O mercado começa a estar saturado da novela do BCP. Os accionistas estrangeiros querem qualquer acordo rápido, que dê uma ilusão de que o banco estabilizou e leve as acções aos 4 euros de novo. Para poderem vender. Fora de questão está qualquer esquema blindado que desvalorize ainda mais acções, numa altura em que os analistas já começam a apontar para próximo dos três euros o preço da acção. Como se isso não bastasse, os principais protagonistas nacionais estão bastante endividados. A começar na Teixeira Duarte e a terminar em Joe Berardo, todos têm consciência que as execuções podem começar na terça-feira. A banca estrangeira que os apoiou, contava com acções acima dos quatro euros, valor que, depois desta guerra, ninguém atribui ao BCP.
O último paradoxo desta crise é o peso que o BPI acabou por ter na decisão. Tendo subido para 7,2% a sua posição – comprou mais um por cento recentemente – o que, na Assembleia Geral, corresponde a 10%, já que estão representados cerca de 72%, o banco que o BCP tentou “opar” no último ano é quem decidirá se ganha a Teixeira Duarte ou Paulo Teixeira Pinto, já que será impossível praticamente qualquer acordo para a mudança dos estatutos sem o seu consentimento.
Erro dos protagonistas, que não impediram o seu concorrente de ter uma posição que lhe permite desestabilizar o BCP por dentro, continuando assim a desnatar o maior banco nacional e a crescer à custa da instabilidade interna do BCP.
Um paradoxo tanto maior, porquanto o Banco de Portugal não permite ao BPI estar no Conselho de Administração do BCP, mas, na prática, o banco controlado pelos espanhóis da La Caixa de Barcelona e pilotado por Fernando Ulrich pode decidir o modelo de governo do concorrente e, em último momento, a escolha dos próprios membros do Conselho de Administração.
Tudo começou com a intriga de Baião Horta – por causa do despedimento do seu genro por Paulo Teixeira Pinto do BCPI – e que continuou com a tentativa de alteração dos estatutos por parte de Jardim Gonçalves, derrotado na Assembleia de Maio. Depois, em vez de se entenderem, e como resposta, Paulo Teixeira Pinto acabou por juntar apoios seus – em alguns casos com gente pouco recomendável – e permitir excessos – como a tentativa de destituição de membros do Conselho de Administração afectos a Jardim Gonçalves e a apresentação de uma lista aos órgãos sociais, excluindo totalmente o fundador e os seus homens.
Foi tudo longe de mais. Mas, o banco tinha, em dois anos, aumentado para o dobro a sua capitalização bolsista e estava limpo por dentro, resolvidos todos os problemas financeiros e buracos contabilísticos que vinham da grande crise de há cinco anos atrás.
Acordo e estratégia de avanços pequenos
Depois de uns dias de férias, toda a gente parece perceber a sensibilidade do mercado. Em primeiro lugar, “não há pachorra” para esta telenovela de “prima-donas”, que ainda por cima nem são donas do banco – que pertence aos accionistas – ou que estão tão endividados que, com as cotações a caírem, acabam por não ter nenhuma liberdade de voto. Em segundo lugar, os grandes accionistas querem sair, quer os estrangeiros, que não gostam da confusão, quer os nacionais, que estão totalmente endividados e que podem enfrentar a falência nos próximos meses.
Subitamente, o acordo passou a ser uma necessidade. E, por isso, os nomes ficaram para já de fora. Começa-se pelo acordo sobre o alargamento do Conselho Geral e de Supervisão, entrando novos elementos e diluindo, apesar de tudo, lentamente o peso do fundador, sem verdadeiramente resolver nada de fundo, apesar da importância do órgão no governo do banco.
O segundo passo a dar será o da revisão dos estatutos. Não será um regresso ao passado, mas um alargamento do conselho de administração, que passará a incluir representantes dos accionistas nos seus órgãos, e a ter um conselho executivo mais pequeno e operacional.
O acordo relativamente aos estatutos, ainda que adquirido desde já, não estará em cima da mesa nesta Assembleia Geral, que apenas aprovará o alargamento do CGS e a nomeação dos novos membros.
Ao que o SEMANÁRIO apurou, as partes conseguiram ontem acordar que, no mínimo, serão propostos quatro novos candidatos ao CGS, dois representantes de investidores institucionais e dois independentes. EDP e Fortis deverão avançar com dois nomes, enquanto os independentes deverão ser António de Sousa e Alberto de Castro, o ex-governador do Banco de Portugal e o professor de Economia do Porto, que integravam a lista inicialmente apresentada pelos investidores que apoiam Paulo Teixeira Pinto.
