O futuro sorri mais a Santana Lopes do que a Cavaco Silva na corrida a Belém, designadamente porque o primeiro é mais jovem do que o segundo, afirma Guilherme Silva, líder parlamentar do PSD, em entrevista ao SEMANÁRIO, concedida nas vésperas de a maioria fazer um ano de Governo.
O número um da bancada social-democrata fala de tudo e de todos, revelando que dentro de uma semana Durão Barroso reunirá com o grupo parlamentar do PSD.
O arrastar da guerra no Iraque poderá provocar uma recessão económica à escala mundial, o que prejudicaria a retoma da economia portuguesa para breve…
É verdade que a guerra e o seu arrastamento podem agravar a situação económica mundial.
Com consequências inevitáveis para a economia portuguesa…
Naturalmente que sim. Em todo o caso, a incerteza anterior quanto à existência ou não de conflito, que se concretizou, estava a ter os seus efeitos negativos para a economia.
A certeza dir-se-ia preferível à incerteza…
O ideal é que não tivesse havido guerra, mas sendo inevitável como se demonstrou, importa que seja rápida com as menores consequências possíveis para ambas as partes, em particular para as populações inocentes.
Poderei deduzir das suas palavras que ainda temos que apertar mais o cinto por causa da guerra?
Vamos passar ainda um período difícil, que será mais ou menos prolongado, consoante a guerra se arrastar por mais ou menos tempo. Somos uma economia aberta com uma grande dependência externa e que só poderá arrancar arrastada pelas grandes economias europeias.
Retomando a questão inicial, pensa que ainda é possível a retoma da economia portuguesa em 2004, ou mesmo ainda no segundo semestre de 2003, como alguns crêem?
Penso que em 2004, e se o conflito no Golfo se resolver rapidamente, esta circunstância virá a ter virtualidades e repercussões positivas na retoma económica interna e externa.
Mas concretamente: acha que ainda vão ser pedidos mais sacrifícios aos portugueses dos que já foram pedidos?
Espero que não. Importa aqui salientar a compreensão que os portugueses têm tido para as dificuldades que herdámos e para as medidas menos agradáveis que foi necessário tomar para sanear as finanças públicas e reduzir o défice. Uma casa não se começa a construir pelo telhado.
Mas há uma polémica, dentro da maioria, entre Miguel Cadilhe e Manuela Ferreira Leite. O primeiro defende para já a aplicação do choque fiscal e o aumento da despesa pública…
O comissário Sobles interveio a propósito dessa aparente divergência e disse isso mesmo: que ela era mais aparente do que real…
Estará a dizer que não há divergências entre Miguel Cadilhe e Manuela Ferreira Leite?
Têm ambos razão. Apenas importa introduzir em relação às posições de ambos o brocardo latino “ratione temporis”, ou seja, as medidas propostas por ambos têm razão de ser em tempos diferentes…
Dir-se-á que Miguel Cadilhe se precipitou um pouco ao defender para já a concretização do choque fiscal…
Não sei se poderemos chamar propriamente precipitação. A diferença entre ambos, nesta ocasião, decorre de um ser ministro das Finanças e outro ter sido. É compreensível que haja um pequeno choque – não um choque fiscal – entre as ópticas de cada um.
A ministra Manuela Ferreira Leite está a ser um pouco criticada, em alguns sectores, por estar a exagerar, segundo dizem, com as medidas impopulares…
Há uns defensores de alguma flexibilização, mas a verdade é que Portugal é um país pequeno e até agora a União Europeia, e designadamente a Comissão, não tomou qualquer posição no sentido de Portugal ser autorizado a ultrapassar os limites fixados para o défice. Seria irresponsável continuar no laxismo do passado, de desrespeito das metas europeias.
Há quem diga que Portugal voltou a ser bom aluno…
No âmbito das pessoas como dos Estados é sempre melhor ser bom aluno do que cábula ou lanterna vermelha…
Ainda sobre a guerra: é a favor ou contra ela?
Obviamente que no domínio dos princípios sou frontalmente contra a guerra.
Qualquer pessoa bem formada é contra a guerra. Não é uma questão de esquerda ou de direita…
Nem de pacifistas de primeira ou de segunda…
Está contra as manifestações pela paz que se realizaram em todo o mundo, incluindo Portugal?
Respeito e compreendo essas manifestações, se bem que analistas insuspeitos já tenham adiantado que essas manifestações e as hesitações de alguns Estados face ao regime de Saddam Hussein tiveram efeito negativo e criaram ao regime iraquiano a ideia de que não havia firmeza ocidental na exigência do desarmamento. Infelizmente, essas atitudes podem ter propiciado a necessidade da guerra.
