2025/07/03

Será o tudo ou nada na corrida às legislativas

É o debate do ano. A líder do PSD, Manuela Ferreira Leite, e o líder do PS, José Sócrates, têm amanhã, encontro marcado, com todos os portugueses, na SIC. O país vai parar. Espera-se uma audiência superior a três milhões de espectadores.
Será o tudo ou nada, na corrida a São Bento.

É o debate do ano. A líder do PSD, Manuela Ferreira Leite, e o líder do PS, José Sócrates, têm amanhã, encontro marcado, com todos os portugueses, na SIC. O país vai parar. Espera-se uma audiência superior a três milhões de espectadores.
Será o tudo ou nada, na corrida a São Bento. Com o eleitorado de centro indeciso, quanto ao seu sentido de voto, amanhã não se discutirá apenas medidas e políticas governativas. Joga-se sim a vitória ou a derrota nas legislativas de 27 de Setembro.

Para o PS, Sócrates não pode perder. Se perder, poderá comprometer definitivamente, a reviravolta no marcador dos votos, dissipando para o BE, à esquerda, e para o PSD, à direita, os votos dos indecisos.
Para o PSD, o paradigma é outro. Ferreira Leite tem, obrigatoriamente, de ganhar o debate se pretender manter a curva global ascendente nas intenções de voto, e claro, as aspirações à vitória.
José Sócrates e Ferreira Leite não vão, definitivamente, deixar munições nos bolsos por gastar. Amanhã estará em jogo, a vitória nas legislativas. E os líderes dos dois maiores partidos nacionais, PS e PSD, sabem disso.
Sabem também, que durante 60 minutos, mais que nunca, vão estar sob o escrutínio, e em directo, de seguramente, mais de três milhões de espectadores (ver caixa).
Cabe agora saber o que é cada um dos líderes prepararam para a noite de Sábado.
Conhecidos os programas dos dois partidos será possível fazer uma antevisão, aproximada, daquilo que será o debate de amanhã.
Os temas mais quentes serão, certamente, as obras públicas e o controlo da despesa pública.
De um lado, José Sócrates, apostado em levar adiante obras públicas como o TGV e o novo aeroporto de Lisboa, de modo a dinamizar a economia. Do outro, Ferreira Leite, com uma visão oposta, defendendo o abandono de obras públicas “faraónicas”, e apontando, como caminho, o apoio às PME’S como forma de dinamizar a economia. Este será, ao que tudo indica, o cavalo de batalha da máquina laranja: A despesa pública.
Esta semana, de todo o modo, Ferreira Leite já deu sinais disso mesmo, ao prometer um “combate tenaz à despesa pública” com o objectivo de conseguir “margem para baixar os impostos”, caso ganhe as eleições legislativas e forme Governo. “O objectivo fundamental do combate à despesa pública só pode ser a possibilidade de baixar os impostos. Eu digo isto há muitos anos, há muito tempo. O meu combate à despesa não é para ter margem para fazer mais despesa, é para ter margem para baixar os impostos”, frisou a ex-ministra das Finanças. De resto, Manuela Ferreira Leite deverá confrontar o primeiro-ministro, com os números do aumento da carga fiscal e da manutenção da despesa pública.
Na réplica, José Sócrates fará certamente, questão de relembrar a Ferreira Leite – da mesma forma que fez com Paulo Portas – daquilo que a então, ministra das finanças, “fez no Verão passado”. Esperando-se, da parte do líder socialista, a marcação de várias comparações entre a actual governação socialista e a anterior governação social-democrata. A criação do imposto especial por conta, o aumento do iva e os números do défice serão uma herança, do governo do PSD ao país, que Sócrates não deixará de lembrar.

Saúde será tema fracturante

Na parte reservada à saúde também se espera forte discussão. Com Sócrates e Ferreira Leite a defenderem visões diferentes quanto ao Sistema Nacional de Saúde. A actual ministra da saúde, Ana Jorge, já afirmou mesmo que a pasta da saúde deverá ser, actualmente, o que mais distingue PS e PSD.
De acordo com o PS, o PSD quer passar para a mão dos privados “a prestação dos cuidados de saúde”, limitando “o acesso universal”. Na resposta, a estes argumentos que certamente serão recuperados por Sócrates, Ferreira Leite deverá voltar a insistir o que está em jogo é a “sustentabilidade financeira” do SNS e uma “maior acessibilidade aos serviços de saúde”. Uma maior de liberdade de escolha entre cuidados públicos e privados, o fim das taxas moderadoras e o aumento da comparticipação e o incentivo do consumo de genéricos passando a prescrição a ser feita por “denominação comum internacional” são outras das ideias do PSD.

Ferreira Leite irá “seduzir” os professores

A FENPROF é muito clara: Irá pôr em cima da mesa as propostas dos partidos e decidir qual é a melhor. E, com a força sem precedentes, que os sindicatos de professores granjeiam presentemente junto da classe, é de admitir um voto em massa, no partido que apresentar a melhor proposta para a educação, à luz da valoração da FENPROF e suas congéneres. Ferreira Leite irá certamente tentar “seduzir” a classe, ao passo que José Sócrates não o poderá fazer, soará a falso e portanto irá manter a mesma postura: gestão de danos. Sem tocar nos pontos que geraram discórdia – isso caberá a Ferreira Leite – José Sócrates irá por ênfase nas medidas que trouxeram benefícios à classe, como é o caso dos concursos de quatro em quatro anos.

