2025/06/25

“Paulo Rangel é uma aposta de algum risco”

António Capucho, num exercício especulativo, lança o nome de Pedro Passos Coelho como um possível candidato à Câmara de Lisboa, nas autárquicas em 2009. O histórico social-democrata considera, ainda, que Paulo Rangel, na liderança do Grupo Parlamentar do PSD, é “uma aposta de algum risco”.

Mantém a intenção de se recandidatar à presidência da Câmara de Cascais?
Sim. Já o anunciei publicamente em resposta a um desafio do PSD local. Portanto, disponho-me a um novo mandato de quatro anos.

Quais os principais desafios que antevê para o próximo mandato?
Creio que, à semelhança do que vai suceder a nível nacional, vamos ter um desafio muito importante no domínio social. Ou seja, no acompanhamento de situações drásticas decorrentes do agravamento da crise económica. Mas ao mesmo tempo continuarão os eixos fundamentais de desenvolvimento de Cascais: grande contenção no domínio do urbanismo, grande aposta na requalificação urbana, na habitação social e nas áreas da cultura, educação e desporto.

É essa a visão estratégica que tem para Cascais?
Sim, é a visão estratégica que tenho e que tem tido eco junto dos eleitores – a fazer fé nas sondagens, que apontam para um grau de satisfação bastante razoável.

Agora que a fortaleza de Cascais está nas mãos da autarquia, que futuro terá?
Turístico-cultural. A Câmara recebe-a com essa missão. Dentro da fortaleza temos o palácio do Presidente da República, que vai ser submetido a concurso público – já com projecto aprovado pelo IPPAR – no sentido da sua recuperação com a função de residência oficial do Presidente. A fortaleza dará lugar, também, a um espaço museológico muito importante, que oportunamente será divulgado. O resto do espaço, que representa oitenta a 90 por cento da área, dependerá dos promotores individuais. Mas a vocação fundamental será turismo, hotelaria, restauração… Tudo de elevado nível. E, ao mesmo tempo, iniciativas de carácter cultural. Este caderno de encargos, que foi aprovado na Câmara na segunda-feira passada, dá uma ampla liberdade de opções aos promotores privados.

Posso concluir que a restrição à construção vai continuar, não obstante o grande investimento público?
Restrição à construção ligada a nova habitação. Queremos substituir a construção pela requalificação dos centros urbanos, de alguma maneira desertificados – como acontece em todas as grandes urbes. No entanto, em matéria de obra municipal, temos, ainda, uma aposta importante a fazer, especialmente nas acessibilidades. Ou seja, houve algum atraso na construção das várias acessibilidades, resultante da dificuldade que temos em expropriar, e temos de incrementar essa tarefa no próximo mandato.

Para a semana vamos ter o debate sobre o estado da Nação. Revê-se mais nos elogios da OCDE às reformas levadas a cabo pelo Governo ou na visão mais pessimista traçada por Manuela Ferreira Leite?
Não me parece que a OCDE diga coisas com as quais eu discordo, nomeadamente o esforço que o Governo realizou para conter o défice, alguns sucessos que tive na parte da despesa, por exemplo na reforma da Segurança Social. Agora, em termos gerais, o País está de rastos.

Está de rastos em que aspectos?
No plano económico. Ou seja, na degradação social resultante da crise económica. Para além de determinados tipos de comportamentos autistas e autoritários do Governo, a questão fundamental é que todos os índices – e a realidade – apontam para uma pioria das condições e da qualidade de vida dos portugueses.

Quando o Governo diminui o IVA, aumenta os abonos de família, congela os passes sociais… Não está a tomar as medidas acertadas para melhorar a vida dos portugueses?
Os exemplos que deu são peanuts. São questões pontuais que não escamoteiam o essencial: a situação geral do País. Nomeadamente os passes sociais, onde o Governo se esqueceu de Coimbra e de outras cidades que têm transportes públicos. A verdade é que o agravamento dos preços é generalizado e a capacidade de compra dos portugueses, e da classe média em particular, desceu abruptamente. Portanto, não é com obra pública faraónica que se resolve o problema, é com corte na despesa e incentivo à produção – coisa que o Governo não faz.

