Meneses com santanistas, Marques Mendes com os barrosistas, António Borges à espreita, juntamente com Manuela Ferreira Leite e os marcelistas. Aparentemente a correlação de forças está definida e pende, com maioria significativa para Luís Marques Mendes. Mas, está ainda por testar a “força da terceira via”, isto é, a adesão, muita ou pouca que vai merecer dos Congressistas a moção de estratégia global, de que é primeiro subscritor o prof. António Borges.
O Congresso
de Pombal é, formalmente, uma carta fechada. Tudo está a ser polarizado em torno de uma disputa entre Luís Marques Mendes e Luís Filipe Meneses, as sondagens apontam uma favoritismo claro para o antigo ministro de Cavaco Silva e de Durão Barroso. Ambos fizeram as respectivas campanhas eleitorais junto das bases, os TSD’S promoveram um debate conjunto na sede do PSD, esta semana e, com base nisto tudo, ambos tinham a expectativa de serem as grandes “estrelas” dessa magna reunião social democrata. Há hostes arregimentadas, “espingardas” contadas, apoiam que se pedem, contactos que se estabelecem e, para coroar o debate interno, as votações para os novos dirigentes.
O Congresso não tem determinismos pré fixados, porque os delegados não são eleitos com base na fidelidade ou na adesão a qualquer documento programático. Esta é uma dificuldade para os candidatos a líder, aliás insuperável e que faz sempre dos Congressos algo imponderável, na expectativa, em que o PSD tem sido fértil ao longo da sua existência, de surpresas que ocorram à boca de cena, isto é, no palco dos acontecimentos.
Foi assim que, dando voz aos rumores cada vez mais insistentes em certos meios do PSD, o Diário de Notícias de sábado passado – dia em que é usual o Expresso se vangloriar-se das “cachas”, que sobre esta matéria não trouxe um “cheirinho sequer – revelava que António Borges seria o primeiro subscritor de uma moção de estratégia global a apresentar ao Congresso de Pombal. Nessa altura o mesmo Jornal citando António Borges acrescentava que ele não seria candidato à liderança demonstrando assim alguma vulnerabilidade política, que se foi acentuando ao longo dos últimos dias de Março. Ficava a saber-se que em torno de António Borges estavam figuras com peso no imaginário laranja, com destaque para Leonor Beleza, Aguiar Branco, Rui Rio e Alexandre Relvas. De revelação em revelação, sabia-se que Silveira Botelho, antigo chefe de gabinete de Leonor Beleza estava a tentar mobilizar apoios e estaria a coordenar as contribuições diversas para o documento final. Comentário imediato de um recém ex membro do Governo: “Silveira Botelho é igual a Leonor Beleza, e esta igual a Marcelo Rebelo de Sousa, concluindo-se, portanto, que, à primeira vista é o ex-líder o grande patrocinador desta iniciativa, ou seja, no congresso haverá um conjunto de congressistas que poderão ser apelidados de uma ala marcelista”.
Mais uma vez, nestas coisas do PSD, volta a surgir, de alguma maneira o “fantasma” de Cavaco Silva. Porquê? Porque alguns dos nomes da moção desta eventual “terceira via” para retomar a designação original, têm uma ligação directa com o antigo primeiro ministro e, agora o mais desejado candidato presidencial.
O terreno de actuação é algo pantanoso, porque a implantação e apoios de Marques Mendes estão inseridas no mesmo espaço e até no mesmo pensamento estratégico em que se movem as individualidades sonantes que gravitam em torno de António Borges.
O papel de Ferreira Leite
Manuela Ferreira Leite é, neste contexto, uma personagem chave, que vai a Pombal carregada com uma carga enigmática que até agora não foi possível decifrar com clareza. Desde logo se ela está disponível para ter um protagonismo essencial no Congresso, já que, por parte de Marques Mendes há toda a receptividade, como o SEMANÁRIO revelou há algum tempo, para oferecer a Manuela Ferreira Leite o lugar na estrutura dirigente do PSD que ela quiser. Nesse sentido, tem-se falado na presidência da mesa do Congresso, na primeira vice-presidência do Partido ou como nº 1 do Conselho Nacional.
