2025/07/01

Costa Neves: “Alargamento não é um fantasma”

O Secretário de Estado para os Assuntos Europeus, Carlos Costa Neves, explicou, em entrevista ao SEMANÁRIO, a posição portuguesa no processo negocial para as reformas institucionais da União Europeia. E acrescentou que, neste momento, a Europa não está em condições de adoptar uma posição única quanto ao Iraque.

Como é que viu o refortalecimento do eixo Paris-Berlim e a proposta daí resultante, que prevê uma presidência bicéfala para a União Europeia?

Quanto ao eixo Paris-Berlim e aos entendimentos mais próximos entre os dois países, nomeadamente em matérias institucionais, não temos qualquer tipo de reserva, antes pelo contrário. Assim como nós mantemos contactos regulares e acertamos posições e procuramos pontos de acordo, também em matérias institucionais, com outros Estados-membros. Aliás, foram essas aproximações que acabaram por estar na base, daquilo a que se chama a “posição Benelux”, em relação à reforma institucional.

Bem, se a Alemanha e a França, ou o Reino Unido e a Espanha, entenderem em cada momento terem uma relação mais próxima, acho que ninguém tem o direito de dizer o quer que seja. Acresce que para que este projecto europeu tenha avanços é preciso que se gere consenso e compromisso, e irremediavelmente sem a Alemanha e a França isso não é conseguido, assim como sem outros.

Mas a Alemanha e a França, digamos que por iniciativa própria, acabaram por assumir o protagonismo dos desígnios europeus ao avançar com uma ideia, que provavelmente a encararão como certa?

Se a França e a Alemanha estiverem em posições irredutíveis e contrárias, provavelmente não há possibilidades de evolução. A reforma institucional diz respeito a todos, a discussão está a ter lugar na Convenção, que depois passará a um conferência intergovernamental, e nessa conferência a elaboração dos tratados precisa de unanimidade.

Havia a noção de que a França e a Alemanha tinham aproximações muito diferentes e portanto o facto de eles se entenderem à volta de uma posição comum é positivo.

Nem podemos impedir que uns falem com os outros, nem podemos impedir que haja consertos de posições, como Portugal tem feito sobre todas as matérias ao longo deste dezassete anos, nomeadamente às matérias institucionais. Portanto não podemos querer que os outros não façam o que nós fazemos, porque achamos que é positivo construir consensos compromissos e, por outro lado, temos que ter a noção que sem a França e sem a Alemanha as reformas necessárias não se fazem.

E quanto ao acordo propriamente dito?

Numa primeira análise existiu uma troca de compromissos, que parece um pouco “troca por troca”. Era conhecida a posição alemã, que defendia a lógica da construção europeia à volta da comissão e era conhecida a posição da França para a nomeação de um Presidente do Conselho Europeu. Agora quanto à solução em si propriamente dita, nós encaramo-los como mais um contributo.

Mas, falando em contributo há quem diga que posição portuguesa é bastante tímida no que concerne às negociações em curso?

Todas as classificações são possíveis, e ainda há pouco referiu que a posição portuguesa no seio das negociações institucionais tem sido conotada como “tímida”, eu não diria que é tímida, mas que é uma posição de que percebe e conhece as regras das negociações, e para haver soluções são preciso compromissos, e para haver compromissos têm que haver negociações, e para haver negociações são necessárias posições flexíveis.

Tem que haver um núcleo de questões que para nós sejam essenciais, mas depois tem que haver maleabilidade suficiente para atender ao essencial de cada um e, portanto, não pode haver posições de bloqueio, posições rígidas de cristalização, se queremos uma negociação e se queremos um compromisso. Deste modo a nossa posição não propriamente tímida, é achar que está mais uma proposta em cima da mesa, que tem a importância que tem porque vem da Alemanha e a da França, achar que é legítima a apresentação das posições, mas deixar claro que em cima da mesma mesa está uma proposta da comissão, que nós comungamos em parte muito substancial, e uma proposta chamada de “Benelux” em cuja a elaboração nós colaboram e todas estas propostas estão em cima da mesa.

