2025/09/16

Sondagens confirmam a tendênciapor Rui Teixeira Santos

O professor Freitas do Amaral tem, por razões que só ele sabe, essa convicção que António Guterres não vai ser candidato presidencial do PS, e que, nessas circunstâncias, ele ainda tem alguma hipótese da ser o candidato da esquerda. Há actos que Freitas do Amaral poderia evitar.

O professor Freitas do Amaral tem, por razões que só ele sabe, essa convicção que António Guterres não vai ser candidato presidencial do PS, e que, nessas circunstâncias, ele ainda tem alguma hipótese da ser o candidato da esquerda. Há actos que Freitas do Amaral poderia evitar. E, o resultado está à vista: ele não leva um só voto para o PS, nem dá mais credibilidade aos socialistas, ou ao engenheiro Sócrates. Pelo contrário, irrita o centro e a direita, ou seja, mobiliza o centro e a direita.
As razões de Freitas do Amaral, para além das tácticas, são subscritas por todos os europeus: nenhum Governo europeu merece ganhar eleições, excepto se não houver alternativa melhor. É o efeito da anemia económica, do disparate do Pacto de Estabilidade e Crescimento.
Todos fizeram a mesma política; todos cometeram os mesmos erros; e todos estiveram calados, coniventes no desastre. Mas, como acontece em França ou na Alemanha, a questão é que a alternativa não é melhor que a situação. E, é, por isso, que os governos ganham as eleições na Europa. (O caso espanhol é excepcional e tem a ver com a gestão do 11-M.)
Ora, em Portugal, não há nenhuma razão para este governo e esta maioria parlamentar perderem as eleições. Ou melhor dito, não há nenhuma razão para esta oposição as ganhar.
As sondagens estão aí para confirmar (apesar das limitações) a tendência de perda de peso eleitoral da esquerda: da maioria absoluta do PS já ninguém fala e ela era uma certeza, há menos de quatro semanas. Na sondagem de ontem, publicada na “Visão”, a direita já estava a dois pontos do PS. Ora, com mais de três semanas de campanha eleitoral, parece evidente que a direita vai recuperar esses pontos, até porque a dinâmica de perda do PS parece incontrolável.
A partir daqui, todos os cenários são possíveis, desde que excluam uma maioria absoluta de um só partido. E, neste sentido, o eleitorado responde à letra a António Guterres, que desprezou a maioria absoluta do queijo limiano, quando sentiu que as dificuldades económicas estavam de volta e abandonou o governo, permitindo o regresso da direita ao poder, condicionada, contudo, com a necessidade de fazer uma política de contenção, em face da situação das finanças públicas: o PS não merece maioria absoluta.
Assim, não podendo o próximo parlamento ser dissolvido, por falta de poderes presidenciais, pelo menos até ao Verão de 2006, sendo instável a solução de um governo minoritário do PSD ou do PS e estando inviabilizada qualquer hipótese de Frente Popular ou acordo com incidência governamental, à esquerda (em face do radicalismo do BE e da memória da experiência governamental dos governos provisórios, onde o PS esteve aliado ao PCP no Governo), as alternativas que se colocam passam por entendimentos entre o PSD e o PP (conforme acordo celebrado), o PS e o PP (por causa do regime e da questão NATO, de acordo com Paulo Portas) ou, finalmente, pelo Bloco Central (o pacto de regime necessário segundo Jorge Sampaio).
Ou seja, a solução de estabilidade política desejada pelo Presidente da República só será possível, no quadro instável de coligações, que servem objectivos parcelares de política externa ou de reformas financeiras, mas que não traduzem opções ideológicas fracturantes na sociedade portuguesa.
E é exactamente isso que explica esta mobilização que se começa a sentir à direita. Torna-se inevitável o balizamento europeu das opções nacionais e a consolidação das Finanças Públicas, numa opção liberalizante que reduza necessariamente o peso do Estado na economia e, portanto, reforme o Estado Social.
Neste contexto, com mais ou menos disparates e erros de contas ou projecções, com mais ou garotices e cartas com mimos entre partidos, a estratégia dos partidos acaba por ser muito semelhante e a diferença programática quase irrelevante.
Sobra então o carisma de cada candidato e a táctica da campanha. A filosofia política tem aqui o seu novo espaço de reflexão: entre o “Ser” o “Acontecimento”. Nas sociedades europeias, o “Acontecimento” secundariza o “Ser”, torna mesmo a “Verdade” irrelevante, como se viu no 11-M em Madrid.
O agente político fica condicionado pelo destinatário e não pelo ser. Ou seja, ele não é agente, mas consequência. O Governo circunscreve-se ao universo da representação e, subitamente, distinguimos a democracia como regime, da democracia enquanto processo político. O Governo torna-se governância, do mesmo modo que, na eleição política, se exclui a ideologia.
A política não é determinante da História, nem emana dela. A política e a História traduzem-se em universos diferentes: até o Bloco de Esquerda já abandonou a ideia da revolução proletária e a conversa da vanguarda operária.
Esse sentimento enorme, herdado do Romantismo do século XIX, de que fazíamos parte do processo histórico, desapareceu, como que confiscado pela história do pensamento ocidental. E, agora, sem Deus nem demónio, só nos sobra, melhor, somos confrontados com o universo da representação, com o “cenário de celofane” que é a política europeia, esta grande herança de um século XX que, afinal, não foi apenas de tragédia, guerra e genocídio (de que o Holocausto faz parte).
É, aqui, que ganha Pedro Santana Lopes.