Caso “TVI” será tema quente

A contestação unânime, gerada pela extinção do jornal de sexta-feira, na TVI, apresentado por Manuela Moura Guedes promete fazer subir o tom. Manuela Ferreira Leite já admitiu haver “asfixia democrática”, e o facto de ter havido uma tentativa de compra da TVI pela PT – denunciada pelo PSD – são momentos que prometem aquecer o debate. Manuela Ferreira Leite é dura nas palavras e amanhã não se auguram melhoras. “Quem ousa dizer alguma coisa que não está de acordo com o Governo de Sócrates sofre retaliações” afirmou a líder laranja relativamente ao clima que se vive no país.
Na resposta, Sócrates não deixará de lembrar o caso que envolveu o PSD e os comentários de Marcelo Rebelo de Sousa na TVI. Isto num debate, que como já se disse, poderá decidir o voto de milhões de eleitores indecisos.

“Não tenho dúvidas que houve uma pressão política do PS no caso TVI”

Poucos acreditavam que José Ribeiro e Castro, depois de ver boicotada a sua direcção pelos “portistas” e de uma disputa tão crispada com Paulo Portas pela liderança do CDS, estaria disponível para o combate político ao lado do actual líder.

Poucos acreditavam que José Ribeiro e Castro, depois de ver boicotada a sua direcção pelos “portistas” e de uma disputa tão crispada com Paulo Portas pela liderança do CDS, estaria disponível para o combate político ao lado do actual líder. Mas a verdade é que está: “Portugal está saturado do eng. José Sócrates e eu não tinha o direito de recusar este combate”, justifica. Sobre a governação do País, avança que um Governo composto por PSD e CDS é a solução que melhor garante a governabilidade e que Portugal precisa de um “choque político saudável”, que significa um CDS com 30% de votos – um cenário que considera, para já, ainda longe.

Rui Moreira, no seu livro “Uma Questão de Carácter”, diz que o Porto se “apagou bruscamente”. Como é que isso aconteceu?

Tenho uma grande admiração, estima e amizade pelo Rui Moreira. Compreendo o seu ponto de vista, ele é um grande lutador pela afirmação do Porto e da sua região, e às vezes faz uns diagnósticos fortes que não podemos analisar isoladamente e fora do propósito: um despertar do Porto para maiores desígnios. Mas é verdade que há uma questão da administração pública que está encravada, é verdade que o Governo Sócrates tem sido o mais centralista de que há memória e isso apaga a pujança e a presença da cidade no contexto nacional, também é verdade que se anunciam projectos lesivos para a região norte como a subordinação do aeroporto Sá Carneiro a uma dita estratégia aeroportuária nacional que mais não visa do que criar espaço para a afirmação única do novo aeroporto de Lisboa… O País não cresce numa lógica unipolar, pelo contrário. Terá mais capacidade de crescimento numa lógica bipolar, em que a região do Porto é importante e tem dinamismo.

O seu partido tem defendido uma redução generalizada dos impostos. Não é irresponsável diminuir a receita quando a dívida pública está tão elevada?

O CDS tem isso presente. Recordo que defendi durante muito tempo que devia haver um pacto sobre a despesa pública, em que ela não devia ultrapassar 40% do PIB. E isso porque acredito que enquanto não conseguirmos esse objectivo não crescemos. O CDS diz que nós temos uma carga fiscal acima das nossas capacidades, o professor Medina Carreira denuncia-o muito vezes. E a realidade é que Portugal não cresce.

E não cresce porque há demasiados impostos?

Também por isso. Não é a única causa mas será uma das principais. O nosso País é como um corredor sobre o qual se coloca duas bilhas de gás às costas e ele não consegue bater recordes. E assim está a nossa economia. Somos um País que precisa de correr aceleradamente para convergir com os patamares médios da União Europeia, mas temos vindo a divergir continuadamente. Tenho chamado a atenção que o País, mesmo fora de um cenário de crise internacional, não cresce.

Mas se cortamos nas receitas o Estado não vai poder levar a cabo as suas políticas de investimento público ou de apoio social.

Temos de fazer uma análise clara daquilo que podemos. Esta não é uma questão apenas ideológica, também é de doutrina. Há uma frase de Thomas Jefferson da qual gosto muito: “Um Governo suficientemente grande para te dar tudo o que queres é um Governo suficientemente poderoso para te tirar tudo o que tens”. E no relacionamento que temos com o Estado é preciso ter sempre isto presente, se queremos um Governo opressivo, que pesa e que impede, do ponto de vista económico, a nossa capacidade de crescimento. Não vamos resolver nenhum dos nossos problemas de pobreza ou de desigualdade se não crescermos mais economicamente. E também não vamos ser capazes de satisfazer as despesas com as políticas sociais se também não crescermos mais.

E como é que vamos crescer mais?

Se o País crescer mais, com taxas mais baixas de impostos, arrecada mais e tem mais capacidade financeira. Os tais 40% do PIB são mais altos do que 50% de um PIB baixinho. Não se pode responsavelmente reduzir impostos que levem o défice a disparar e viessem agravar a dívida pública. Por isso, é preciso agir sustentavelmente sobre a despesa. Mas nós somos um partido que está do lado do contribuinte, das famílias e das pequenas e médias empresas. Primeiro, porque achamos que as pessoas sabem melhor do que o Estado o que fazer ao seu próprio dinheiro; segundo, porque achamos que isso é um estímulo importante ao seu sucesso; e terceiro, porque sabemos que em termos macro isso conduz a uma capacidade de crescimento superior. O objectivo da redução de impostos exige que previamente se actue sobre a despesa, com o seu controlo e redução.

