O Banco Espírito Santo registou resultados líquidos de 487,8 milhões de euros nos primeiros nove meses deste ano, um valor que se situou 60% acima do registado no período homólogo e ligeiramente acima das estimativas dos analistas. Em comunicado divulgado através da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), o BES explica esta evolução com o crescimento de 17,5% do crédito a clientes e de 14,5% dos recursos totais de clientes. Já Ricardo Salgado, CEO da instituição, subinhou que, espera “num futuro próximo que haja uma desaceleração do crescimento dos resultados”. Por outro lado, garantiu que o banco não está a estudar uma aquisição sobre o BCP, nem sobre qualquer outro banco: “O BES não estuda aquisições.”
Apesar da crise dos mercados financeiros, o BES revelou ontem que teve, nos primeiros nove meses deste ano, um resultado líquido positivo de 487,8 milhões de euros, ou seja, uma subida de 60% acima do registado no período homólogo.
Por isso mesmo, Ricardo Salgado precisou: “O banco continua a apresentar um crescimento que em linha com os trimestre anteriores mas o efeito da quebra de confiança nos mercados dos EUA e Europa não podiam deixar de afectar toda a gente. Vamos assistir a uma desaceleração”.
Sobre a hipótese de rever os objectivos do plano estratégico devido à actual crise financeira, garantiu que informaria “o mercado se as coisas não correrem como o esperado”, adiantando que “esta crise não está passada e pode demorar de seis meses a um ano”. Assim, os objectivos do plano estratégico até 2010 “são hoje um desafio maior do que há três meses”.
Em comunicado, o BES adianta que excluindo os factos não recorrentes verificados no segundo trimestre, os resultados ter-se-iam elevado a 450 milhões de euros nos primeiros nove meses do ano, um aumento de 48% face ao registado no período homólogo. No primeiro semestre os lucros tinham aumentado mais de 80%.
O banco voltou assim a superar as previsões dos analistas, uma tendência recorrente nos últimos trimestres.
O BES assinala que o crescimento da actividade foi assentou numa “forte dinâmica comercial”, destacando o crescimento de 17,5% no crédito a clientes, enquanto os recursos verificaram um aumento de 14,5%. Destaca ainda o negócio internacional, com o crédito a crescer 43,4% e os recursos a aumentarem 22,1%.
O produto bancário comercial aumentou 15,2% para atingir os 1,183 mil milhões de euros e produto bancário (que inclui os resultados de operações financeiras) subiu 23,6% para 1,52 mil milhões de euros. O banco realça a subida de 15,3% nos resultados financeiros, para 708,4 milhões de euros e das comissões que aumentaram 15%.
No mercado de capitais, o banco precisa que apesar da “turbulência verificada nos mercados financeiros”, os resultados desta área de negócio aumentaram 65,3% em termos homólogos.
Ainda acerca da crise no crédito que assolou os mercados no Verão, o BES adianta que o banco “tem mantido prudentes níveis de excedentes de liquidez o que, num ambiente de crise financeira internacional, minimizam os riscos de impacto na sua actividade”.
Adianta que apesar da crise conseguiu diminuir o esforço de provisionamento de 0,51% para 0,47%, citando “a selectividade da política de crédito e controlo dos riscos”.
O BES efectuou provisões de crédito no valor de 147,4 milhões de euros, acima dos 130,4 milhões de euros verificados no período homólogo, embora o peso tenha diminuído. “A redução da carga de provisões para crédito é consistente com a progressão da qualidade dos activos que se tem traduzido numa sistemática redução dos rácios de sinistralidade”, refere o banco.
O BES adiantou que o peso do crédito vencido há mais de 90 dias no crédito total reduziu-se para 1,03%, quando em Setembro de 2006 a sinistralidade era de 1,21%.
Já a cobertura (relação entre as provisões e o crédito vencido há mais de 90 dias) situou-se em 222,4%, acima dos 207,9% do período homólogo. A margem financeira acumulada desceu 4% para 1,81%, uma queda que o banco explica com três factores: forte concorrência no crédito à habitação; novas regras implementadas pelo Governo, como os arredondamentos nas taxas de juro; e a adopção, com a crise do subprime, de uma estratégia mais prudente na gestão das aplicações monetárias, canalizando para os prazos mais curtos os excedentes de liquidez.
Os custos operativos totalizaram a 689 milhões de euros, o que representa um aumento de 4,8%, que o BES diz estar “muito influenciado pelo comportamento da área internacional (incremento de 11,3%), com os custos da actividade doméstica a apresentarem um crescimento de 3,6%”. Para o aumento dos encargos em Portugal, o banco destaca o investimento na rede que se traduziu, no corrente exercício, em 40 balcões novos e 36 remodelações de balcões antigos.
Apesar da subida dos curtos, o “cost to income” voltou a melhorar, baixando para 58,2% até Setembro, face aos 62,9% verificados em 2006. A rendibilidade dos capitais próprios (ROE) situou-se nos 17,9%, acima dos 14,7% verificados em 2006. A rentabilidade dos activos (ROA) subiu de 0,81% para 1,07%.
Os rácios de capital do Grupo “apresentam-se em níveis confortáveis”, com o rácio Core Tier I e o rácio de solvabilidade total a atingirem, respectivamente, 6,7% e 11,8%, ou seja, “níveis consideravelmente acima dos mínimos recomendados pelo Banco de Portugal.
“Fusão entre BCP e BPI não terá sucesso”
Ricardo Salgado afirmou ontem, na conferência de imprensa de apresentação dos resultados, que o banco não está a estudar uma aquisição sobre o BCP, nem sobre qualquer outro banco: “O BES não estuda aquisições. O banco está sempre disponível para continuar a sua solidificação, mas não temos nenhuma iniciativa para adquirir este ou outro banco”.
Ricardo Salgado referiu ainda que a estratégia do BES é de crescimento e que, “por isso, vão reforçar a posição em Espanha”. A propósito adiantou: “Estamos sempre prontos para encontrar soluções para crescer no nosso país desde que façam sentido, mas não tomaremos iniciativas para adquirir o BCP”.
E terminou: “Se juntássemos os nosso balcões aos do BCP, ficávamos com balcões à frente uns dos outros e iríamos alienar balcões.”
Já em relação à possível fusão BPI/BCP diz que não acredita no seu sucesso.
“Chegámos ao fim em termos de concentrações. Uma eventual Oferta Pública de Aquisição (OPA) do BPI sobre o BCP não terá sucesso”.
O mesmo responsável acrescenta, ainda, que com uma possível fusão, “o maior banco privado português passaria a ser detido por estrangeiros e perderia o centro de decisão nacional”, defendendo que o País ficaria a perder se o BCP fosse detido por bancos estrangeiros: “O país perde se um banco detido por banco estrangeiros vier a controlar o maior banco privado português”. No entanto, para o caso do seu banco em particular, Ricardo Salgado acredita que poderia ter vantagens: “O BCP perde porque há um banco (BPI) que é detido maioritariamente por estrangeiros. Se estes vierem a controlar o BCP, seria mau, mas podia vir a ser bom para o BES”.