Esse será o grande cavalo de batalha do PSD até às eleições?
Isso perguntará à Manuela Ferreira Leite. Mas tudo indicara que sim. Resultou da entrevista de terça-feira que, finalmente, alguém mostra que “o rei vai nu”. Ou seja, que estamos a gastar com o dinheiro dos outros, a endividar o País, sem saber como é que pagamos e sem conhecer a envolvente dessas despesas. Algumas delas aparentemente faraónicas e secundárias. Quando a prioridade deve ser lançada ao relançamento da economia, por um lado, e ao apoio aos mais desfavorecidos.

Mas isso não é o regresso do discurso da “tanga”?
O País precisa de obras públicas. Não precisa de obras públicas que não sejam necessárias, que sejam supérfluas e para as quais não tem a capacidade de pagar. O Governo não tem o direito de atirar para as gerações futuras encargos de obras que são supérfluas, nomeadamente o TGV – isso é mais do que evidente. Chegar ao Porto um quarto de hora antes ou depois daquilo que está previsto é relativamente irrelevante. Chegar depois do que está previsto no TGV significa poupar centenas de milhões de Euros. Não tem nada que ver com o discurso da “tanga”, tem que ver com o discurso da realidade.

E, na sua opinião, quando é que o PSD deve começar a apresentar as suas propostas alternativas?
O PSD, para já, tem de apresentar as orientações de carácter geral, que é o que está a fazer. Progressivamente – não está aberto um calendário eleitoral iminente e a líder do partido ainda está a assumir as suas funções -, sector a sector, o PSD irá detalhando as suas propostas.

Posso concluir que é favorável à gestão do silêncio que tem sido feita?
Não há silêncio nenhum. O que não há é a resposta às interpelações da comunicação social e da oposição, que estão sintonizadas nessa angústia, a Manuela Ferreira Leite, para que ela diga, exactamente, aproximado às centésimas, o que é que pretende fazer em cada um dos sectores da actividade. Manuela Ferreira Leite não tem, muito especialmente, de responder ao Governo. Como ela disse na entrevista à TVI, com grande oportunidade, o Governo não pode pretender ser a oposição da oposição.

Já foi líder do Grupo Parlamentar do PSD. Sentir-se-ia suficientemente legitimado se quase metade da Bancada não tivesse votado em si?
Se fosse no seguimento das eleições anteriores e da escolha de deputados nas eleições anteriores, sentir-me-ia perfeitamente legitimado.

Este Grupo Parlamentar, que parece pouco unido, não vai enfraquecer a liderança de Paulo Rangel?
Estou convencido que a aproximação ao calendário eleitoral e a própria personalidade do Paulo Rangel conduzirão a que a generalidade dos deputados cerrem fileiras em volta da liderança parlamentar. Não podemos é escamotear aquilo que a comunicação social está a escamotear: o Paulo Rangel foi eleito por um Grupo Parlamentar hostil. Ou seja, maioritariamente derrotado no congresso.

O partido, se calhar, também não os soube acolher. Os santanistas, por exemplo, ficaram excluídos deste PSD.
Não me estava a referir, sequer, aos santanistas. Julgava que essa espécie já não tinha tanta relevância como isso. Tem uma representação dentro do partido, depois do congresso, residual. Agora, de facto, há pessoas que estiveram na direcção do Pedro Santana Lopes que estão na direcção do Paulo Rangel.

Hugo Velosa.
E também o José Eduardo Martins. Um por estar ligado à Madeira, outro às áreas do ambiente. Ambos são competentes, estiveram disponíveis e foram convidados. Portanto, não é verdade que haja qualquer exclusão.

Paulo Rangel é a solução ideal ou a possível?
É uma solução arriscada. Na justa medida em que ele é um militante de filiação relativamente recente, por ventura sem o conhecimento tão aprofundado do partido como outros líder parlamentares poderiam ter. Mas a verdade é que já revelou qualidades que o apontam como uma aposta – insisto, de algum risco – extremamente interessante na renovação e na capacidade de confronto com o senhor primeiro-ministro.

Por que razão diz que é uma aposta de algum risco?
Por ser uma pessoa sem grande acolhimento dentro do partido, pois é um militante relativamente recente. Sem uma experiência extraordinária, como outros poderão ter. Mas tem um valor indiscutivelmente elevadíssimo. Já vi três ou quatro prestações dele na televisão em que bateu aos pontos os adversários todos. Paulo Rangel argumenta muito bem porque está muito bem apetrechado.