O PS diz que o País cresce através do investimento público. Concorda com esta visão?

Não tenho nada contra o investimento público. Mas depende, desde logo, da oportunidade. Em termos de grandes obras há circunstâncias de contenção financeira que podem determinar, só por si, que um investimento se suspenda. Depois há investimentos que são puras megalomanias e que vão deixar um fardo sobre as gerações futuras. Como é que se pode apresentar às gerações vindouras, em nome do futuro, dívidas e hipotecas? Isso é inaceitável. O investimento público que, neste tempo de crise, seja dirigido à criação de emprego é bem-vindo, como também o é aquele que tenha reflexos positivos sobre a economia ou que se traduza na concretização de questões de soberania. Mas encarar o investimento público como solução salvífica é um erro.

O CDS, hoje, é um partido menos conservador, em termos de costumes, que o PSD? Temos visto o PSD encabeçar a luta pela família tradicionalista…

O CDS não tem essa crise de identidade e eu não vou entrar nesse tipo de apreciações. O CDS é um partido de direita, que sempre defendeu os valores da família e não tem nenhuma angústia nessa matéria. Não se embaraça se lhe chamarem conservador, temos, até, relações excelentes com o partido conservador britânico. Mas esta eleição, para nós, joga-se, sobretudo, nas questões que têm que ver com a economia, emprego, impostos, o clima de insegurança que cresceu no País… As questões fracturantes foram inventadas por José Sócrates para poder ir a reboque da agenda do Bloco de Esquerda e distrair os portugueses. José Sócrates tem de responder por aquilo que fez de mal e, sobretudo, pelo que prometeu, anunciou e não fez. Veja agora o caso TVI, que também é uma distracção das questões da agenda real.

O que pensa sobre o caso TVI?

Acho absolutamente inaceitável o que se passou. Para mim, não tenho dúvidas que é este PS que está na origem dos factos e que houve uma pressão política – pública, aliás. É um caso de assédio político e moral tão claro, tão dirigido e continuado que eu diria que se inverteu o ónus da prova e compete ao PS demonstrar que não tem nada que ver com aquele assunto. Quando é evidente que tem – o que é gravíssimo. Um partido que se relaciona com a comunicação social a este limite extremo, com tiques latino-americanos do pior, como a confrontação directa com órgãos de comunicação social, comum em Países como o Equador de Rafael Correia ou a Venezuela de Hugo Chaves.

Ou a Madeira de Alberto João Jardim ainda neste fim-de-semana.

Tem aspectos criticáveis, mas assumem uma natureza diferente. Não me recordo de em Portugal, a não ser no PREC, terem sido fechados jornais. É evidente que há sempre uma tenção entre políticos e a imprensa, mas este limite nunca foi atingido.

Não é o PS o partido que sai mais prejudicado com o fim do jornal de sexta-feira da TVI e com as suspeições que esse fim acarretou?

Não. Isso é uma leitura ardilosa de “virar o bico ao prego”. A direcção da informação da TVI demitiu-se, a Manuela Moura Guedes foi tirada do ar, o jornal foi cancelado, a redacção da TVI está em polvorosa… As vítimas são estas. Este caso é seríssimo, merece muita atenção, mas não é o caso principal da campanha – não nos podemos distrair.

Esta campanha está cheia de casos e a assumir contornos de alguma imprevisibilidade.

A estratégia dos casos e dos incidentes favorece quem tem coisas a esconder: o agravamento dos impostos, do desemprego, o empobrecimento e endividamento das famílias, as empresas que estão a fechar… Estas são as questões que devemos discutir.

Surpreendeu-o o facto de Maria José Nogueira Pinto integrar as listas do PSD à Assembleia da República?

Não quero comentar. Foi uma decisão pessoal que tomou. Tinha saído do CDS em circunstâncias que lamento muito e que vivi intensamente. Mas não quero falar sobre isso.

Com que resultado eleitoral do seu partido, no dia 27 de Setembro, o dr. José Ribeiro e castro ficaria satisfeito?

Com o crescimento do CDS. É indispensável para o País um crescimento forte do CDS. Portugal não resolve duradouramente os seus problemas enquanto não fizer claramente uma viragem à direita. O País, na última década, tem decrescido, perdido competitividade, capacidade de afirmação. Éramos o décimo quinto de uma Europa a 15 e agora caminhamos para ser o vigésimo sétimo de uma Europa a 27. Já só temos como companheiros na UE países que sofreram o domínio comunista dos pais, irmãos, primos do PCP e do Bloco de Esquerda. O País afastou-se e deixou de cultivar um conjunto de valores que são importantes e que o CDS, como um partido de direita e do centro direita, guarda dentro de si.

O objectivo do CDS é, portanto, ficar à frente das forças mais à esquerda da política nacional?