Como definiria essas propostas?

Elas têm pontos comuns ao nível do reforço da Comissão, ao nível da preocupação de criar soluções que possa funcionar para a implementação de uma verdadeira Política Externa e Segurança Comum (PESC), e têm, essencialmente, um ponto muito divergente que é a questão da Presidência do Conselho.

Nós continuamos a achar que as soluções que temos defendido, nomeadamente uma solução que parte da ideia do reforço da Comissão, da utilização do método comunitário, da iniciativa exclusiva da Comissão, são questão ligadas à própria natureza da União Europeia, tal como nós a vemos. E aparentemente uma dupla presidência da União Europeia enfraquece a União Europeia e pode levar a conflitos de competências complicados.

Acredita que a França e a Alemanha alcançaram o acordo por convicção no seu conteúdo tendo em conta a harmonia da UE, ou, pelo contrário, como forma de revitalizar o eixo Paris-Berlim?

A minha interpretação é que foi o acordo possível que terá resultado das posições essenciais dos dois Estados-membros e cumpriram, assim, o seu contributo. Estou convencido que, quer a Espanha, quer a França, quer a Alemanha, estão empenhados em construir uma Europa com futuro, mas também estou convencido que qualquer das propostas em cima da mesa, não é uma proposta final e fechada.

Baseado na sua experiência até que ponto é acha que os líderes da Alemanha e da França estão prontos a ceder na sua proposta?

Olhando para a proposta eu penso que, como todas as propostas, tem que ter margem de discussão, porque das reacções já conhecidas, todas elas cautelosas, as adesão à proposta nunca são a cem por cento. Por exemplo, tem sido noticiado que o Reino Unido defende um Presidente para o Conselho Europeu, mas ao mesmo tempo dizem que Londres não gosta que o Presidente da Comissão seja eleito pelo Parlamento Europeu – ideia avançada no acordo franco-alemão.

No nosso caso aceitamos bem a eleição do Presidente da Comissão pelo Parlamento Europeu, no caso do Presidente do Conselho Europeu, eleito pelo mecanismo proposta, portanto há aqui uma geometria muito variável.

O primeiro-ministro, Durão Barroso, encetou uma campanha diplomática, como alternativa à proposta franco-alemã. Acha que o Governo passou para uma atitude mais interventiva no seio do debate?
Numa negociações há vários momentos e para cada momento existem reacções diferentes.

Portugal tem estado muito empenhado em todo o processo da Convenção. O essencial do meu trabalho tem sido muito paciente, de encontros bilaterais para se ir caminhando para esse tal compromisso. Claro que isso foi sempre feito o mais discretamente possível, porque se é um processo negocial, a negociação não está terminada enquanto não chegar ao fim e, portanto elegemos os nossos princípios gerais – método comunitário, igualdade entre Estados-membros, Comissão forte e que tenha a iniciativa de todo o processo legislativo, manutenção do equilíbrio entre as várias instituições, manutenção de políticas comuns, Europa assente no princípio da solidariedade – e somos coerentes com eles.

O acordo final será composto pelo que de melhor existe nas três propostas?

Espero que haja engenho e arte para o fazê-lo. A minha experiência de Parlamento Europeu tem a ver com um busca constante daquilo que aproxima e não daquilo que divide. E só com a valorização daquilo que nos aproxima é que conseguimos alcançar entendimento.

Os pontos convergentes em todas as propostas já são dados como certos e depois existirá um núcleo, que eu espero que seja cada vez mais reduzido, de propostas divergentes nomeadamente a da Presidência do Conselho.

Serão válidos os receios dos portugueses face ao alargamento?

Este alargamento vai mudar a União Europeia, até porque está a ser acompanhado pela reforma institucional. Agora, nós tivemos um processo de adesão complicado ao longos destes dezassete anos, a própria adesão ao euro na primeiro linha foi um grande desafio e realizado com sucesso, e a minha convicção é que continuaremos a ter essa capacidade.

