2025/06/25

Aproximação entre Rio e Menezes com Gomes da Silva número dois

A eleição de Luís Filipe Menezes em finais de Setembro passado e os acontecimentos subsequentes até esta data (discussão do Orçamento do Estado, eleições na distrital de Lisboa e nos Açores, declarações do novo líder) estão a provocar grandes alterações no PSD, umas já visíveis e outras mais subtis, mas não menos importantes. Nos últimos dias, Menezes aproximou-se de Rui Rio; Arlindo de Carvalho foi o pivot da vitória de Carlos Carreiras na distrital de Lisboa; e Rui Gomes da Silva consolida a sua posição como n.º 2 do PSD, cada vez mais próximo do líder, sem descolar da amizade que mantém com Santana Lopes, num notável jogo de equilíbrio político

“No tempo de Marques Mendes, a Comissão Política reunia muitas vezes sem quórum, registando muitas faltas. Com Luís Filipe Menezes tem sido rara a reunião deste órgão em que não estejam presentes a esmagadora maioria dos seus membros. Foi o que aconteceu no Porto, onde apenas não estiveram o vice presidente Duarte Lima e Feliciano Barreiras Duarte, por razões imperiosas de natureza pessoal. Uma das vedetas da reunião foi Costa Neves, por ter ganho as eleições directas nos Açores renovando assim o seu mandato à frente do PSD daquela Região Autónoma.” – revelou ao SEMANÁRIO uma fonte próxima da actual liderança.
Após a reunião da Comissão Política Nacional do PSD, no Palácio da Bolsa do Porto, para afirmar o principio da descentralização, Luís Filipe Menezes deu uma conferência de imprensa e, já noite cerrada reuniu-se num jantar volante com todos os principais dirigentes do PSD da Área Metropolitana do Porto, incluindo Presidentes de Câmara eleitos nas listas do partido. Estiveram todos à excepção do autarca de Valongo, Fernando Melo, que terá invocado razões de saúde para não comparecer.
Entre os presentes neste encontro salientam-se duas figuras incontornáveis: Rui Rio, presidente da Câmara do Porto e uma das verdadeiras reservas políticas do partido, e Aguiar Branco, efémero ministro da Justiça do Executivo Santana Lopes e que chegou a ponderar concorrer à liderança do PSD, mas que não formalizou a sua candidatura, deixando espaço para o confronto entre Filipe Menezes de Marques Mendes. Não sem antes ter anunciado o seu distanciamento com algumas criticas aos então candidatos nas directas de 28 de Setembro.
São conhecidas as rivalidades, até agora situadas sobretudo no plano meramente autárquico entre Menezes e Rui Rio. Foram públicas algumas quezílias, alguns remoques recíprocos mas, em boa verdade nada com especial gravidade. Quando Marques Mendes anunciou eleições antecipadas no PSD, tendo como causa imediata a derrota do Partido nas intercalares de Lisboa, ainda se esboçou um movimento em torno da candidatura de Rui Rio, que este fez abortar de imediato, declarando que o seu compromisso até 2009 é com a população do concelho do Porto, onde foi eleito nas últimas autárquicas com maioria absoluta, cumprindo agora o seu segundo mandato. Sem ter mergulhado na campanha eleitoral, Rui Rio deu um sinal de apoio a Marques Mendes, num longo almoço a dois, com direito a fotos e imagens televisivas.
Por tudo isto, não foi sem surpresa que se assistiu, no referido jantar a uma longa conversa entre o novo líder do PSD e o presidente da Câmara do Porto. “Embora as pessoas circulassem livremente para falar umas com as outras – o jantar foi volante e relativamente rápido por causa da hora tardia e porque os membros da Comissão Política tinham que regressar a suas casas – foi dado um espaço mais ou menos reservado para que Rio e Menezes conversassem à vontade”. A informação foi dada ao SEMANÁRIO por um dos participantes nesse encontro. A mesma fonte acrescentou que ambos “manifestaram vontade de cooperarem politicamente nos grandes temas em que o PSD se vai envolver, quer em estratégias próprias, quer no combate ao governo de José Sócrates”. Parece haver um principio de boa fé nesta aproximação, tanto mais que Rui Rio se tem assumido cada vez mais como um crítico à actuação do actual governo socialista. Uma outra fonte disse-nos que “Rui Rio e Menezes pensam pela sua cabeça, são ambos do PSD e estão ambos interessados em ajudar o partido a voltar ao poder. Menezes ganhou uma legitimidade indiscutível e Rio é um dirigente respeitado e um valor político que o PSD não pode desperdiçar”. Está assim consumada uma aproximação política, que, para muitos não era previsível em tão curto espaço de tempo. É certo que há no PSD quem entenda que a aproximação é meramente táctica e de conveniência recíproca, coisa, aliás, que não contraria o que aqui se revela. Uma fonte, que não morre de amores por Rui Rio, disse o seguinte: ” A divergência entre Menezes e Rio é genética. O calendário de Rio pode ter sido destruído pela vitória de Menezes. Esse calendário previa que Rio ainda pudesse ser líder para as legislativas, ou, em última análise com o novo ciclo político que se abrirá com as legislativas de 2009. Falhado esse objectivo (?!…) a Rio só resta ser candidato a terceiro mandato pelo Porto Por isso, a haver aproximação dos dois, é porque isso convém aos dois, mas cada qual tem a sua própria interpretação do modo como essa aproximação serve os interesses políticos de cada um…”.
A presença de Aguiar Branco também parece relevante nesta reunião. Pelo menos indicia uma vontade de se integrar na estratégia política que vai ser desenhada por Luís Filipe Menezes. As fontes do SEMANÁRIO confirmam um desejo recíproco que assim venha a acontecer.