Um desastre nunca vem só

A saída de Durão Barroso para Bruxelas desencadeou uma crise política de que o País ainda está a pagar o respectivo preço. Ao não tomar em Junho a decisão natural, isto é, a convocação de eleições antecipadas, o Presidente da República assumiu a co-autoria política do que se tem passado no País desde então.

A saída de Durão Barroso para Bruxelas desencadeou uma crise política de que o País ainda está a pagar o respectivo preço. Ao não tomar em Junho a decisão natural, isto é, a convocação de eleições antecipadas, o Presidente da República assumiu a co-autoria política do que se tem passado no País desde então. E, como sucede com José Barroso e com a coligação, não fica nada bem nesta fotografia lamentável em que o País está retratado.
Agora, a um mês de eleições, Jorge Sampaio decidiu proclamar publicamente que entende que o País precisa de uma maioria absoluta, deduz-se que de um só partido, pois que o Presidente acaba de dissolver o Parlamento existindo uma coligação com uma maioria absoluta composta por dois partidos.
No actual contexto político, esta afirmação do Presidente tem um significado objectivo de favorecimento do PS, que é o seu partido e do qual, ao contrário de Mário Soares, nunca se desvinculou. Pela simples razão de que parece ser o PS o único partido concorrente às próximas eleições em condições de eventualmente a conseguir.
Nunca Jorge Sampaio se tinha pronunciado até hoje sobre o tema, desta forma clara e enfática. Como nunca se tinha pronunciado sobre a necessidade de reformar o sistema eleitoral para propiciar as maiorias.
Ainda recentemente, o Presidente afirmou sim, que não se podia passar a vida a rever a Constituição. Fica bem a preocupação com a estabilidade legislativa. Mas o problema é que esta Constituição desfasada do País e das necessidades políticas do funcionamento das instituições, não há outro remédio, em atenção ao imobilismo dos partidos em modificá-la.
Agora é legitimo perguntar que razão estará por detrás destas preocupações anunciadas precisamente quando o jogo eleitoral está a meio.
Mais: Jorge Sampaio colocou-se na desconfortável posição de ver a sua posição institucional fortemente diminuída, caso os eleitores não lhe façam a vontade. O que fará o Presidente se o PS não alcançar a tão almejada maioria absoluta? Fará como Ferro Rodrigues, que bem ou mal tirou consequências do desaire político de Junho e demitiu-se, ou fará de conta que não aconteceu nada e prosseguirá imperturbável o caminho do final do seu mandato? Com que credibilidade e prestígio enfrentará o que resta desse mandato em termos de exercício dos poderes presidenciais?
Estamos substantivamente de acordo com o pressuposto da nova posição de Jorge Sampaio: o sistema político está esgotado, precisa de obras de estrutura urgentes e deixou de responder às necessidades do País. O que só se resolve com uma profunda revisão da Constituição ou até com uma nova. Mas as obras necessárias não são o remendo de oportunidade que lhe ouvimos propor. Porque, no essencial, os mandatos de Jorge Sampaio caracterizam-se por não tocarem no essencial do sistema.
E assim, do que temos a certeza, é de que essa revisão necessária não poderá jamais contar com o concurso da influência institucional de Jorge Sampaio.
O esgotamento do sistema é de tal ordem que até a SEDES, instituição central do sistema e normalmente contida nas suas análises, veio esta semana a público alertar para o risco de ingovernabilidade do sistema, reconhecendo que a alternância democrática, que cada vez mais se parece, aliás, com o estéril rotativismo de oitocentos, é claramente insuficiente para as necessidades do País. Pois é.
O problema é identificar onde está o nó do estrangulamento do sistema político para o desatar. Um deles é no sistema de poderes consagrados na Constituição para responder a circunstâncias históricas hoje completamente ultrapassadas, como reconhece neste ponto, bem, Jorge Sampaio.
Enquanto os eleitores sentirem que só são chamados a escolher quem não manda e que não são tidos nem achados para decidir quem é que de facto vai interferir nas suas vidas, a distância entre os cidadãos e a política e as instituições não cessará de aumentar. Solução, existe sim senhor: é o presidencialismo. Mas desta discussão, vá lá saber-se porquê, todos fogem como o diabo foge da cruz.

