Leonor Coutinho candidata-se a Cascais, por este concelho ter, em seu entender, potencialidades que devem ser estimuladas e porque o concelho se encontra a estagnar.
Candidata-se a Cascais, por este concelho ter, em seu entender, potencialidades que devem ser estimuladas e porque o concelho se encontra a estagnar. Embora não sendo de Cascais e nunca ter liderado uma autarquia, considera que as suas competências, nos domínios do urbanismo e dos transportes, lhe conferem uma vantagem face ao candidato do PSD e “filho da terra” António Capucho. Com o PS diz que as obras públicas são projectos que põem a economia a funcionar e que a maioria absoluta seria o cenário mais favorável para governar.
Quais são as razões que a levam a candidatar-se à autarquia de Cascais?
Cascais, no contexto da Área Metropolitana de Lisboa, área que eu conheço bem e na qual já resido há mais de 35 anos, é um local ainda com alguma qualidade de vida e com algumas potencialidades e privilegiado, a nível da natureza. No entanto, é um território que está em perda de velocidade, que se encontra a perder o seu charme, a vitalidade e a capacidade de atrair actividades, emprego, força, estando-se a tornar numa cidade dormitório, o que é muito negativo.
Que projectos é que irá apresentar para o concelho de Cascais?
Nós vivemos num período de crise, não podemos ser completamente irrealistas, no entanto, para mim, é vital, dada a atractividade que Cascais tem, captar emprego. Há empresas, a nível da Área Metropolitana, que pretendem deslocalizar-se, por exemplo de Lisboa, e que podem encontrar em Cascais um local privilegiado. Há também certos domínios ligados à saúde, ao lazer, ao turismo, tudo o que tem uma especificidade que condiz bem com o concelho. Devia haver um plano muito activo para captação de empregos para a zona.
O concelho também regista algumas situações de carências sociais de vária ordem. Que soluções apresenta para elas?
Há uma grande dicotomia entre um litoral, digamos, com gente rica, ou de uma classe média, que procuram um lugar agradável, e um interior, que também tem pessoas que procuram um lugar agradável, mas que depois ficam um pouco frustradas, pois existem muitas situações de pobreza e de falta de infra-estruturas. É evidente que Cascais tem muitas IPSS (Instituições Particulares de Solidariedade Social), muitas associações de apoio e de solidariedade, desde sempre e que tiveram momentos melhores ou piores. A Câmara Municipal tem dado subsídios a algumas dessas IPSS, nem sempre, quanto a mim, da maneira mais justa, nem da maneira mais eficaz. Para mim o objectivo é atingir o maior número de pessoas e dar-lhes soluções efectivas para resolver os seus problemas, e não recorrer a grandes obras para mostrar que me preocupo com as pessoas.
António Capucho referiu em entrevista, na semana passada, ao SEMANÁRIO, que não tem experiência autárquica e que desconhece as realidades do concelho. Como refuta essas acusações?
É evidente que eu tenho uma experiência profissional no domínio do urbanismo, transportes e habitação, que exerci em vários sítios, quer em Portugal, quer no estrangeiro. E isso dá-me a grande capacidade de perceber os problemas das pessoas, dar-lhes as soluções adequadas. O actual presidente da Câmara gaba-se muito de ter tido boas votações, mas a maioria das pessoas de Cascais não votaram nele. Portanto, eu posso vir a ter uma maioria absoluta.
Quais são as mais-valias que julga ter face a Capucho?
Não tenho aquele pequeno “espírito” de às vezes pensar que são as pessoas do meu bairro é que são boas. Eu gosto das pessoas, não sou uma pessoa distante, nunca o fui. Penso que seja essa atenção, para além de uma certa capacidade técnica, que me pode ajudar a auxiliar as pessoas de Cascais.
Já ocupou cargos e já se candidatou a autarquias distintas. Julga que isso poderá enfraquecer a sua credibilidade?