O nosso objectivo é crescer e contribuir para uma alternativa ao Partido Socialista do eng. José Sócrates. Mas a necessidade do País é muito mais forte do que isto. No meu entender, o Pais precisa de um choque político que passa por uma forte votação no CDS. Só uma forte votação no CDS representa o choque político saudável de que o País necessita. E acredito no efeito automático desses resultados, acredito no poder do voto do eleitor e naquilo que se dizia a seguir ao 25 de Abril: o voto é a arma do povo. Não é esse o nosso objectivo, mas ninguém tem dúvidas de que se o CDS tivesse uma votação de 20, 25 ou 30 por cento, produziria um choque político saudável no País, no ambiente mediático, cultural ou político.

Paulo Portas aconselha “prudência, cautela e caldos de galinha” relativamente ao PSD. Continua a achar que a única solução que garante a governabilidade é um governo PSD/CDS?

Nunca formulei assim esse juízo, mas estou de acordo com essa conclusão. A solução que permite tirar o País da situação em que está é uma maioria do centro-direita, com uma componente clara do CDS. Somos conscientes, temos noção das realidades e temos humildade, sabemos que a mudança não se faz só connosco, mas estamos plenamente conscientes de que não há mudança sem nós. Os problemas do País não se resolvem apenas na próxima legislatura, Portugal tem de entrar noutra rota. Vivermos completamente debruçados sobre a esquerda é desastroso. Vivemos imersos num banho cultural de valores esquerdistas que são um atraso de vida.

Jerónimo de Sousa acusa José Sócrates de governar à direita.

Isso é uma fantasia. Como é que o País é governado à direita? Portugal, nos últimos anos, nunca foi governado à direita. Mesmo quando o CDS esteve no Governo a governação não se regia pela nossa partitura.

O que pensa do Bloco Central?

É sintomático que tenha aparecido vozes a falar do Bloco Central, um defunto pouco glorioso que só continuou na política dos interesses. O Bloco Central fortalece a minha convicção de que o voto verdadeiramente seguro para quem quer uma mudança relativamente à governação Sócrates é no CDS. Se Sócrates com um partido incomoda muita gente, com dois incomoda muito mais. É preciso dizer não a esse tipo de solução.

Como é que o CDS consegue afastar o apelo ao voto útil no PSD?

Com a sua própria capacidade de afirmação e com a utilidade do voto no CDS. O partido representa uma cultura económica, social ou cultural completamente diferente.

O CDS tem por hábito ser um partido de rupturas internas. Depois de uma campanha interna muito crispada e de metade do partido ter boicotado a sua liderança, o senhor decidiu ficar e disponibilizar-se para o combate político. Por que razão?

É verdade, como diz, que o CDS não tem tido a capacidade, em muitas das suas lutas, de guardar toda a gente dentro de si. E creio que isso é um factor negativo. O que aconteceu foi que o dr. Paulo Portas entendeu convidar-me para integrar as listas do partido e eu aceitei. Em matéria de união do partido e de capacidade de combate do CDS num momento que é muito importante – não só para o CDS mas essencialmente para Portugal – Paulo Portas fez a parte que lhe competia ao convidar-me e eu fiz a parte que me competia ao aceitar o convite. Acredito que nós iremos tanto mais longe quanto cada um resolver entender o que isto é e fazer a sua parte. Portugal precisa de uma mudança, quer mudar, está saturado do eng. José Sócrates e eu não tinha o direito de recusar este combate tendo sido convidado pelo presidente do partido. E faço-o com gosto.

Quando Paulo Portas for embora da liderança está disponível para regressar à presidência do CDS?

Temos, nesta altura, um combate político muito importante e é nisso em que estou totalmente concentrado.

Politólogos são unânimes e não acreditam numa maioria absoluta do PSD

Pedro Passos Coelho escreveu esta semana um artigo de opinião no qual sublinhava a importância de Manuela Ferreira Leite lutar por uma maioria clara nas legislativas. Caso obtenha maioria absoluta, será que Ferreira Leite consegue soltar as amarras que a ligam ao cavaquismo e fazer nascer uma nova era na política portuguesa?

Pedro Passos Coelho escreveu esta semana um artigo de opinião no qual sublinhava a importância de Manuela Ferreira Leite lutar por uma maioria clara nas legislativas. Caso obtenha maioria absoluta, será que Ferreira Leite consegue soltar as amarras que a ligam ao cavaquismo e fazer nascer uma nova era na política portuguesa? Assim, a pergunta do SEMANÁRIO esta semana é: será que uma maioria absoluta de Ferreira Leite a libertava da tutela de Cavaco Silva? E o que é que nasceria depois disto?

Rui Ramos
“Ferreira Leite não precisa de se libertar do Presidente da Republica”
” Não quero fazer como o primeiro-ministro fez na terça-feira ao dizer que não falava de cenários. Mas parece que esse é um cenário bastante improvável. Em relação a uma eventual tutela do Presidente da Republica penso que não é um problema que se coloque à liderança do PSD, que tem com Cavaco Silva uma simpatia e sintonia que afasta quaisquer problemas e, portanto, não precisa de se libertar do Presidente da Republica. Cavaco Silva é que precisará de dar instruções ou ordens a uma maioria como essa. Em relação ao PSD depende de quais são os planos de Manuela Ferreira Leite, ela já indicou que tem uma intenção de controlar o partido e moldá-lo à sua imagem e segundo a sua orientação. Mostrou-o com a exclusão de Pedro Passos Coelho das listas de deputados. É obvio que se Ferreira Leite tivesse um resultado de maioria absoluta, ficaria com uma força enorme no PSD e isso entregar-lhe-ia completamente o partido e, é essa força ela neste momento não sente, por isso, é que teve que fazer aquela escolha de candidatos de maneira a ter a certeza que em São Bento teria apenas gente da sua inteira confiança.”

