Os congressos do PSD e do PP ainda têm tudo em aberto. No PP, Paulo Portas tenta fazer tudo para evitar que Maria José Nogueira Pinto ou Pires de Lima avancem para a liderança e façam um partido à sua imagem. A aposta é em Telmo Correia, que se assumirá como líder transitório, pensará Portas, à espera do desejado D. Sebastião, que refundará a direita.
Os congressos do PSD e do PP ainda têm tudo em aberto. No PP, Paulo Portas tenta fazer tudo para evitar que Maria José Nogueira Pinto ou Pires de Lima avancem para a liderança e façam um partido à sua imagem. A aposta é em Telmo Correia, que se assumirá como líder transitório, pensará Portas, à espera do desejado D. Sebastião, que refundará a direita e se apresentará, em coligação com o PSD ou mesmo com uma nova estrutura partidária, às próximas legislativas, ultrapassado que estará, então, o período de graça do Governo socialista.
Neste particular, quer o PSD de Marques Mendes, quer o PP de Paulo Portas, têm o interesse comum de não deixar para já ocupar o óbvio espaço da direita, com um partido de direita, antieuropeu, ou pelo menos com dúvidas, e, sobretudo, nacionalista. O PSD, porque não quer ficar entalado entre um discurso de direita e o discurso europeu e centrista de Sócrates, provavelmente condenado a desaparecer, e Paulo Portas, porque a última coisa que deseja é um CDS/PP que lhe faça o mesmo que ele, Portas, fez a Freitas do Amaral.
Mas o verdadeiro problema do PSD de Marques Mendes é Cavaco Silva. O antigo primeiro-ministro vai necessariamente ser o candidato presidencial do centro. Ou seja, tem todas as condições para ganhar a corrida presidencial, devendo o PS ou não apresentar nenhum candidato presidencial, de modo a garantir a manutenção da legitimidade da actual maioria absoluta no Parlamento, (como, aliás, fez Cavaco Silva, quando permitiu a reeleição de Soares, contra Basílio Horta), ou apresentar um candidato simbólico, para estar presente e controlar o voto à esquerda, mas não causar muito estrago. De todas as opções possíveis de José Sócrates, a menos interessante é aquela, proposta por Jorge Coelho, de acreditar que António Vitorino repete, contra Cavaco Silva, o resultado que José Sócrates teve contra Santana Lopes, indo buscar o centro para a esquerda.
Cavaco exclui o PSD
Cavaco Silva é, aliás, a garantia de estabilidade para o PS. Ele adia necessariamente o regresso da direita ao poder, e passa a ser o contrapoder à maioria absoluta do PS. Mais que se envolver nas questões internas do PSD, como aliás Soares nunca fez enquanto Presidente da República, Cavaco Silva obviamente terá dificuldade em conviver com um governo do PSD que, sistematicamente e ao menor reparo de Belém, o acusará de traição e devolverá a fotografia ao Rato, como fez o CDS ao seu fundador. Ou seja, PSD e Cavaco ocupam o mesmo espaço e limitam-se no poder. E por isso, Cavaco Silva acaba por ser um seguro de garantia para José Sócrates, prolongando, por pelo menos dez anos, o afastamento da direita partidária do poder.
Mas consciente deste problema, Marques Mendes matou o assunto, dizendo que o Congresso não se deve pronunciar sobre Cavaco Silva. O problema estratégico de Marques Mendes poderia, no próximo Congresso do PSD, transformar-se num problema táctico, tendo em atenção a divisão entre cavaquistas e não cavaquistas no partido.
Uma afirmação de apoio do congresso a Cavaco Silva legitimava o contra-ataque de Santana Lopes, denunciando a traição de Cavaco e daria um protagonismo adicional a Santana Lopes, que Marques Mendes tudo fará para atenuar. Por outro lado, o risco do Congresso colocar dificuldades, ou de tentar condicionar a candidatura de Cavaco Silva, abriria espaço para Manuela Ferreira Leite ou António Borges avançarem, exigindo a clarificação do apoio a Cavaco Silva, e dividindo o espaço de Marques Mendes.
Sem o mundo de Durão Barroso, sem o carisma da Ferreira Leite e sem a gestão de imagem de António Borges, Marques Mendes duplica o discurso central e europeu de Sócrates e acaba por diminuir o espaço do PSD, pensarão os seus opositores. Mas o que os opositores sabem bem é que ele, se chegar à liderança do PSD, dificilmente a largará por muitos e bons anos, tapando as ambições da elite partidária. Apenas a discussão do cavaquismo e da candidatura presidencial de Cavaco Silva podem mudar as coisas.
O PSD só pode, responsavelmente, fazer um discurso ao centro, na defesa das reformas que a situação económica e financeira do País exigem e que são essenciais para o País ter sucesso e voltar a crescer. E, nesse sentido, isso significa que o PSD tem pouco espaço de oposição, tendo que esperar pelos resultados da governação socialista.
Assim sendo, sobra, apenas, a questão de Cavaco Silva e das presidenciais; sobra, apenas, espaço para “lamber” as feridas de uma derrota humilhante, onde houve culpados, que o PSD quer esquecer. É esta a grande expectativa do próximo Congresso de Pombal. Pode ser essa a sua história e tudo ficar diferente, na boa tradição de um partido sem ideologia e que, há muito, é um clube de poder decisivo em Portugal…