2025/07/07

CDS prepara programa eleitoral com base nas propostas apresentadas

O CDS vai delinear um programa eleitoral, que será apresentado em meados de 2009, com base nas propostas por si formuladas ao longo do último ano no âmbito da “agenda focada” do partido. A rentrée política dos democratas-cristãos será feita com um comício de rua em Aveiro, no dia 13 de Setembro

O CDS vai delinear um programa eleitoral, que será tornado público pouco antes do início do calendário eleitoral, com base nas propostas apresentadas ao longo do último ano no âmbito da agenda focada do partido. João Almeida, secretário-geral dos democratas-cristãos, avançou ao SEMANÁRIO que, a partir de Setembro, o objectivo será o da “consolidação de tudo aquilo que se fez ao longo do último ano e, a partir daí, começar a desenvolver um programa eleitoral alternativo”. Segundo o dirigente, “o que CDS foi fazendo tema a tema e proposta a proposta começará a surgir mais consolidado”.
A apresentação do programa eleitoral deverá ser levada a cabo perto do início do calendário eleitoral. O ex-líder da Juventude Popular frisou que “ninguém apresenta um programa eleitoral com um ano de antecedência”. “Estamos a um ano das eleições e é preciso que, próximo das eleições, as pessoas possam avaliar quem é que tem maior capacidade para apresentar soluções alternativas”, destacou Almeida.

Críticas internas desvalorizadas

O fraco crescimento eleitoral que o CDS tem demonstrado nas sondagens tem dado azo a muitas críticas internas à actual cúpula dirigente do partido, designadamente ao líder. Desde a estratégia política do partido à ausência de renovação de quadros, tudo tem servido para despontar um clima de alguma crispação. Narana Coissoró já veio dizer que o grupo de deputados do CDS “está transformado numa tribuna parlamentar que não colhe votos” e “não marcam a agenda”. Por seu lado, Anacoreta Correia, outro histórico democrata-cristão e dissidente de Paulo Portas, critica uma oposição “pouco polarizada e generalizada”, acrescentando que o líder, na altura própria, “ocupará o palco todo”.
João Almeida desvaloriza as críticas que têm vindo a lume, fundamentando que “é natural que haja divergências de opinião”, visto que o partido “tem o seu debate interno”. O secretário-geral faz questão de sublinhar o esforço da actual direcção na promoção de novos quadros e de novos protagonistas. “Se há coisa que o CDS fez foi trazer novas pessoas”, realça.
Outro aspecto que João Almeida qualifica como positivo e como uma marca louvável da direcção de Paulo Portas é a introdução na agenda política nacional de novos temas, desde a área da saúde às finanças. O responsável refere o exemplo da vacina do colo do útero como uma matéria em que o PS, numa primeira fase, não se mostrou favorável à proposta do CDS, mas que, depois, veio a aceitar. A outro nível, o antigo líder da jota sublinha o papel do seu partido na defesa do contribuinte dos abusos da administração fiscal.

CDS tem 17500 militantes

O CDS-PP atingiu os 17 500 militantes no final do processo de actualização de ficheiros, que apurou cerca de mil óbitos e 281 desfiliações, disse o secretário-geral democrata-cristão. Para João Almeida, os 17 500 filiados com “militância activa” apurados “superaram as expectativas” da direcção, que deu por terminado o processo de actualização de ficheiros iniciado em Outubro passado. A direcção está a analisar os dados apurados para “fazer um perfil” do militante do CDS-PP, que será posteriormente divulgado, disse.
João Almeida adiantou que o congresso organizativo com o novo caderno de militantes deverá realizar-se na primeira quinzena de Novembro. “Superou as expectativas tendo em conta que nas eleições directas de Abril votaram 7600 militantes”, afirmou. No processo, que incluiu o contacto com os militantes via telefone e carta, 600 militantes manifestaram a vontade de sair do partido, mas apenas 281 se desfiliaram. No mesmo período, o CDS apurou cerca de mil óbitos, adiantou. No final do processo, disse João Almeida, os militantes que contam estatutariamente são “os activos, que pagam as quotas e têm direito a votar nos actos eleitorais internos e a ser eleitos”. Os inactivos, aqueles que não foi possível contactar, terão os seus direitos e deveres suspensos até que seja regularizado o respectivo processo, acrescentou.
Antes da actualização, o CDS-PP contava com 35 mil nomes nos ficheiros partidários, que nunca tinham sido actualizados desde há 30 anos, como o SEMANÁRIO noticiou em primeira mão.

