Subitamente o País encheu-se de rumores, de sugestões, de boatos e de notícias não confirmadas. O Presidente eleito, no passado domingo, arrumou papéis e rumou ao Algarve, onde descansa, reflecte e vai fazendo, discretamente, os contactos que entende mais urgentes. Na sua casa de Lisboa, e no dia seguinte à eleição, recebeu uma amiga de longa data, que é também jornalista do “Expresso” e da SIC – Maria João Avillez. Mas só amanhã se saberá se o “Expresso” traz algumas revelações sobre o que pensa fazer, no imediato, o novo inquilino do Palácio de Belém. Sintomático é, contudo, o silêncio dos principais colaboradores de Cavaco Silva no período da campanha eleitoral. O que avoluma os rumores…
Ramalho Eanes, futuro marechal da República. É um dos rumores, porventura o que politicamente terá menos impacto. Até agora o ex-Presidente tem recusado essa distinção, mas ele sabe que enquanto viver dificilmente alguém terá essa dignidade. Durão Barroso sondou-o, mas Ramalho Eanes quase que se arrepiava, pois a condição de marechal faria dele um conselheiro especial do ministro da Defesa, que então se chamava… Paulo Portas.
Eanes foi presidente da Comissão de Honra da candidatura de Cavaco Silva e acompanhou o agora Presidente eleito em várias acções de campanha e foi um dos que não teve receio de pedir a sua eleição à primeira volta. Conselheiro de Estado vitalício, na sua condição de ex-Chefe do Estado, a ser elevado à condição de marechal, permaneceria no activo das Forças Armadas até ao fim da sua vida. Os marechais não passam à reserva. Como quer que seja, alguns obstáculos já foram superados E Ramalho Eanes tem condições novas para alguns protagonismos, numa colaboração estreita com Cavaco Silva. Pode, aliás, ajudá-lo na formação da sua Casa Militar. Aqui também surgiram alguns rumores, um dos quais apontava o general Rocha Vieira para chefe da Casa Militar, o que parece pouco provável, uma vez que não é da tradição presidencial nomear para esse importante cargo um oficial-general na reserva, por mais prestigiado que seja.
Laborinho Lúcio será o futuro procurador-geral da República? Alguns meios próximos de Cavaco Silva dizem que é o nome preferido pelo Presidente eleito, mas ao SEMANÁRIO não possível saber, sequer, se Cavaco Silva já pensou nisso. Alguns meios políticos e judiciais confessam que se trata de um bom nome. É magistrado, foi ministro da Justiça do próprio Cavaco Silva, foi responsável pelo Centro de Formação de Magistrados, conhecerá como poucos as teias complexas da Justiça. Tem fama de ser frontal e incorruptível e é um homem de consensos. É o ministro da República para os Açores, tem coabitado exemplarmente com Carlos César e mantém relações cordiais com o Executivo de José Sócrates. Tem boas condições para substituir Souto Moura, mas é cedo para se saber se é isso que vai acontecer.
Manuela Ferreira Leite, colaboradora essencial do novo Presidente e sua amiga de longa data, que papel vai ter daqui para a frente? Especulações não faltam. Para uns tem o perfil certo para ser chefe da Casa Civil, como o SEMANÁRIO referiu há uma semana. Tem experiência governativa, que é essencial para quem exerce essas funções, mas há quem julgue que Cavaco Silva vai preferir uma pessoa mais nova. Ferreira Leite poderá ser convidada para Conselheira de Estado, na quota de cinco que ao Presidente cumpre nomear. Essa circunstância não inibiria Ferreira Leite de regressar ao palco partidário, onde muita gente suspira por si e a vê como futura líder do PSD e instalada em S. Bento como primeira-ministra.
