Com a vitória nas eleições directas de Luís Filipe Menezes, chegam ao PSD novas figuras de topo. O SEMANÁRIO falou com Ângelo Correia, Rui Gomes da Silva e Ribau Esteves no sentido de perceber como serão os primeiros meses da liderança do novo Presidente do partido. O relacionamento com Belém, o futuro da liderança parlamentar e a reunificação interna estarão, seguramente, na agenda de Menezes.
As eleições directas no PSD ditaram o fim de um ciclo e o principiar de outro no seio do partido. Com o actual líder, Luís Filipe Menezes, chegam aos cargos de topo dos social-democratas novas figuras. Ângelo Correia, José Ribau Esteves, Martins da Cruz, Rui Gomes da Silva e Nuno Delarue terão, certamente, lugar no círculo privilegiado e restrito de “homens fortes” do líder agora eleito. Para ambos, o objectivo fundamental é vencer o PS em 2009 e será essa, com toda a convicção, a meta por todos traçada. Porém, até lá, existe um longo e sinuoso caminho a percorrer.
Ângelo Correia, mandatário nacional do candidato Menezes, declarou ao SEMANÁRIO não existir uma segmentação social entre as duas candidaturas que foram a votos. Na opinião do histórico do PSD, “havia dois contendores e haviam grupos de pessoas de diferentes matizes que os apoiaram. Não se pode falar em barões de um lado e povo do outro. A expressão numérica que assumiu o resultado duma candidatura e de outra não permite tirar essa elação”, rematou.
De modo a aproximar os militantes social-democratas, divididos por um dos confrontos mais crispados na história do partido, Ângelo Correia sugere o “trabalho”. Segundo o antigo ministro da Administração Interna, “o dr. Luís Filipe Menezes, para unir o PSD, deve pôr todo o partido a trabalhar. Para esquecer as clivagens emocionais e adquirir clivagens sobre um programa de acção. No trabalho podem acontecer clivagens, mas eu essas desejo-as. Desejo-as e são de salutar porque significam pontos de vista diferenciados sobre as mesmas questões. Isso é de salutar. Divisões meramente temperamentais ou de métodos de associação ao poder não são de salutar”, realçou.
José Ribau Esteves preside actualmente à Câmara Municipal de Ílhavo. O autarca foi o porta-voz da candidatura de Menezes. Sempre junto ao actual líder, Ribau mostrou uma enorme capacidade de trabalho e de lealdade. Seguramente, verá o seu esforço recompensado com um cargo executivo no partido, segundo algumas vozes, o de secretário-geral.
Em declarações ao SEMANÁRIO, José Ribau Esteves salientou o significado político da vitória de Luís Filipe Menezes. “A vitória significa a materialização de uma vontade de mudança que o partido vinha sentindo ao longo deste tempo”. O autarca acrescentou que durante a campanha interna assistiu-se a um “crescendo na adesão à candidatura e a uma grande vontade de mudança na militância. Esta vitória diz bem desse sentimento”, finalizou.
Na opinião de Ribau Esteves, o PSD vai, a partir de agora, entrar numa nova vida. “O Partido vai enveredar por um caminho seguramente diferente, na sua substância e forma, daquele que vinha percorrendo. Significa isto”, continuou, “que a vitória de Luís Filipe Menezes materializa um novo caminho no partido, que acreditamos seja de crescimento, de vitória, de capacidade de luta, de fortalecimento interno… Para que o PSD se afirme como um verdadeiro líder de oposição e que se vá construindo, cada vez mais, como uma alternativa credível e capaz aos olhos dos portugueses”.
O porta-voz do candidato Menezes nas eleições internas frisou a importância de se trabalhar no sentido da unificação do partido, independentemente do voto ou do apoio publicamente manifestado a um ou outro candidato. “Neste momento a postura é de convidar toda a gente ao trabalho”, realçou Ribau Esteves. Acrescentando que “o apelo à unidade é um apelo permanente, mas no sentido de que toda a gente está permanentemente convidada a ser parte de um trabalho de fortalecimento do PSD”. Segundo o Presidente da Câmara Municipal de Ílhavo, Menezes deve trabalhar “com aqueles que entender que são os mais disponíveis, os mais capazes e aqueles que estarão em melhores condições para assumir a responsabilidade dessas tarefas, tendo sempre presente os objectivos claros que estão definidos na moção que apresentou com a sua candidatura”. Ribau Esteves referiu, ainda, estar certo que Luís Filipe Menezes vai, “obviamente, saber respeitar e saber conviver democraticamente com aqueles que tiveram uma atitude diferente dessa”. Mas deixou um aviso: “esta vai ser uma caminhada com uma liderança forte e determinada, subjugada ao seu rumo e aos seus objectivos”.