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Final antecipada da taçapor Manuel Lopo de Carvalho

Se o futebol em Portugal fosse assim, já não dizemos sempre mas 50% das vezes, os estádios estariam cheios por regra e não por excepção.
Dir-se-ia então que afinal os portugueses gostam de futebol e não, como é habitual referir-se, que gostam apenas dos seus clubes.
Os portugueses, como se prova de cada vez que as suas equipas de clube ou a selecção nacional jogam bem, deliram com o facto.

1 – Jogo fantástico de emoção este último Benfica-Sporting!
Se o futebol em Portugal fosse assim, já não dizemos sempre mas 50% das vezes, os estádios estariam cheios por regra e não por excepção.
Dir-se-ia então que afinal os portugueses gostam de futebol e não, como é habitual referir-se, que gostam apenas dos seus clubes.
Os portugueses, como se prova de cada vez que as suas equipas de clube ou a selecção nacional jogam bem, deliram com o facto. Nessas situações demonstram claramente que não podem gostar mais de futebol.
A questão central é que a qualidade do futebol praticado em Portugal é muito fraca. As situações como as desta final antecipada da Taça de Portugal são, infelizmente, as excepções que confirmam a regra.
Poder-se-á fazer algo para melhorar esta situação?
Estamos em crer que sim, mas para isso é preciso vontade e iniciativa para o fazer. A palavra cabe aos dirigentes da Federação Portuguesa de Futebol e à Liga de Clubes. É nossa convicção que existem condições para que se possam dar passos concretos na revitalização do futebol no nosso país.
As soluções já foram por variadíssimas vezes apontadas e passam, nomeadamente, pela redução dos quadros competitivos, pela redução do número de estrangeiros (brasileiros incluídos) de qualidade duvidosa a actuar no nosso país, pela formação e autonomia dos árbitros, pela qualificação dos dirigentes e treinadores.
Haja vontade que a oportunidade há muito esperada parece estar a surgir.

