2025/06/25

Socialistas avisam Cavaco que reeleição não está garantida

António Vitorino atacou Cavaco Silva e disse publicamente aquilo que muitos socialistas dizem em privado: o PR deixou de ter uma postura institucional e, objectivamente, Ferreira Leite é a beneficiada com esta mudança de atitude. Em privado, o SEMANÁRIO sabe que esta guerra até já subiu de patamar. Os socialistas andam a deixar sérios avisos de que a reeleição de Cavaco não está garantida.

Depois das legislativas e autárquicas, o país vai entrar em pré-campanha para as presidenciais

António Vitorino atacou Cavaco Silva e disse publicamente aquilo que muitos socialistas dizem em privado: o PR deixou de ter uma postura institucional e, objectivamente, Ferreira Leite é a beneficiada com esta mudança de atitude. Em privado, o SEMANÁRIO sabe que esta guerra até já subiu de patamar. Os socialistas andam a deixar sérios avisos de que a reeleição de Cavaco não está garantida.

Depois das eleições legislativas de 27 de Setembro e das autárquicas de 11 de Outubro, o país não encerra os sufrágios. Pouco mais de um ano depois, o país vai voltar a votar, para as presidenciais, que se devem realizar em princípios de 2011. É provável, aliás, que logo em princípios de 2011, Cavaco possa anunciar a sua recandidatura. O cenário, que chegou a ser muito falado, de Cavaco fazer só um mandato, parece estar hoje afastado, face à nova conjuntura política. No caso de o PSD ganhar as legislativas, Cavaco pode ser uma carta de garantia e conforto para o novo governo. No caso de ser o PS a ganhar, a maioria absoluta parece quase impossível, o que fará com que o papel de Cavaco também seja mais interventivo, quer num cenário de governo minoritário, quer de maioria absoluta.

Perante a onda de crispação que se vive entre o governo e o Presidente da República é, assim, natural que comecem já a existir recados, tendo em vista as próximas presidenciais. Esta semana, no seu espaço de comentário da RTP, António Vitorino abriu as hostilidades contra Cavaco Silva, falando em “activismo declaratório” do Presidente da República, por causa da sua intervenção no negócio da TVI, acrescentando que esperava que a conduta de Cavaco fosse diferente, ainda para mais falando de assuntos internos no estrangeiro, o que, segundo Vitorino, não fazia parte do seu estilo e código de conduta. Vitorino limitou-se a dizer publicamente aquilo que muitos socialistas dizem em privado: o PR deixou de ter uma postura institucional e, objectivamente, Ferreira Leite é a beneficiada com esta mudança de atitude. Ao mesmo tempo dão como exemplo a coincidência de agendas entre Cavaco e Ferreira Leite e alguns sinais evidentes de comunhão, como foi a referência directa de Cavaco à necessidade de uma política de verdade.

Em privado, o SEMANÁRIO sabe que esta guerra até já subiu de patamar. Os socialistas andam a deixar sérios avisos de que a reeleição de Cavaco não está garantida. Esta ameaça parece traduzir, desde já, uma forte vontade de o PS voltar a ter um candidato próprio nas presidenciais, mas desta vez com o partido inteiro mobilizado contra Cavaco. Refira-se que, a concretizar-se esta crispação, será a primeira vez que sucederá no campo de relações do PS e do PSD. Em 1991, Mário Soares foi reeleito, sem que o PSD apresentasse um candidato. Por sua vez, em 2001, o candidato do PSD, Ferreira do Amaral, para além de não ter o perfil adequado para poder sair vitorioso, fez uma campanha pouco crispada contra Jorge Sampaio.
Outro dado que a ameaça socialista a Cavaco parece demonstrar é que muita gente no PS está disposta a encontrar um candidato forte que possa derrotar Cavaco, o que é uma missão difícil e arriscada. Desde que há eleições presidenciais que nenhum Presidente da República deixou de ser reeleito. Neste quadro pode ser difícil ao PS encontrar um candidato forte que esteja disponível para enfrentar Cavaco em situações muito adversas. Porém, não é impossível. Freitas do Amaral, de quem se falou para ser candidato em 2006, antes de Mário Soares mostrar interesse no lugar, é uma forte hipótese. António Guterres é outra hipótese mas duvida-se que o hoje Alto Comissário para os Refugiados, aceite esta missão. Guterres é um homem cauteloso, muito mais que Freitas do Amaral. Outro potencial candidato é Manuel Alegre, que, certamente, aceitaria o desafio. Fora deste campeonato de pesos-pesados, também há a hipótese de Jorge Miranda, um homem que, face ao conflito recente com o PSD por causa do lugar de Provedor de Justiça, poderia ser um bom candidato oficial do PS. Por último, Luís Amado, que chegou a ser falado como cabeça de lista do PS às europeias, e que certamente teria feito uma melhor prestação que Vital Moreira, também é uma possibilidade.
Em termos de perspectivas eleitorais, os melhores colocados parecem ser Manuel Alegre e, sobretudo, Freitas do Amaral.. Apesar de muitos anti-corpos à direita, Freitas era capaz de entrar muito bem no eleitorado do PSD e do CDS e, ao mesmo tempo garantir a base de apoio do PS e conquistar votos à esquerda, do PC ao Bloco. Quanto a Alegre, apesar de mobilizar melhor a esquerda, dificilmente conquista a direita. Por sua vez, pode encontrar algumas bolsas de resistência em eleitorado PS mais tradicional, que não gostou das suas ameaças de ruptura com o PS, e PC, que sempre o viu como um soarista, praticante de uma política que serviu os interesses da direita.

Deixar uma resposta

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *