Depois de algumas hesitações, Manuel Alegre acabou na semana passada por apelar, sem reservas, ao voto em Sócrates nas legislativas. O poeta poderia ser o candidato ideal para congregar toda a esquerda em seu redor. Por sua vez, Luís Amado, actual ministro dos Negócios Estrangeiros poderia ser uma boa cartada para captar votos moderados, enfrentando Cavaco na sua base de apoio.
Socialistas querem ganhar a Cavaco
O PS tem já uma segunda batalha preparada para depois de domingo: as presidenciais de 2011, daqui a um ano e meio. Caso Cavaco Silva se recandidate a Belém, o que, porém, é cada vez menos certo face ao desgaste sofrido pelo Presidente da República no caso das escutas de Belém, o objectivo número um do PS pode passar pela derrota de Cavaco. Para cumprir a missão dois nomes surgem como possíveis: Manuel Alegre e Luís Amado. Depois de algumas hesitações, Manuel Alegre acabou na semana passada por apelar, sem reservas, ao voto em Sócrates nas legislativas. O poeta poderia ser o candidato ideal para congregar toda a esquerda em seu redor. Por sua vez, Luís Amado, actual ministro dos Negócios Estrangeiros poderia ser uma boa cartada para captar votos moderados, enfrentando Cavaco na sua base de apoio.
O jogo é de aparências entre Cavaco e Sócrates, a um nível que nunca tinha existido em Portugal. Enquanto publicamente tentam baixar a pressão, por questões meramente tácticas, Belém e S. Bento estão em guerra aberta, ambos os lados sabendo que o confronto pode ser mortal. Há meses que as relações estão tensas mas os últimos desenvolvimentos do caso das escutas telefónicas, com a demissão de Fernando Lima, vieram agudizar as relações entre as duas instituições.
O caso das escutas teve efeitos devastadores na campanha do PSD, centrando todas as atenções em Belém e levando a que o PSD não resistisse à onda e ficasse absorvido pelo discurso da “asfixia democrática”, sem espaço para discutir o seu programa e ideias. Este caso pode ter custado a vitória ao PSD. As sondagens publicadas esta semana, já incorporando os últimos acontecimentos, acentuaram a distância do PS em relação ao PSD.
Se o PSD perder as eleições, pouco mais resta a Ferreira Leite e aos seus apoiantes do que tentarem resguardar-se no chapéu protector de Belém e esperarem que o vento mude, de forma a que a derrota nas legislativas tenha sido apenas uma batalha perdida.
Há cada vez mais a noção no PS que, mesmo ganhando as eleições de domingo, o PS não vai ter uma tarefa fácil. Há sinais que já ilustram esta realidade. Marcelo Rebelo de Sousa, que continua a ser um homem com relações próximas com Cavaco, há muito que refere que o próximo governo pode durar apenas dois anos, caindo em finais de 2011. Por sua vez, a declaração de Ferreira Leite de que, mesmo perdendo, fica na liderança do partido, é outro sinal da vida difícil que se prepara ao PS.
Com a noção de que os próximos tempos não vão ser fáceis, o PS tem duas possibilidades de contornar as dificuldades. Uma é voltarem a ganhar com maioria absoluta. Na última semana de campanha, face à melhoria dos indicadores nas sondagens, o PS voltou a pedir, ainda que timidamente, uma maioria absoluta. Outra possibilidade é o PS fazer uma coligação à esquerda com o BE, que impedisse Cavaco da veleidade de demitir um governo com maioria na Assembleia da República. Apesar de Sócrates desmentir qualquer hipótese de acordo pós-eleitoral com o Bloco, o facto é que uma coligação com o BE aparece como a fórmula mais segura para neutralizar Cavaco. Por exemplo, uma coligação com o PP não seria tão segura, e aumentaria a capacidade de manobra do PP, já que Paulo Portas poderia ser tentado a cair no canto de sereia do PSD e de Cavaco para tirar o tapete a Sócrates. Por um último, uma coligação do PS com o BE , para além de abranger um acordo governamental poderia abranger outras matérias, como a apresentação de um candidato presidencial único, do PS e do BE, para enfrentar Cavaco. Certamente Manuel Alegre.
“Caso das escutas” leva à demissão do assessor de Cavaco
Fernando Lima foi um bode expiatório?
Inês de Sousa
Fernando Lima foi demitido do cargo de assessor da Presidência da República depois de ter vindo a público que o assessor teria sido a fonte do PÚBLICO nas noticias sobre as escutas, que afirmavam que Cavaco Silva suspeitava de estar a ser espiado pelo Governo de José Sócrates. A demissão ainda não foi explicada pelo Presidente da Republica, que prometeu só falar depois das eleições legislativas. A duvida mantém-se, Fernando Lima terá sido demitido para se proteger ou simplesmente porque se precisava de um responsável para esta situação. Portanto, a pergunta do SEMANÁRIO esta semana é: será que Fernando Lima foi um bode expiatório?
Alberto Arons de Carvalho
“Não tenho certeza disso”
” Não sei, não tenho a certeza disso. Não tenho a certeza que tenha sido um bode expiatório ou o verdadeiro culpado. Não é possível definir uma opinião com os dados que conheço”
António Costa Pinto
“Não poderia continuar como assessor”
” Na minha opinião, e tendo em vista os factos que foram conhecidos, Fernando Lima não poderia continuar como assessor de imprensa do Presidente da República. O Presidente da República antecipou, com o afastamento de Fernando Lima, eventuais problemas mais complexos que possam comprometer a presidência da república.”
José Miguel Judiçe
“Quero acreditar que não foi bode expiatório”
” Não faço ideia. Não conheço os factos mas quero acreditar que não foi um bode expiatório. Quero acreditar que realmente ele não cumpriu bem as suas funções mas, que provavelmente foi sem querer sem intenção.”
José Adelino Maltez
“Foi um bode expiatório de todos nós”
Foi um bode expiatório, de nós todos. Porque tivemos conhecimento que ele saiu através da Lusa e da comparação que fizemos com o site da presidência da república e, por enquanto, não sabemos mais nada. Portanto, todas as especulações que estamos quase todos a fazer sobre o fim da colaboração de Fernando Lima resultam, por e simplesmente, de um acto que não conhecemos. Isto é a ponta de um iceberg. Tenho a certeza absoluta que quando os factos forem observados vai haver uma alteração das interpretações. E, nesse sentido considero-o um bode expiatório. “
Rui Ramos
“É difícil avaliar se é o vilão ou o bode expiatório”
” Como não sabemos os detalhes de toda a história, não sei avaliar se foi o culpado ou o bode expiatório. É difícil avaliar, só se soubermos toda a história. A esse respeito não tenho uma opinião definida porque aquilo que veio a público da história até este momento, não nos permite mais do que especular e, portanto, não podemos definir dessa maneira a situação sem ter factos. Neste momento, ainda não sei se ele é o vilão da história ou o bode expiatório. Com o que sabemos não nos permite chegar a uma conclusão definitiva sobre este assunto. Agora, a outra pergunta é se alguma vez vamos saber a história toda? Infelizmente como estamos em Portugal, provavelmente nunca saberemos, a não ser que ele algum dia resolva contar a historia. Enquanto isso não acontecer, fica-se na duvida.”