CDS vai voltar aos comícios de rua

O CDS-PP vai voltar aos comícios de rua no dia 13 de Setembro em Aveiro, após ter desistido desse modelo em 2003, assinalando desde essa data a “rentrée” política com um dia de debates temáticos. “O CDS volta à rua, com um comício de rua em Aveiro no dia 13 de Setembro. É uma forma de assinalar simbolicamente não só a `rentrée´ política mas também o ano eleitoral exigente que se aproxima”, João Almeida.
Nos últimos anos, o CDS-PP, tal como outros partidos e à excepção do PCP que mantém a tradicional Festa do Avante!, desistiu de marcar a reabertura do ano parlamentar, em Setembro, com festas e comícios de rua, optando por iniciativas dentro de portas como workshops, universidades de Verão ou sessões públicas.
Agora, referiu João Almeida, “justifica-se voltar à rua porque se aproxima um ano eleitoral exigente com quatro eleições, para mostrar a mobilização do partido e também a adesão popular”. “O último que tivemos foi nas autarquias, há quatro anos. Mas não vai ser uma festa folclórica, vamos continuar a ter, durante o dia, sessões de debates e workshops mas no encerramento faremos um comício de rua e não uma sessão plenária”, disse.
Paulo Portas, que regressará de férias na segunda quinzena de Agosto, será o principal orador no comício que culmina um dia de debates e “workshops” dirigidos aos quadros do partido, ainda sem temas definidos.|

Madrid trava TGV

O Governo português não consegue obter resposta definitiva de Madrid para o avanço da rede ferroviária que inclui a ligação Madrid-Badajóz. Uma situação que pode atrasar em pelo menos cinco anos o arranque do TGV em Espanha e justificar o adiamento também da rede de alta velocidade em Portugal.

O governo português não consegue obter resposta definitiva de Madrid para o avanço da rede ferroviária que inclui a ligação Madrid-Badajóz. Uma situação que pode atrasar em pelo menos cinco anos o arranque do TGV e justificar o adiamento também da rede de alta velocidade em Portugal.
Sem recursos próprios nem viabilidade económica, a ligação Poceirão-Elvas pode estar comprometida para os próximos anos, assim como o debate à volta da construção da terceira ponte rodo-ferroviária de Lisboa.
Sem o TGV não há necessidade de uma nova ponte sobre o Tejo para já, embora a definição do seu traçado já tenha sido adjudicada pelo Conselho de Ministros.
Mas avançar com uma ponte ferroviária sem que o TGV esteja construído até Madrid e daí a ligar à Europa, seria apenas uma transferência de recursos públicos para as empresas de construção e obras públicas, o que não parece justificável, nem no contexto das actuais dificuldades da economia nacional.

Cavaco é o último a rir

Neste quadro, quem fica com a Taça e bebe o champanhe parece ser o presidente da República, que sempre foi contra o TGV, mas que dificilmente inviabilizaria o projecto do lado nacional.
O Governo tem afirmado que, no caso do TGV não se repetirá o processo da Ota, em que, perante a oposição de Cavaco e do PSD, acabou por recuar na sua posição. Mesmo com a discordância do presidente da Republica o Governo não teria dúvidas em avançar com o TGV.
Na verdade, se, no processo do novo aeroporto, o Governo cedeu a Cavaco Silva – e ao PSD de Marques Mendes, amparado por um movimento de protesto na sociedade civil – e deixou cair a localização da Ota, com o TGV o cenário nunca se repetiria, desde que Sócrates tivesse o respaldo do governo de Madrid.
No entanto, ao que o Semanário apurou o Governo não parece ainda disposto a ceder, adiantando que está em causa um acordo com a Espanha assinado durante a cimeira ibérica, e tudo indica que, mesmo sendo frontalmente contra o projecto, o Presidente da República tem que honrar os compromissos do Estado. Aliás a competência para decidir é, neste caso, do Governo, o que o próprio Cavaco Silva reconheceu publicamente durante a campanha eleitoral das presidenciais.
Desde a chagada de Ferreira Leite ao PSD reacendeu-se a questão, que já era um cavalo de batalha de Marques Mendes. Recorde-se que, ainda antes de se apresentar como candidato à Presidência da República, Aníbal Cavaco Silva já era contra o investimento público no TGV.
Logo na véspera de anunciar a candidatura, Cavaco Silva disse que “investimentos como os do novo aeroporto da Ota e do TGV, mesmo não existindo restrições orçamentais, só devem ser realizados se a totalidade dos benefícios sociais, ao longo da vida dos projectos, for maior do que os respectivos custos sociais”. A oposição de Cavaco Silva a estes projectos foi publicada no livro “A Agenda de Cavaco Silva”, do jornalista Vítor Gonçalves (actual correspondente da RTP em Washington), que saiu nas vésperas do anúncio da candidatura presidencial.
A questão dos investimentos rapidamente se tornou uma das grandes polémicas da campanha presidencial de 2006, o que obrigou o candidato a esclarecer que “o Governo tem competências para legislar sobre investimentos públicos, ouvindo a sociedade e discutindo em local próprio”.
Apesar de ter afastado da campanha a contradição entre a sua opinião e a do Governo, Cavaco Silva tem, recorrentemente, mostrado as suas dúvidas sobre estes investimentos públicos. E, agora o silencio de Espanha parece dar razão ao presidente. O TGV vai provavelmente ser adiado e desse modo a terceira via sobre o Tejo também ficará para depois de 2013

Análise custo-benefício

Há dois anos, Cavaco Silva defendeu que “é bom que se debata a rentabilidade desses grandes investimentos, e sem dúvida que o TGV é um grande investimento, para saber se, de facto, contribui para uma melhoria do bem-estar dos portugueses”. Na altura, pediu “análises custo-benefício muito profundas” sobre o dossier (tal como Manuela Ferreira Leite fez).
Nessa altura, Cavaco Silva fez uma viagem de comboio, em alfa pendular, entre Lisboa e Albufeira. Quando os jornalistas lhe pediram para comparar o Alfa Pendular com o TGV, o Presidente respondeu assim: “Acho que estes comboios estão bem. Ainda há bocado íamos a mais de 200 quilómetros à hora. É uma óptima velocidade para o Algarve e até para o Porto.” No dia seguinte, Sócrates recusou liminarmente parar o processo: “Seria um erro que o país pagaria caro em termos de competitividade e qualidade de vida.”
Depois disso, o Governo já encomendou novos estudos incluindo o da viabilidade da terceira ponte. Mas sempre reconhecendo a mais valia ferroviária. Porém, sem ligação a Madrid o TGV Poceirão-Elvas torna-se um investimento inútil.
Cavaco Silva é o último a rir.

TGV Porto-Vigo pode não parar

Já a ligação Porto-Vigo pode ser a primeira a avançar, dado que os espanhóis mantêm a ligação Madrid-Vigo, fazendo todo o sentido, sobretudo para valorizar a plataforma aeroportuária instalada no Porto.
Recorde-se que o vice-presidente do PSD, Rui Rio, se manifestou preocupado com efeitos colaterais no Porto do ataque de Manuela Ferreira Leite a projectos como o TGV. Na Comissão Permanente laranja que se realizou esta semana, o presidente da Câmara do Porto manifestou mesmo a sua posição, defendendo que o partido deve clarificar o que pensa sobre os investimentos, o que acabou por não acontecer até agora. Recorde-se que Rui Rio não é adepto da aposta do PSD em continuar a criticar abertamente alguns investimentos públicos, em especial o TGV.
Rui Rio defende também a ligação à capital: “Ninguém mais utilizará o avião para se deslocar a Lisboa e, portanto, é fundamental que a linha em alta velocidade vá captar o mercado galego”, disse o autarca do Porto em Fevereiro de 2006.
Uma posição que já terá influenciado as mais recentes declarações de dirigentes do PSD. Aliás, no último debate do Estado da Nação, na Assembleia da República, Paulo Rangel fez notar uma evolução do partido sobre a matéria: “O PSD não está contra as Obras Públicas em geral nem contra nenhuma em concreto”, disse o recém–eleito líder parlamentar.
Por seu lado, e contrariando essa posição, Nuno Morais Sarmento adiantou aos jornais que “se tivermos que pegar num projecto [para questionar] será o TGV”. O novo presidente do Conselho de Jurisdição Nacional do PSD dizia que “esta crónica tendência faraónica do PS, própria de países subdesenvolvidos e uma receita de modernização baseada no investimento público”.
Já na sua primeira entrevista, à TVI, Manuela Ferreira Leite ia mais longe ao dizer que “não há dinheiro para nada”, iniciando uma autêntica cruzada para pedir os estudos financeiros ao Governo.|

O PSD não é elitista e isto não dá votospor Rui Teixeira Santos

O papel da senhora não é o de ir em arraiais, mas ela fará a sua aparição em Setembro na Universidade de Verão, em Castelo de Vide, com António Vitorino e Pacheco Pereira.

