana

Considera legítimas as dúvidas levantadas por Ana Gomes em relação ao negócio dos aviões de transporte militar?

Eu considero legítimo fazer-se uma interpelação global em relação à política de defesa. A visão excessivamente atlantista que desde o início o actual ministro da Defesa tem defendido não se verifica apenas em matéria de equipamento militar, verifica-se também nas posições que o governo tem assumido na crise do Iraque.

De facto, temos acompanhado com alguma preocupação esta decisão que não tem ainda nenhuma fundamentação mas que nos parece ameaçar o projecto de equipamentos comuns europeus em que Portugal pode estar envolvido e que de alguma forma até pode facilitar a recuperação da indústria aeronáutica portuguesa.

A crise gerada entre atlantistas e europeístas pode afectar profundamente as instituições ocidentais?

Na minha opinião é mau que um país como Portugal aceite ir na fractura entre os atlantistas e os europeístas. Portugal é certamente um dos países que deveria procurar conciliar as duas perspectivas. Do ponto de vista da nossa posição geoestratégica e do ponto de vista da nossa relação quer com o Atlântico quer com a Europa, é importante conciliar as duas perspectivas.

Também está aí em causa esse aspecto quando nós criticamos o governo pela colagem a uma visão mais atlantista e à política norte-americana do momento.

Uma visão que aceite a fractura entre atlantistas e europeístas para já deixa-nos deslocados e deixa-nos sem saber exactamente onde estar, se com atlantistas ou europeístas. Não nos convém que haja essa fractura.

Depois, havendo essa fractura, ao nível da própria União Europeia num contexto mais global irá naturalmente ter consequências negativas para o futuro europeu.

“António Costa é bom candidato a qualquer cargo executivo”

Qual é a sua opinião em relação a uma eventual candidatura de António Costa em Lisboa?

O António Costa, de quem eu sou um grande amigo, é seguramente um excelente candidato a qualquer lugar executivo.

À liderança do PS também?

Não se coloca nesta altura qualquer questão de liderança, não há uma crise de liderança no PS. O PS está satisfeito com a liderança que tem portanto não vale a pena estar a falar nisso.

Agora reforço que o António Costa, por aquilo que já mostrou, sendo jovem, ao nível do governo e ao nível de outros cargos políticos que exerceu, é seguramente uma das mais fortes candidaturas que o PS poderá apresentar nomeadamente ao nível autárquico.

Americanos intensificam ataques aéreos no Iraque

Blair está a trabalhar num projecto de resolução que consiga alcançar um consenso entre a posição anglo-americana e os restantes membros permanentes. Porém, ontem, afirmou que estaria disposto a avançar com a guerra. Entretanto, no terreno, unidades de operações especiais vão efectuando manobras de forma silenciosa, e os aviões anglo-americanos intensificam os ataques aéreos no sul do Iraque.

Hans Blix vai hoje ao Conselho de Segurança apresentar um novo relatório sobre os trabalhos de desarmamento de armas de destruição maciça a decorrer em solo iraquiano, e no qual deverá reportar um aumento da cooperação do regime de Bagdad, no último mês, com os esforços da equipa de inspectores da UNMOVIC.

No entanto, antecipadamente, o secretário de Estado norte-americano, Colin Powell, disse na quarta-feira que Saddam Hussein não tem feito mais do que enganar e dividir a comunidade internacional. “Nada do que vimos desde que foi aprovada a resolução 1441 indica que Saddam tenha decidido estratégica e politicamente desarmar”, referiu Powell.

Washington continua empenhado na sua estratégia de remover Saddam Hussein do poder em Bagdad, mas a batalha diplomática no Conselho de Segurança está a provocar demasiadas “dores de cabeça” à Casa Branca, que chega ao final da semana muito mais isolada do que há uns dias.

A China, que até ontem se mostrava bastante reservada na sua atitude perante uma eventual segunda resolução do Conselho de Segurança, expressou a recusa clara em dar luz verde a uma iniciativa bélica da parte de Washington. “Pensamos que não é necessários introduzir uma nova resolução”, informou o ministro dos Negócios Estrangeiros chinês, Tang Jiaxuan.