Acho que temos capacidades para superar as dificuldades, e também para aproveitar as oportunidades que surgirão. Além do mais não é justo atribuir algumas dificuldades ao alargamento, uma vez que o fenómeno da globalização e da liberalização já permitiram mecanismos para o tipo de concorrência que Portugal vai enfrentar com os novos Estados-membros.

Nesta linha não é razoável conotar o alargamento como um fantasma que nos vai trazer concorrência acrescida.

Vai haver uma voz única da União Europeia em relação ao Iraque?

Bom, seria desejável que houvesse uma voz única em relação à crise do Iraque. Desde logo há um elemento nesta questão importante que é a presença de cinco Estados-membros da União Europeia no Conselho de Segurança das Nações Unidas, mas seria desejável que existisse uma posição comum. Porém, todos nós sabemos que ainda estamos longe de conseguir isso. É um dos grandes desafios: a afirmação da Europa no mundo.

Na minha perspectiva sem estar em concorrência com ninguém, contra os Estados Unidos, ou para ser o outro prato da balança, mas com uma PESC de facto. Neste momento não estamos em condições para adoptar uma posição única quanto ao Iraque. Seria bom, mas neste momento é de prever divergências.

Portas sem oposição interna

As recentes declarações de Manuel Monteiro em relação à enventualidade de sair e formar um novo partido estão a levar a uma crescente desmobilização dos seus apoiantes. Portas poderá ficar “sozinho” no PP.

O actual líder popular, Paulo Portas, não terá oposição de relevo no próximo Congresso do CDS-PP. A garantia é dada por uma fonte próxima de Manuel Monteiro que afirma que, para juntar à já anunciada ausência do ex-presidente popular, os monteiristas apenas marcarão presença para “cumprir calendário”.

Do lado de Portas a preocupação não é grande e a estratégia passa por não dar grande importância à possibilidade crescente de uma demissão em massa dos monteiristas.

O Congresso do CDS-PP, a realizar nos próximos dias 22 e 23 de Março, no Porto, poderá rezumir-se a dois pontos: primeiro, a consagração do líder, Paulo Portas, devido à chegada do partido ao poder; e, segundo, o primeiro passo para os monteiristas abandonarem o barco popular. Portas poderá, nos próximos tempos, assistir a uma deserção em massa dos monteiristas.

Segundo fonte próxima do ex-líder popular, a oposição a Portas está “apenas à espera do sinal” de Manuel Monteiro para o seguir rumo a outras águas.
O primeiro sinal dado pelos monteiristas em relação a uma estratégia de desmobilização aconteceu quando o próprio Manuel Monteiro fez questão de garantir que não iria ao próximo conclave dos democratas-cristãos.

A juntar a esta ausência, os monteiristas não apresentaram qualquer alternativa a Luís Nobre Guedes para a distrital de Lisboa do CDS-PP. Na semana passada, Monteiro falou de um assunto que lhe tem sido caro e que frequentemente era abordado nos bastidores monteiristas: a possibilidade de bater com a porta e formar um novo partido político.

Logo após a clara vitória de Portas no último Congresso, em Lisboa, há precisamente um ano, foram várias as vozes que aconselharam Monteiro a sair e a aproveitar a brecha criada pelo desaire do partido nas autárquicas. Contudo, Monteiro não quis avançar com uma nova formação partidária e manteve-se de pedra e cal no partido ao qual aderiu com apenas 14 anos.

No entanto, não conseguiu evitar a primeira vaga de monteiristas a abandonar o partido. Fernades Thomaz e Diogo Pacheco de Amorim, indignados com a condução dos trabalhos do congresso e desiludidos em relação ao rumo que Portas estava a dar ao partido, apresentaram a sua demissão.

Agora, os monteiristas dependem apenas da saida de Monteiro para, também eles, baterem em retirada. Monteiro quer ainda esperar pelos resultados políticos do congresso do Porto e alinhar estratégias com os seus mais próximos colaboradores.

Espera-se ainda que Manuel Monteiro aproveite o movimento Nova Europa, que recentemente criou, para construir uma eventual plataforma política que o lance para um novo projecto partidário.