O papel da senhora não é o de ir em arraiais, mas ela fará a sua aparição em Setembro na Universidade de Verão, em Castelo de Vide, com António Vitorino e Pacheco Pereira.
Este fim-de-semana o PSD, o PSD real, vai ter as suas celebrações: no Pontal e na Madeira, como manda a tradição.
A líder não estará presente.
E, Manuela Ferreira Leite até tem razão: a sua presença não lhe acrescentaria nada, não lhe daria nem mais um voto, não lhe serviria sequer para combater o eng. Sócrates e o governo socialista.
Só que a sua ausência, provavelmente, tirar-lhe-á, a ela e ao partido, votos, ampliará o sentimento de orfandade, reinante no PSD, e torna urgente a clarificação da liderança do PSD, antes das próximas legislativas, agora que se percebe que a senhora não pode ser mais que chefe de gabinete de estudos.
Pela simples razão que o PSD não é elitista e, portanto, que estas atitudes de autismo não dão votos.
Manuela Ferreira Leite é comparável a Diogo Freitas do Amaral. Também ele era elitista e tímido no contacto com o partido e a população. Não tinha jeito nem vocação. Só que estávamos em 1975 e o PSD não é o CDS. Além disso, Freitas do Amaral era acompanhado por Adelino Amaro da Costa e por Basílio Horta, que sabiam bem o que a população pensava e como agia. Sem essa componente populista e pragmática, o CDS nunca teria sido nada em Portugal.
Ora, Ferreira Leite é acompanhada por Morais Sarmento/Arnaut, que não consta que sejam muito populares, e por Pacheco Pereira e António Borges, que devem ter pouco para acrescentar neste particular.
Ou seja, sem mensagem nem presença, Ferreira Leite corre o risco de destruir para sempre o PSD. E das duas uma: ou é substituída antes mesmo das legislativas, o que pode ser difícil, pois o “cavaquismo septuagenário”, orquestrado a partir de Belém, com intervenção política e protagonismo presidencial, ou começa a haver espaço para a refundação do centro-direita e para a criação de uma novo partido, à semelhança do que aconteceu em Itália.
Ferreira Leite, aliás, como o Presidente Cavaco Silva, odeia o partido, odeia a máquina do PSD.
Chegada à liderança, comporta-se como o autocrata iluminado. (Mesmo que nós saibamos que o seu “autismo” tem também uma componente de ausência de ideias.) O PSD é um problema, aliás um problema com o qual Cavaco Silva se deu mal, apesar da máquina nogueirista, quando foi primeiro-ministro.
Só que, sem partido, Ferreira Leite também não existe, ao contrário de Cavaco Silva que, a partir do Governo, tinha poder e lugares para distribuir ou ambições para satisfazer e empresas públicas para privatizar e obras para contratar.
Não deixa de ser curioso – e sabemos que Ferreira Leite também ficou siderada – que, mesmo na sua gente, as deserções já tenham começado, com António Borges a passar-se para o lado de Pedro Passos Coelho, defendendo a privatização da Caixa Geral de Depósitos (um disparate equivalente à estupidez de terem extinto o IPE) e desautorizando, assim, a própria líder que (e bem) percebeu que seria um erro prescindir de um dos poucos instrumentos de intervenção microeconómica do Estado e, sobretudo, numa conjuntura financeira e económica como a actual.
Ferreira Leite não tem jeito e o cavaquismo não tem gente para a acompanhar. O fim da história está à vista…

O exemplo de Espanha
Enquanto, a nossa economia definha e os políticos do Governo e da oposição estão de férias, o exemplo espanhol ressalta pela diferença. Ontem, o presidente do Governo espanhol interrompeu as suas férias para presidir pela primeira vez à Comissão Delegada de Assuntos Económicos e anunciar um novo pacote de medidas contra a crise económica que afecta o país ibérico, aproveitando a nova directiva da União Europeia, que permite liberalizar serviços e agilizar procedimentos, tendo em vista a concorrência. Assim, anunciou a liberalização da abertura de centros comerciais, a extinção do imposto sobre património, a agilização dos procedimentos administrativos para lançar novas obras públicas e a eliminação de barreiras burocráticas e fiscais que estrangulam as PME.
José Luís Zapatero não é um bom governante. Mas, infelizmente para nós, é melhor que o nosso governo e, sobretudo, muito melhor que a nossa oposição.|

