O Bloco Central voltou a estar esta semana na ordem do dia, depois de uma grande sondagem ter dado o PS mais longe da maioria absoluta, bem como o PSD a crescer, e de Jorge Sampaio também ter apadrinhado a ideia. Esta quarta-feira, o Presidente da República voltou a não fechar a porta a esta solução.
Cavaco continua a não excluir solução
O Bloco Central voltou a estar esta semana na ordem do dia, depois de uma grande sondagem ter dado o PS mais longe da maioria absoluta, bem como o PSD a crescer, e de Jorge Sampaio também ter apadrinhado a ideia. Esta quarta-feira, o Presidente da República voltou a não fechar a porta a esta solução. Ontem, Santana Lopes defendeu que o Bloco Central só é possível sem Sócrates ou Ferreira Leite, em face do antagonismo programático dos dois, nomeadamente, em termos de política de investimentos públicos. No entanto, caso as sondagens se confirmem, a derrota de Sócrates ao não conseguir repetir a maioria absoluta de 2005 e a vitória de Pirro de Ferreira Leite ao não superar o PS podem representar a “salvação” de um e de outro. Sócrates mantendo o poder e Ferreira Leite ganhando o lugar de n.º 2 do Governo.
O Bloco Central é possível? Há quem o dê como garantido, até face às pressões de grandes individualidades nesse sentido. A defesa desta solução por Jorge Sampaio, contra a opinião maioritária do seu partido, é um bom exemplo da sua possível inevitabilidade. Outras altas figuras no PS também podem ter pouco espaço para rejeitar a solução. Mário Soares foi protagonista do Bloco Central, entre 1983 e 1985, e António Guterres foi um homem que teve a sua vida marcada pela necessidade do compromisso político, quando chefiou dois governos minoritários.
No PSD, também são cada vez mais as vozes que abrem as portas a esta solução, ainda que com fortes condicionantes. O presidente do Governo Regional da Madeira, Alberto João Jardim, defendeu esta semana que só admitia um governo do Bloco Central se fosse para fazer reformas profundas no País, designadamente no campo da reforma do sistema político. Nesta edição do SEMANÁRIO, Ângelo Correia também diz que se não for para rever a Constituição, o Bloco Central não vale a pena. Refira-se na próxima legislatura, a Assembleia da República assume poderes de revisão constitucional. No entanto, a maioria das figuras do PSD rejeita liminarmente esta hipótese, ainda que por vezes pareça notório que há razões tácticas e estratégicas que podem estar por detrás destas declarações. A começar logo na própria Ferreira Leite. Na entrevista que deu há duas semanas a Mário Crespo, foi notório que a líder do PSD colocou a hipótese de um Bloco Central. Curiosamente, Ferreira Leite utilizou um registo muito próximo do de Cavaco Silva. O Presidente da República tem feito dos problemas nacionais e das soluções que eles exigem uma tónica nas suas últimas intervenções. Ainda esta quarta-feira, Cavaco voltou a não excluir a hipótese do Bloco Central, isto depois de Ferreira Leite ter rejeitado a ideia, desmentido o sentido que foi dado às suas palavras na entrevista à SIC-Notícias. A líder do PSD sabe bem que, mesmo podendo ter um pensamento próximo do de Cavaco, numa perspectiva de defesa do interesse nacional, não está, porém, em posição de o dizer como líder de um partido que quer tentar ganhar as eleições. Recorde-se que o Presidente da República renovou, esta quarta-feira, o pedido de serenidade na campanha eleitoral, tendo pedido “bom senso” aos partidos, numa altura em que se discutem os cenários pós-legislativas, apelos que caracterizaram a sua intervenção nas comemorações do 25 de Abril. Mas Cavaco foi mais longe, falando do quadro de soluções futuras: “Vivemos um tempo muito difícil no nosso país e os tempos que se aproximam não serão com certeza mais fáceis. Por isso, entendo que nenhuma força política deve ficar de fora na procura de soluções para passar as dificuldades que Portugal vive”, acrescentou o Presidente da República.
Curiosamente, ontem, Santana Lopes, defendeu que o Bloco Central só é possível sem Sócrates ou Ferreira Leite, em face do antagonismo programático dos dois, nomeadamente em termos de política de investimentos públicos. No entanto, caso as sondagens se confirmem, a derrota de Sócrates ao não conseguir repetir a maioria absoluta de 2005 e a vitória de Pirro de Ferreira Leite ao não superar o PS podem representar a “salvação” de um e de outro. Sócrates mantendo o poder e Ferreira Leite ganhando o lugar de n.º 2 do governo. Aliás, no PSD, tal como o SEMANÁRIO referiu na sua última edição, há grande agitação nalguns sectores pelo facto de o PSD de Ferreira Leite aparecer cada vez melhor posicionado eleitoralmente nas projecções de voto. No que se refere às europeias, a última sondagem deu mesmo o PSD a escassos três pontos de diferença de Ferreira Leite. No que se refere às legislativas, a sondagem que foi publicada esta semana dava o PS com 41 por cento, sensivelmente a quatro pontos da maioria absoluta, e o PSD com 34 por cento, em grande recuperação face aos indicadores catastróficos de há dois meses, quando as sondagens davam 23 por cento a Ferreira Leite. Muita gente no PSD estava cada vez mais convencida que Ferreira Leite ia ser “trucidada”, até abaixo dos 20 por cento, e teria que se demitir nas próximas legislativas. Ora, com o Bloco Central, Ferreira Leite vai ficar e pode baralhar as estratégias futuras de muitos putativos candidatos à liderança do partido, nomes como Rui Rio, Pedro Passos Coelho, Morais Sarmento, Aguiar Branco, Alexandre Relvas e mesmo António Borges.
No PS, a manutenção de Sócrates no poder afigura-se pacífica, até porque hoje os socialistas estão com fortes expectativas de que o PS ainda possa ter maioria absoluta. No PS pode mesmo acontecer o contrário do que no PSD, com alguns sectores a quererem que Sócrates aceite governar em Bloco Central. Na verdade, se, por hipótese, Sócrates não aceitasse a solução, António Vitorino podia ser o sucessor quase natural. Só que, “metendo-se” Vitorino, um político ainda muito novo, o “tempo” de António Costa e a primazia do autarca de Lisboa na linha de sucessão de Sócrates, ao ponto de ter estabelecido um pacto geracional com Sócrates, podem estar ameaçados e dar, aliás, origem ao fortalecimento de outras soluções. Para além de Vitorino ser uma incógnita, podendo revelar-se um superprimeiro-ministro, António José Seguro poderia tirar partido de a Sócrates não ter sucedido o homem que era esperado.