2 – Mas voltando ao Benfica-Sporting há que referir que o resultado conseguido pelo Benfica pode ter tido consequências gravosas para o clube.
Como assim, dirão alguns, então o Benfica não ganhou?
Lá ganhar ganhou, mas arrisca-se a que esta vitória seja apenas de curto prazo. A sua consequência foi dar um novo fôlego a uma solução organizativa demonstrada e reconhecidamente incapaz de levar a equipa e o clube a algum lado, de forma consistente.
Um resultado negativo teria como consequência o despedimento do idoso, teimoso e senil treinador italiano Trapattoni, que o portista José Veiga, com a cobertura do presidente L.F. Vieira, foi buscar, em terceira escolha, para treinar o Benfica. Os erros cometidos pelo treinador, a forma defensiva como insiste em pôr a equipa a jogar, a pouca consideração que os adeptos nutrem por ele, não permite esperar nada de bom para o futuro. Nem ele, Trapattoni, espera. O seu ar acomodado, displicente, derrotado, diz tudo.
Esta vitória sobre o Sporting tem pois muitas semelhanças com o que no ténis se chama “salvar um match point”.
Depois da derrota incrível sofrida em Janeiro em Alvalade, em mais uma demonstração clara da incapacidade do treinador, o Benfica ressurgiu das profundezas e goleou o Boavista com uma boa exibição. Estava salvo o primeiro “match point”. Uma derrota neste jogo teria tido efeitos terríveis na carreira do clube esta época.
Depois veio a derrota humilhante em casa contra o Beira-Mar, com nova dose de responsabilidade de Trapattoni. Foi o regresso ao fundo do poço. A vitória sobre o Sporting representou pois nova ressurreição do Benfica, o que constituiu como que a salvação do segundo “match point”
Até onde irá o Benfica nesta saga de se safar “in extremis”?
Em nossa opinião a lado nenhum.
Porém, agora que eliminou o Sporting com o brilho a que todos pudemos assistir, o Benfica tem uma nova janela de oportunidade, tendo ganho espaço de manobra para, sem a pressão dos resultados negativos, tomar as medidas que são evidentes e necessárias para tentar salvar a época futebolística, evitando a necessidade, de risco elevado, de ter de salvar mais “match points”
E quais são estas?
Para já as duas primeiras e mais óbvias são o agradecimento e acerto de contas com o treinador Trapatoni e com o portista José Veiga.
É só uma questão de tempo.
Ou saem agora a bem, ou saem brevemente a mal e debaixo dos insultos e desconsiderações dos sócios e simpatizantes do Benfica.
Compete aos dirigentes eleitos terem o discernimento necessário para o efeito.
Será que o fazem?
Duvidamos, mas é altura de referir que chegou a sua vez de terem o seu primeiro “match point” para salvar.
A ver vamos.

A lição política do BCP

Para trás ficaram António de Sousa, João Talone ou António Borges. Nomes que, com Horta Osório, Pina Moura ou Mira Amaral, se teriam sempre posicionado para suceder a Jardim Gonçalves. Mas, o BCP demonstrou que tem uma estratégia e que essa é a razão da sua história de sucesso. Aproveitou o momento da maior fragilidade do poder político para escolher o líder do BCP para os próximos 20 anos.

Para trás ficaram António de Sousa, João Talone ou António Borges. Nomes que, com Horta Osório, Pina Moura ou Mira Amaral, se teriam sempre posicionado para suceder a Jardim Gonçalves. Mas, o BCP demonstrou que tem uma estratégia e que essa é a razão da sua história de sucesso. Aproveitou o momento da maior fragilidade do poder político para escolher o líder do BCP para os próximos 20 anos. O BCP, com Paulo Teixeira Pinto, mantém-se independente do poder político, algo essencial para que o BCP continue a ter uma estratégia ganhadora, sem precisar da crise económica para afastar a concorrência.

Feita a escolha de Paulo Teixeira Pinto, para suceder a Jardim Gonçalves, há mensagens decisivas a colher. Senão vejamos:
A primeira tem a ver com a dignidade das pessoas públicas. Numa altura em que toda a gente diz mal de toda a gente, a escolha de Paulo Teixeira Pinto para suceder a Jardim Gonçalves, em plena crise política, é acolhida como um sinal de confiança pelo mercado e pela generalidade dos comentadores. E, não é, apenas, por causa do peso do BCP na economia dos media e sobretudo no País. Paulo Teixeira Pinto representa várias coisas neste país e, sobretudo, a oportunidade de se dizer bem de alguém. Quando se diz que, agora, qualquer figura pública é atacada ou tem que surgir da TV – chegando ao cúmulo do Presidente da República condecorar em plena campanha eleitoral, Eusébio, apenas, porque é uma figura popular, eis Paulo Teixeira Pinto, uma figura que se evidencia pela competência e da capacidade profissional e de quem toda a gente pode dizer bem.
Mas a escolha de Jardim Gonçalves não é apenas a melhor solução interna e que evitará problemas futuros. Para além de outros atributos, Paulo Teixeira Pinto é a escolha de um homem da Igreja Católica e, sobretudo, de um cristão para gerir o maior banco nacional. Ou seja, o Millennium/BCP mantém os equilíbrios religiosos no sistema financeiro nacional, o que não deixa de ter leitura política.

