2023/06/01

PPE impõe Durão Barroso

Foi a semana de todas as movimentações na Europa, por causa da reeleição de Durão Barroso. Nicolas Sarkozy era o mais entusiasta em relação à hipótese de substituição do actual presidente da Comissão Europeia, de forma a encerrar um mau ciclo para a Europa, com o fracasso do Tratado de Lisboa e a crise económica e financeira.

Sarkozy ficou isolado

Foi a semana de todas as movimentações na Europa, por causa da reeleição de Durão Barroso. Nicolas Sarkozy era o mais entusiasta em relação à hipótese de substituição do actual presidente da Comissão Europeia, de forma a encerrar um mau ciclo para a Europa, com o fracasso do Tratado de Lisboa e a crise económica e financeira. Mas o projecto implicava colocar um homem com forte peso à frente da Europa, Tony Blair ou José Maria Aznar, cada qual com vida política própria e autonomia de decisão, o que poderia ser um perigo interesses europeus muito habituados a que quem mande na União Europeia sejam quatro ou cinco países grandes, em consenso, e a administração de Bruxelas. Ângela Merkel, ainda hesitante face ao jogo de Sarkozy, acabou por se convencer de que Durão Barroso era o homem certo e o PPE, o partido europeu onde a chanceler alemã tem grande influência, deu ontem o seu apoio à eleição de Barroso.
Tal como aconteceu em 2004, Barroso acaba por ser o homem útil ao sistema. Quem apostou nele há cinco anos, decididamente que hoje não se arrepende. Barroso é um excelente executor, que não levanta ondas e que não é inconveniente nem irreverente politicamente.

Foi a semana de todas as movimentações na Europa, por causa da reeleição de Durão Barroso. Nicolas Sarkozy era o mais entusiasta em relação à hipótese de substituição do actual presidente da Comissão Europeia, de forma a encerrar um mau ciclo para a Europa, com o fracasso do Tratado de Lisboa e a crise económica e financeira. Mas o projecto implicava colocar um homem com forte peso à frente da Europa, Tony Blair ou José Maria Aznar, a definir de acordo com os resultados das eleições europeias de Junho. Um homem com vida política própria e autonomia de decisão, o que poderia ser um perigo interesses europeus muito habituados a que quem mande na União Europeia sejam quatro ou cinco países grandes, em consenso, e a administração de Bruxelas. O risco da escolha de Blair ou de Aznar, para além da autonomia política, era o facto de um ou outro líder da Europa ter mais influência junto destas estrelas políticas e “furar” o esquema do Directório. Ângela Merkel, que tal como o SEMANÁRIO noticiou na semana passada, também ponderava a substituição de Barroso, acabou por recuar, certamente sensível à ameaça para o status quo europeu. O Partido Popular Europeu, onde a chanceler alemã tem uma grande influência, deu ontem o seu apoio à reeleição de Barroso. Curiosamente, no início desta semana, Gordon Brown apoiou publicamente Durão Barroso, numa intervenção conjunta onde os dois homens se expuseram politicamente de tal modo que ficou patente que havia algo em curso para segurar Barroso. O apoio de Brown pode ter sido indiciador, desde logo, da luz verde de Washington à reeleição de Barrosso, bem como um sinal de que o primeiro-ministro inglês podia não ver com muito bons olhos o reaparecimento de Blair na cena política. Recorde-se que Brown esteve mais de dez anos na segunda linha política, exactamente por causa do poder e da projecção de Blair. Um novo estrelato do antigo primeiro-ministro inglês poderia implicar que a estrela de Brown voltasse a empalidecer, o que poderia ser perigoso para quem quer ganhar as próximas legislativas a Gordon Brown.
Tal como aconteceu em 2004, Barroso acaba por ser o homem útil ao sistema. Quem apostou nele há cinco anos, decididamente que hoje não se arrepende. Barroso é um excelente executor, que não levanta ondas e que não é inconveniente nem irreverente politicamente. É certo que manutenção de Barroso pode trazer pouco élan à Europa, num momento em que a confiança é fundamental, mas a estrutura de poder europeia parece confiar mais nos velhos métodos tradicionais do que em fogachos políticos e psicológicos. A escolha de Barroso tem ainda o benefício de não abrir uma guerra política entre socialistas, populares e liberais para escolherem entre Blair e Azbar, em face dos resultados das europeias. Mesmo se os populares mantiverem a maioria no Parlamento Europeu, é provável que os socialistas reclamassem a presidência da Comissão Europeia. O conflito politico que se geraria podia não ser nada adequado a um momento de crise económica, em que se torna quase grotesco estar a fazer chincana política. Refira-se que para além de Ângela Merkel, Sílvio Berlusconi e outros líderes europeus, presentes na reunião onde o PPE anunciou o apoio a Barroso, também Manuela Ferreira Leite marcou presença, dando, assim, o seu apoio pessoal e político à recandidatura de Durão Barroso.

Durão: 40 anos de poder

Para Barroso, a sua reeleição é mais uma vitória pessoal. Com um novo mandato de cinco anos em Bruxelas, Barroso fica excelentemente colocado para sair de presidente da Comissão Europeia em 2014 e candidatar-se a Presidente da República em 2016, numa altura em que Cavaco já não poderá recandidatar-se. A sua candidatura a Belém parece mesmo natural. Caso seja candidato e caso ganhe as presidenciais, Durão pode fazer quase trinta anos de exercício quase sucessivo de funções publicas, tendo começado como primeiro-ministro de 2002 a 2004, presidente da Comissão Europeia de 2004 a 2014 e Presidente da República de 2016 a 2026. A juntar aos dez anos de governação, como secretário de Estado e ministro nos governos de Cavaco dá mais dez anos de funções executivas, o que contabiliza quase quarenta anos de poder. Os planos de Barroso só podem ser ameaçados por um candidato forte do PS nas presidenciais. Quem?
Sócrates, Guterres ou Vitorino?

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