Portas fica com meio partido

O congresso do Porto servirá também para Paulo Portas arrumar a casa. Portas aproveitará para beneficiar aqueles que sempre estiveram a seu lado e tentará dar um sinal positivo aos portugueses quanto à saúde que o seu partido vive.

Mas o problema do CDS-PP poderá residir exactamente no facto de ser cada vez mais o partido de Portas. Apesar de nenhum militante portista querer falar de uma eventual saída de Monteiro para a formação de um novo partido, o que é facto é que os apoiantes de Portas continuam à espera das movimentações na oposição.

Mas o problema é que os monteiristas não se “mexem”, preferindo continuar a perder, por falta de comparência, as batalhas que se vão dando. O único receio para os portistas parece ser o de ficarem com meio partido nas mãos e perderem o eleitorado mais à direita para um eventual novo partido de monteiristas.

Somos todos federalistas

Barroso foi à Finlândia para organizar a Europa dos pequenos contra o directório. Mas, agora, só o aprofundamento do federalismo, com a criação de um Senado com poderes legislativos, pode dar voz a países como Portugal.

Chegou o momento da direita portuguesa ser mais federalista que a França ou a Alemanha que, esta semana, defenderam na Convenção Europeia, traduzida na liderança bicéfala entre um presidente do Conselho, legitimado intergovernamentalmente, e o presidente da Comissão Europeia eleito pelo Parlamento Europeu.

Diante desta realidade, não serve para nada a crítica dos pequenos. É altura de propor o aprofundamento da União Europeia, com a criação de um Senado Europeu, com poderes legislativos em matéria orçamental, monetária, de defesa e de estrangeiros.

Quando a França e a Alemanha celebram o acordo à volta da “Europa do directório”, é evidente que já levam o acordo antecipado da Inglaterra, Itália e Espanha. E não vale a pena gritar agora palavras de ordem nacionalistas, quando há cinco ou seis anos, os mesmos nada fizeram para contrariar o inevitável: o sonho imperial de Bismarck e do nacionalismo alemão está mais próximo do que nunca, nesta União Europeia a caminho de 25 Estados-membros, em que o império tem a sua quinta a leste e nomeia para seu comissário para os mediterrânicos, que lá estão, o Chirac dos franceses.

E custou, então, o sacrifício de Manuel Monteiro e a expulsão do CDS/PP do Partido Popular Europeu, justiça seja feita, porque o discurso não cabia à direita, sempre antiamericana, e não convinha aos alemães, empenhados nos Estados Unidos da Europa. E nada de esquecer que foi ali que Freitas do Amaral rompeu com o partido que fundou…

E agora?, quando tem que ser o embaixador de Madrid a vir dizer que não existe o mercado ibérico, mas antes dois mercados na Península Ibérica: o português e o espanhol?

Agora, foi Barroso à Finlândia procurar apoios para uma frente da “Europa dos pequeninos”, preocupação sincera do primeiro, mas que peca por tardia. Porque agora bem nos valia que a rendição fosse à Alemanha e não a Madrid, porque aqui a distância sempre conta.

Diversificar dependências

Ninguém tem dúvida, em Portugal, apesar do peso do partido espanhol em Lisboa, que seria sempre melhor dependências diversificadas, que a tutela dos castelhanos. Mas eles já compraram, não me esqueço do que fizeram. Portugal e Espanha já não têm qualquer questão, porque eles simplesmente já compraram…

E o problema não são os espanhóis, eles mesmos, nossos vizinhos, bem mais animados que o burgo lusitano. A questão é a da autonomia dos nossos centros de decisão e do peso específico do país no concerto da União Europeia. Porque se a direcção-geral de um banco ou de uma empresa for em Madrid, a decisão é lá tomada, e se fosse em Paris ou Berlim, provavelmente a organização seria outra.

