2025/07/21

“Sharon explorará conflito no Iraque para guerra contra Palestina”

O chefe negociador palestiniano, Sa’eb Erekat, mostra-se bastante preocupado com o impacto que a guerra no Iraque terá no Médio Oriente. Durante uma entrevista telefónica, em exclusivo ao SEMANÁRIO, o ministro palestiniano revela que “Sharon explorará o conflito no Iraque para uma escalada de guerra contra a Palestina” e, por isso, apela à comunidade internacional para travar os ímpetos belicistas do primeiro-ministro israelita.

Na sua opinião, como reagirá o povo palestiniano a uma ofensiva militar norte-americana no Iraque?

Nós somos contra a guerra. A guerra não deveria ser uma opção e eu acredito que esta disputa deveria ser resolvida por meios pacíficos. Além disso, estamos preocupados com o impacto que a guerra terá em nós, porque ao mesmo tempo que o mundo está focado no Iraque, as atrocidades vão-se sucedendo nos territórios ocupados.

Os palestinianos vão sendo mortos – como sucedeu ainda ontem (segunda-feira), com a morte de onze civis -, diariamente e a todas as horas são demolidas casas, confiscam-se terrenos, constroem-se colonatos, as forças de segurança israelitas fazem incursões, ataques, assassinatos. Por isso, estamos mesmo preocupados que com o início da guerra, e com as atenções do mundo viradas para o Iraque, que Sharon reocupe Gaza e destrua a Autoridade Palestiniana (AP), e por fim ocupe os territórios autónomos.

Como vê esta crise numa perspectiva palestiniana?

Uma guerra não é opção. A nossa região precisa de paz. Precisa da brisa da paz e não do vento da guerra. Precisamos de ensinar ao Médio Oriente como resolver disputas através de meios pacíficos a da diplomacia.


Pensa, assim, que esta guerra trará consequências nefastas para o povo palestiniano?

Eu espero que Sharon não se aproveite se da situação para uma escalada de guerra contra nós, e a comunidade internacional terá que assegurar que não permitirá a Sharon tirar proveito do conflito no Iraque.


Então na sua opinião, acha que Sharon irá aproveitar-se negativamente da crise iraquiana para atacar os palestinianos e as suas instituições?

Na minha opinião, acho que este Governo irá explorar o conflito no Iraque para uma escalada de guerra contra a Palestina.


O mundo deverá então tomar medidas para travar os ímpetos de Sharon?

Absolutamente. Apelamos aos americanos, apelamos aos europeus, apelamos à comunidade internacional para impedir que Israel explore a situação, para não fazer mais guerra aos palestinianos.


O que pensa sobre o anúncio feito por George W. Bush e Tony Blair sobre uma hipotética divulgação e implementação do “mapa da paz”?

Achamos bem, mas queremos que passem das palavras à acção. Queremos ver o “mapa da paz” implementado, queremos que Bush e Blair assumam aquilo que disseram. Acolhemos bem o que disseram e esperamos que transfiram aquilo que afirmaram para uma política realista para ser aplicada no terreno.


Mas acredita que Bush fará os esforços necessário para implementar este “mapa da paz”?

Vamos responsabilizá-lo por aquilo que ele disse, e o mundo devia fazer o mesmo, chamá-lo à responsabilidade para implementar o “mapa da paz”.


Acredita que a criação da figura do primeiro-ministro palestiniano e a nomeação de Mahmoud Abbas para ocupar o referido cargo poderá ser uma mais valia para o processo negocial?

Haverá um forte e credível primeiro-ministro da AP. Hoje (terça-feira) finalizámos o processo da sua nomeação. O Presidente Arafat assinou e ratificou a lei constitucional que define os poderes do novo cargo, e esperamos que o primeiro-ministro consiga relançar o processo de paz.

“Chicago” triunfa sobre “Gangs of New York”

O musical “Chicago”, assinado por Rob Marshall, confirmou esta madrugada todo o seu favoritismo na corrida aos Óscares da Academia de Hollywood, ao conquistar seis prémios, incluindo o de melhor filme do ano.

A película de Marshall conseguiu metade dos Oscars para os quais estava nomeado. Além do melhor filme ganhou os de melhor actriz secundária, com a interpretação de Catherine Zeta-Jones, melhor direcção artística, guarda-roupa, montagem e som.