Contrariamente ao actual presidente de Cascais, não tenho só uma vida política, tenho também uma vida profissional, justamente no domínio dos transportes e do urbanismo. Fui uma das pessoas, que colaborou com um cargo de chefia, no Plano Director de Paris. Politicamente estive no Governo durante seis anos e penso que fiz um bom trabalho, quer a nível da habitação, como a nível das telecomunicações. A nível de autarquias, só me candidatei à Câmara de Almada, em 1989. Escolhi viver na Área Metropolitana de Lisboa, depois de ter vivido, no estrangeiro, em vários países durante bastante tempo, porque, de facto, acho que se pode fazer muito mais, tem um potencial muito grande, que nem sempre foi bem utilizado.
Passemos agora à política partidária…
Ainda se sente “magoada” com o seu partido por não a deixar integrar as listas de deputados?
Eu não me sinto magoada com o meu partido. Sou uma pessoa com alguma liberdade de expressão, exprimo as coisas, e muitas vezes até dou voz a pessoas que têm menos capacidade de o fazer, como foi esse caso.
Magoada é uma palavra forte de mais. Tenho saudades também, para além da política, eu também gosto da vida profissional, que abandonei há algum tempo. Criei duas associações, uma delas é uma associação de consumidores dos serviços financeiros, que é a SEFIN, que faz várias lutas, por exemplo, a dos arredondamentos, que é a mais conhecida, lutou contra o pouco controlo que os organismos reguladores estavam a fazer da banca. A minha vida não é só a política, gosto de outras coisas. A razão pela qual concorro é porque tenho a esperança de poder ser presidente de Câmara de Cascais.
O PS na passada quarta-feira, dia 29 de Julho, apresentou o seu programa eleitoral, onde continua a defender as grandes obras públicas. É favorável a essa aposta ou tem reservas?
Eu sou favorável a que o Estado faça um grande esforço, no sentido de vencer a crise. Não pode resumir-se só a apoiar as pessoas desempregadas, que têm carências. Para além disso é também preciso apoiar o emprego, a actividade. Em Portugal, uma das maneiras de criar empregos é apoiar a construção civil, porque este sector tem um peso no nosso tecido urbano bastante importante. Sou a favor de grandes obras de construção civil.
Julga ainda ser possível ao PS repetir a maioria absoluta?
Estamos a viver em Portugal um ambiente de grandes mudanças, porque as pessoas já não acreditam naqueles valores em que anteriormente acreditavam, como a solidariedade, seriedade, confiança uns nos outros, porque se sentem defraudados, quer a nível do sistema financeiro, da justiça, como a nível dos políticos. Há um paradigma diferente e acredito que a dicotomia ricos/pobres está um bocado quebrada. Actualmente, o que está em causa é o esmagamento da classe média, contra o qual sou absolutamente contra, visto que os valores da democracia são bem defendidos justamente por essa mesma classe média. Portanto, a minha actuação cívica será sempre a favor do reforço desse grupo.
Como é que julga que o PS deverá governar se não conseguir a maioria absoluta?
O pior cenário, qualquer que seja o partido que ganhe, é o País ficar ingovernável. O melhor é haver uma maioria absoluta. Se ela não existir, penso que seja importante que haja acordos, não excluindo nenhum partido, de modo a permitir uma governação estável. Porque os interesses dos portugueses sairão muito lesados se o país entrar num período de instabilidade política.
Em suma, o que defendo é uma solução estável para o País.
O PS e o Governo têm vindo a apresentar medidas, quase avulsas, não mostrando grande concertação. Será isso revelador de uma falta de rumo?
Penso que o PSD, por exemplo, não apresenta o seu programa agora e apresentá-lo-á mais tarde. As pessoas que reflectem sobre a realidade, quer sejam políticos, quer sejam outras elites, têm neste momento uma grande dificuldade de se adaptarem aos novos paradigmas que esta crise veio mostrar. A sociedade mudou muito e esta crise pôs em causa o modelo que existia, muito baseado só no valor do dinheiro.
Há tantas incógnitas que, apresentar já soluções fechadas, demonstraria incapacidade para se adaptar a uma realidade em grande mudança.