José Adelino Maltez
“Ferreira Leite fica feliz quando lhe chamam Cavaquista”
“O artigo do Passos Coelho é para marcar a agenda, tanto podia pedir uma maioria absoluta ao PSD, como podia pedir que Ferreira Leite descobrisse a Índia. Ela ainda nem assegurou a maioria relativa quanto mais a maioria absoluta. Isso é um bom jogo dialético para continuarmos a falar dele. Não acho que uma maioria absoluta libertasse Ferreira Leite do peso do Cavaquismo. Em primeiro lugar, parece que a coitada da dr. Manuela Ferreira Leite tem o Cavaquismo a persegui-la, quando foi ela que inventou o cavaquismo sem Cavaco – até lhe interessa. As razões dos eventuais êxitos que Ferreira Leite possa ter é precisamente porque ela se assume com um cavaquismo sem cavaco. Há, pelo contrário, uma colagem dela à imagem de Cavaco. Cavaco tem uma indiscutível confiança popular como se manifesta em todas as sondagens muito mais do que ela, não sei se o dobro se o triplo. Tudo o que seja insinuação subliminar como está patente em todos os discursos de Ferreira Leite é bom para ela. Tudo o que seja um ataque a chamar-lhe cavaquista ela fica feliz. Quem sai prejudicado no meio disto tudo é o dr. Cavaco porque fica com um espaço (reduzido) onde pode ser atacado por ver o seu nome envolvido na discussão político partidária. O artigo do Passos Coelho é uma provocação ao sistema que não é aleatória, porque aquele artigo é aquele que não se estava à espera e é aquela que mais atrapalha. Não é um artigo de impulso é um artigo político de provocação ao sistema.”

António Costa Pinto
“Tutela tanto se passará com maioria absoluta como relativa”
” Não creio que quer com maioria absoluta queira com maioria relativa essa relação deixe de existir. Acho que essa relação de tutela tanto se passará com maioria absoluta como com maioria relativa.”|

Manuel Meirinho
“Nem há maioria absoluta, nem Ferreira Leite está tutelada por Cavaco”
“Primeiro, não vai haver maioria absoluta. A pergunta pressupõe que ela está sob tutela de Cavaco – o que não concordo. Primeiro, é muito provável que não haja maioria absoluta, logo a questão não tem grande consistência e, depois, não é líquida nem nada que se pareça que Ferreira Leite e o PSD sejam actuados sob a tutela de Cavaco. Parte-se à partida de um pressuposto que é a maioria absoluta de Manuela Ferreira Leite e o facto de ela estar sob a tutela de Cavaco e não concordo nem com ambas as afirmações. Não faço comentários com base em hipóteses tão remotas e sem consistência. Não tem grande sentido. Não há nenhuma tutela de Cavaco, há sim uma relação institucional e partidária entre o Presidente da Republica e Ferreira Leite. Não há relação tutelada nem maioria absoluta. Mas como é completamente improvável que haja uma maioria absoluta seja dela seja do Sócrates, não há qualquer problema. Qualquer partido que ganhe esta condenado a ter uma relação institucional com o Presidente da Republica, mas nunca uma relação tutelada.”

Sócrates e Cavaco reduzem conflitualidade institucional

Primeiro foi Cavaco Silva a baixar a pressão entre Belém e S. Bento, alimentada pela comunicação social durante todo o Verão. A seguir veio Sócrates, na entrevista à RTP, falar em cooperação estratégica. Belém já pode ter percebido que quanto maior conflitualidade com o PS, mais a reeleição de Cavaco fica ameaçada.

Depois da tempestade de Verão

Primeiro foi Cavaco Silva a baixar a pressão entre Belém e S. Bento, alimentada pela comunicação social durante todo o Verão. A seguir veio Sócrates, na entrevista à RTP, falar em cooperação estratégica. Belém já pode ter percebido que quanto maior conflitualidade com o PS, mais a reeleição de Cavaco fica ameaçada. Por sua vez, Sócrates também percebeu que a guerra com Belém só dá trunfos a Ferreira Leite.