Entre os vencedores da noite conta-se igualmente Roman Polanski, com “O Pianista”, nomeado em sete categorias, que conseguiu três galardões. Melhor realização, melhor actor para Adrien Brody e melhor argumento adaptado.

Martin Scorcese e os seus “Gangs de Nova Iorque”, filme proposto para dez categorias, entre as quais, melhor filme, realização e argumento original, acabou por sair do Kodak Theatre de Los Angeles sem uma única estatueta.

Também “As Horas”, de Stephen Daldry, se quedou aquém do que seria de esperar. Das nove nomeações acabou por conquistar apenas uma, para a melhor actriz, Nicole Kidman.

Entre as surpresas da 75ª edição, está o prémio conseguido pelo espanhol Pedro Almodóvar, com a atribuição do Óscar para melhor argumento original em “Fala com Ela”, bem como a atribuição do galardão de melhor canção ao ausente rapper Eminem com o tema “Lose Yourself”, do filme “8 Mile”, que bateu os claramente favoritos U2 e “The Hands That Built America”, de “Gangs de Nova Iorque”.

A cerimónia foi de resto marcada pela guerra em curso no Golfo Pérsico, com muitos dos convidados a apresentarem-se vestidos de negro e com símbolos da paz na lapela e com alguns dos premiados a aproveitarem o momento de subir ao palco para se pronunciarem a favor da paz mundial.

A guerra no Iraque como redefinição do sistema internacional

Com uma natureza inerentemente trágica, este conflito, que agora dá os primeiros passos, assume-se como um pedaço de História na redefinição do sistema internacional e das futuras relações de poder entre os aliados no Ocidente. A cúpula de poder norte-americana começou uma epopeia que não representa um fim em si mesma, mas uma etapa da nova geoestratégia assumida pela administração Bush, desde a sua ascensão à Casa Branca.

Com uma “oportunidade estratégica” os Estados Unidos desencadearam o início do conflito no Iraque. “As primeiras fases do desarmamento do regime iraquiano já começaram”, informou o porta-voz da Casa Branca, Ari Fleischer, minutos depois dos primeiros ataques “a alvos selectivos de importância militar” iraquianos.

Na madrugada de quinta-feira, as imagens de guerra começaram a desfilar pelos vários canais de televisão, confrontando o mundo com a triste realidade da guerra e exacerbando os fantasmas e os receios que a crise iraquiana despoletou nos últimos meses.

Já por si com uma natureza trágica, este conflito, que agora dá os primeiros passos, assume-se como um pedaço de História na redefinição do sistema internacional e das futuras relações de poder entre os aliados no Ocidente. A cúpula de poder norte-americana começou uma epopeia que não representa um fim em si mesma, mas uma etapa da nova geostratégia assumida pela administração Bush, desde a sua ascensão à Casa Branca.

Mais do que a remoção de Saddam Hussein e a destruição do seu eventual arsenal de armas de destruição maciça, Washington está empenhado na criação de um novo paradigma para as relações internacionais. Desta forma, a guerra no Iraque está longe de ser única e exclusivamente uma consequência do 11 de Setembro, assim como a abordagem hostil à Coreia do Norte e Irão.

Talvez, os atentados perpetrados pela a al-Qaeda tenham precipitado e delineado a ordem dos acontecimentos, mas o discurso maniqueísta de Bush e a recorrência à retórica da Providência enquadram-se num objectivo geoestratégico a médio e longo prazo, doutrinado no pensamento dos estrategas e especialistas da administração Bush.

Em jogo não está propriamente dita a emergência de uma nova ordem mundial, mas, sim, o ajustamento de um novo modelo emanado da anarquia sistémica proveniente dos acontecimentos de 1989-1991. Com a queda do Muro de Berlim, em 1989, e a consequente implosão da União Soviética, em 1991, começou-se a falar em “dividendos da paz” e do triunfo dos valores e instituições comuns euro-americanas, com o “final da História”, de acordo com Francis Fukuyama.

No entanto, o processo de metamorfose sistémica revelou-se dinâmico, e a ruína do regime bipolar de Guerra Fria não foi substituído harmoniosamente pela tão falada nova ordem. No Ocidente, os líderes e os seus povos afirmaram-se em novos projectos e diferentes interpretações sobre o futuro das relações internacionais.

