2025/09/15

A doença e o inquéritopor Jorge Ferreira

O líder do PS afirmou no passado fim-de-semana que o País está doente. Santana Lopes defendeu no domingo um inquérito parlamentar à legalidade das escutas ao líder do PS, depois de Paulo Pedroso ter sido preso preventivamente, escutas essas que o “Público” quantificou e que o DN e o JN negam que tenham existido.

Primeiro: a assinalável divergência entre três órgãos de comunicação social de “referência”, como se costuma dizer, passou despercebida no meio desta confusão. E é preocupante do ponto de vista da credibilidade da comunicação social. Quem mente, quem diz a verdade e quem mente, mente porquê? Por que foi enganado? Por que foi intoxicado? Bom, seja lá quem for que tem razão, pergunto-me se os jornais que se enganaram e ao serem enganados, enganaram, não devem uma palavrinha aos seus devotados leitores sobre o assunto…

Segundo: um dos riscos da hiperinformação em que hoje vivemos é o de rapidamente esquecermos o essencial, face à torrente de pormenores com que a comunicação social delicia a opinião pública.

Entre a roupa do juiz Rui Teixeira, os “fait-divers” do procurador-geral da República, ou o que os presos nas alas VIP comem, ouvem e lêem, todos somos entretidos, quase sem darmos por isso, com o acessório que nos faz distrair do essencial.

Não sei, nem posso saber se Ferro Rodrigues tem razão. Não conheço o processo. Se eu fosse jornalista provavelmente mão “amiga”, violadora eternamente impune do segredo de justiça, já me teria feito chegar algumas peças processuais. Mas não sou. Quando o processo deixar de estar em segredo de justiça será possível saber o que sucedeu.

Mas o que eu sei é que o País está doente há muito tempo. Um problema como o da pedofilia na Casa Pia, que consegue desenvolver-se sem que instituições políticas, responsáveis políticos, polícias e comunicação social mexam um dedo durante dezenas de anos, só prova que Portugal é um país doente. Doente de indiferença. Doente de silêncios. Doente de cumplicidades e de encobrimentos. Mesmo alguns que agora não se cansam de exibir preocupações com as crianças, estiveram lá antes… e nada.

Mas também doente de costumes. Julgo mesmo que se um pedófilo viesse agora a público assumir os seus actos corria o sério risco de ser “absolvido” pela coragem de o fazer. Tal é a inversão de valores na escala das sociedades contemporâneas.

Ora, sugestão oportuna e justificada, antes de um inquérito às escutas num determinado processo de investigação criminal (cuja utilidade em tese nem sequer discutimos), teria sido a de fazer um inquérito parlamentar sobre a responsabilidade política do que sucedeu na Casa Pia. Mas esse inquérito, o verdadeiro inquérito e “pai” de todos os outros inquéritos, ninguém com responsabilidades no arco da governação o sugeriu até agora. Espantosamente.

Com a vossa licença, sugiro eu.

Lisboa, 24 de Julho de 2003

Política portuguesa: questões pendentespor Pedro Cid

Durão Barroso tem razões de sobra para umas férias tranquilas. Todos os dias vê engrossar aqueles que “não dando nada por ele como primeiro-ministro”, começam a acreditar nas suas capacidades como governante. Agora já não se trata nem de sorte nem de capacidade de resistência: já há provas dadas.