PTP é melhor que o cavaquismo

Paulo Teixeira Pinto, por outro lado, permite que se diga que é um cavaquista. É, aliás, o único título que aceita, em homenagem à oportunidade que Cavaco Silva lhe deu. E, leal, foi e será sempre a Cavaco Silva. Mas, ainda que modestamente isso permita, Paulo Teixeira Pinto foi e será sempre mais que o cavaquismo, que agora se pretende colar à sua imagem, um pouco anacronicamente e numa altura em que a candidatura de Cavaco Silva à Presidência da República parece definitivamente afastada. E, aqui, há também um aviso para colher: por mais consensual que seja, Paulo Teixeira Pinto terá o seu rumo e fará as suas escolhas. Ou seja, ele deixará a sua marca no sistema financeiro nacional.
Do ponto de vista do BCP, foi ainda uma opção inteligente e oportuna. É outra lição a tirar da escolha de Jardim Gonçalves e, sobretudo, do “timing” da escolha: ultrapassa-se os problemas de sucessão, com um salto geracional, e, mais importante que isso, assegura-se uma solução interna, à margem das tentações do poder político, escolhendo-se um homem da casa, numa altura em que o poder político está fragilizado. Ou seja, Jardim Gonçalves resolve um problema que dificilmente a classe política nacional resolveria de melhor maneira e que teria sempre custos para a instituição e para a sistema financeiro.
Por outro lado, dificilmente, noutra conjuntura política, a tecnoestrutura do BCP conseguiria encontrar solução mais consensual e eficaz. Neste sentido, Paulo Teixeira Pinto não é, apenas, a solução de equilíbrio, desejada por Jardim Gonçalves, entre Filipe Pinhal e Alípio Dias. Ele é, sobretudo, a garantia que o PSD ou o PS não terão a tentação de colocarem algum homem da política ou dos interesses à frente de uma instituição de peso tão decisiva para o sistema financeiro. Internamente, mas também para fora, a escolha de Paulo Teixeira Pinto é mais que a chegada de uma nova geração, que, apesar de tudo, vem aparecendo (nomeadamente nas empresas e nos partidos políticos), a reforma de gente que soube dar o melhor ao País e que tem que ter a coragem de sair no momento certo, sem rancor e com confiança. (Não deixa de ser curioso que, actualmente, quem mais contribuiu para a depressão nacional são os economistas e os políticos que mais responsabilidade tiveram, nos últimos trinta anos, em Portugal, que não se calam, nem aceitam que os mais jovens são, na conjuntura actual, mais adequados para o desempenho das funções de Estado e de governância da empresas e dos sindicatos e associações patronais.)

A antecipação de Jardim Gonçalves

Basicamente, Jardim Gonçalves antecipa a saída, para adiar a possibilidade do poder político intervir na instituição por ele fundada e liderada há mais de vinte anos.
Actualmente, o presidente do BCP poderia ser escolhido pelo primeiro-ministro. Através da Caixa Geral de Depósitos, a posição do Estado é decisiva no capital do Millennium/BCP e, facilmente, o PSD poderia ser tentado a trazer de volta algum gestor, por exemplo, do Compromisso-Portugal, como João Talone ou António Mexia, podendo colocar em causa a estratégia e até o posicionamento tradicional do maior banco privado do País. Ainda na direita dos interesses haveria sempre outros independentes que desejavam o lugar, como António de Sousa, desempregado da CGD, ou António Borges, que várias vezes se ofereceu a Jardim Gonçalves e que finalmente conseguiu emprego na Fundação de Leonor Beleza (provável destino milionário de outros desempregados da política e da gestão, que vão gastar o dinheiro, deixado por Champalimaud, em bons salários e regalias acima da média nacional).
Do lado do PS, haveria sempre e ainda a tentação de avançar com nomes mais politizados, gestores do partido como Pina Moura, ou mesmo Mira Amaral, que apareceu nas “Novas Fronteiras”, zangado com Santana Lopes. É aliás essa a maior fragilidade deste PS feito de compromissos e regressos indesejados à política nacional.