Já não vamos a tempo de proclamar a independência.. Já perdemos o comboio da autonomia, e resta, apenas, a Lisboa, a gestão das dependências, naquilo que ainda sobra. E o que sobra é a Caixa Geral de Depósitos, o BCP, o BES e o BPI, a Soporcel e a PT.

Não há um problema de produtividade em Lisboa

Já não vamos a tempo de competir com a centralidade dos países de Leste que aderirão à União Europeia. Mas temos que abandonar o discurso da competitividade e da produtividade como factor vital de sucesso do país, porque, a bem dizer, não temo um problema de competitividade, mas vários problemas.

Porque Lisboa está bem acima da média da UE, com apenas três milhões e meio de habitantes a produzirem mais de 50% do PIB, ou seja, mais de 65 mil milhões de euros, contra o resto do país, com problemas de subdesenvolvimento gritantes. Ou seja, captar investimento estrangeiro para o Alentejo, Trás-os-Montes ou o Algarve pode justificar-se, mas torna-se um absurdo em Lisboa, uma capital ao nível do mais desenvolvido do mundo, com os seus típicos problemas de exportação de poupança e de miscigenação cosmopolita.

E este cosmopolitismo trouxe a Portugal a imigração da África, do Brasil e do Leste europeu, acentuadamente nos últimos anos, o que veio viciar as estatísticas, até porque nesta fase eles aumentam sempre mais que o produto, que a dividir pela população, e por hora de trabalho, obviamente dão a imagem irrónea de que a produtividade do país está a diminuir.

Ora, bem pelo contrário, temos boas razões para acreditar que a produtividade nacional está a aumentar, não fora a imigração, que pouco valor acrescentado traz, porque praticamente destinada a serventes da construção civil, à limpeza das habitações ou à manutenção da agricultura de subsistência, que garante os “hobbies” pastorais dos portugueses ainda recém-urbanizados, e se medida em Lisboa.

Se o primeiro vector de uma estratégia de autonomia tem que passar pela diversificação das dependências da economia e da sociedade portuguesa, a pedagogia política para consumo interno tem que passar pelo entendimento pois o que falhou foram os factores de coesão nacional e não o desenvolvimento de Portugal.

E é isso que explica que, apesar dos tempos difíceis que vivemos, provocados pela irresponsabilidade socialista e pelo fundamentalismo contabilista, os empresários começam a achar que Portugal vale a pena, faltando-lhe não o estudo da competitividade por sectores a nível nacional, que aliás Porter já fez, mas antes o levantamento das assimetrias regionais, onde o problema se coloca.

O que choca é exactamente o amadorismo como os poderes públicos estão a actuar, a incompetência de quem aconselha o primeiro-ministro. E como estratégia complementar há que ter em atenção a reforma institucional da União Europeia. E lamento que também, nesta matéria, Barroso não esteja a ser ajudado.

Porque obviamente não vale de nada estar contra a Europa do directório, uma realidade já decidida e, aliás, já paga pela Alemanha e pela França.

Criar um Senado Europeu

O que sobra aos pequenos países é a exigência do aprofundamento do federalismo na União Europeia, da mesma maneira que há seis anos a crítica ao federalismo era a oposição razoável para que os equilíbrios se mantivessem. Os esforços de Guterres em Nice foram a sua morte política para a Europa, mas também a do sonho de influência dos pequenos, numa Europa de iguais, onde ainda se sonhava com o espaço de intervenção autónoma dos Estados-membros.

Agora a escassos meses do alargamento e da nova Constituição da Europa, a maneira de combater o directório que imporá aos restantes Estados-membros os seus interesses na nova Europa é através da exigência da organização de um Estado federal europeu, com uma clara divisão de poderes entre os diversos órgãos.