Só que…nestes últimos dias tem corrido uma informação, não desmentida – mas também ainda não publicada com a clareza com que agora o faz o SEMANÁRIO – de que Manuela Ferreira, que concorreu e foi eleita congressista, se disporia a fazer um discurso apelando à mudança, um meio termo entre as teses de António Borges e as de Marques Mendes. E se esse discurso inflamar o Congresso, poderia ser o ponto de partida para a afirmação da tal terceira via. Não está ainda claro, pelo menos nalguns espíritos – ouvimos duas versões distintas – se Manuela Ferreira jogará para ser líder, com base na moção de António Borges, ou se o Congresso permitir esse avanço se será o próprio Borges a apresentar a sua candidatura no quente dos acontecimentos.
Tudo visto e conferido, parece ser lícito dizer que há quem vá ao Congresso à espreita de uma oportunidade de afirmação.
Conhecendo-se o perfil de Manuela Ferreira Leite parece difícil enquadrá-la num qualquer jogo partidário em termos de poder interno e é também por isso que devem encarar-se com alguma reserva, as informações nesse sentido, tanto mais que ela fez afirmações que, bem vistas as coisas, redundam em apoio a Marques Mendes. E não coaduna com o referido perfil da ex-Ministra assumir-se como mandatária de quem quer que seja, António Borges ou outro qualquer dirigente. Aliás, há alguma curiosidade em saber quem é que vai defender a moção de António Borges, no acto da sua apresentação. O próprio? Ferreira Leite? Leonor Beleza, Aguiar Branco? Rui Rio? Para que a moção tenha o impacto que os seus autores desejam não se vê mais ninguém além daqueles nomes citados.
Os Congressos do PSD têm sempre um enorme, influente e por vezes determinante factor emocional que os transformam em verdadeiras caixas de surpresas. Parece pouco provável que alguma enorme surpresa ocorra em Pombal. A última surpresa em Congressos laranja, ocorreu ali bem perto, na Figueira da Foz, há quase vinte anos. Resultou da “conspiração” silenciosa de uns quantos dirigentes que planificaram a tomada de poder interno, com o protagonista principal que foi Cavaco Silva. Talvez seja, ou comece a ser tempo de desmistificar, por completo a história da rodagem do carro de Cavaco Silva, porque a verdade das coisas não se compadece com essa trama.
Desta vez, também, muitas e influentes pessoas, no presente e no passado recente do PSD debateram silenciosamente o estado do partido, a partir da saída de Durão barroso para Bruxelas e das confusões em que Pedro Santana Lopes se envolveu e que, na opinião desses dirigentes, não só conduzia, como conduziu, o PSD a uma derrota humilhante nas legislativas, como era imperativo trabalhar para o dia seguinte, ou seja, para encontrar a alternativa para conduzir o partido nos dias difíceis de Oposição que o esperam nos próximos tempos. Há 20 anos a situação era diferente, pugnava-se pela rotura do Bloco Central e esperava-se que o PSD fosse de novo, como foi, o vencedor das eleições subsequentes. Hoje, do que se trata é de reposicionar o PSD na sua matriz ideológica e procurar responder com a doutrina social democrata aos novos problemas do mundo, em geral e da sociedade portuguesa em particular. Esses dirigentes, que conspiraram no silêncio foram, em boa verdade discretos, na medida em que não tendo apoiado, também não assumiram atitudes e ataque. É, por isso, exagerado dizer-se que eles são contribuintes líquidos da maioria absoluta alcançada pelos socialistas. Quando muito, vão confrontar-se com a agressividade da ala liderada por Luís Filipe Meneses e pelos santanistas que assumirem essa condição. Surpresa seria se a terceira via saísse vitoriosa de Pombal. Não o sendo, António Borges e os seus aliados tenderão a diluir-se no apoio, mais ou menos caloroso a Luís Marques Mendes que não enjeitará dar a alguns lugares de certo relevo na sua própria equipa. O mesmo, aliás, que fez Durão Barroso ao próprio Marques Mendes.