O resto do mundo desprendeu-se da complexa rede montada durante cinco décadas, dando espaço de manobra a todos os prevaricadores que orientam a sua vida em projectos extremistas.

Hoje, Fukuyama fala em “grandes diferenças” no eixo transatlântico, referindo que a crispação entre os dois lados do oceano “não é apenas um problema transitório”. Também, Jeffrey Gedmin, director do Aspen Institute Berlin, fala sobre a “patologia” europeia no que se refere ao uso da força. Mas, foi, talvez, Robert Kagan a assumir sem preconceitos as divergências (enaltecidas nos últimos anos) entre os projectos europeu e americano sobre as relações internacionais, num mundo liderado por uma única superpotência. “É altura de se deixar de pensar que os europeus e os americanos partilham uma visão comum do mundo, ou até mesmo de que ocupam o mesmo mundo”, escrevia Kagan na “Policy Review”, no verão do ano passado.

A guerra ao Iraque é um reflexo da unipolarização do sistema internacional, assente na hiperpotência, Estados Unidos. A falência do Conselho de Segurança das Nações Unidas, a fractura do eixo transatlântico e a fragmentação na União Europeia elevam a guerra iraquiana e o período pós-Saddam, para um patamar ideológico e orientador do equilíbrio futuro entre os principais actores das relações internacionais.

Mais do que a uma guerra, para muitos analistas o mundo poderá estar a assistir à degradação do sistema de alianças forjado dos escombros da IIGM. “O mundo de Acheson está quase em ruínas, eu tenho medo”, referia esta semana ao “Los Angeles Times”, James Chace, professor de relações internacionais no Bard College. “Nós estamos numa nova era e as oportunidades são para ser aproveitadas”, afirmava ao mesmo jornal, William Kristol, um estratega republicano, seguindo o raciocínio do vice-presidente norte-americano, Dick Cheney, que considera que as instituições e alianças internacionais foram “criadas para lidar com conflitos do século XX…mas que podem não ser as estratégias, políticas e instituições mais adequadas para lidar com um novo tipo de ameaça”.

Numa altura em que a dinâmica dos povos está encarregue de finalizar um processo doutrinário tecnicamente iniciado há catorze anos, caberá aos líderes mundiais e seus povos (através de um mecanismo eficiente chamado globalização) afirmarem convictamente as suas visões para o futuro, e concertarem esforços para procederem a uma filtragem das organizações reguladoras do sistema internacional que serão, nas suas opiniões, fulcrais para a paz e segurança globais.

Aqui, a União Europeia, que ontem se reunião em Conselho de Ministros, terá a titânica tarefa de reconquistar a confiança no projecto de construção europeia, e retirar ilações desta crise, que, sem sombra de dúvida deixaram a Europa numa posição fragilizada, perante o mundo.

Se os Estados Unidos poderão estar predispostos para adoptarem atitude neo-isolacionista, dando uma lição à “velha Europa”, e deixando a sua defesa e estabilidade nas suas mãos, isto não quer dizer que os líderes europeus não possam tirar benefícios desta crise, catapultando a construção europeia para outros níveis de integração.

Mas, se a Rússia e a China surgem naturalmente nesta crise como actores relevantes do sistema internacional, a Europa no período pós-Saddam terá de fazer por isso. Durante os últimos catorze anos, o “velho continente” não quis pagar a factura do peso “geopolítico” nas relações internacionais. Hoje, não surpreende que os Estados Unidos estejam no Golfo Pérsico à revelia do Conselho de Segurança, e o contra a vontade da França e da Alemanha.

Nas próximas horas espera-se um ataque massivo no Iraque com a invasão do país pelas forças anglo-americanas. À Europa resta assistir à intervenção bélica, ciente, assim se espera, do quão será importante o eventual papel a desempenhar na reconstrução do Iraque. Neste capítulo, o famoso colunista do “New York Times”, Thomas Friedman, referia que os Estados Unidos não necessitam de aliados para ir para a guerra com o Iraque, mas no processo consequente de nation-building, aí os europeus são sem dúvida uma peça fundamental para o sucesso desta operação, e outras que seja desenvolvidas no futuro.