E o que os pequenos países vão ter que propor e impor com a força de quem convictamente defende uma Europa federal unida, como espaço de afirmação de liberdade e de democracia, é que exista um Senado Europeu, onde todos os 25 Estados-membros estariam representados em pé de igualdade, com competências inalienáveis em matéria de direitos, liberdades e garantias, orçamental, de fiscalidade, de defesa e de relações externas (imigração e sanções a países terceiros), para além do decidido entre os grandes no jantar Chirac-Schroeder (que o Parlamento Europeu eleja a Comissão Europeia, com poderes mitigados e que o Conselho Europeu escolha o presidente do Conselho, com poderes alargados), combinando assim a legitimidade democrática (controlada pelos grandes partidos europeus, como o PPE e o PSE) do Parlamento Europeu, com a vontade do directório dos grandes países na Conselho Europeu.

Três legitimidades na Europa

Os pequenos países já não vão conseguir alterar as decisões da Alemanha e da França, pelo que será pura perda de tempo o que Barroso anda a fazer. Agora, e Barroso não tem culpa disso, resta apenas aceitar o que está decidido e avançar, com um discurso político ainda mais firme para a Europa federal.

É a única maneira que temos de dar a volta ao texto e ainda ter algum peso no contexto da nova Europa. O Senado traduziria a legitimidade da Europa das nações e ficaria com o verdadeiro poder legislativo na União Europeia. O Parlamento representaria a Europa dos cidadãos e escolheria o presidente da Comissão, uma espécie de primeiro-ministro com poderes mitigados.

E, finalmente , o Conselho Europeu daria a componente intergovernamental e seria o responsável pela escolha do presidente e do ministro dos Negócios Estrangeiros e da Defesa, que seria a verdadeira liderança executiva da Europa, num modelo semipresidencialista, mais próximo do presidencialismo francês que do parlamentarismo alemão.

Portugal tem agora, nesta véspera do alargamento, um momento, que pode ser o seu momento, depois da credibilidade acrescida que as contas de Ferreira Leite garantem (já que servem para pouco mais que isso mesmo). Portugal não tem mais oportunidade para experimentar ministros incompetentes e que andam a aprender com os erros. Barroso sabe disso, e ainda que a sua agenda política interna não justifique uma remodelação no curto prazo, pelo menos deveria ter a responsabilidade de se rodear melhor…

PS mantém confiança em vereadora suspeita de peculato

O líder do PS/Algarve mantém a confiança política em Nídia Amaro, a vice-presidente da autarquia de São Brás de Alportel a quem a Inspecção Geral da Administração do Território (IGAT) acusa de ter utilizado meios da autarquia em proveito próprio, o que levou a oposição a questionar a relação entre a vereadora e o partido.

João Nascimento, do PSD, questiona os dirigentes rosas, perguntando se ainda mantêm a confiança política em Nídia Amaro, depois da IGAT ter “comprovado que esta tinha utilizado a sua influência de autarca, para que o pai desfrutasse de electricidade paga pelo erário público na construção da sua habitação”, tendo o relatório seguido já para o Tribunal Judicial de Faro.

José Apolinário, líder do PS do Algarve, refuta as acusações, visto que “a vereadora, para clarificar a situação, apresentou um pedido de suspensão do mandato”. Para além do mais, “aquilo de que ela é acusada no relatório da IGAT – peculato de uso – tem agora que ser confirmado pelo Ministério Público”.

O líder dos socialistas algarvios refere ainda que quem fez uso indevido da electricidade “foi o pai”, e revela desconhecer com exactidão os contornos do processo, e que terá sido Nídia Amaro a solicitar à professora responsável pela escola, o uso da energia.
“Sobre os contornos exactos não sei responder”, disse, acrescentando que são “as autoridades judiciárias a quem compete apurar os factos”.

Ainda assim, Apolinário não deixa de referir que se está a “falar de uma bagatela e de valores irrisórios”, já que a factura de energia da escola referente aos dois meses em que alegadamente foi praticado o crime, restringe-se a cerca de 3500 escudos. Por isso, é de opinião que o PSD está a querer fazer um aproveitamento político dum facto sem grande importância: “Penso que o PSD não tem espaço para fazer deste, um caso político.