Só depois do acordo sobre os estatutos é que deverão ser nomeados os novos membros dos órgãos sociais, incluindo eventualmente o afastamento de alguns dos protagonistas.
Teixeira Pinto negociou apoio do Sabadell
A contagem de votos foi necessária para fazer avançar o acordo do CGS e dos estatutos. Segundo fontes próximas do presidente do Conselho de Administração do banco, se a reunião fosse hoje, seria forte a probabilidade de ser aprovado o alargamento do Conselho Geral e de Supervisão, referiam os jornais de ontem.
Este alargamento – de onze pessoas para 24 – teria como principal consequência o esvaziamento do poder de Jardim Gonçalves no órgão que fiscaliza os actos de Paulo Teixeira Pinto. Os estatutos do BCP atribuem ao presidente do Conselho Geral e de Supervisão, entre várias faculdades, a capacidade de assistir às reuniões do Conselho de Administração. Ou seja, permitem a Jardim manter a mão e algum controlo em toda a gestão do banco.
Para conseguir a maioria dos votos na assembleia quanto a este ponto (o sétimo da ordem de trabalhos), as mesmas fontes indicam que Teixeira Pinto está a negociar o apoio com vários accionistas e que estes contactos desenvolvidos nos últimos dias – alguns deles ontem mesmo – já poderão ter dado frutos. Como? Garantido o apoio de 34,8% dos votos, deixando para Jardim Gonçalves 32,9%. Ou seja, a maioria dos accionistas que irá à AG estaria, agora, do lado de Paulo Teixeira Pinto quanto ao ponto 7. Neste grupo, encontram-se os fiéis de sempre – Joe Berardo, Manuel Fino, Sonangol, Fortis, Moniz da Maia e Pereira Coutinho – mas também a EDP, presidida por António Mexia, que manteria, neste cenário, a intenção de votar a favor do alargamento. Surpreendentemente, também o Banco Sabadell estaria agora neste lote de teixeiristas. Ora, aqui recomeça a guerra de informação.
Segundo fontes próximas de Teixeira Pinto, o Sabadell estará mesmo disponível para mudar os seus 4,5% de acções para o lado contrário a Jardim Gonçalves. Os contactos entre o banco espanhol e Teixeira Pinto, de acordo com a mesma fonte, estarão avançados, apesar de não estarem ainda concluídos. Sobre a mesa, estará a redacção do ponto da ordem de trabalhos que dará corpo, na assembleia, ao texto para alargamento do Conselho Geral. A forma como será redigido esse ponto é considerado determinante pelo Sabadell, para desertar do lado de Jardim Gonçalves e para dar um empurrão que poderá revelar-se determinante para o desfecho da votação.
Do lado de Jardim Gonçalves a tese é desacreditada e posta em causa. Segundo estas fontes, as contas de Teixeira Pinto estão erradas. Erradas porque são genericamente incorrectas e pouco precisas e, mais importante, porque dão como certo o apoio do Sabadell – apoio esse que, nesta altura, é tudo menos garantido.
De acordo com esta fonte, existe um pacto de honra entre o presidente do Sabadell, Josep Oliu, e Jardim Gonçalves, pacto esse que garante a Jardim o apoio dos espanhóis na Assembleia geral de segunda-feira e noutras circunstâncias. No entanto, a mesma fonte admite que não pode garantir que o Sabadell votará mesmo ao lado de Jardim. Vale a pena recordar que o banco não esteve nem se fez representar na AG de 6 de Agosto, apesar de, desta vez, já ter dado os passos institucionais para que, agora, isso aconteça.
Segundo fontes próximas de Teixeira Pinto, a flexibilidade do presidente do Conselho de Administração do banco para discutir os vários cenários está a ser bem recebida pelos accionistas. Fonte próxima de Jardim relativiza este argumento e sublinha que, até agora, o fundador do banco continua tranquilamente à espera da AG, visto não ter mudado nada de realmente substantivo nos últimos dias.
O que não mudou foi a posição da Caixa Geral de Depósitos. Apesar da vontade em ajudar a resolver o diferendo, procurando o consenso entre os accionistas, não é claro como o banco de capitais públicos votará, designadamente se apoiará ou não o alargamento do Conselho Superior.
Gestão fica como está
Até a próxima Assembleia Geral que aprove os estatutos agora negociados entre as partes, o Conselho de Administração do BCP vai voltar a funcionar como até aqui, não havendo razões para que não funcione, disseram ao SEMANÁRIO fontes próximas do líder do banco. Alípio Dias e Filipe Pinhal continuarão a assegurar a frente comercial do banco de Christophe de Beck continuará com o Crédito e o Corporate, mesmo depois da sua prestação no caso da informática da última Assembleia Geral.