Quem ouviu esta semana Cavaco Silva a falar na necessidade de o país se concentrar nos seus problemas, não se distraindo com o episódio das alegadas escutas ao Palácio de Belém e José Sócrates a garantir que o governo e o Presidente da República estavam a cooperar entre si, deve ter tido a sensação de viver uma fantasia de Verão quando no mês de Agosto toda a comunicação social fazia parangonas com a guerra entre a Presidência da República e o executivo, depois de uma fonte presidencial anónima ter colocado a hipótese de o Palácio de Belém estar a ser vigiado.
É bom, no entanto, não tirar conclusões precipitadas porque a fantasia e Verão pode ser, afinal, realidade e a realidade fantasia. Há muito para jogar nos próximos dois anos. As legislativas de 27 de Setembro são apenas o início do campeonato. Depois de avaliar o que se passou em Agosto, com o episódio das alegadas escutas, Sócrates teve ter feito o ponto da situação e concluído que o PS nada tem a ganhar com a conflitualidade com Belém, ou a aparência dela, acabando por dar trunfos a Ferreira Leite.
Se a imagem de conflitualidade com Belém passar psra a opinião pública, há o risco de os portugueses penalizarem o PS. Para o espectro da ingovernabilidade, já bem basta os eleitores não qurerem dar maioria absoluta a nenhum partido em face da experiência com Sócrates, quanto mais enfrentarem o risco de uma má relação entre Belém e S. Bento, mais o país pode ficar ingovernável, ainda para mais havendo uma crise económica e social para gerir. Assim, uma continuada dramatização do conflito institucional, podia levar Ferreira Leite a sustentar que o PSD, mesmo sem maioria absoluta, era o único partido capaz de dar garantias de governabilidade em face das relações normalizadas com Cavaco Silva. Assim, mesmo que os atritos entre Belém e S. Bento sejam reais, com vetos sucessivos às leis socialistase muitas frases sibilinas ou que parecem hoistis ao PS, Sócrates tem de assobiar para o ar. Há, mesmo assim, conflitos institucionais bem mais graves, por exemplo aquele que foi protagonizado por Cavaco Silva e Mário Soares. Sócrates bem pode dar-se por satisfeito por Cavaco nunca ter pisado o risco em relação a poder ser visto como apoiante das reivindicações das várias classes profissionais que afrontaram Sócrates nos últimos quatro anos, o grande problema do primeiro-ministro, que o pode, aliás, levar à derrota eleitoral.

Quanto a Cavaco, o Palácio de Belém já pode ter percebido que quanto maior conflitualidade com o PS, mais grãozinhos de areia se infiltram na máquina de reeleição de Cavaco em 2011. O argumento que serve para o governo, nestas legislativas, também serve para Cavaco nas presidenciais. Os portugueses podem ter-se habituado à cooperação estratégica e, face à instabilidade derivada da ausência de maioria absoluta, não quererem novos riscos. O PS tem, aliás, explorado bem este cenário de Cavaco sem cooperação estratégica, dando gás a nomes muito fortes para poderem ser candidatos presidenciais do PS contra Cavaco. Os socialistas mantém a hipótese de Manuel Alegre em banho-maria e um grupo de socialistas chegou a sondar Jorge Sampaio para uma nova batalha por Belém. Esta guerra pode, no entanto, não ser real e ter um simples objectivo de dissuasão, avisando o Palácio de Belém para não cair em tentações, reais ou mesmo fantasiosas, como as escutas à Presidência da República.

“O PS não deve fazer coligações pós-eleitorais”

Sónia Sanfona ficou conhecida do País depois de ter assinado o famigerado relatório final da Comissão de Inquérito ao BPN. Assume-se uma alpiarcense convicta e, depois de quatro anos e meio no Parlamento, aceita o desafio de candidatar-se à presidência da sua vila natal: “O turismo é o aspecto mais diferente e inovador no meu programa eleitoral”.

Sónia Sanfona, Vice-Presidente do Grupo Parlamentar do PS e Candidata à Câmara de Alpiarça

Sónia Sanfona ficou conhecida do País depois de ter assinado o famigerado relatório final da Comissão de Inquérito ao BPN. Assume-se uma alpiarcense convicta e, depois de quatro anos e meio no Parlamento, aceita o desafio de candidatar-se à presidência da sua vila natal: “O turismo é o aspecto mais diferente e inovador no meu programa eleitoral”. Sobre as legislativas e a governabilidade, avança que o PS deve Governar sozinho e procurar acordos pontuais com as várias forças políticas.

O que é que a motiva no desafio autárquico?

Comecei a minha intervenção na política como membro de uma Assembleia Municipal, uma experiência muito interessante e que, pessoalmente, acho que contribuiu para eu desenvolver o sentimento de servir os nossos concidadãos. A mim compensa-me pensar que posso fazer alguma coisa pelos outros – o que, francamente, não sei se é um sentimento egoísta. O desafio autárquico é, fundamentalmente, um apelo das nossas raízes. Ao longo deste tempo não deixei de viver na terra onde nasci, tenho dois filhos que vão lá à escola, a minha família é toda de lá… Partilho muito dos problemas e das vantagens de se viver num concelho como o meu e ser-se alpiarcense.

A Câmara Municipal tem sido gerida nos últimos anos pelo PS. O que é que faltou concretizar?

Quem conhecia e conhece Alpiarça há doze anos a esta parte – o período de tempo em que o PS está à frente dos destinos do concelho – pode muito facilmente apreciar as diferenças, quer na gestão quer no rosto, da vila. Alpiarça tem hoje um conjunto de equipamentos sociais, culturais, cívicos que não tinha. Melhorou a rede viária, as infra-estruturas básicas, criou uma zona industrial. Desenvolveu-se, progrediu e modernizou. Mas é claro que há sempre qualquer coisa para fazer.

Pode dar alguns exemplos?

Algumas coisas não foram feitas por manifesta impossibilidade de as conseguir, porque Alpiarça é um concelho pequeno e tem limitações do ponto de vista da capacidade de investimento e de concretização. É preciso melhorar substancialmente a forma como se administra e gere – e profissionalizar essa gestão – a casa museu José Relvas, colocando-a no centro daquilo que quero que seja um programa de desenvolvimento turístico sustentado. Alpiarça tem condições únicas: uma barragem com um valor natural muito específico e de grande qualidade, um pólo desportivo interessante, uma zona ribeirinha que não está aproveitada, uma vala real que precisa de ser despoluída…

O turismo é a sua grande aposta para o município?