O PSD está enganado sobre esta matéria, porque estamos a falar de quantias irrisórias, embora do ponto de vista ético, podemos discutir se há ou não culpa”.
Pedro do Carmo

Autarcas do PSD sob suspeita

“Não escondo que as situações que têm vindo a público envolvendo personalidades do PSD sob suspeita causam um óbvio incómodo.” – disse ao SEMANÁRIO um membro da Comissão Permanente do maior partido do Governo.

O PSD está numa situação de expectativa. Entende que a lei deve ser cumprida e que as autoridades judiciais devem fazer o seu trabalho, com eficácia e com rapidez, de modo a que tudo possa ficar esclarecido.

“Não há inquietação, mas há incómodo. Tomara o Partido que nada disto ocorresse, nem no PSD, nem em qualquer outra formação política” – uma afirmação de um membro da Comissão permanente dos social-democratas que, ao mesmo tempo se manifestou preocupado com “a publicidade mediática em volta de casos que ainda não estão totalmente averiguados, o que, através de fugas, sempre mal explicadas, dá azo a indesejáveis julgamentos na praça pública.

É preciso, para bem da democracia, evitar espectáculos públicos, sobretudo, insisto, quando as investigações ainda não estão totalmente constituídas. Os linchamentos públicos são inadmissíveis” – concluiu a nossa fonte.

Enquanto isto, o SEMANÁRIO sabe que o PSD continua a manter contactos, a nível distrital e local, com diversos membros do Governo, fazendo-o discretamente e no âmbito da sua actividade política normal. Algumas fontes reconhecem que “é invulgar a presença do ministro dos Negócios Estrangeiros nas sessões partidárias, mas que a actual digressão de Martins da Cruz se justifica plenamente, tendo em conta a necessidade de o Partido conhecer com detalhe a evolução da política europeia, neste fase final da atribuição dos Fundos Comunitários a Portugal e também da evolução dos trabalhos da Convenção Europeia”.

No que diz respeito à actividade governativa, nos bastidores do PSD, a maior parte dos ministros merece nota positiva. “Há um impulso reformista que se nota em quase todo o lado e isso é positivo” – opinião de um antigo ministro social-democrata, hoje sem funções políticas. Este dirigente vê com bons olhos as reformas que estão a ser levadas a cabo na Educação, no Ensino Superior e na Saúde.

Como pontos fracos aponta “o caos que se vive no ambiente” que coloca em risco a continuação de Isaltino de Morais. “Note que eu disse ambiente e não refiro as Cidades, já que, em matéria de descentralização o Governo não tem andado mal.” explicou a mesma fonte, para quem “A justiça também é um sector vulnerável e na Administração Interna tardam as reformas”.

Esta crítica surge na altura em que o Governo decidiu em Conselho de Ministros fundir a Protecção Civil com o Serviço Nacional de Bombeiros, que é considerada pelo actual Governo como uma grande reforma, no dizer de um dos seus mais importantes ministros.

Sabe-se entretanto que, Valente de Oliveira esteve reunido há algumas semanas com a direcção do Instituto de Estradas de Portugal, tendo revelado a decisão de um corte de 15% de obras públicas que estavam programadas para o ano em curso. O que explicaria, para alguns alguma desmotivação e cansaço do ministro das Obras Públicas.

Também correm rumores que Ferreira do Amaral, mais dia menos dia, pode voltar ao Ministério que já ocupou no tempo de Cavaco Silva.

Turismo em crescimento

Num outro sector, o da Economia, Carlos Tavares revelou ontem que “o crescimento sustentável” do turismo português passa pela elaboração de “um programa integrado e coerente que dê aos agentes económico um sinal inequívoco sobre as grandes opções de desenvolvimento do sector em termos de ordenamento e ambiente, áreas e produtos prioritários; política de formação dos recursos humanos, infraestruturas de apoio, transportes e política de promoção”.

Carlos Tavares revelou que esse “programa pluridisciplinar é um objectivo do Governo a lançar em breve, em estreita articulação com os agentes empresariais privados do sector”.

O ministro da Economia disse, também que hoje, sexta feira será assinado um protocolo entre a RTP, o ICEP e a ANRET para a emissão de 48 programas sob o tema descobrir Portugal.