Impotentes diante da Rússia

Com o Presidente russo num cruzeiro no Volga, com a atenção mundial concentrada nos jogos de Pequim e com Vladimir Putin assistindo à sua inauguração, o cálculo ocidental foi que o Presidente georgiano podia resolver o assunto da Ossétia do Sul em 24 horas e fazê-lo de um modo irreversível.
Mas tudo correu mal e, em seis dias, os russos acabaram com a capacidade bélica da Geórgia, ameaçando, ontem, mesmo levar a sua acção punitiva até à destruição da própria capital e destituição do seu governo democrático.
Ficou claro que o Ocidente era totalmente impotente diante do avanço russo e que os Estados Unidos e a Europa nada terão a dizer na evolução no Cáucaso e na Ásia Central.
É neste contexto que o futuro da Europa deve ser considerado. O ridículo papel de mediador feito pela diplomacia francesa pôs a claro que não contamos e que existem ameaças estratégicas relevantes, agora que desperta de novo o clássico imperialismo russo.
Que faremos amanhã se a Rússia se irritar com os gémeos da Polónia? Ah! Nesse caso será diferente, pois a Polónia está na União Europeia e na NATO. Será? Sem Europa, sem federalismo europeu que garanta a paz, sem uma parceria construtiva com Moscovo, sem um diálogo internacional, a nova ordem far-se-á como a antiga: à lei da bomba e pela força.
Mas o que ficou claro, esta semana, é que a Geórgia actuou para nos envolver mais rapidamente, que a Geórgia, não tendo todas as respostas da NATO nem da UE, agiu de modo a precipitar os acontecimentos e acabou sozinha, humilhada, ocupada, definitivamente destruída, apesar dos protestos do Ocidente.
O Ocidente enganou-se mais uma vez…|

