2025/07/21

A entreaberta porta do Mundo

No Passeio dos Alegres nasceu, cantando, depois foi Vitorino quem lhe deu asas ao sonho. Na queda de um império, uma voz ecoou, das entranhas da mais pura alma lusitana, ao céu do horizonte, tão azul quanto o olhar que consigo transporta, desde criança.

“À Porta do Mundo” novel álbum de Filipa Pais, é um trabalho enobrecido pela riqueza timbrica de uma voz que incorpora repertórios amadurecidos por anos de colaboração com músicos portugueses, de Rui Veloso a Janita Salomé, Sérgio Godinho ou Vitorino, que lhe proporcionaram vivências musicais que extravasaram diversos estilos musicais.

A vertente tradicional ” num disco melodioso que dá importância à voz” aliada à poesia de Reinaldo Ferreira, João Afonso, Hélia Correia “que tem uma facilidade imensa em construir poemas após ouvir o tema tocado instrumentalmente” ou tantos outros, de nome esquecido, que deram vida e história a cantares tradicionais, surge como recordação de tempos não vividos causadores de nostálgica saudade.

A arte do canto pautou a sua vida, mas somente após a edição em 1994 de “L´amar”, o seu primeiro trabalho, “voei sozinha e as coisas começaram a acontecer”.

O prolongado interlúdio discográfico, que tomou oito anos da sua vida, “não foi de maneira alguma vazio, pois nesse período cantei durante três anos com o António Chaínho, participei em espectáculos com o Tito Paris, actuei na Expo98 por diversas vezes…”. Também o nascimento da sua filha Alice, a fez “abrandar nos passos da carreira mas revestiu-se de grande importância em termos pessoais, pelo mundo de fantasia que me fez recordar e reviver de novo”.

A distribuição do seu novo álbum no mercado discográfico internacional ” é um objectivo para o qual existem já alguns contactos, todavia ainda não totalmente explorados”, acrescentando não ser necessária para a internacionalização da sua carreira, a mudança do idioma que lhe acompanha a voz, ” sou portuguesa, falo português, e neste momento nunca cantaria noutra língua que não a nossa”.

Quanto à sua visão acerca do mercado de música nacional, Filipa Pais refere, “pouco ouço rádio, pois quando o faço só oiço temas em inglês, embora não me possa queixar, até porque existem emissoras que vão passando a minha música”.

O número de discos vendidos é algo ” que não me preocupou quando fiz o disco, mas gostaria que muitas pessoas pudessem ouvir o meu trabalho”.

O apoio Governamental à produção de conteúdos artísticos, nomeadamente no que se relaciona com o meio musical merece também um curioso comentário “pela parte que me diz respeito, nunca dei por nada”, prosseguindo, “não há qualquer tipo de apoios, nem sequer um circuito onde possamos expor o nosso trabalho” aludindo também “à falta de patrocínios, que dificulta a realização de ensaios, e de espectáculos em condições”.

Já no fecho da conversa Filipa acedeu ao desafio de tentar descrever a sua música meramente através de palavras, faladas, para os leitores do SEMANÁRIO, “uma das coisa de que gosto no álbum relaciona-se com a sua componente melodiosa, baseada em raízes provenientes da tradição, algo que é realmente importante no nosso país, sujeitas a uma envolvente composta instrumentalmente. Todavia é muito difícil falar da minha música..”, fez-se silêncio, a sua voz ganhou ritmo, e cantou um pequeno trecho de uma melodia que um dia havia já cantado.

Ferro Rodrigues desloca-se a Madrid para encontro com líder do PSOE

Ferro Rodrigues vai encontrar-se esta sexta-feira em Madrid com o Secretário-Geral do Partido Socialista Operário Espanhol, José Luis Zapetero.