Acrescentou ainda que a posição de Pequim é “consistente” com a declaração anti-guerra, subscrita no dia anterior pelos chefes da diplomacia francesa, Dominique de Villepin, russa, Igor Ivanov, e alemã, Joscka Fischer.

Na iminência do maior “não” à prossecução dos interesses norte-americanos vindo do outro lado do Atlântico, nos últimos 50 anos, como analisava ontem o “New York Times”, Londres, juntamente com o México e com o Chile, tem estado a trabalhar secretamente na reformulação da futura segunda resolução a ser apresentada no Conselho de Segurança muito provavelmente na próxima semana.

De acordo com as informações divulgadas, este novo projecto de resolução terá como objectivo alcançar um compromisso com os restantes membros permanentes do Conselho de Segurança, e consistirá num autêntico ultimato final a Saddam, no qual lhe será dado um prazo concreto para desarmar.

Para Blair, o que está em causa é a sua própria sobrevivência política. À semelhança do que acontece com o primeiro-ministro espanhol, José Maria Aznar, o chefe do Governo britânico está isolado, sem o apoio do próprio partido. Uma segunda resolução surge como a sua tábua de salvação a nível interno.

Dificilmente os conservadores e o labour permitirão que a Inglaterra embarque numa ofensiva militar no Iraque à revelia das Nações Unidas, sem ter sido objecto de uma aprovação pelo Conselho de Segurança.

Apesar de Blair ter admitido ontem, durante um debate na cadeia de televisão MTV Europe, que estaria disposto a ir para a guerra mesmo com o veto de um ou mais Estados, Downing Street fez questão de reafirmar que Londres se mantém comprometida em encontrar um compromisso com os seus aliados.

Aviões anglo-americanos intensificam ataques no sul do Iraque

Precisamente há três semanas, no mesmo dia em que era apresentado o segundo relatório dos inspectores na ONU, o SEMANÁRIO referia que a guerra no Iraque já tinha começado. De uma forma camuflada e silenciosa, unidades de operações especiais norte-americanas já estavam a operar dentro do Iraque há mais de um mês, confirmavam fontes próximas do Pentágono, ao jornal “Washington Post”.

Estas estavam a operar em várias partes do Iraque à procura de locais onde estivessem escondidas armas, a estabelecer redes de comunicações e a capturar potenciais fugitivos pertencentes ao regime de Saddam.
Agora, quase dois meses depois do início das operações americanas em solo iraquiano, existem informações que indiciam que uma parte ocidental do Iraque já esteja controlada pelas forças anglo-americanas.

Tudo isto insere-se numa lógica de guerra silenciosa que Londres e Washington tem tentado manter afastada das câmaras de televisão.

Na verdade, depois dos sucessivos desmentidos do ministro da Defesa britânico, Geofrey Hoon, respeitantes uma eventual intensificação da actividade militar no Iraque, Washington divulgou esta semana que o número de voos anglo-americanos sobre a zona de exclusão aérea do sul, aumentou para mais do dobro.

A acrescentar a isto foram mobilizados para a zona os bombardeiros B-52, que já se treinam no norte do Golfo. Com cerca de 200 mil homens na região, também o General Tommy Franks, responsável máximo pelas tropas americanas no Golfo, já disse que está pronto para iniciar uma ofensiva em larga escala.

Esta eventual ofensiva contou com o apoio dos militares turcos que, após o bloqueio parlamentar de Ancara ao direito de passagem a 62 mil soldados americanos, classificaram a guerra como inevitável e, como tal, seria preferível cooperar com Washington e receber as respectivas contrapartidas financeiras.

“A nossa escolha não é entre o bom e o mau. A nossa escolha é entre o mau e o pior”, afirmou o chefe do Estado maior das forças armadas da Turquia, o general Hilmi Ozkok, num comunicado emitido na televisão.

Iraque pode recuar a 1945

O novo Iraque pós-Saddam Hussein, resultado da inimente intervenção dos EUA, pode recuar a 1945, quando, após a II Guerra Mundial, sob inspiração britânica, o país teve uma fugaz experiência democrática, com eleições, partidos políticos, sindicatos e imprensa livre.