Rui Gomes da Silva

Eleito segundo vice-presidente da Comissão Política Nacional, imediatamente a seguir ao “patriarca” Luís Fontoura, cedo Rui Gomes da Silva fez notar a sua influência junto de Luís Filipe Menezes. Não é, por acaso que isso acontece. Há muitos anos que Rui Gomes da Silva anda na política portuguesa, adquiriu por direito próprio uma posição destacada e individual no firmamento laranja, apesar de nos últimos anos se lhe ter colocado o rótulo de lugar tenente de Pedro Santana Lopes, tão íntima tem sido a colaboração política entre ambos. No último executivo do PSD, Rui Gomes da Silva foi o braço direito de Santana Lopes, foi ele que desencadeou uma reacção contra Marcelo Rebelo de Sousa, foi ele que fez pontes e suportou os incómodos das sucessivas crises que houve até à dissolução do Parlamento pelo então Presidente da República Jorge Sampaio. Activo no Congresso que elegeu Marques Mendes, soube distanciar-se dessa liderança sem nunca ter recusado as colaborações que lhe eram pedidas. Foi dos primeiros a perceber – e a dizê-lo publicamente – que o PSD não ia bem com Marques Mendes e que isso impunha a eleição de um novo líder. Não hesitou a afirmar o seu apoio a Filipe Menezes prevendo a sua vitória sobre Mendes ainda sem este ter convocado eleições. Fê-lo, aliás, num artigo que assinou no SEMANÁRIO. Houve um tempo de aproximação intensa entre Gomes da Silva e Menezes e na campanha das directas pode dizer-se que este advogado, que ainda não atingiu o meio século de vida, foi uma pedra angular, um dos alicerces da vitória do autarca de Gaia. Por isso não surpreendeu que Menezes o tenha chamado para a Comissão Permanente, fazendo dele vice-presidente. Há vários meses que Gomes da Silva é um dos próximos conselheiros de Menezes, que aproveita assim o excelente relacionamento e os contactos privilegiados que ele tem na chamada sociedade civil. Na realidade, a pouco e pouco, Gomes da Silva consolida a posição de verdadeiro número dois do partido.
O interessante é que Gomes da Silva mantém intacta a sua relação com Pedro Santana Lopes, o que é compreensível, mas, a pouco e pouco podem vir ao de cima alguns distanciamentos subtis.
Por razões de táctica política, Luís Filipe Menezes mantém uma cooperação com Pedro Santana Lopes, entre outras razões porque se trata de alguém que se candidatou e ganhou as eleições para a liderança do Grupo Parlamentar. “O líder parlamentar não é nomeado, é eleito e não há nada a fazer” – disse ao PSD um elemento da Comissão Política Nacional, que acrescentou: “O apoio dos santanistas foi decisivo para vitória de Menezes e portanto este não podia afastar liminarmente o antigo primeiro-ministro. Mas essa relação está a ser gerida com pinças… e podem mesmo detectar-se alguns sinais, no sentido de demonstrar que Menezes não está refém de Santana Lopes. Prova disso é a iniciativa de Menezes de afastar o líder parlamentar das reuniões da Comissão Permanente, onde tem formalmente assento, nos termos estatutários”. Com efeito, Santana Lopes esteve na primeira reunião da Comissão Permanente, depois da sua eleição como líder Parlamentar, mas ali ficou decidido que, de futuro se faria representar por um dos vice-presidentes, ora Patinha Antão, ora Pedro Pinto.