Uma lição de antecipação

O presidente do BCP podia ter deixado os acontecimentos andarem, mas deu uma lição de estratégia, numa instituição que explica, assim e mais uma vez, porque teve sucesso nos últimos vinte anos. A opção e a iniciativa foram claras e colheu o poder político no momento de maior fragilidade, com Vítor Martins na CGD e Bagão Félix nas Finanças, dois homens com especial sensibilidade ao universo e à cultura do BCP e com bom relacionamento com Filipe Pinhal e Alípio Dias, dois metódicos artesãos de uma estratégia bem definida e que apoiaram militantemente Jardim Gonçalves.
Uma lição de táctica, também, a mostrar que o Sun Tzu está presente na gestão dos maiores grupos financeiros. O BCP não esperou que os políticos tivessem oportunidade de decidir. Apresentaram-lhes uma solução: indiscutivelmente uma solução melhor para o BCP, e por isso para o nosso sistema financeiro, que qualquer solução política. Escolhido Paulo Teixeira Pinto, durante os próximos seis ou dez anos a questão da liderança do BCP está resolvida. O País perdeu um credível candidato à liderança do PSD, mas ganhou um banqueiro, com sentido político e, sobretudo, com capacidade para entender o papel decisivo do banco, como centro autónomo de decisão económica nacional para contrabalançar o próprio poder político.
Esta é a segunda lição de Jardim Gonçalves. A economia e os negócios têm, hoje, muito pouco a ver com a macroeconomia e quase nada com estratégias fora do universo social em que a economia existe. Hoje, as decisões económicas dependem da geopolítica. Não é a “economia de casino”. É verdadeiramente o jogo da política que faz empresas de sucesso irem à falência e empresas aparentemente sem viabilidade a vingarem do universo da competitividade global. Globalização chama-se, hoje, “government affairs”. A governância substituiu a governação e a liderança de um grupo económico nesta época é, sobretudo, uma questão de capacidade política, algo que Paulo Teixeira Pinto tem de sobra.

O fim do tabu da idade

A terceira lição do BCP tem a ver com a barreira da idade: ao escolher Paulo Teixeira Pinto, com 44 anos, o BCP desfez o tabu da idade. Era um falso problema que o regime político nascido do 25 de Abril tinha criado para perpetuar o poder de Mário Soares ou Freitas do Amaral, de Guterres e de Marcelo.
A coincidência de Jardim Gonçalves anunciar, com moderação e sem qualquer tutela, a solução para a sua sucessão no BCP contrasta a todos os títulos com a despudorada tentativa de António Guterres aparecer como arrendatário do PS da “tralha guterrista, a exigir a repetição da maioria absoluta que tinha (com o queijo limiano) e que desprezou quando fugiu à responsabilidade de governar e se demitiu. Guterres apareceu esta semana numa iniciativa das Novas Fronteiras a menorizar Sócrates, o candidato dos socialistaa a primeiro-ministro, e, sobretudo, a dar conselhos publicamente, ele que representa o fracasso do País e que permitiu o desastre da governação de Pina Moura e a demagogia de João Cravinho (o caso escandaloso das Scuts).
O contraste com Jardim Gonçalves é total. Não fez grandes comentários, nem tão pouco esperou por elogios. Ele sabe que Paulo Teixeira Pinto fará o seu caminho e lhe será sempre leal, sem precisar de se constituir como arrendatário ou tutor. Como Botin em Espanha, que passou a presidência do Banco Santander à sua filha, Ana Botin, também na casa dos quarenta, Jardim Gonçalves mostra a confiança que tem no futuro e não está agarrado ao lugar, como infelizmente parece ser o traço comum dos políticos nascidos no 25 de Abril, ou a primeira geração de políticos da Segunda República. É uma lição decisiva para o PS, para Soares e para Guterres, mas também para todos aqueles que se sentem desconfortáveis com a necessidade de renovar e que não acreditam na competência e na qualidade da juventude.
Esta lição é também uma oportunidade e uma responsabilidade: agora e sem alibis Jardim Gonçalves deu o mote: a geração do 25 de Abril e da privatização da banca pode ir descansadamente para a merecida reforma. Do lado de Paulo Teixeira Pinto, ele é a representação de uma geração que chega agora ao poder. Mais que Fernando Ulrich (substituiu Santos Silva no BPI), ou Ricardo Salgado (substituiu Manuel Ricardo no GES), que, apesar de tudo ainda pertencem à geração anterior, mais que António Mexia ou António Carrapatoso que, apesar de tudo, fizeram o caminho pelas empresas públicas, ou pelas empresas estrangeiras, Paulo Teixeira Pinto, com menos três ou quatro anos que eles, representa um percurso único que marca, mais que a entrada de uma nova geração, a reforma da geração anterior. Sem traumas e em continuidade. Sem rupturas nem dramas. Com diálogo intergeracional, como deve ser nos bancos; e como deve ser na política, em Democracia.