A liderança de Durão Barroso é inquestionável e essa imagem em alta reflecte-se, positivamente, na imagem global do Governo.
Problemas há muitos, centrados, sobretudo, nas questões económicas e financeiras, mas, o essencial – ganhar credibilidade e o respeito do País – está conseguido.
No plano estritamente político, Durão Barroso tem alguns dossiês delicados para gerir. Se é verdade que a coesão da coligação PSD/CDS/PP não pode ser desmentida, à medida que o tempo passa, colocam-se em cima da mesa algumas questões, das quais não é de excluir que a fidelidade dos populares exija um “plafond” de crescimento da sua influência política, que pode causar embaraços às estruturas social-democratas. É que o crescimento da influência política deve ser ponderado, uma vez que não é compreensível que o PSD se deixe diminuir para o CDS/PP crescer. O crescimento, a ocorrer, deve ser à custa dos eleitores da esquerda e em particular a faixa de votantes no PS. Além disso, é desconhecido o impacto eleitoral do Partido da Nova Democracia, de Manuel Monteiro. E este é um tema que só pode ser analisado depois de um primeiro acto eleitoral de envergadura, já que nas eleições europeias – onde o PND vai concorrer – há uma muito grande percentagem de abstenção, embora, como se trata de um círculo nacional, não seja escandalosa a eleição de um ou dois deputados do PND ao Parlamento de Estrasburgo, o que, se se verificar, constituirá já um grande rombo entre os partidos instalados… Uma coisa me parece certa: o PND tem um conjunto de personalidades até agora mais ou menos virgens de actividade política, gente com experiência na sociedade civil, com influência nos seus círculos de actividade profissional. Isso não é mensurável, nesta altura, constitui potencialmente uma força nova a disputar o espaço político ocupado pelos outros partidos. Espero que o PSD não olhe com desprezo para o PND e não aja como se ele fosse inexistente. Pode ter dissabores. É preferível fazer a festa depois de contados os votos, do que antes.
Um crescimento eleitoral do PSD, somando os seus votos, enquanto partido, com a mais-valia de Durão Barroso pode, por outro lado, conduzir à tentação de considerar dispensável o CDS/PP na formação do futuro Governo, no termo da actual legislatura, isto é, uma decisão nesse sentido terá de ser tomada algures no primeiro semestre de 2006. Ainda há muito tempo. Mas é bom reflectir e tomar decisões mutuamente consensuais entre os actuais parceiros de Governo. O exemplo alemão pode ser trazido à colação: o SPD e os Verdes concorrem com listas separadas, num pacto informal de não agressão entre si, isto é, com a predisposição – verificada, à tangente nas recentes eleições – de continuarem coligados no governo do País. PSD e CDS/PP, em Portugal, podem fazer o mesmo. No curto prazo parece inevitável a apresentação de uma lista conjunta PSD/CDS/PP ao Parlamento Europeu, bem como a coligação entre os dois partidos na Região Autónoma dos Açores, como garantia prévia de que os socialistas serão desalojados do poder
O dossiê mais delicado que Durão Barroso tem para gerir, num tempo cada vez mais escasso, é o das presidenciais. Alguém escreveu esta semana, com absoluta razão, que seria redutor que o candidato presidencial fosse objecto de votação (ou de escolha entre mais do que um candidato) num Congresso partidário. O PSD não cairá nessa armadilha. A candidatura presidencial é um acto decisório individualmente tomado por quem se sente disponível para travar, com outros, um combate político e eleitoral com vista à escolha do Presidente da República. Ou seja, primeiro têm de ser conhecidos os cidadãos candidatos. Só depois é que os partidos escolhem e apoiam. É preciso lembrar estas coisas. São comezinhas, é verdade, mas lineares e bloqueadoras de raciocínios enviesados. Nem vale a pena falar no naipe dos candidatos possíveis, onde continua a pontificar o nome de Cavaco Silva. A questão só tem, neste momento, foros de certa importância porque o PSD gostaria de cumprir o desígnio de Sá Carneiro: uma maioria, um Governo e um Presidente. E com Cavaco Silva, e só com ele, as hipóteses são aliciantes…
À esquerda, o PS vive a sua mais dramática crise interna, desde a sua fundação há trinta anos. Ferro Rodrigues, a cada dia que passa, fragiliza a sua liderança. É um político em perda, com constantes declarações desastrosas, todas marcadas por um fantasma que tem sido incapaz de exorcizar: a prisão preventiva de Paulo Pedroso. É certo que, a ser verdade, que o(s) seu(s) telefone(s) está(ão) sob escuta tal facto não pode deixar de causar perplexidade e um enorme incómodo, não apenas para o PS mas para a generalidade da opinião pública. Certo é que o PS é o maior partido da oposição, é alternativa de poder e a democracia enfraquece-se com as suas debilidades. É por isso que Ferro Rodrigues deveria já ter renunciado à liderança do PS, dando lugar a outro em melhores condições políticas e que dê mostras de menor nervosismo e com mais capacidade para fazer oposição à actual coligação.
O PCP continua também na mó de baixo, sem capacidade de auto-regeneração. Depois das eleições de 2006 será apenas um partido residual.