O Secretário-Geral do Partido Socialista, Ferro Rodrigues, vai deslocar-se à capital espanhola para um encontro com o seu homólogo, José Luis Zapatero, Secretário-Geral do Partido Socialista Operário Espanhol, em discussão, estará a troca de pontos de vista sobre a situação internacional e questões de interesse bilateral.

O tudo ou nadapor Pedro Martins

Numa altura em que já faltam quatro vitórias para o F.C.Porto se sagrar virtualmente campeão nacional e em que a questão do segundo lugar aparentemente também está resolvida, o interesse da Superliga nas últimas sete jornadas vai centrar-se, tudo indica, na fuga à despromoção.

E aqui a competitividade não podia ser maior. Do último classificado para o grupo dos oitavos, há apenas oito pontos de diferença. Mais, equipas como o Sporting de Braga, Boavista, Paços de Ferreira ou Moreirense nesta altura a meio da tabela classificativa, estão a duas derrotas apenas da “linha de água”. À excepção do Vitória de Setúbal, que com a derrota caseira no fim-de-semana passado dificilmente vai conseguir evitar a Segunda liga (cá está um caso em que a chicotada psicológica não surtiu efeitos), ninguém se vai poder distrair até ao final do campeonato. Principalmente Académica e Beira Mar, nesta altura na zona de descida mas que na última jornada até conseguiram resultados positivos. Uma luta pois que promete!
De mal a pior vai o Sporting. Os campeões nacionais voltaram a perder, agora em Barcelos (embora com um golo irregular), e ficaram a sete pontos do rival Benfica, que está cada vez mais perto de regressar à Europa do Futebol, via pré-eliminatória da Liga dos Campeões. Os encarnados, graças a uma nova grande penalidade de Simão Sabrosa, despediram-se da Luz com uma vitória. Num dia de festa, cerca de 100 mil adeptos do clube da águia disseram adeus a um estádio que não chegou a completar meio século de existência.
Ainda em relação ao Sporting, uma nota para as declarações de Sá Pinto esta semana. Na sala de imprensa, o internacional português sem papas na língua, mostrou-se chocado por não ser convocado e lamentou ainda a falta de orientação por parte de Laszo Boloni. Afinal a confirmação daquilo que já se sabia há muito, o silêncio permanente entre o treinador e o restante grupo de trabalho. Numa época para esquecer em Alvalade, uma nota negativa também para o facto dos jogadores terem quebrado apenas em parte o black-out imposto em Dezembro. Uma situação que pelos vistos nem a própria SAD consegue pôr cobro. Será que recusar entrevistas em jornais ou televisões não prejudica antes de mais os próprios jogadores?
Recebido aparentemente de braços abertos na selecção nacional foi Deco. Como já se esperava o agora jogador luso-brasileiro foi convocado por Luis Felipe Scolari para o particular de Sábado à noite nas Antas com o Brasil. Quis assim o destino que Deco vestisse a camisola de Portugal pela primeira vez no estádio do seu actual clube e logo frente à selecção do País que o viu nascer. Pouco interessado nestas coincidências está naturalmente Scolari, desejoso não só de vencer a equipa que ele próprio ajudou a ser campeã mundial mas acima de tudo em ter os melhores ao seu dispor no Euro 2004. O seleccionador nacional está ainda numa fase de observação e como tal voltou a chamar jogadores como Luis Loureiro, Silas, Rogério Matias ou Maniche.
Para último deixei intencionalmente o maior feito do futebol português nos últimos anos: a qualificação inédita de F.C.Porto e Boavista para as meias finais da Taça UEFA. As duas equipas da cidade invicta estão entre as doze melhores da Europa esta época (contando naturalmente também com as equipas apuradas para os quartos de final da liga dos campeões). Só a Itália com quatro e a Espanha com três clubes estão melhores que o nosso País. Resta agora esperar por uma final da Taça UEFA em Sevilha exclusivamente portuguesa e depois fazer votos que esta não volte a ser uma época sem exemplo na Europa do Futebol.