Rui Gomes da Silva, deputado e antigo ministro dos Assuntos Parlamentares do Governo de Santana Lopes, é um dos nomes falados para ocupar uma das vice-presidências do PSD. Durante a campanha interna, assumiu grande protagonismo nas reuniões do Conselho de Jurisdição Nacional. Membro proeminente da ala santanista e advogado, foi Gomes da Silva que preparou os recursos para a justiça que, afinal, não chegaram a ser necessários.
Ao SEMANÁRIO, Rui Gomes da Silva destacou a importância e o simbolismo da vitória de Menezes sobre Marques Mendes. Para o antigo ministro, “o resultado das eleições directas simboliza a vitória da determinação, a vitória das convicções e a vitória das bases do PSD sobre as pretensas elites iluminadas que julgavam que o partido era uma coutada privada”.
Gomes da Silva manifestou plena convicção numa mudança, num novo rumo para o partido. “O PSD não será mais o mesmo”, expressou o representante de Luís Filipe Menezes no Conselho de Jurisdição. “Com o dr. Menezes, estas pessoas que apareciam ciclicamente a apoiar os líderes em funções não terão mais nenhuma capacidade de intervenção no partido. Essas pessoas somente eram militantes porque tinham sido governantes e, portanto, nunca foram capazes de militar activamente no partido. Ou seja, descer às bases, falar com elas e ser parte dessas mesmas bases. São pessoas que estavam disponíveis para governar, mas indisponíveis para trabalhar. São pessoas que quando o partido está na oposição ficam à espera que volte ao Governo, mas nunca fazem nada para que isso aconteça, antes pelo contrário. Cada vez que falavam, faziam-no contra o sistema partidário, contra o trabalho partidário, contra a militância activa… Portanto, o que aconteceu, desta vez, foi um ponto final nessas pseudo-importâncias que, algumas delas, já se arrastavam há quase 17, 18 anos. Esta mudança era inevitável.”
Relativamente a Manuela Ferreira Leite, o deputado considera que o seu apoio à candidatura de Luís Filipe Menezes seria “rigorosamente indiferente”. Para Gomes da Silva, a vontade dos militantes numa mudança de rumo era muito forte e, portanto, indiferente ao apoio dos chamados “barões” do partido. O antigo ministro salientou o mau caminho seguido pelo PSD durante a direcção de Mendes, fundamentando o descontentamento geral dos militantes com tais erros de percurso. A título de exemplo, Gomes da Silva nomeia a incapacidade de, no parlamento, Marques Mendes sair vencedor dos debates mensais com o primeiro-ministro.
Ângelo Correia considerou que existia “no país e no partido uma necessidade de mudar”. Para o social-democrata era notório, junto dos militantes, “um desejo de uma mudança radical”.
Coabitação com Belém
Um tema que vai marcar, certamente, a agenda de Luís Filipe Menezes enquanto líder do maior partido da oposição é coabitação com Belém. É importante referir que a animosidade entre Menezes e Cavaco Silva é um facto. Para Ribau Esteves a solução é muito simples. “A coabitação vai ser feita desta maneira: o dr. Luís Filipe Menezes é o presidente do PSD, que vai governá-lo com a sua equipa, com a sua estratégia e com os seus objectivos; o professor Cavaco Silva é o Presidente da República da Nação e vai seguramente continuar a gerir a Presidência da República com a sua equipa e com a sua estratégia”.
Na mesma linha de simplicidade, o autarca concluiu “que é desta forma que o dr. Menezes olha para essa coabitação. Pertencemos ao mesmo país, temos bons objectivos ao nível de querermos o bem da Nação. Agora, cada um fará o seu trabalho, não há ai nada de mau nem nada de bom. Há tudo de normalidade naquilo que vai ser um partido com uma dinâmica nova e diferente e naquilo que é uma Presidência da República que já deixou claro qual é o seu estilo e qual é a forma como materializa os seus objectivos”.
Rui Gomes da Silva, por seu turno, defende que as relações entre Menzes e Cavaco se devem pautar pelo respeito, “pelos cargos e pelas competências”. “O Presidente da República”, continuou o deputado, “merece todo o respeito institucional. Agora, o PSD tem autonomia estratégica e não depende de ninguém”, avisou o ex-ministro de Santana Lopes.
Ângelo Correia afasta na totalidade a existência de qualquer tipo de animosidade entre o Presidente da República e o líder do maior partido da oposição. Relativamente ao futuro das relações entre Menezes e Cavaco, o histórico do PSD antevê que “a coabitação entre Luís Filipe Menezes e o presidente da República seja respeitável, respeitadora, percebendo qual o papel de cada um deles e tentando cooperar o mais possível para a realização de um bom desígnio português”.
Regresso do santanismo
As vozes mais críticas de Menezes salientam que a sua vitória representa o regresso do santanismo, com todas as respectivas consequências. Dando ênfase, inclusivamente, à hipótese de o próprio Pedro Santana Lopes vir a liderar a bancada parlamentar, que expectavelmente ficará órfã de Luís Marques Guedes. A par da epifania do antigo primeiro-ministro, as acusações de populismo a Menezes foram uma constante durante o período de campanha.