Ou seja, bem ou mal, os Estados Unidos estão no Iraque a fazer uma guerra para remover Saddam Hussein. Agora, os líderes europeus terão que reagir coerentemente com as suas convicções e interesses e, realisticamente, enquadrarem-se activamente num sistema, que terá certamente espaço para a Europa, se os seus cidadãos estiverem dispostos a pagar o preço.

Guerra no Iraque impõe “mapa da paz” para a Palestina

Por momentos George W. Bush e Tony Blair focaram as atenções para o conflito israelo-palestiano. O Presidente americano, imediatamente apoiado pelo primeiro-ministro britânico, prometeu apresentar, em breve, o “mapa da paz” aos israelitas e aos palestinianos. No entanto, alguns comentadores políticos interpretam este acto como uma estratégia de apaziguamento da revolta árabe e europeia perante um conflito no Iraque, duvidando do empenho e da vontade da administração Bush de implementar e levar a bom porto a discussão em torno do “mapa da paz”.

Com a guerra do Iraque no horizonte, George W. Bush voltou, há precisamente uma semana, a falar do processo negocial israelo-palestiniano. Desta vez salientou a importância do “mapa da paz” para se alcançar uma solução pacífica para aquela região que, segundo os intentos de Washington poderão culminar com a criação de um Estado palestiniano “viável e independente”, em 2005.

As palavras de Bush foram subscritas minutos depois pelo primeiro-ministro britânico, Tony Blair, que, numa estratégia concertada, salientou a premência do relançamento do processo de paz no Médio Oriente e informou que o Presidente americano lhe teria dito que o “mapa da paz” seria publicado assim que o recém nomeado, primeiro-ministro palestiniano, Mahmoud Abbas, tomasse posse – facto que deverá acontecer daqui a três semanas.

Apesar das “boas” intenções anglo-americanas, a verdade é que as suas posições sobre o conflito israelo-palestiniano não podem ser interpretadas numa perspectiva restringida à situação degradante dos territórios autónomos e do próprio Estado de Israel. Na verdade, mais do que uma tomada de posição sobre esta questão, Bush e Blair marcaram uma estratégia, visando um eventual apaziguamento do mundo árabe, num mais que provável conflito no Iraque.

As duas questões não podem, obviamente, ser dissociadas até porque a questão palestiniana e a sua relação com Israel são, desde a criação do Estado judaico, o móbil da unidade árabe, ou pelo menos, o fio condutor de todo o mundo árabe. A causa palestiniana é talvez a única bandeira pela qual os líderes árabes falam a uma só voz, mas que, mesmo assim, ao longo dos anos não têm conseguido adoptar no terreno uma posição coesa e coerente, especialmente ao nível da liga Árabe.

Assim sendo, o plano de Bush para a Palestina poderá representar um instrumento da política externa norte-americana para lidar com os árabes e europeus em caso de guerra no Iraque, relegando o conflito israelo-palestiniano para um facto secundário, mas eficientemente instrumentalizado nas mãos da administração Bush. Por isso, não será de estranhar que ainda esta semana Brian Whitaker escrevia no “The Guardian” que “Ariel Sharon pode permanecer confiante de que nada mudou”.

Whitaker refere ainda que a abordagem de Bush e de Blair nesta questão foi ligeiramente diferente. De acordo com a interpretação do colunista do jornal britânico, Bush deverá entregar o plano aos israelitas e palestinianos para a sua discussão. Ou seja, não tendo referido a palavra “divulgação” pública, dificilmente a administração Bush estará, pelo menos para já, empenhada numa implementação do referido “mapa da paz”, que deverá estar muito próximo da sua fórmula final.

Nesta lógica, alguns comentadores políticos acreditam que a promessa de Bush, em apresentar o “mapa da paz”, foi uma esquema para tentar desarmar a revolta árabe e europeia sobre a questão iraquiana.
Relembre-se que o “mapa da paz” foi fruto dos esforços do “Quarteto” ( Estados Unidos, União Europeia, Rússia e Nações Unidas) e que tem sido constantemente alvo de discussão.