O discurso ideológico do controleirismo

O País nunca deixou de ser um sítio pequeno, periférico, distante da modernidade, sem viabilidade, que se visita, mas onde convém não estar por muito tempo. Esse universo da aldeia, essa falta de cosmopolitismo, traduz-se, depois, na inveja e no comportamento miserável dos pequenos poderes, na denúncia rasca, na exibição do pequeníssimo poder dos saloios. E quando a crise se agrava, tudo isto se torna mais evidente.
Vem isto a propósito do autismo que se verifica no Estado e que pode bem acabar de vez com a possibilidade do PS repetir a sua maioria absoluta. Começa no fisco e na Segurança Social, que continuam a apertar as empresas com o discurso ideológico do pagamento dos impostos, uma verdadeira agenda para afastar os empresários do poder, mas que resulta na falência em cadeia das PME em Portugal.
Há toda uma série de pequenos poderes de listas e de agendas securitárias que visam apenas controlar, verificar, estupidamente destruir a iniciativa.
Esta semana ficámos a saber que o ministro da Administração Interna apoia a proposta da associação de bares do Porto para criar um mecanismo que limite a entrada de clientes indesejáveis em discotecas e vai estudar o enquadramento legal para tal, conforme noticiava o JN desta quarta-feira.
Mais uma lista como a dos cheques do Banco de Portugal ou a do registo criminal ou a dos doentes do SNS.
Mas, alargam-se os poderes das polícias, como soubemos ainda esta semana por via da jurisprudência. Com efeito, as polícias portuguesas podem recolher SMS (mensagens escritas por telefone) gravados nos telefones sem necessidade de autorização de um juiz, segundo um acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa. Os três juízes que assinaram o acórdão consideraram por unanimidade que é de presumir que a mensagem recebida em telemóvel foi lida pelo seu destinatário e que, por isso, “a mensagem mantida em suporte digital depois de recebida e lida terá a mesma protecção da carta em papel que tenha sido recebida pelo correio e que foi aberta e guardada em arquivo pessoal”. É, por isso, que, “tratando-se de meros documentos escritos, estas mensagens não gozam de aplicação do regime de protecção da reserva da correspondência e das comunicações”, dizem os juízes, aplicando este entendimento ao correio electrónico e transmissão telemática de dados. Até Germano Marques da Silva, especialista em Direito Penal ouvido pela TSF, corroborou esta interpretação, dizendo que “um SMS é um documento que pode ser apreendido durante uma investigação”.
Já tínhamos visto o excesso das escutas telefónicas – que nunca deveriam constituir meio de prova, mas, apenas, indício para investigação – mesmo com controlo judicial. Agora, ficam as polícias a poderem fazer por sua iniciativa a leitura dos SMS.
O alargamento dos pequenos poderes do Estado, em nome da segurança, está a transformar Portugal num país irrespirável, não tanto porque esses mecanismos vão funcionar (em Portugal nada funciona e portanto não haverá o risco da demanda total), mas, porque não funcionam permitem a injustiça do poder discricionário, da pequena vingança, do caso exemplar.
A criminalização das dívidas ao Estado apenas serviu para isso. Para, rigorosamente, mais nada. Os poderes quase judiciais das autoridades administrativas, ditas independentes, só vieram tirar do escrutínio democrático partes significativas do poder executivo, criando-se desta maneira um Estado dentro do Estado, completamente controlado por poderes fácticos e interesses e sem controlo político. É o caso da Anacom, da Autoridade da Concorrência, da PGR ou da CMVM. Todas elas são entidades administrativas, fazem parte do poder executivo, mas ninguém as controla e aparecem como uma espécie de “poder sagrado” que vela pelo interesse público – aliás único fim do Estado – detido por uma tecnoestrutura acima de qualquer suspeita. Sem querer fazer nenhum juízo de valor, isto parece-se em muito com a Inquisição, e dá espaço ao abuso, o que, na arquitectura do poder democrático, tem que ser evitado.
E, depois, vem o mais grave: estas autoridades induzem, quando não instigam mesmo, comportamentos mesquinhos por parte de partes que se sentem, momentaneamente, prejudicadas. O estímulo que o Estado tem feito à denúncia, à delação, à queixa, o abuso dos julgamentos mediáticos e das conclusões precipitadas (alguma coisa, finalmente bem e a crédito deste Governo, se fez em matéria de prisão preventiva!) são sinais preocupantes de uma sociedade fechada, provinciana e profundamente doente.
A denúncia da imprensa sobre as alegadas offshores do BCP estarem relacionadas com o controlo da Cimpor, alegadamente “bufadas” pela Semapa, é miserável se assim for, até porque Pedro Queiroz Pereira não se deve esquecer que também tem telhados de vidro.
Irrita-me ver este ambiente de delação. Este ambiente pidesco e de crise de costumes. Também em 1975 houve alguns chiques que se passaram. Os seus gestos ficaram com os próprios e deles nem a história registou memória.
Já se viu isto em 1975 e o País pagou da pior forma os excessos. Paga, ainda hoje, com uma burguesia fragilizada e descapitalizada. Paga, com sectores importantes da sociedade ligados ao crime organizado e à corrupção para se defender e sobreviver. Todos vão ficar mal na fotografia. E, finalmente, a competitividade do País vai ficar afectada, a confiança da população nas elites é menor e o ambiente para a mudança acentua-se.
Se juntar a isto o ambiente generalizado de insegurança, o aumento do crime violento, os assaltos diários aos bancos e as tensões raciais na periferia, podemos dizer que o legado da República não está a ser brilhante.|

A bomba madeirense por Paulo Gaião

A bomba que se está a preparar na Madeira, com o federalismo fiscal e financeiro, vai demonstrar que a polémica com o Estatuto dos Açores só serviu para o PS brincar ao reforço das autonomias e tentar comer as papas na cabeça de Cavaco.