O turismo é o aspecto mais diferente e inovador no meu programa eleitoral. Há um conjunto de outras medidas, ideias e projectos que, também sendo novos, não têm esta dimensão. Há medidas de apoio aos empresários, especificamente aos agricultores, apoio ao pequeno comércio… Um conjunto de iniciativas e de ajudas que a autarquia pode desenvolver para a fixação das empresas e do comércio ou na colaboração com os agricultores.

Acredita que a notoriedade que conseguiu alcançar como deputada, designadamente devido à comissão parlamentar sobre o caso BPN, a poderá beneficiar eleitoralmente?

Muito francamente acho que não. Para mim foi fundamental o percurso todo que fiz até chegar à comissão de inquérito do BPN, o culminar de quatro anos e meio de trabalho que desenvolvi no Parlamento. De facto, publicamente, o relatório que fiz tornou-me conhecida, de uma forma mais genérica, no País. Mas isso não resulta em meu benefício ou prejuízo. No meu concelho as pessoas conhecem-me desde que eu nasci, conhecem a minha família, fizeram parte do meu percurso escolar, conhecem-me profissionalmente porque exerci advocacia durante nove anos em Alpiarça…

Tem algum mal os assessores de Belém participarem na elaboração de um programa político de um partido?

A Presidência da República deve ser um órgão equidistante, imparcial e independente. A partir do momento em que é eleito, o Presidente da República deve ser o Presidente de todos os portugueses. Tenho alguma dificuldade em perceber por que razão os seus assessores, pessoas da sua confiança e que trabalham consigo e o aconselham, não se protegem deste tipo de intervenção. Muito sinceramente, não estou preocupada com a contribuição que os assessores do Presidente deram para o programa do PSD. Mas do ponto de vista da imagem externa transparece uma ideia que não é positiva, no sentido em que a independência e a equidistância deve ser assegurada.

Essa ideia poderá ser propositada. Isto é, a Presidência querer fragilizar Sócrates para beneficiar Ferreira Leite.

Pode. Mas também pode ser uma espécie de aproveitamento por parte do PSD para publicitar a participação de assessores do Presidente na elaboração do programa do PSD e demonstrar aos portugueses que o Presidente estará em consonância com aquilo que o partido irá apresentar. Quem mais fragilizado sai deste processo é o Presidente, que deveria manter a sua preocupação de equidistância.

Cavaco Silva já devia ter vindo a público afastar-se destas acusações, até sobre espionagem em Belém?

O público em geral está a dar uma importância a este assunto que ele não tem. Provavelmente o Presidente pensará a mesma coisa. Se o Presidente tivesse tido algum indício ou sensação de que podia estar em causa a sua privacidade ou a do seu gabinete, teria agido em conformidade. A Procuradoria-geral da República existe exactamente para isto.

Que avaliação política faz das relações entre Belém e S. Bento?

Não acho que as relações entre a Presidência e o Governo sejam más, de todo. Mas eu sou um agente externo, estou a falar da forma como que vejo. Os vetos presidenciais estão previstos na Constituição e representam o exercício de um poder legítimo do Presidente. A análise que faço é que nalguns casos os vetos fundaram-se em razões objectivas, sobretudo dúvidas de constitucionalidade; e noutros por opções pessoais de formação do Presidente, que é uma pessoa mais conservadora. Nesse sentido, compreendo melhor alguns vetos do que outros.

Gostaria de ver Manuel Alegre como Presidente da República?

O Partido Socialista deve ter um candidato presidencial. O partido tem no seu seio e na comunidade que não sendo militante se encontra no seu espectro político um conjunto de personalidades e figuras que podem perfeitamente desempenhar o cargo de Presidente da República com elevação. Entre essas figuras vejo Manuel Alegre.

Como o mais destacado?

Na minha análise, o Governo do PS, nos últimos quatro anos e meio, teria tido alguma dificuldade no relacionamento com a Presidência da República se Manuel Alegre fosse Presidente.

Mais do que teve com Cavaco Silva?

Não sei… Teria tido alguma dificuldade porque isso foi visível ao longo do mandato. Houve um conjunto de propostas legislativas que claramente não teriam tido acolhimento na Presidência da República e tiveram. Provavelmente haveria outras que teriam acolhimento e com o actual Presidente não tiveram. Vejo alguma distância, não do ponto de vista ideológico porque o PS é só um, há um posicionamento muito diferente entre aquilo que tem sido a linha do Governo e a posição de Manuel Alegre. Não lhe estou a dizer que é completamente incompatível que o Manuel Alegre seja Presidente com um Governo do eng. Sócrates, é possível.

Pessoalmente preferiria alguém com um perfil mais semelhante ao de José Sócrates?

Eventualmente haverá alguns outros putativos candidatos a PR que possam ser, do ponto de vista do pensamento político, mais próximos do eng. José Sócrates. Estamos num exercício especulativo. O que acho é que o PS deve ter um candidato presidencial…

Não se perspectiva que nenhum partido tenha uma maioria absoluta; o bloco central é afastado pelo PS e pelo PSD, os partidos mais pequenos recusam-se a coligar e apoiar os partidos maiores, talvez com excepção ao CDS. Como é que a governabilidade é assegurada neste cenário?
Não acho que o Partido Socialista deva fazer coligações pós-eleitorais. Não o fez nesta fase pré-eleitoral e julgo que não o fará depois das eleições. Estou convencida que o PS vai ganhar as eleições legislativas. É provável que não saia destas eleições com maioria absoluta, mas acho que essa também é uma escolha que os portugueses têm que fazer, porque se há quem anuncie com grande veemência que as maiorias absolutas fazem diminuir a participação democrática – ideia com a qual eu não concordo -, a verdade é que as maiorias absolutas permitem uma estabilidade governativa que a maioria relativa não garante. O PS deve procurar entendimentos, em cada área, com a força política que mais se aproxime daquilo que é o seu programa, daquilo que são as suas opções políticas.