Bloco defende reintegração de Hospitais SA no serviço público

“Bloco nunca aprovará orçamentos ou leis com as quais não concorde”

O Bloco de Esquerda apresentou, no último fim-de-semana, os cabeças de lista pelos diversos distritos às eleições legislativas de 20 de Fevereiro e as medidas a apresentar no início da próxima legislatura.

O Bloco dá por adquirida a vitória do PS nas urnas e, por consequência, a formação de um Governo liderado por José Sócrates. Contudo, o BE pretende desmarcar-se do PS.

O dirigente e cabeça de lista pelo círculo de Setúbal, Fernando Rosas, disse que “o BE não participará em nenhum Governo do PS nem tem qualquer compromisso com o PS”. Salvaguardando, no entanto, que a postura do Bloco não será de inviabilizar um executivo socialista, pois isso “seria trair a lógica das urnas”.

Rosas acabou por justificar o porquê desta posição de não impedir a formação de um Governo socialista. Segundo o dirigente, o Bloco não deseja que o poder “seja tomado outra vez pela direita”, pois uma atitude inviabilizadora poderia proporcionar o regresso da direita ao poder.

Face às notícias veiculadas, de existência de um acordo entre o BE e o PS, o BE reiterou, novamente, que os próximos deputados “não participarão num governo PS nem com ele farão acordos pós-eleitorais”. Deixando também clara a sua posição em matéria orçamental: “o Bloco nunca aprovará orçamentos ou leis com as quais não concorde.”

O Bloco apresentou as suas bandeiras eleitorais, que serão as medidas a apresentar na nova legislatura: revogar o Código Laboral, legalizar o aborto, retirar a GNR do Iraque, reintegrar os Hospitais SA no sector público administrativo, levantar sigilo bancário para combater a fraude e evasão fiscais, legalizar imigrantes, e, renegociar o Pacto de Estabilidade e Crescimento.

Renovadores comunistas integram listas do BE

Como já era previsto, Francisco Louçã é o cabeça de lista por Lisboa e João Teixeira Lopes pelo Porto. A acompanhar Louçã nos lugares cimeiros pelo círculo da capital estão Luís Fazenda e Ana Drago. Uma das surpresas das listas provém da colocação da deputada Joana Amaral Dias, que é a número um por Santarém. O antigo militante comunista, o reputado historiador e arqueólogo Cláudio Torres, será o candidato por Beja. O candidato do BE, nas últimas autárquicas à Câmara de Beja, Abel Ribeiro, assume a lista de Évora.

Membros da Renovação Comunista (RC), tal como já tinha sucedido nas eleições europeias, integram as listas do Bloco como independentes. João Semedo, número três na lista do Porto, e Adelino Granja, o advogado de “Joel” do caso Casa Pia, pelo círculo de Leiria, são dois dos oito a dez militantes da RC que fazem parte das listas do Bloco.