Este facto, pode ser desvalorizado, quer por Menezes, quer por Santana mas a verdade é que a ausência do líder parlamentar do principal órgão de estratégia política do PSD representa uma diminuição objectiva do seu estatuto político. Porventura, em termos oficiais dir-se-á que vai tudo como “Deus com os anjos”. A realidade dos factos permite lançar uma dúvida a essa perfeição. E essa dúvida pode ampliar-se, a pouco e pouco, rombo aqui, brecha acolá, até a um confronto público ou a uma tensão latente e invisível. Mesmo que Santana Lopes tenha feito, como parece ter feito mais do que uma vez, um verdadeiro “preito de vassalagem” a Luís Filipe Menezes. Aguardem-se os desenvolvimentos.

Arlindo de Carvalho “ganha” Lisboa

Tal como o SEMANÁRIO relatou na sua edição anterior, confirmaram-se as previsões de vitória de Carlos Carreiras nas directas para escolher o novo líder da Comissão Distrital do PSD de Lisboa. Actual vice-presidente da Câmara de Cascais, Carlos Careiras sobe na hierarquia partidária a um lugar que ambicionava há muito, já que fora adversário, na altura derrotado, de Paula Teixeira da Cruz, nas eleições antecedentes para o mesmo cargo.
O antigo ministro de Cavaco Silva e hoje membro da Comissão Política Nacional, Arlindo de Carvalho, ele próprio também antigo líder da distrital de Lisboa, foi um dos principais obreiros desta vitória. Ocupando, tradicionalmente, um papel específico no conjunto das estruturas dirigentes do PSD, a Distrital de Lisboa tem sido caracterizada por alguma irreverência e até por iniciativas políticas com forte impacto na vida interna do PSD.
Arlindo de Carvalho conseguiu, por um lado, que os dois candidatos em presença – Carlos Carreiras e Helena Lopes da Costa – fizessem um pacto de não agressão, aliás escrupulosamente cumprido por ambos. A seguir conseguiu o que parecia inimaginável: Congregar apoios para Carlos Carreiras de todas as tendências do PSD, que há bem pouco tempo se confrontavam violentamente entre si – os menezistas, os mendistas e os santanistas. E esse é um dado muito relevante a ter em contra em futuras transformações que poderão ocorrer no mandato de Carlos Carreiras. Imagine-se: Até um célebre militante chamado Marcelo Rebelo de Sousa aguardou na rua, até de madrugada, e sempre animando um pequeno grupo de pessoas, junto à concelhia de Cascais, pelo apuramento do resultado final e ao que parece se congratulou com a vitória de Carlos Carreiras.
O novo presidente da distrital de Lisboa deverá permanecer no seu cargo autárquico, mas deixou isso ao critério do “patrão” como chamou a António Capucho numa iniciativa durante a campanha eleitoral. Como se sabe, Capucho é o presidente da Câmara de Cascais, havendo já algumas iniciativas discretas no sentido de o convencer a recandidatar-se a um terceiro mandato. Tal não estava nos seus projectos, deverá aguardar-se algum tempo. O próprio Carreiras pode ser uma hipótese para substituir António Capucho.

