2025/06/26

Não há razão para a direita perderpor Rui Teixeira Santos

Não há nenhum eleitor que tenha votado em Durão Barroso que vá agora votar em José Sócrates. Bem pelo contrário, o que assistimos é a uma mobilização extraordinária do CDS/PP, que bem pode permitir que o CDS/PP vá buscar votos suficientes para tirar deputados ao PS, por exemplo, em Coimbra ou em Viana do Castelo.

Não há nenhum eleitor que tenha votado em Durão Barroso que vá agora votar em José Sócrates. Bem pelo contrário, o que assistimos é a uma mobilização extraordinária do CDS/PP, que bem pode permitir que o CDS/PP vá buscar votos suficientes para tirar deputados ao PS, por exemplo, em Coimbra ou em Viana do Castelo. E basta isso para que o PS não tenha a maioria absoluta. A única questão agora prende-se com o PSD. Os cabeças de lista abandonaram a campanha, ficando em palco apenas Santana Lopes. (Em boa verdade eles eram todos terceiras figuras, pelo que até pode ter funcionado a favor. Veremos.)
É verdade que o poder não se conquista. O poder perde-se e o que a direita fez foi, exactamente, tudo o que pode para perder o poder: desde Cavaco Silva a Marcelo Rebelo de Sousa, de Pacheco Pereira a Freitas do Amaral, todos fizeram tudo o que podiam e sabiam para que o PSD perdesse estas eleições, no que foram acompanhados pela generalidade de imprensa e da opinião publicada e televisiva. Os governos da AD foram maus e, muito pior, é o desânimo que tomou conta do PSD e dos militantes do PSD nesta campanha. É inexplicável que os cabeças de lista não tenham feito campanha, certos que os seus lugares estavam assegurados. Só que alternativa é o transformismo, o jogo táctico de um guterrismo reciclado e sem soluções, que não entusiasma o País também.
Aliás, o síndroma transformista atacou também nos jornais, num misto de perda de dignidade e de valores, que tornou opaco o regime político. Já se tinha percebido isso com o Presidente da República. No próximo domingo à noite o mesmo Presidente terá definitivamente deixado tudo na mesma ou, pior ainda, contribuído para a falência deste regime político. E o efeito acaba por ser contrário ao pretendido, porque transforma em concreta a vitimização que caracterizou a campanha do PSD, tornando evidente que nada foi coincidência.
É este sentimento de excesso e de jogada traiçoeira que torna improvável que o eleitorado que votou antes no PSD vá agora votar no PS. Já ninguém vai atrás de Marcelo Rebelo de Sousa ou mesmo de Cavaco Silva, depois das cenas dos últimos capítulos. Não é possível julgar, e o eleitorado não o fará, um Governo com quatro meses, por muito mau que tenha sido e por muito inábil que tenha sido a sua comunicação. Por isso mudar não faz sentido, e o eleitorado não sente que pudesse ter melhor. A alternativa é a instabilidade e a instabilidade, neste contexto, significa transformar o País num casino e em dois banqueiros, repetindo a lamentável abordagem do conde de Burnay, em vésperas do colapso da monarquia constitucional. Isso só significaria que os ricos ficariam mais ricos à custa do empobrecimento das classes médias e do endividamento do País (que obviamente os banqueiros agradeciam). E, quanto mais pobre e mais provinciano o País fosse (os banqueiros são mais provincianos do que eram os militares que voltaram para os quartéis, ou que os políticos que falharam e destruíram o Regime Democrático), mais os banqueiros estariam defendidos da concorrência externa que não apareceria, e do futebol à comunicação social, da energia ao abastecimento de água, tudo passaria pela banca e ou pelos seus protegidos.
Há que ter consciência que, não havendo qualquer possibilidade do PS ter maioria absoluta, se não houver uma maioria de centro-direita, o País entra numa espiral de instabilidade que apenas novas eleições legislativas poderão pôr cobro.
Só que a interrupção da legislatura só pode, por imperativos constitucionais, ser feita depois de 20 de Novembro de 2006, ou seja, daqui a cerca de dois anos. Nos próximos seis meses a nova Assembleia não pode ser dissolvida, depois, nos últimos seis meses de mandato do Presidente Sampaio, este perde os poderes de dissolução e finalmente o novo Presidente da República, a ser eleito em Janeiro de 2006, só tomará posse depois de 20 de Março do próximo ano, o que significa que só terá poderes constitucionais para dissolver o Parlamento depois de Setembro, pelo que as eleições antecipadas só poderiam ser marcadas para fins de Novembro ou Dezembro de 2006.
E sem Governo, ou com Governos frágeis e instáveis (primeiro o PS sozinho, depois o PS com o apoio do PP, depois ainda o ensaio à esquerda e finalmente o Bloco Central para aguentar as coisas até às legislativas antecipadas), o poder cairia nas únicas instituições da sociedade civil que funcionam e que ganham com a crise e com o endividamento do Estado e o descontrolo das contas públicas, ou seja, os bancos.
E nesse sentido, parece cedo para que isso aconteça. Parece mesmo insignificante a “entourage” de Pedro Santana Lopes. O eleitorado do PSD até gosta do primeiro-ministro, mas pode ser tentado a dar um voto de protesto contra os Morais Sarmento, os Relvas, os Arnauds, os Aguiar Brancos e toda a gente que o circunda e que só faz perder votos. Só que esses são eleitos de qualquer modo (eis uma das perversidades desta democracia) e se o centro-direita não tiver a maioria, a instabilidade política será também a expressão da falência dos políticos e, portanto, o governo dos banqueiros.
Por muito interessante que seja para o filósofo político a discussão à volta da falência do regime democrático, o certo é que a sua reforma em estabilidade tem-se mostrado mais compatível com o crescimento económico e com o enriquecimento dos países. Se repararmos, toda a Europa, ao contrário de Portugal, tem mantido uma enorme estabilidade política, pelo simples facto que não há nenhuma razão para mudar de Governo e não há alternativas no quadro europeu às políticas actuais. Este realismo explica por que é que Blair vai para o terceiro mandato, por que é que Schroeder vai ganhar as próximas legislativas, ou por que é que Aznar apenas perdeu as eleições em Espanha por causa do atentado de Atocha no 11-M.
E no caso português há ainda uma razão adicional que prejudica substancialmente o PS: os partidos da esquerda, como o Bloco de Esquerda, e, sobretudo, o PCP, com este espantoso líder, Jerónimo de Sousa, conseguem estar a crescer ou pelo menos conseguiram estancar o crescimento do PS à esquerda, o que dificulta muito a vida ao líder do PS. Sem poder crescer à esquerda e com o eleitorado do centro sem vontade de votar no PS, ainda que a “burrice” da elite política da direita a tenha feito entrar num inexplicável processo de autofagia, os socialistas correm o risco de ter criado na comunicação social expectativas demasiado elevadas, que façam do resultado do próximo domingo sempre um mau resultado, prejudicando definitivamente a possibilidade de um governo minoritário. Acresce ainda a falta de credibilidade, num contexto de instabilidade política, do Presidente da República, cuja legitimidade já não servirá para sustentar nenhuma solução política que não tenha clara sustentabilidade parlamentar.
É, por isso, que a direita ainda pode ganhar as eleições de domingo.

Deixar uma resposta

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *