1 – Os árbitros vão voltar a ser nomeados, acabando de imediato o seu sorteio para os jogos. Eis a decisão histórica que os dirigentes do nosso futebol tomaram esta semana!
É um facto que o argumento dos dirigentes da arbitragem de que “os melhores árbitros devem dirigir os jogos mais difíceis” traduz uma evidência. Mas é igualmente verdade que o que tem minado a credibilidade do futebol são as suspeições que permanentemente pairam sobre ele.
E foi precisamente por existirem inúmeras e nalguns casos fundadas dúvidas sobre isenção e independência dos árbitros e dos seus dirigentes que se acabou com as nomeações e se adoptou o sorteio.
O que se passou então que levou a alterar o procedimento existente?
Os dirigentes da arbitragem são outros? Os árbitros passaram a ser todos incorruptíveis? O sorteio era falseado?
A resposta a estas questões é evidentemente negativa.
Estamos, pois, em minha opinião, perante um lamentável e gritante erro dos dirigentes do futebol.
Ao preferir a institucionalização da suspeição que caracteriza as nomeações em detrimento da aleatoriedade do sorteio, os nossos iluminados dirigentes deram um autêntico tiro na, já de si debilitada, credibilidade do futebol.
Se com o sorteio as dúvidas sobre a seriedade dos árbitros já eram generalizadas pode imaginar-se o que vai suceder agora.
A mínima dúvida sobre qualquer lance mais polémico vai imediatamente dar origem à acusação de que o árbitro se vendeu ao adversário.
Em vez de se procurar anular os focos de conflito, o que se fez foi potenciá-los.
O sorteio não resolvia todos os problemas? É evidente que não. Mas também é evidente que não os aumentava, como vai ser agora o caso com as nomeações.
Esta decisão dos dirigentes do futebol, pressionados pelos dirigentes da arbitragem, pelos vistos sedentos de recuperarem o poder que já tiveram, ficará certamente na história pela negativa. Nem o argumento de que noutros países com um futebol mais poderoso se faz assim, ou que nas competições internacionais o procedimento também é o mesmo, me parece suficiente para ultrapassar a questão básica da suspeição. Eu diria antes que o que é preciso fazer é, também nessas situações, introduzir o sorteio e quanto menos condicionado melhor.
Ou já alguém se esqueceu do que se passou no último Mundial na Coreia, por exemplo, com o afastamento da Espanha no jogo com a equipa da casa?
Ou dos jogos para as competições europeias que metam equipas italianas contra equipas portuguesas?
Ou do penalty assinalado contra a Rússia no estádio da Luz, a castigar o derrube do Chalana a quatro metros da grande área, do qual resultou o apuramento de Portugal para o Europeu de França?
Ou desta situação, e daquela, e daqueloutra? São tantas que nem vale a pena referi-las.
Uma correcção final. O poder de nomear os árbitros não convém só aos seus dirigentes. Convém também aos dirigentes dos organismos em que se integram. Os exemplos atrás citados são disso exemplo.
O que está por detrás de tudo isto são sempre interesses económicos. Desde a corrupçãozinha de um fiscal de linha para não ver um fora de jogo, à necessidade de apurar a Coreia do Sul para as meias-finais do Mundial realizado precisamente naquele país, tudo gira à volta do dinheiro.
Haja pois a lucidez de diminuir a sua influência recorrendo ao aleatório. Caso contrário, a ideia de que o futebol é fértil em corrupção vai vingar, vai crescer e vai conduzir inevitavelmente à sua total descredibilização. Depois de totalmente descredibilizado, é certo que o seu futuro não será brilhante.
2 – O Sporting conseguiu, embora a muito custo, vender Quaresma. Com o dinheiro realizado procedeu a algumas aquisições, reforçando a equipa principal, que apresentava sérios indícios de envelhecimento e de falta de qualidade nalguns lugares-chave. Pode assim dizer-se que criou as condições mínimas para poder voltar a assumir-se como um candidato credível ao título.
Pelo caminho deixou os benfiquistas em estado de choque, pois foi buscar precisamente os jogadores que eram dados como certos no Benfica. Há mesmo quem diga que, para reforçar o lugar de defesa esquerdo, dada a sofrível qualidade de Rui Jorge, o Sporting aguarda ansiosamente pela indicação do Benfica quanto ao jogador que gostava de contratar.
Curiosa é, no mínimo, o que se pode dizer da reacção dos “notáveis” dirigentes do Benfica ao justificarem o falhanço da contratação de Silva, Ricardo e Polga. Alegaram os referidos “notáveis” que estas contratações não se enquadravam na política de rigor financeiro e de recuperação da instituição. Muito bem.
Mas então o que aconteceu nas últimas duas épocas quando foram contratados Roger, Nuno Gomes e Simão Sabrosa, por milhões de contos?
Ou, já esta época, como se enquadra a compra de Ronald Garcia, suplente do Alverca, por trezentos mil contos, com a anunciada política de contenção e recuperação económica e financeira?
Não havia rigor financeiro e agora passou a haver?
O Benfica estava financeiramente pujante e de repente ficou arruinado?
Em que é que ficamos?
Perante a incoerência e contradição dos argumentos utilizados face a repetitivos comportamentos anteriores, é caso para dizer, recorrendo à sabedoria popular, que “a carapuça é para quem a enfia”.