O novo Iraque pós-Saddam Hussein pode recuar a 1945, quando, após a II Guerra Mundial, sob inspiração britânica, se tentou criar uma democracia no país, no governo de Tawfiq- al- Suwaidi. Seguindo de perto o recente livro do historiador britânico Charles Tripp, História do Iraque, editado em Portugal pela Europa-América – obra que alguns observadores têm referido estar a ser lida atentamente pelos americanos, com vista a obter respostas no passado para melhor recriar um novo Iraque – o governo de Suwaidi é apontado como tendo acabado com a lei marcial, encerrando o campo de internamento de al-Faw, levantado a censura à imprensa e introduzido uma nova lei eleitoral, dividindo o país numa centena de distritos eleitorais.

O novo governante também permitiu que se formassem novos partidos políticos, tendo os dois principais, o Partido Democrático Nacional e o Partido da Independência, correspondido às duas principais correntes de pensamento em evidência desde os anos 30. Registaram-se, também, no governo de Suwaidi, alguns partidos socialistas e, apesar de não terem conquistado muitos aderentes, o seu aparecimento indicou uma tendência crescente para a crítica às desigualdades sociais e económicas no Iraque, pelo menos entre a intelectualidade urbana. Ao mesmo tempo, o Partido Comunista Iraquiano intensificou a sua actividade.

Com o levantamento da censura à imprensa e o fim da lei marcial, ainda segundo Tripp, as actividades dos pequenos partidos da oposição tornaram-se mais visíveis nas principais cidades do Iraque e particularmente em Bagdad. Após anos de silêncio forçado reemergiu, também, uma imprensa e um sector editorial activos, dando voz a uma crítica mordaz das condições políticas e económicas e delineando ideias para o futuro do Iraque que eram radicais nas suas implicações.

A actividade dos sindicatos também foi incrementada. Esta primeira experiência democrática no país foi, porém, de curta duração. A liberdade súbita, aliada aos grandes problemas económico-sociais, acumulados nos últimos cinco anos, entre 1940 e 1945, levou a que os iraquianos desenvolvessem enormes protestos, designadamente greves, visando o aumento dos salários dos trabalhadores. Foi neste contexto de instabilidade política e social que Suwaidi, que não levava sequer um ano de governo, foi substituído, as liberdades revogadas e se regressou a um poder musculado e autoritário.

Villepin e os seus “mosqueteiros”

Quanto tempo mais irá o Conselho de Segurança resistir à autentica batalha diplomática que está assolar aquela instituição. Numa guerra política sem precedentes, as Nações Unidas vivem dias decisivos para sua sobrevivência, como fórum “onde todos fala com todos”, com refere Adriano Moreira.

Na iminência da sua falência, a ONU, tal como a NATO e a União Europeia, enfrenta o desafio do tempo e dos desajustamentos sistémicos.
Na verdade, a crise iraquiana transbordou as fronteiras de uma mera intervenção militar num qualquer estado ditatorial. Agora, Saddam Hussein passou a ser um espectador atento da deterioração das estruturas ocidentais, que regeram os princípios das suas civilizações durante as últimas décadas.

Mais do que a ordem no Médio Oriente, a questão iraquiana está a provocar um intenso debate sobre o futuro das relações internacionais no ocidente.
A ONU, a NATO e a UE, os três pilares fulcrais que garantiram a estabilidade sistémica na Europa e América do Norte desde a II Guerra Mundial, estão a ser assolados por crises sem paralelo. Os dias que se vivem estão a fazer história no seio destas organizações.

As soluções de recurso alcançadas têm um efeito retardador, que adiará para um futuro próximo, decisões importantes para a manutenção, ou não, dessas organizações. Tudo dependerá dos líderes e dos seus projectos. Das suas ambições e das suas expectativas quanto ao sistema internacional que pretendem.

Os Estados, integrados nas várias organizações internacionais, reagem de acordo com os seus interesses e com os seus projectos de afirmação no mundo. Por isso, não será de estranhar que perante uma crise séria, como é a questão do Iraque, os Governos comecem a ceder às tentações soberanistas, adoptando posições historicamente racionais, mas pouco arrojadas ideologicamente. A questão do Iraque despoletou apenas uma realidade que esteve sempre presente no eixo transatlântico.

Como se podia ler num artigo de análise do jornal, “Le Monde”, o Iraque revelou uma profunda divisão na Europa. Em poucos meses, o Velho Continente redesenhou-se, chegando mesmo a falar-se de uma “velha” e “nova” Europa. Estas conceitos não são mais do que o ressurgimento de antigos projectos e ideias de Europa, assentes em antigos impérios.

Claramente se define uma “nova Europa”, como aquela que olha para o Atlântico e Estados Unidos, como um espaço de apetência natural e historicamente viável para alianças. Aqui o Reino Unido, a Espanha e Portugal são exemplos de Estados que não hesitaram na sua escolha e de uma forma lógica colocaram-se ao lado de um país tradicionalmente aliado (os Estados Unidos).

Esta “Europa americana” contrapõe uma “Europa europeia”, vincada pelo espírito continental do império carolíngio e pelo Sacro Império. A brecha entre estas duas realidades existiu sempre nos últimos cinquenta anos, embora estivesse camuflada por contingências do sistema bipolar reinante em toda a Guerra Fria.

Com a queda do Muro de Berlim, em 1989, e a consequente implosão da União Soviética, em 1991, começou-se a falar em “dividendos da paz” e do triunfo dos valores e instituições comuns euro-americanas, com o “final da História”, de acordo com Francis Fukuyama.

Hoje, este autor fala em “grandes diferenças” no eixo transatlântico, referindo que a crispação entre os dois lados do oceano “não é apenas um problema transitório”. Também, Jeffrey Gedmin, director do Aspen Institute Berlin, fala sobre a “patologia” europeia no que se refere ao uso da força, argumentando que as visões dos Estados Unidos e da Europa nesta matéria são agora tão diferentes que “a velha Aliança (NATO) terá poucas possibilidades de continuar a figurar proeminentemente no pensamento estratégico global norte-americano”.

Poucos meses depois da evocação do artigo 5, pela primeira vez na história da NATO, o espírito de solidariedade deu lugar à recriminação, tendo os laços de relacionamento entre os aliados se deteriorado dramaticamente. Robert Kagam foi, talvez, o primeiro analista a assumir sem preconceitos as divergências entre os projectos europeu e americano sobre as relações internacionais, num mundo liderado por uma única superpotência.

“É altura de se deixar de pensar que os europeus e os americanos partilham uma visão comum do mundo, ou até mesmo de que ocupam o mesmo mundo”, escrevia Kagan na “Policy Review”, no verão do ano passado.

É num contexto de iminente falência do sistema ocidental, que a França emerge como a defensora dos projectos criados dos escombros da II Guerra Mundial e de cariz universalista. A todo o custo tenta manter instituições, nas quais se assume como grande nação e faz sentir todo o seu peso. A União Europeia e o Conselho de Segurança são organizações que dão a projecção mundial à França como uma grande potência. Uma fábula que à semelhança do seus antecessores o Presidente, Jacques Chirac, continua a acreditar que é verdade.

Desta forma, a França pretende manter um modelo de relações internacionais em que funcione uma União Europeia, para integrar uma Europa marcada por séculos de guerras, e uma ONU, depositária do direito internacional e instrumento regulador das políticas entre os Estados.

Numa altura em que os Estados Unidos parecem estar a contar menos com a Europa e dispostos a marginalizarem a ONU, não é de estranhar a defesa acérrima que Paris tem feito para a credibilização do Conselho de Segurança, especialmente através do seu ministro dos Negócios Estrangeiros, Dominique de Villepin.

Desta forma, o “templo” de Villepin terá de ser defendido a todo custo pelos homens de Paris, mesmo estes sabendo que dificilmente evitarão a guerra.
A batalha política da França para evitar a guerra, muito provavelmente, fracassará, mas a França sabe também que na derrota à vitórias que se ganham.

“Acima de tudo existe a vitória de um princípio. Os Estados Unidos cometem um grave erro se crêem que a França se limitou a adoptar uma atitude mesquinha e grosseira. Chirac e Villepin acreditam, que eles, e só eles em última instância, estão a defender a visão europeia da ordem mundial frente ao inimigo mais perigoso dessa visão: os Estados Unidos”, escrevia Kagan, no “El País”.