Falou em renovação. Há quem diga que este PSD é um regresso ao passado. Concorda?
Talvez. Mas acho que a Manuela Ferreira Leite, na Comissão Política, conseguiu dosear os consagrados, que são factores de grande credibilização do PSD, especialmente num momento em que o partido estava de rastos perante a opinião pública, e um conjunto de pessoas que aparece agora – que alguns eu nem sei quem são.

Quem é que falta neste PSD? Isto é, quem é que deveria ter avançado para a primeira linha e não o fez?
Não faço a mínima ideia. Tem de lhe perguntar sobre alguma recusa que possa ter tido.

Manuel Dias Loureiro?
Não sei se foi convidado. Mas se calhar está mais ligado à vida económica e menos disponível para a vida política.

As declarações elogiosas de Dias Loureiro a José Sócrates causaram-lhe espanto?
Não. Não me espantou. Dias Loureiro assumiu uma postura na sua vida virada para a actividade económica e empresarial. Tem todo o direito e tem todo o meu respeito. É, de facto, uma pessoa muito inteligente e assumiu, naturalmente, uma posição simpática para com o primeiro-ministro a propósito da apresentação de uma biografia.

Que posição é que Manuela Ferreira Leite deve reservar dentro do PSD para Pedro Passos Coelho?
Quando o Pedro Passos Coelho faz um discurso no congresso de grande abertura e de grande disponibilidade para colaborar, evidentemente que a Manuela Ferreira Leite é suficientemente inteligente para aproveitar essa disponibilidade. Como? Não me cabe a mim dizer. Não sei se ele está disponível para uma candidatura autárquica.

Falou-se de Pedro Santana Lopes em Lisboa. Em seu entender seria uma boa solução?
Quem falou foi o Marcelo Rebelo de Sousa. É uma hipótese… Depende das circunstâncias na altura. Eleitoralmente, o Pedro Santana Lopes é do melhor que o partido tem. A prova é que ganhou desafios impossíveis. Se é ele o melhor candidato? Imagine que Manuel Ferreira Leite tem outra ideia. Imagine que Manuela Ferreira Leite acha que o Pedro Passos Coelho é melhor candidato. Imagine que o Pedro Passos Coelho até está disponível. O Passos Coelho teve muito melhor impacto no congresso, em termos de votos, do que Pedro Santana Lopes. Estou a especular. Eu acho que deve haver um esforço por parte da direcção nacional, como houve quando eu me candidatei (com o Carlos Encarnação em Coimbra, o Rui Rio no Porto, o Santana Lopes na Figueira, o José Vitorino em Faro, o Fernando Seara em Sintra) para que nomes do PSD com projecção nacional se candidatassem a municípios em relação aos quais tinham alguma ligação.

E espera que haja, outra vez, esse empenho autárquico?
A Manuela Ferreira Leite sabe que a eleição autárquica tem enorme relevância. A direcção nacional do partido deve fazer um esforço junto dos militantes que podem prosseguir a carreira política, no sentido de quando têm capacidade eleitoral e competência técnica se possam candidatar às câmaras.

Poderá existir alguma falta de modernidade na nova liderança do PSD? Ferreira Leite, na terça-feira, referiu que “a família tem como objectivo a procriação”. Os ventos que sopram da Europa não são já outros?
E a família não tem como objectivo a procriação? Eu estou-me nas tintas para os ventos que sopram na Europa. Nós temos as nossas convicções. Assino por baixo o que disse Manuela Ferreira Leite. Total respeito pelas ligações homossexuais, recusa determinante em equiparar as relações homossexuais às relações heterossexuais. Para mim é mais uma questão de denominação do que outra coisa. Irrita-me que chamem casamento a uma relação entre homossexuais.

Já referiu que se vai recandidatar à Câmara de Cascais em 2009. Para além desse desafio, está disponível para mais algum?
Não. Eu já fui líder parlamentar duas vezes, ministro duas vezes, membro do Conselho de Estado, secretário-geral do PSD duas vezes, vice-presidente da Comissão Política duas vezes e três vezes presidente de câmara. Esta última função é onde melhor e mais me realizo pessoal e profissionalmente. Não tenho nenhum desejo, nenhuma vontade e nenhuma disponibilidade para voltar à vida política activa em Lisboa.|

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