É absolutamente injusto que os alunos
do continente precisem de melhores médias
do que os alunos dos Açores e da Madeira,
como acontece hoje.
As candidaturas ao ensino superior, sobretudo para os cursos cuja média exigível é muito elevada, constitui uma saga inacreditável num país moderno e europeu. Há qualquer coisa errada no sistema que pode bloquear a vida dos jovens para todo o sempre e ser responsável objectivo por percursos fracassados. Não é possível bloquear o acesso a Medicina a alunos com média superior a 17, mas isso acontece em Portugal, e não acontece, que se saiba em qualquer outro país da União Europeia. É ver o que se passa em Viena de Áustria, na vizinha Espanha, em Londres, na República Checa, na França, para citar os casos de recurso a que os alunos oriundos de famílias com algumas posses são confrontados em cada ano, pela impossibilidade dos filhos – excelentes alunos – não poderem entrar em Medicina, às vezes por escassas décimas de valor. E entretanto o país está invadido por médicos de várias nacionalidades, sobretudo espanhóis e brasileiros, por carência de médicos portugueses.
Nestas questões do ensino superior, são pouco claros os critérios de avaliação, mesmo que sejam rigorosos, porque são desconhecidos dos alunos. Há dias, uma professora de Biologia fazia a seguinte declaração ao pai de uma aluna que procurava averiguar se era possível “puxar” umas décimas ao quinze que obtivera no exame: “Vê-se que ela sabe toda matéria, utiliza a linguagem científica, mas tem pequenas omissões que contam para o avaliador.” O que é isto?!…
O sistema de avaliação está tão desregulado que se permite a entrada de alunos para certos cursos superiores com notas mínimas, a rondar o dez, até com notas negativas, abaixo de dez: ou seja, para os excelentes alunos, o critério é apertadíssimo quando se pretende tirar Medicina ou cursos afins. Para os alunos médios ou fracos, o critério é laxismo total, sendo que os respectivos cursos não devem ser para formar licenciados da treta, passe a baixeza da expressão…
Acresce ainda que os contingentes específicos de alunos que entram na Faculdade com notas mais baixas do que as exigíveis ao grosso dos alunos também parece inacreditável: tenho respeito por quem faz alta competição, mas não compreendo que entre em Medicina – é o exemplo paradigmático, mas podia ser outro curso – com dois ou três valores de média a menos que os restantes alunos. O mesmo se diga para os elementos das Forças Armadas. Ou, outro exemplo tristíssimo, para os residentes nas Regiões Autónomas. É absolutamente injusto que os alunos do continente precisem de melhores médias do que os alunos dos Açores e da Madeira, como acontece hoje. Boas, razoáveis ou más notas não são um custo de insularidade e essa discrepância é, digo isto sem medo das palavras, contrária à unidade nacional. O aluno tem de ter médias iguais em todo o território. Coisa diferente, depois, são os apoios que o aluno deve ter quando é deslocado dos Açores ou da Madeira para o continente para frequentar a Universidade, que não é a mesma coisa de um aluno do Algarve ou de Miranda do Douro…
Estas questões são muito sérias, porque a juventude, sobretudo aquela que se esforça, que é consciente, que tem projectos de estudo e é responsável, representa o futuro de Portugal . Um ano de atraso que seja, para tentar ser ainda melhor e cumprir os seus objectivos, entrar para a Universidade – infelizmente há inúmeros estudantes a ser obrigados a fazer isso – representa prejuízos sem conta para a família, para o estudante e para o País. Ninguém parece dar conta disto. Portugal é um país tristemente conformista, vive espartilhado em alegorias reivindicativas, algumas sem sentido, mas emblemáticas, revolucionárias, e não desencadeia os mecanismos para os combates sociais que valham a pena. O que é que interessa a um professor instalado, que 200 ou 300 excelentes alunos sejam impedidos de entrar na Faculdade, mesmo que tenham médias superiores a 17? Não interessa nada. E para as escolas, e para o Ministério e para o Governo e para os partidos de oposição? E para os sindicatos? Não interessa nada, mesmo nada. Os miúdos e as famílias que se lixem.
É por isso que a Europa, para lá de Vilar Formoso vai avançando e Portugal é cada vez mais uma amostra de País!…|