Durão desvaloriza moções de censura

O comportamento da oposição com a apresentação de moções de censura ao Governo num momento de crise internacional é irresponsável, disse o primeiro-ministro José Manuel Durão Barroso.

Desvalorizando as quatro moções de censura, Durão Barroso disse que a posição do Partido Socialista é uma surpresa considerando que está “irreconhecível”. “Só em Portugal se assiste à irresponsabilidade de apresentação de moções de censura ao Governo precisamente num momento de crise internacional e quando mais sentido tem o reforço da unidade nacional”, disse Durão Barroso, no debate das moções de censura ao Governo no Parlamento.

PS, PCP, Os Verdes e o Bloco de Esquerda apresentaram, no Parlamento, quatro moções de censura ao Governo relativamente ao envolvimento de Portugal na guerra do Iraque, mas nenhuma delas tem qualquer hipótese de ser aprovada e pôr em risco este Governo.

“A surpresa está mesmo no PS, este PS está irreconhecível”, disse Durão Barroso, citado pela Reuters. “Antes o PS era um partido moderado, hoje o PS aparece como um partido radical, antes o PS assumia posições equilibradas, responsáveis, hoje tem uma linguagem extremista e atitudes radicais, antes no Governo o PS não alinhava com as posições daqueles que afrontam a NATO e sempre se opuseram à União Europeia, hoje, na oposição, o PS dá o dito por não dito”, acrescentou.

Uma outra guerra

Vacas, frangos, perus e porcos. Portugal está neste momento envolvido numa guerra contra a saúde pública. Ou devia estar. Temos fundados receios que não.

É verdadeiramente intolerável saber que na cadeia alimentar dos portugueses existem substâncias perigosas, susceptíveis de pôr em causa a saúde pública. E é ainda mais intolerável que se perceba que as autoridades, designadamente o Governo, não sabem lidar com este problema.

Neste tipo de assunto não pode haver lentidão, secretismo ou poupança. É verdade que a máquina do Estado, apesar de grande, não é especialmente eficaz. Mas quando está em causa a saúde de todos nós, tem necessariamente de ser eficaz.

É verdade que a Administração Pública tem uma cultura de segredo e de falta de transparência que não raro põe em causa o interesse público e os direitos dos cidadãos. Mas aqui não podem existir contemplações. O País não pode ser mantido na ignorância do que se está a passar com os alimentos que diariamente consome e as instituições têm de ser suficientemente lestas para que se possa saber quem é quem.

É verdade que temos um enorme défice. Que o Estado tem gasto mais do que deve. Que o País tem de fazer um emagrecimento financeiro para ter as contas em ordem e em dia. Embora diga eu que é simplesmente estranho que o Estado só tenha um discurso de poupança quando está apertado. O Estado deve ser sempre poupado. Tem de combater sempre o desperdício. Deve dar sempre um exemplo de contenção e boa gestão. Sempre e não apenas quando o défice passa os 3%.

Mas na saúde não se pode poupar. Se é preciso dinheiro para fazer análises, que se gaste. Se é preciso dinheiro para pagar a mais veterinários, que apareça. O que jamais pode suceder é virem as autoridades justificarem-se que não é possível fiscalizar adequadamente a qualidade daquilo que comemos porque não há meios. Ou porque não há vontade em obtê-los.

Do ponto de vista político, esta crise da alimentação tem sido gerida da mesma maneira incompetente e “contaminada” do costume. O ministro da Agricultura do PSD, que descobriu que não sabia de nada, diz que a culpa foi do PS. O ex-ministro da Agricultura do PS, que também nunca deu por nada, diz que a culpa é do PSD. Haja decência. Resolvam é o problema e deixem-se de contabilidades sinistras de culpabilidades políticas à custa da saúde de todos nós.

Temos de ganhar a guerra da alimentação às forças do terrorismo veterinário e do fundamentalismo químico.