Além disso, ainda que o horizonte de Oposição seja para o PSD de quatro anos, o tempo da legislatura, há motivos de esperança para os dirigentes que forem eleitos em Pombal: Nunca como hoje foram tão fortes as probabilidades de ser eleito um Presidente da República oriundo das fileiras do partido. E as eleições autárquicas não vão constituir uma derrocada para o PSD, segundo todas as previsões, incluindo as do PS, nas palavras bem recentes (há dois dias) de Jorge Coelho. Com efeito o PS até pode ter um somatório de votos superior ao do PSD, mas é quase certo que os social democratas terão um resultado muito superior ao das eleições de 20 de Fevereiro. Além disso, não parece lógico prever que os socialistas ultrapassem o PSD em número de lideranças de Câmaras. Quanto a Lisboa e Porto, provavelmente ( os dados podem alterar-se até lá), o PS, coligado com o PCP e o Bloco de Esquerda, ganha Lisboa, enquanto que o Porto manterá a liderança da Câmara do Porto. Ou seja, na noite das eleições autárquicas, lá mais para o fim do ano, pode acontecer que os dois maiores partidos possam, ambos ter legitimidade para se considerarem vitoriosos. A ver vamos
“Barrosistas” com Marques Mendes
O Governo de Santana Lopes foi uma coligação forçada entre os homens de confiança de Durão Barroso e os amigos do peito daquele quase efémero primeiro ministro. Estes últimos causaram a Santana Lopes muitos dissabores, como os que envolveram Rui Gomes da Silva ( caso Marcelo Rebelo de Sousa e a sua saída da TVI) ou Henrique Chaves que se demitiu bruscamente, poucas horas depois de ter mudado de pasta. Nas horas de borrasca por que passou o Governo anterior foram, de certo modo, os barrosistas que aguentaram os respectivos impactos. Mesmo com reservas, sobretudo por parte de Morais Sarmento o relacionamento dos homens de confiança de Durão Barroso com o seu sucessor foi sempre de “grande lealdade e de frontalidade objectiva”, para utilizar as expressões de um deles, confiadas ao SEMANÁRIO há já algum tempo.
No Congresso de Pombal, não haverá nenhum grupo organizado que se reclame como herdeiro político de Durão Barroso, mas lá estarão os mais destacados barrosistas, como Nuno Morais Sarmento, José Luís Arnaut e Miguel Relvas e, embora um pouco mais descomprometido, Vítor Cruz, líder do PSD Açores e encarado por alguns como potencial líder da bancada parlamentar do PSD após o congresso ( apesar de correr a informação que o candidato mendista a tal lugar é o ex secretário de Estado Miguel Macedo). Aliás, no palco, enquanto decorrer o Congresso, estarão sentados todos estes e outros elementos que fazem parte da direcção política cessante, incluindo Rui Rio que, para todos os efeitos é o primeiro vice-presidente. Já aqui se referiu que uma outra incógnita relevante do Congresso de Pombal é saber o que é que vai fazer Pedro Santana Lopes. Vai aparecer, ou optar pela ausência? Fará o discurso político inaugural com o balanço da hecatombe e das actividades do PSD, quase em jeito de testamento político, e depois retira-se dos trabalhos, ou fica até ao fim? Ninguém sabe, ou quem saberá, ainda não o disse a ninguém até ao fecho desta edição.
Um importante apoiante de Durão Barroso ao longo dos últimos anos disse ao SEMANÁRIO o seguinte: ” O Marques Mendes foi um excelente ministro de coordenação política do Governo de Durão Barroso. A contestação ao seu discurso feita por Nuno Morais Sarmento no Congresso de Barcelos, foi muito conjuntural e fruto das circunstâncias. Por isso, com realismo e sem ambicionarmos quaisquer cargos na nova equipa dirigente, o natural é que os barrosistas, assim impropriamente chamados, acabem por manifestar apoio à liderança de Luís Marques Mendes. É o mais lógico”
Ontem ao começo da noite, Marques Mendes e Luís Filipe Meneses gravaram um debate que a SIC-Notícias vai transmitir no sábado. Os dados estão todos lançados e, repete-se, se a surpresa não chegar, como parece difícil, começou a contagem decrescente para que Luís Marques Mendes seja o futuro líder da Oposição. Meneses terá o seu prémio de consolação – a defesa que faz da eleição directa do líder pelos militantes retomou o seu caminho e é uma questão que Marques Mendes não poderá tornear a médio prazo. Não há outra alternativa aliás, depois da eleição, por esse método, de José Sócrates.