Portugal deve ser dos poucos países que, ao que tudo indica, vai passar por um processo de desagregação que não assenta em diferenças históricas, de língua, etnia, identidade e cultura. O que se está a preparar na Madeira, com Alberto João Jardim a cavalgar um processo de reforço da autonomia da Madeira que parece querer conduzir a um federalismo fiscal, financeiro e económico, ameaçando a unidade e coesão do Estado português, tem uma base inteiramente política, ainda por cima fulanizada num homem que dirige a ilha há trinta anos consecutivos. Ainda que os madeirenses não sintam, de todo, que são diferentes dos portugueses do Continente para irem mais longe numa autonomia que, tal como existe, é o resultado do contexto histórico da descolonização de 74 e 75 e parece ser, também, a fórmula adequada para justificar a distância insular, restam poucas dúvidas que os madeirenses deverão estar de novo ao lado de Jardim nesta cruzada. O presidente do governo regional da Madeira quer plesbiscitar o projecto político de federalismo nas próximas eleições legislativas de 2009. Sempre astuto e peculiar, Jardim quer apanhar dois coelhos de uma só cajadada. Tem como objectivo eleger para o PSD-Madeira todos os deputados à Assembleia da República e, através do voto esmagador dos madeirenses, mostrar politicamente aos políticos continentais a força dos anseios autonomistas. Em Lisboa, tudo isto pode parecer uma bomba. No entanto, para Jardim pode ser só um sinal de quais são as suas reais intenções, da sua vontade em manter os laços com Lisboa em matérias chave como as Forças Armadas, segurança e relações exteriores. Se o aviso não for levado em conta, com o PS e o PSD do continente a não satisfazerem Jardim na revisão constitucional cujo processo é aberto em 2010, Jardim pode aumentar a parada, quase de certeza já fora de um quadro constitucional e legalmente admissível, sustentado, precisamente, no voto massivo dos madeirenses no seu plebiscito das legislativas de 2009. Melhor estratégia era impossível. O efeito prático de tudo isto é que Jardim, com este jogo jogado, deixa reféns os políticos continentais e vai certamente obter o que quer. Lisboa pode ter medo, precisamente, que Jardim vá mais longe se não lhe derem o que quer na primeira jogada. Por sua vez, se Lisboa decidir correr o risco e não baixar o jogo, o efeito pode ser pior. De uma maneira ou de outra, nada ficará como dantes.
Agora que o processo revolucionário na Madeira está em curso e tem já contornos públicos, tudo devendo ficar mais claro no discurso de Jardim deste domingo no Porto Santo, é caso para lembrar as intervenções feitas há quatro meses por Jaime Gama e Almeida Santos em defesa de Jardim, que tanta polémica causaram no PS, sobretudo entre os socialistas madeirenses. Parece hoje evidente que estas duas figuras históricas do PS já sabiam do planos de Jardim. Resta saber se com os seus elogios públicos a Jardim conseguiram evitar mais danos na Madeira, caso em que teriam funcionado em autênticas missões de Estado, levando apenas o presidente do governo regional da Madeira ao plebiscito das legislativas de 2009, ou se a sua tarefa era maximalista, visando impedir o reforço da autonomia da Madeira e federalismo fiscal, caso em que se terá gorado? Estamos em crer que Jaime Gama e Almeida Santos, dois homens de águas profundas, agiram mesmo em missão de Estado, não tendo sido surpreendidos com o que está a acontecer. Os dois podem, aliás, desempenhar um importante papel no futuro, quando se tiver que negociar com Jardim os termos do reforço da autonomia e da revisão constitucional? E bem deverão ser necessários. A posição estática de Cavaco Silva em relação às autonomias regionais pode revelar-se um problema complicado.
Em relação ao Presidente da República, já temos muito mais dúvidas se Cavaco não foi apanhado de surpresa em todo o processo em curso na Madeira. É verdade que Cavaco também elogiou Jardim quando esteve há dois meses na Madeira, tendo, aliás, o seu silêncio sido muito criticado por vários sectores de esquerda. Porém, Cavaco não é um político sofisticado. A intervenção surpreendente que fez ao país há quinze dias sobre o Estatuto Autonómico dos Açores, parecendo rejeitar um reforço das autonomias, indica que Cavaco está longe de aceitar, sequer, o federalismo fiscal e financeiro. Quanto a Jardim, é evidente que já percebeu o que vai na cabeça de Cavaco mas, tal como lhe é habitual, apanhou o ponto fraco para fazer doer mais um bocado. Não é por acaso que Jardim veio acelerar o processo em curso na Madeira depois de Cavaco, o senhor Silva, ter feito a sua intervenção de 31 de Julho ao país. Talvez para mostrar que a bomba que se está a preparar na Madeira vai fazer da polémica com o Estatuto dos Açores uma simples brincadeira de crianças, onde o PS fez um jogo artificial de reforço das autonomias e tentou comer as papas na cabeça de Cavaco.
Está aberta a caixa de Pandora na Madeira? Pode estar. O que é artificial neste processo autonómico madeirense pode passar a real, a identidade pode criar-se, de forma enviesada, com o pagamento de menos impostos, contribuindo para diferenciar os madeirenses dos continentais. E sedimentar-se com os anos. O perigo de, a longo prazo, a Madeira começar a questionar se vale a pena continuar ligada a Portugal, podendo tirar novos proveitos se se tornar independente, é muito alto. Com o federalismo fiscal imediato na Madeira também se cria um precedente perigoso em relação aos Açores, quando o arquipélago vier um dia a ser liderado por um verdadeiro autonomista que queira ser igual à Madeira. Mesmo para Portugal continental há riscos novos. Num país que nunca fez a regionalização, os portuenses, os minhotos, os beirões, os alentejanos, os algarvios, podem começar a questionar que outros que se tornaram mais autónomos vivam muito melhor do que eles. Um país com novecentos anos de história, um dos poucos da Europa com homogeneidade étnica, pode, então, ter um processo original de secessão, um verdadeiro “case study” para a ciência política, provando que os países também morrem quando, apesar de haver todas as razões para existirem, não conseguem dar aos seus cidadãos o que mais importa: qualidade de vida.|