Paula Teixeira da Cruz assume oposição interna

A pouco menos de dois meses da eleição de Menezes para liderança do PSD, praticamente desapareceram os adversários internos de Luís Filipe Menezes. Pelo menos em termos públicos. O novo presidente do partido convocou para o dia 4 de Dezembro uma reunião conjunta dos membros dos muitos governos do PSD. O pretexto é homenagear, de forma diferente, a memória de Sá Carneiro, o principal fundador do partido. Contudo, se o convite for aceite pela esmagadora maioria de ex ministros, secretários e subsecretários de Estado, Menezes teve o mérito de convocar uma espécie de Cortes do PSD, aparecendo rodeado de um conjunto de notáveis do PSD. “Uma espécie de beija mão colectivo” – desabafava ao SEMANÁRIO um ex governante social democrata.
Contudo, existe neste momento um rosto que se assume como oposição a Luís Filipe Menezes. Por ironia do destino, Paula Teixeira da Cruz ocupa agora a coluna de Opinião no Correio da Manhã que foi de Menezes durante bastante tempo. Ao “Poder da Coragem” sucede-se agora a coluna da ex líder da distrital de Lisboa chamada “Da Vida Real”. E no artigo de hoje, Paula Teixeira da Cruz entra “a matar” contra Luís Filipe Menezes, como se pode depreender dos seguintes dois seguintes parágrafos dessa prosa: “Foi Luís Marques Mendes quem primeiro ergueu a bandeira política anti-Ota, sublinhando a desproporção da “coisa, pelo que o actual líder do PSD – oposição ao anterior líder do PSD – clamou pela Ota e desejou longa vida à Ota ( tinha sempre que dizer o contrário do anterior líder, alguém lho garantira)”
“Agora – escreve Teixeira da Cruz – ouvimos ao actual líder do PSD: “Se está decidido que é a Ota, não vale a pena fazer as pessoas perder tempo e gastar dinheiro” O actual líder quer fazer da Ota um facto consumado?”
Na parte final deste seu artigo, Teixeira da Cruz é contundente: “O actual líder do PSD manifestou-se contra os pactos (lembram-se?). Mesmo os necessários para a estruturação do regime ou para impedir a funcionalização da justiça. Mas bons, bons, importantes mesmo, não são os pactos sobre a Justiça ou a Segurança Social, bons são os pactos de cimento, rebaptizados pelo líder do PSD de acordos parlamentares”
“O pacto dos patos – conclui – lançaria sobre todos os empresários sérios e qualificados a dúvida injusta e descansaria os que não devem ser descansados. E aí, nós, feitos patos outros, pagaríamos a conta. Gente gira”.
De momento em termos políticos, este afrontamento contra Luís Filipe Menezes não colhe quaisquer dividendos. Como não rendeu muito no inicio, tempos atrás, ao próprio Menezes. Foi no “Correio da Manhã”, que Menezes muitas vezes afrontou Marques Mendes, com críticas sibilinas e muito violentas e a pouco e pouco foi subindo ao ponto de se dizer que aquela coluna foi um dos trampolins usados por Menezes para chegar onde está hoje. Teixeira da Cruz vai seguir, no mesmo local, um caminho igual. O futuro dirá se com resultados parecidos quando voltar a chegar uma hora de mudança…

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