Não seria melhor um Governo estável apoiado por uma maioria estável?

Seria melhor um governo estável com uma maioria absoluta do PS. Sempre que o PCP e o Bloco se identifiquem com as propostas do Partido Socialista e as queiram viabilizar, são perfeitamente bem-vindos. Não concordo, por exemplo, com a proposta feita pelo Engenheiro Ferro Rodrigues relativamente às coligações, convidar o PCP ou o Bloco para o Governo…

Ferro Rodrigues também fala no PSD, no Bloco Central.

A questão do PSD parece-me que está posta de parte à partida, porque quer a dra. Manuela Ferreira Leite quer o próprio eng. Sócrates puseram de parte essa possibilidade.

Mas quem perder vai-se embora… Isto é, se o PS perder, talvez o Ferro Rodrigues seja um possível líder.
Não me parece. O caminho do País é no sentido do futuro, da inovação e o caminho do Partido Socialista é rigorosamente o mesmo. Não me parece nada que tenhamos de voltar atrás, sem com isto querer dizer o que quer que seja relativamente ao eng. Ferro Rodrigues, que é uma pessoa que estimo e que aprecio bastante. Mas, na minha opinião, o futuro do PS não passa por aí. O Partido Socialista é um partido moderno, de uma esquerda democrática avançada.

Voltando ao Bloco Central…
Eventualmente o País necessitava desse entendimento, o que eu acho é que será muito difícil com uma líder do PSD como Manuela Ferreira Leite. Acho que a dra. Manuela Ferreira Leite começou muito mal a pré-campanha legislativa, com uma proposta de destruição total de tudo o que o Partido Socialista fez. A dra. Manuela Ferreira Leite propõe que aquilo que se fez que se apague, que se destrua, que se rasgue e que, portanto, se comece do zero. O PSD voltou a trazer um discurso de profundo desânimo a Portugal. Nós temos tido um Partido Socialista e um Governo que procura puxar o país para cima, diz às pessoas que não podemos desanimar, que não é altura de baixar os braços, que é preciso lutar pelas coisas, que é preciso estarmos convencidos de que somos capazes de fazer, somos capazes de mudar, vamos ultrapassar a crise. Depois, tempos um PSD a puxar-nos sistematicamente para baixo.
O papel da oposição não é fazer oposição às medidas do Governo?
O papel da oposição deve ser construtivo. O papel da oposição é dizer “nós não concordamos com isto e, em alternativa, a solução é esta”. Este é o papel de uma oposição responsável. Não é o papel de crítica destrutiva, sistemática, inconsistente, sem qualquer tipo de proposta alternativa. Porque é assim que tem funcionado o PSD ao longo deste tempo. É o vazio das ideias, é o vazio das propostas. As pessoas vêem e sentem isto, até porque a dra. Manuela Ferreira Leite não aparece agora aos portugueses, já cá anda há algum tempo, tem um passado, tem uma história. Por isso, neste quadro, é difícil encontrar aqui o equilíbrio necessário para que os dois maiores partidos se entendam e possam governar em conjunto.
Uma das acusações que Manuela Ferreira Leite faz é de claustrofobia democrática. Que comentários faz?

Acho espantoso como é que a dra. Manuela Ferreira Leite, depois do processo de constituição das listas para estas eleições legislativas, tenha a coragem de dizer aos portugueses que o País vive um clima de claustrofobia democrática. Nunca tinha visto uma manobra tão desleal como aquela que foi feita pela direcção do PSD relativamente aos seus principais adversários internos, que com ela disputaram a liderança do partido.

Manuela Ferreira Leite fundamenta que precisa de ter um grupo parlamentar leal, que acredite plenamente no seu projecto político.
É preciso ter um grupo leal e é preciso ter diversidade, porque a diversidade também é qualidade. Relembro que o eng. José Sócrates também teve um opositor na luta interna pela liderança do partido e que esse opositor foi membro do Grupo Parlamentar durante estes quatro anos e meio. Ninguém tem dúvidas que Manuel Alegre exerceu o seu mandato rigorosamente como quis exercê-lo. E a sua voz dissonante não foi sempre negativa, ao contrário daquilo que as pessoas às vezes querem fazer passar. O debate interno e a dissonância que às vezes existe entre opções é saudável do ponto de vista democrático. A dra. Manuela Ferreira Leite não percebeu uma coisa fundamental: o dr. Passos Coelho não foi eleito líder do PSD, mas teve uma rotação expressiva no seu partido e representa, de facto, uma parte significativa do que é o PSD. Isto revela o receio do afrontamento ou da possível sombra que, eventualmente, o dr. Passos Coelho podia fazer à dra. Manuela Ferreira Leite. O País caminha para o futuro e os partidos políticos também caminham e hoje a dra. Manuela Ferreira Leite já é passado e o dr. Passos Coelho pode ser futuro.