Apesar dos apelos à paz no Médio Oriente, a Casa Branca e Downing Street encetaram uma política que peca pela falta de coerência, quando confrontada com a problemática iraquiana. Mais uma vez, as palavras de Bush acabam por revelar-se insípidas e inócuas, se se tiver em conta que a administração norte-americana não terá o mesmo empenho em pressionar Israel e os palestiniano em eventuais negociações sobre o mapa da paz.

Sabe-se também que o Governo hebraico irá ditar as suas exigências quanto à aprovação do “mapa da paz”, num processo que sem a persuasão dos Estados Unidos, poderá durar eternamente.

Mesmo com as reformas da Autoridade Palestiniana em curso, Israel – pelo menos com o Executivo de Ariel Sharon, claramente marcado por “falcões” – nunca estará satisfeito quanto ao grau reformador da cúpula de poder palestiniana. Entretanto, o processo poderá arrastar-se indefinidamente e ficar ofuscado pela conjuntura internacional de crise durante meses ou anos, como aliás se verificou durante a campanha do Afeganistão e, agora, com a guerra do Iraque.

O resultado poderá comprometer os esforços de criação de um Estado palestiniano daqui a dois anos.
Para Whitaker, a posição assumida pelo primeiro-ministro britânico face ao “mapa da paz” foi uma “charada”, tendo sido apenas um meio para sensibilizar a opinião pública inglesa, por modo, a contrabalançar a oposição que tem manifestado sobre a questão do Iraque.

Uma estratégia que o chefe do Governo espanhol, José Maria Aznar, parece estar a seguir na opinião do especialista em assuntos diplomáticos do jornal israelita “Ha’aretz”, Aluf Benn. “Quanto mais a opinião pública nos seus países se opõe à guerra, mais Blair e Aznar se agarram à questão palestiniana como um salva vidas político…Eles têm que provar aos seus cidadãos na Europa que se preocupam em pôr fim à ocupação israelita nos territórios ocupados, para ganharem legitimidade na ocupação do Iraque”, escreveu Benn.


Primeiro-ministro palestiniano deverá
tomar posse daqui a três semanas

O Conselho Legislativo Palestiniano (PLC) aprovou, na terça-feira, a criação do cargo de primeiro-ministro, uma das exigências feitas pela administração Bush e pelo Governo israelita, enquadrada no processo de reformas políticas em curso no seio da Autoridade Palestiniana (AP), delineadas pelo “Quarteto”.

Naquilo que é já considerado como uma vitória para a democracia palestiniana, o Presidente, Yasser Arafat, viu-se obrigado a abdicar muitos dos seus poderes para o novo chefe de Governo.

Com os privilégios legislativos definidos, Mahmoud Abbas, o homem nomeada para ocupar o recém criado cargo, terá sensivelmente três semanas para formar Governo. Com esta medida, o domínio absoluto de Arafat na vida política palestiniana que se tem feito sentir nos últimos anos parece ter chegado ao fim, após um período de vários meses de contestação interna crescente, vinda, por vezes, do seio do seu próprio partido, a Fatah.

De acordo com o vice-presidente do PLC e legislador da Fatah, Ibrahim Abu Naja, Arafat “decidiu abdicar da sua exigência para participar na formação do Governo”. No entanto, Naja salientou que os deputados prometeram a Arafat informarem-no da composição do novo Executivo, antes deste ser apresentado ao PLC para ser objecto de aprovação. O membro da Fatah fez novamente questão de reiterar a impossibilidade de Arafat implementar as suas vontades e exigências ao novo Governo.

Mahmoud Abbas, tido como um homem moderado, terá agora que reunir uma equipa que consiga enfrentar os enormes desafios que se avizinham. Nas áreas mais críticas, o combate à corrupção surge como o maior problema para Abbas, juntamente com as questões de segurança, nomeadamente, com o controlo das facções extremistas. No novo primeiro-ministro são depositadas as esperanças do reatamento do processo de paz.

Neste contexto, Washington acolheu positivamente a criação do novo cargo político, tendo uma alta fonte do Departamento de Estado norte-americano revelado que os requisitos que a administração Bush definiu para a criação da figura de primeiro-ministro foram cumpridos. Antes, o secretário de Estado, Colin Powell, considerou esta medida um “passo positivo”, mas adiantou que os Estados Unidos gostariam de ter visto mais poderes atribuídos a Mahmoud Abbas.