Alexandre Relvas, o “Mourinho” de Cavaco Silva, nas palavras do Presidente eleito, as quais, aliás, têm sido pretexto para aflorações diversas de ciúme políticos (o SEMANÁRIO testemunhou algumas… que guardará ara memórias…) que também revelam alguma incompreensão por um certo deslumbramento que Cavaco demonstrou ter pelo seu chefe de campanha. “O menino da Católica”, “no PSD ninguém o conhece”, “é arrogante e vaidoso”, foram os epítetos mais suaves que podem ser reproduzidos…
É cedo para averiguar se Alexandre Relvas, com a ajuda de Cavaco Silva, terá espaço de manobra para desempenhar a curto prazo um papel fulcral na política portuguesa. E se fala nisso é porque tem sido lançada à boca pequena a ideia de que Relvas poderia muito bem ser o futuro líder do PSD e chegar a S. Bento a tempo de coabitar alguns anos com Cavaco Silva. (Há, pelo menos, um familiar do novo Presidente, que insinuou essa probabilidade junto de várias personalidades, incluindo ex-ministros de Cavaco Silva. Certamente num acto à margem do conhecimento do Presidente eleito…) Para já o que é certo é que Alexandre Relvas tem compromissos empresariais de que não parece disposto a deixar. Além disso, o novo Presidente, pelo menos para já, não tem o mínimo espaço de manobra para interferir na vida interna do PSD. Além de que, em boa verdade, são excelentes as relações políticas e pessoais que mantém com Marques Mendes.
Encontro de Presidentes E com Sócrates, quando?…
Jorge Sampaio, o Presidente cessante, deve receber nos próximos dias, no Palácio de Belém, o seu sucessor. Apesar de terem sido antagonistas há dez anos, o tempo aproximou os dois homens, que desenvolveram sentimentos de amizade e de respeito. Hoje pode dizer-se, sem receio de errar, que Jorge Sampaio só dissolveu a Assembleia da República e convocou eleições antecipadas, que haviam de ditar a maioria absoluta do PS e a queda de Santana Lopes, depois de se certificar da concordância de Cavaco Silva. Melhor dizendo, depois de indagar se a ala cavaquista do PSD não levantaria ondas a tal controversa decisão. Essa consulta a Cavaco Silva permaneceu até agora em sigilo, nem Sampaio a revelou nos seus últimos escritos públicos.
É assim de esperar que a transição seja mais do que pacífica e que Sampaio facilite até ao limite, todas as solicitações que lhe forem feitas por Cavaco Silva. Após este encontro serão depois os futuros colaboradores de Cavaco Silva a entender-se com os assessores de Sampaio.
Está a gerar, alguma expectativa, o modo e a forma como Sócrates e Cavaco vão ter o primeiro encontro pessoal. Antes ou depois da posse?
Há 20 anos, quando foi eleito para Belém e antes de tomar posse, Mário Soares convidou o então primeiro-ministro, Cavaco Silva, para um almoço. Cavaco fará o mesmo com Sócrates?
O novo Presidente e o actual primeiro-ministro deverão concertar, entre si, alguns pormenores essenciais no que toca, designadamente, aos convidados oficiais presentes na investidura, a 9 de Março. Sabe-se que, até por contraponto com Mário Soares – tendo em consideração as críticas veladas à pompa e circunstância que rodearam a posse de Soares, que refere na sua autobiografia política -, Cavaco Silva deverá ser muito sóbrio. Ainda assim afluirão a Lisboa a maior parte, se não mesmo a totalidade dos Chefes de Estado dos PALOP, Lula da Silva ou virá ou enviará o seu vice-presidente, Xanana Gusmão, Presidente de Timor, também deverá estar presente. Dos Estados Unidos virá ou o vice-presidente ou a secretária de Estado (a família Bush é amiga da família do novo Presidente português), e seguramente um representante das casas reais espanhola e britânica e, porventura, alguns Chefes de Estado da União Europeia. E todos estes convites devem ser acertados com José Sócrates, que aproveitará a ocasião para algumas conversações de natureza política.PC