Ângelo Correia não quis nomear o nome de um deputado que gostasse de ver a liderar a bancada do PSD na Assembleia da República, salientando que não faz “comentários sobre pessoas, na exacta medida em que essa é uma apreciação que tem de ser feita pelos senhores deputados”. No entanto, avançou dois critérios que, no seu entender, devem pesar decisivamente na escolha do futuro líder parlamentar: “primeiro, a vontade livre e soberana do grupo parlamentar. Segundo; um critério adicional dentro dessa escolha, que tenha em conta um critério unificador dos senhores deputados”.
Rui Gomes da Silva, membro proeminente da ala santanista, apelidou de “lamentáveis e indecorosas” as criticas desferidas a Menezes. Chegando mesmo a referir que são uma “falta de respeito para com próprio partido e para com os militantes”. Gomes da Silva deixou um desafio: “era bom que as pessoas, que andam agora a dizer o que dizem, vão ao congresso dizê-lo. Acho que era bom e ninguém lhes vai bater. Irem lá e irem a votos”.
Porém, o deputado não acredita que o seu repto seja aceite pelos críticos. “As pessoas que fazem essas acusações ao dr. Luís Filipe Menezes são cobardes, não têm coragem para, em sede própria, dizerem o que afirmam agora”, destaca Rui Gomes da Silva.
Marcelo Rebelo de Sousa
O comentador não é bem visto nas hostes menezistas. Rui Gomes da Silva criticou explicitamente Marcelo Rebelo de Sousa, apelidando de “triste espectáculo” os comentários que o professor de direito manifestou no seu último programa semanal na televisão pública. O antigo ministro concluiu que o comentador e antigo presidente do partido tenta fazer análises objectivas mas, na prática, “tudo aquilo é uma enorme insensatez, um enorme desconhecimento”. Para o representante da candidatura de Menezes no Conselho de Jurisdição do PSD, Marcelo é “uma pessoa que tem desejo de intervenção política, travestido de analista político”. Gomes da Silva acusa, nesse sentido, o professor de confundir “desejos pessoais com análise objectiva”.
Ribau Esteves escusa-se a comentar as afirmações de Marcelo acerca de um alegado favorecimento de Manuela Ferreira Leite a Luís Filipe Menezes, em detrimento de Mendes. Na opinião do porta-voz da candidatura de Menezes nas eleições directas, “o mérito desta vitória, por mais que haja comentadores que não o queiram, é do dr. Menezes. O mérito é dele, o trabalho é dele. Portanto, não vale a pena estarmos com outras dissertações. Especificamente, o comentário não me merece qualquer comentário”, concluiu Ribau.
Cargos executivos
No congresso agendado para os dias 12, 13 e 14 de Outubro, um dos temas que estará em cima da mesa será a eleição dos órgãos nacionais do partido. Ângelo Correia, José Ribau Esteves, Martins da Cruz, Rui Gomes da Silva e Nuno Delarue são nomes ventilados entre os social-democratas e na comunicação social para ocuparem cargos executivos na direcção de Menezes.
Os potenciais membros da direcção liderada por Menezes escusaram-se a confirmar as informações que têm vindo a lume. Porém, sem nunca pôr em causa a respectiva disponibilidade, salientaram que a sua escolha será exclusivamente da opção do actual presidente, sem pressões de índole alguma. Ângelo Correia, porém, afasta definitivamente a hipótese de vir a ocupar um cargo executivo na direcção do PSD. Justifica a sua posição com base em razões pessoais, que já as enunciou a Luís Filipe Menezes. “Não tenho tempo, nem capacidade, nem possibilidades, nem desejo exercer funções executivas de regresso à vida partidária”, frisou o mandatário nacional. Ângelo Correia avançou que “gostaria de desempenhar funções discretas e nunca permanentes”.
Ribau Esteves assegura que Luís Filipe Menezes está a “reflectir” sobre a composição da sua futura equipa. “O dr. Menezes”, acrescenta o autarca social-democrata, “vai escolher a sua equipa debaixo daquilo que sei que são os seus critérios de qualidade e de exigência. Portanto, espero que ele escolha muito bem. Aquilo que ele quiser fazer comigo pertencerá, em primeira instância, ao seu critério e em segunda instância às minhas decisões. Mas isso não é relevante nesta altura. É só relevante, depois no fim, sabermos quais foram as suas decisões e qual a equipa que ele pretende apresentar. Quando for o momento tudo se saberá, com a normalidade democrática”.
Rui Gomes da Silva mostra-se disponível para ocupar funções executivas no PSD, “as funções que o dr. Luís Filipe Menezes entender”, acrescenta. . O social-democrata ressalva, no entanto, que há funções que estão à margem da sua vontade e outras, pelo contrário, que ficaria “honrado com um convite. Essas dependerão só de um convite do dr. Luís Filipe Menezes e da conversa que possamos ter. Mas não será por causa do meu lugar que o partido entrará em convulsões”, assegura.