Vacas, frangos, perus e porcos. Portugal está neste momento envolvido numa guerra contra a saúde pública. Ou devia estar. Temos fundados receios que não.
É verdadeiramente intolerável saber que na cadeia alimentar dos portugueses existem substâncias perigosas, susceptíveis de pôr em causa a saúde pública. E é ainda mais intolerável que se perceba que as autoridades, designadamente o Governo, não sabem lidar com este problema.
Neste tipo de assunto não pode haver lentidão, secretismo ou poupança. É verdade que a máquina do Estado, apesar de grande, não é especialmente eficaz. Mas quando está em causa a saúde de todos nós, tem necessariamente de ser eficaz.
É verdade que a Administração Pública tem uma cultura de segredo e de falta de transparência que não raro põe em causa o interesse público e os direitos dos cidadãos. Mas aqui não podem existir contemplações. O País não pode ser mantido na ignorância do que se está a passar com os alimentos que diariamente consome e as instituições têm de ser suficientemente lestas para que se possa saber quem é quem.
É verdade que temos um enorme défice. Que o Estado tem gasto mais do que deve. Que o País tem de fazer um emagrecimento financeiro para ter as contas em ordem e em dia. Embora diga eu que é simplesmente estranho que o Estado só tenha um discurso de poupança quando está apertado. O Estado deve ser sempre poupado. Tem de combater sempre o desperdício. Deve dar sempre um exemplo de contenção e boa gestão. Sempre e não apenas quando o défice passa os 3%.
Mas na saúde não se pode poupar. Se é preciso dinheiro para fazer análises, que se gaste. Se é preciso dinheiro para pagar a mais veterinários, que apareça. O que jamais pode suceder é virem as autoridades justificarem-se que não é possível fiscalizar adequadamente a qualidade daquilo que comemos porque não há meios. Ou porque não há vontade em obtê-los.
Do ponto de vista político, esta crise da alimentação tem sido gerida da mesma maneira incompetente e “contaminada” do costume. O ministro da Agricultura do PSD, que descobriu que não sabia de nada, diz que a culpa foi do PS. O ex-ministro da Agricultura do PS, que também nunca deu por nada, diz que a culpa é do PSD. Haja decência. Resolvam é o problema e deixem-se de contabilidades sinistras de culpabilidades políticas à custa da saúde de todos nós.
Temos de ganhar a guerra da alimentação às forças do terrorismo veterinário e do fundamentalismo químico.