Terá havido, no entanto, uma subavaliação por parte dos EUA da resistência iraquiana. Os americanos porventura pensavam que tudo seria mais fácil…
Acho que é muito difícil ajuizar com rigor esse tipo de situação. Pela razão simples de que no âmbito das guerras há todo um conjunto de actuações, oculto e reservado, que não chega à opinião pública, o que é compreensível, como há, de um lado e de outro, muita contra-informação, o que impede a avaliação correcta da questão que me coloca.
Forte acusação aos socialistas
“PS traiu os aliados de Portugal”
O frentismo de esquerda que se verificou nas moções de censura poderá prejudicar o PS. É essa a sua convicção…
A questão mais delicada que se coloca nesse frentismo não é apenas a do PS poder ser prejudicado, mas sim a de que sendo o PS um partido de alternância em Portugal, quando voltar ao Governo, levará consigo, no âmbito da política externa, esta traição aos nossos tradicionais aliados, pelo que será mau para o País ter um Governo de base PS…
Segundo as sondagens, não falta muito para esse Governo. O PS tem oito pontos de avanço sobre o PSD…
O PS governava, como se sabe, em função das sondagens. Na oposição, não se desabituou dessa forma de estar. Só que conjunturas de sondagens favoráveis são efémeras e a hora da verdade é a hora das eleições.
A coabitação entre Sampaio e Durão Barroso tem sido à prova de guerra…
Quer o PR, quer o primeiro-ministro, têm um superior sentido de Estado. E sabem perfeitamente interpretar em cada momento o interesse nacional. O País teve o conforto de verificar que Portugal, numa matéria tão delicada, agiu a uma só voz, com a sintonia dos orgãos de soberania, quando muitos esperavam e desejavam mesmo um conflito institucional.
De qualquer forma, Sampaio não terá a 25 de Abril a “prenda” que tanto desejava, ou seja, a reforma do sistema político…
Estamos a trabalhar afindcadamente nisso e posso dizer-lhe que alguns dos documentos essenciais dessa reforma poderão estar concluídas dentro de quinze dias, a tempo, portanto, do 25 de Abril…
Refere-se à Lei dos Partidos e à Lei do Financiamento dos partidos?
Exacto.
Aqui já há consenso entre o PSD e o PS?
Nos aspectos mais relevantes há efectivamente consenso.
O acordo mostra-se mais difícil nas questões eleitorais…
Já foi assim no passado e compreende-se que as implicações que as mudanças nas leis eleitorais podem importar, levantem algumas dificuldades na aproximação entre os dois maiores partidos, na qual, porém, acredito que venha a acontecer.
Em contrapartida, o seu grupo parlamentar já não reúne há mais de um mês com o primeiro-ministro. O que é que se passa?
Não há nenhuma regra de presenças mensais do senhor primeiro-ministro em reuniões do grupo parlamentar. Naturalmente, todos os deputados gostam de ter o primeiro-ministro em reuniões do grupo parlamentar com a maior frequência possível. Mas todos compreendem, particularmente nestes momentos graves da vida nacional e internacional, que o senhor primeiro-ministro tem estado extremamente absorvido e com inúmeras solicitações, designadamente no estrangeiro. Em todo o caso – e ao contrário do que acontecia nos governos anteriores – o senhor primeiro-ministro tem vindo com muita frequência à Assembleia da República e não falhou até agora um só debate mensal.
O grupo parlamentar compreende e privilegia uma presença institucional no Parlamento. Dentro de uma semana, o senhor primeiro-ministro reunirá com o grupo parlamentar do PSD…
Para terminar: prefere Santana Lopes ou Cavaco Silva, como candidato do PSD a Belém?
Sobre essa questão, tenho dito que o PSD nunca tem apenas um só candidato nem mesmo apenas dois para os mais altos cargos do Estado.
Mas respondendo à pergunta…
Cada um desses potenciais candidatos, incluindo os referidos na pergunta, deve ter a humildade para, no momento certo, e ainda é muito cedo, darem prioridade e respeitarem aqueles que estiverem melhor colocados para ganhar esse batalha. Quer o prof. Cavaco Silva, quer o dr. Santana Lopes são políticos de grande dimensão e gabarito e com qualidades para o exercício do cargo de Presidente da República.
Naturalmente, o dr. Santana Lopes é mais jovem e terá com certeza mais “chances” e oportunidades futuras na corrida a Belém.