AIP apresenta Carta Magna da Competitividade

A Associação Industrial Portuguesa (AIP) apresentou, esta quarta-feira, no Centro de Congressos de Lisboa, a Carta Magna da Competitividade e o relatório da Competitividade.

A Carta integra um conjunto de propostas a implementar nos próximos dez anos, quer pelos empresários, quer pelo poder político, e inclui dois pontos fundamentais: “Visão Estratégica” e “Grandes Objectivos e Princípios Orientadores”. O Relatório da Competitividade inclui diversos “Indicadores de Acompanhamento” para Portugal e estabelece uma metodologia de avaliação periódica, numa óptica de benchmarking, que irá permitir à AIP produzir, anualmente, propostas visando o aumento da competitividade.
A Carta Magna da Competitividade foi apresentada num seminário, cuja abertura esteve a cargo do presidente da AIP, Jorge Rocha de Matos, e contou ainda com a participação do primeiro ministro, Durão Barroso, e dos ministros de Estado e das Finanças e da Economia, Manuela Ferreira Leite e Carlos Tavares, de empresários e líderes associativos, gestores, dirigentes políticos e sindicais e outros agentes económicos.

Atentado em Alicante e Benidorm provoca vários feridos

Duas bombas explodiram, esta terça-feira, junto a dois hotéis de Alicante e de Benidorm, tendo os atentados sido reivindicados pela ETA ainda antes das explosões, causando oito feridos.

Esta terça-feira duas bombas explodiram junto a dois hotéis de Benidorm e Alicante. Este atentado foi, pouco tempo antes da explosão, reivindicado pelo grupo separatista ETA que telefonaram para o jornal basco “Gara”, dando tempo para evacuar as pessoas que se encontravam nos respectivos hoteis. Os engenhos acabaram por ser detonados provocando, mesmo com os alertas feitos pelo jornal basco “Gara”, oito feridos. A maioria dos feridos pertencia à policia, que já se encontrava no local na altura das explosões.

Liberdade como hábitopor Francisco Moraes Sarmento

Uma das virtualidades da economia digital é fazer da liberdade um hábito, essa segunda natureza do homem. A teoria radica a liberdade no Espírito e, em termos operativos, no pensamento.

Desta perspectiva, a todo o tempo existe liberdade radicada no indivíduo que dela terá maior ou menor consciência conforme o seu grau de maturidade na arte de pensar. Não obstante, sob este ponto de vista, a liberdade não depender dos condicionalismos políticos, culturais e económicos, a inocência da criança, a idealidade do jovem e a imaginação do adulto são influenciados pelas instituições e, principalmente, pelas finalidades dadas ao ensino.

O repúdio pela arte de pensar cria escravidão e a infelicidade dos povos.

A liberdade carece de realização. Mesmo que o direito faça dela seu princípio e finalidade, bem sabemos que a “liberdade de expressão” é um mito das sociedades modernas. As opiniões, as necessidades e os desejos de cada um não são comunicáveis socialmente, a não ser às pessoas das nossas relações familiares, profissionais ou de amizade.

A atitude do consumidor é passiva perante os “fazedores de opinião”, ou os licenciados para publicar opinião, e a intervenção do Estado.

Massificar ideias, promover o espírito gregário, condicionar a procura e limitar o uso do dinheiro como instrumento de liberdade caracterizam a nossa sociedade em trânsito para um novo ciclo.

A Internet permite que as opiniões, as necessidades e os desejos individuais tenham influência social. A mais pura subjectividade goza de liberdade de expressão, ou seja, exprime-se socialmente sem censura das entidades intermediárias que procuram condicionar o ambiente oficial e institucional. O novo elemento altera relações de poder e cria hábitos e comportamentos. A liberdade é o novo requisito dos consumidores e caracteriza o contexto.

A censura é, cada vez mais, um acto bárbaro. Os tradicionais métodos já não bastam e há quem se apresse a conceber novos processos de controlo. O acto censório garante-se na justificação moral para obter a aprovação social. Este “consenso” coloca-nos facilmente a um passo da ditadura.