Ângelo Correia critica ausência de Ferreira Leite

A líder do PSD tinha a obrigação de “unir o partido e não de o abandonar”

A rentrée do PSD na Festa do Pontal, no Algarve, a 14 de Agosto, não vai contar com a presença de Manuela Ferreira Leite. O principal discurso ficará a cargo do histórico Ângelo Correia, que aceitou o convite, mas ao mesmo tempo deixou duras críticas à figura máxima do partido, afirmando que “aceitei com muita honra, porque senti a obrigação de não deixar o partido no vazio criado pela actual direcção”, disse o ex-presidente da Mesa do Congresso do PSD, e apoiante de Pedro Passos Coelho nas últimas directas sociais-democratas. “Eu, que não procuro lugares ou status, não podia deixar os militantes sós!”. Ângelo Correia defendeu ainda que Ferreira Leite “tinha a obrigação de unir o partido e não de o abandonar. Não devia olhar só para o terço de votos que a elegeu, mas para o conjunto de todos os militantes”.
O histórico social-democrata recordou também que esta festa algarvia tem merecido sempre a atenção dos sucessivos líderes “laranja”. “E quando não puderam estar presentes fizeram-se representar aos mais alto nível”.
A explicação da ausência de Ferreira Leite no Pontal surgiu por parte do presidente da distrital social-democrata do Algarve, Mendes Bota, considerando que se pode “concordar ou não com a estratégia de comunicação seguida pela nova líder do PSD, mas é claro que ela quando recebeu o convite para participar na Festa do Pontal deu conta de que só tencionava fazer uma intervenção de fundo na Universidade de Verão do PSD, agendada para Setembro”.
O histórico dirigente do PSD e antigo ministro Ângelo Correia é o principal convidado da Festa do Pontal, organizada pelo PSD/Algarve e na qual não estará presente a líder do partido, Manuela Ferreira Leite.
Apontado pela organização como “o maior evento político da época estival no continente”, a Festa do Pontal irá decorrer a 14 de Agosto em Quarteira, mas não vai ser Ferreira Leite a proferir o discurso de encerramento.
Em comunicado enviado à agência Lusa, o líder do PSD/Algarve, Mendes Bota, esclarece que o convite foi endereçado à nova dirigente do partido “imediatamente após a sua eleição”, mas Ferreira Leite não manifestou vontade de participar. Manuela Ferreira Leite, “explicou-nos que não deseja estar presente em nenhuma manifestação similar durante o mês de Agosto, nem proferir intervenções políticas de fundo antes da Universidade de Verão do PSD, em Setembro”, diz Mendes Bota em comunicado.
O dirigente do PSD/Algarve lembrou também que é “tradição” o discurso de encerramento pertencer ao líder do partido, mas dada a sua ausência, foi endereçado um convite a Ângelo Correia, ministro da Administração Interna no governo de Pinto Balsemão, que “tem fortes laços familiares com o Algarve, sendo um dos mais brilhantes oradores da classe política portuguesa e bastante respeitado dentro e fora do PSD”, descreve Mendes Bota. Além de ministro da Administração Interna do governo de Pinto Balsemão, Ângelo Correia já foi deputado, vice-presidente do partido na liderança de Luís Filipe Menezes, e presidente de mesa do último congresso do PSD, que elegeu Manuela Ferreira Leite.
Quanto à ausência da presidente do partido, o líder distrital garante “respeitar” o critério que regeu a sua decisão, mas não quis tecer qualquer comentário adicional.
Ao palanque montado no Calçadão de Quarteira subirão Mendes Bota, a par de outros dirigentes do PSD local e regional, logo após o jantar servido na esplanada de um restaurante local. Durante o jantar será servido um gigantesco bolo comemorativo do 33º Aniversário da Festa do Pontal que se iniciou em 1975, com a presença de Francisco Sá Carneiro, num local que deu nome ao evento, perto de Faro. O evento sofreu algumas interrupções, mas foi retomado pelo actual líder do PSD/Algarve, que entretanto transferiu a festa para Quarteira.|