2025/06/25

“Mário Soares está a ser pressionado e impressionado”

Para o vice-presidente da Assembleia da República e ex-líder da bancada parlamentar do PSD, Guilherme Silva, a saída de Campos e Cunha do Governo representa a perda de credibilidade e assinala que a saída se deve a lógicas “partidárias”. A possível candidatura de Mário Soares é mais um estímulo para Cavaco Silva assumir a candidatura e, como prevê, ganhar a eleição presidencial, como adianta em entrevista ao SEMANÁRIO.

A saída de Campos e Cunha (do Ministério das Finanças) retira credibilidade à política orçamental e financeira do Governo?É óbvio que sim. O prof. Campos e Cunha é um homem com um currículo profissional extremamente relevante, quer em termos académicos, quer em termos de desempenho de funções públicas. Emprestava na área económico-financeira, e em particular nas finanças públicas que tinha a seu cargo, uma credibilidade acrescida. Foi ele que apresentou o Programa de Estabilidade e Crescimento (PEC) a Bruxelas e que mereceu a aceitação por parte da Comissão Europeia. É evidente que a pessoa do ministro Campos e Cunha estava associada a esse programa, como garantia para as instituições europeias e para o País, e deixou de existir. Não há insubstituíveis em nada, muito menos em política, mas as circunstâncias em que se dá a sua substituição revelam a prevalência de uma lógica aparelhística e político-partidária sobre o rigor e a exigência que a situação grave das finanças públicas impõe ao País.

O PSD foi bastante crítico das medidas de Campos e Cunha, nomeadamente com o aumento do IVA. E agora sai em defesa do ex-ministro.
São coisas distintas. Nós não concordámos com o aumento do IVA, mas concordámos a 100% com as medidas de contenção da despesa. O que resulta do PEC é que haveria da parte do ministro uma preocupação com a contenção das despesas e uma preocupação, muito selectiva, em matéria de investimentos públicos.

O novo ministro, Teixeira dos Santos, disse que é para continuar a política de contenção e cortes. É um sinal positivo dado pelo ministro?
Se não for só uma afirmação de princípio e tiver uma tradução prática… Essa afirmação é, do nosso ponto de vista, um tanto contraditória pelo apoio que ele expressou à Ota e ao TGV.

No caso do TGV, o Governo de Durão Barroso já tinha firmado com Espanha, na cimeira da Figueira da Foz, a linha Lisboa-Madrid.
É verdade. Nem nós propomos que haja um abandono do projecto do TGV.

O que propõem?
Nós chamamos a atenção para a necessidade de, num momento de dificuldades, em termos de consolidação orçamental e saneamento das finanças públicas, saber fazer as opções certas em termos de investimento público. Não pomos em causa as eventuais virtualidades do TGV. Mas tem de ser assumido noutro momento que não este. É preciso ter uma política económico-financeira global coerente… O grande problema com que se depara este Governo é que criticaram durante três anos a política da dra. Manuela Ferreira Leite e do dr. Durão Barroso. O Presidente da República também fez coro com essa oposição, quando veio à Assembleia da República dizer que havia “mais vida para além do défice”. Afinal as medidas que se tomaram e que mereceram sempre a reprovação do PS só pecaram por defeito. Dever–se-ia ter ido mais longe. Devia-se ter sido mais exigente. Mais restritivo. E, porventura, agora, não seria necessário ter medidas tão drásticas como aquelas que vão ser necessárias tomar. O PS vendeu sempre a tese de que era possível a consolidação orçamental e contenção das despesas com medidas de “estímulo” à economia. Chamando ao motor desse “estímulo” investimento público. O PS está amarrado a esta tese e quer, a todo o custo, provar que tem razão e é possível.

Concorda com a tese apresentada por 13 economistas que questionam a qualidade do investimento público?
Sim. Há uma ilusão no imediato. Sabemos que projectos como a Ota e o TGV vão criar empregos no imediato, mas numa altura que se precisa de conter a sangria financeira não é esta a opção certa. Eventualmente poderia ser se tivesse um retorno económico. E, aqui, os economistas são unânimes, isso não acontece. Pior. Não há estudos suficientemente aprofundados para justificar estes investimentos.

Com a possível candidatura presidencial de Mário Soares, é possível que Cavaco Silva não aceite ser candidato?
Via com maior gosto e sei que seria importante para o País que o prof. Cavaco Silva se candidatasse. E creio que a eventual candidatura do dr. Mário Soares não pode nem deve ser um óbice a essa candidatura (de Cavaco Silva). Pelo contrário. Deve ser até um estímulo. É um desafio. Eu faria um apelo ao prof. Cavaco Silva para se candidatar. Por várias razões: o momento que vivemos precisa de um Presidente da República (PR) que tenha um conhecimento e uma identificação profunda do País, designadamente na área da economia e das finanças. O dr. Mário Soares ficou conhecido, no longo exercício das suas funções, quer como primeiro-ministro, quer como PR, de ser um político habilíssimo e exímio, mas ser pessoa menos preparada e com menos domínio dos dossiers. O exemplo do prof. Cavaco Silva é exactamente o contrário.

Estamos a falar da eleição do PR e não de um ministro das Finanças.
Estamos a falar num momento em que esse conhecimento e essa preparação, por parte do PR, é extremamente importante. Não é um PR meramente político que nós precisamos nesta ocasião. Precisamos de um político, e o prof. Cavaco Silva demonstrou sê-lo, e, nesta conjuntura, precisamos de um PR que tenha também um conhecimento desses dossiers. Por outro lado, o dr. Mário Soares tem 80 anos. As pessoas que estão à volta do dr. Mário Soares não estão a ser suas amigas. O dr. Mário Soares não merece acabar mal a sua vida política.

Está a prever uma vitória de Cavaco Silva?
A minha convicção é essa. Seria desagradável para o dr. Mário Soares. Ele, melhor do que ninguém, saberá decidir. Ele próprio reconheceu há pouco mais de um mês, quando disse que (uma candidatura) era totalmente impensável. Penso que ele está a ser pressionado e impressionado com a circunstância do PS não ter alternativa forte à presidência.

Se Cavaco Silva não avançar o centro-direita e a direita terão dificuldades em ganhar a eleição?
Naturalmente que há várias figuras da área do centro-direita com capacidades para serem candidatos.

Por exemplo?
Há vários. O prof. Marcelo Rebelo de Sousa, o dr. Mota Amaral…

Alberto João Jardim?
Por exemplo. Não há nenhum obstáculo a que não possa ser. Temos várias figuras com perfil ganhador. Mas, obviamente, que de todo e entre todos, e estes potenciais candidatos reconhecem, aquele que estaria melhor colocado preparado para essa batalha, seja com o dr. Mário Soares, seja com outros candidatos, é, sem dúvida o prof. Cavaco Silva.

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