O Ciclo Thomas Bernarhd acontece no CCB entre os dias 19 de Novembro e 1 de Dezembro, em vários espaços do CCB. Da relação do escritor com a música à relação com o teatro, este ciclo vai além disso, criando uma relação permanente do autor com o público, através de uma exposição, um concerto, conversas sobre a obra do autor austríaco, leituras dramatizadas, um lançamento de um livro e uma peça de teatro. Haverá ainda o jornal “Thomas Bernhard”.
Nascido na Holanda, Thomas Bernhard (1931-1989). passou a infância com os seus avós maternos em Viena. Em 1935 muda-se com eles para Seekirchen, perto de Salzburgo. O seu avô, o escritor Johannes Freumblicher, foi a sua grande referência. Foi educado em dois internatos, um nacional-socialista e o outro católico, que o marcaram muito. A morte do avô em 1949 e a da sua mãe no ano seguinte abalaram profundamente o escritor. Depois da sua hospitalização, devido a uma tuberculose que lhe deixou sequelas, Bernhard arranjou emprego num jornal de Salzburgo, ao mesmo tempo que começou a escrever contos e poemas. Bernhard estudou música e canto, antes de se dedicar exclusivamente à literatura e à escrita para teatro. A sua escrita, musical e rigorosa, revela uma consciência crítica exacerbada pelas vicissitudes da vida pessoal. Em 1957 foi publicado o seu primeiro livro de poesia, “Na Terra e no Inferno”, ao qual se seguiram outras colectâneas de poesia. Posteriormente, o autor aventura-se na escrita em prosa e no género dramático, publicando o seu primeiro romance, “Frost” (1963), e a sua primeira peça, “Uma Festa para Boris”, estreada em 1970.
O CCB programou para este ano alguns ciclos dedicados a personalidades artísticas importantes. O primeiro foi Paul Bowles, escritor norte-americano, agora a instituição dedica uma semana da sua programação a um dos maiores escritores europeus da segunda metade do século XX e também um dos mais polémicos da sua geração. Nunca deixou de exprimir as suas opiniões controversas nas suas muitas obras, sobretudo sobre a sua relação ambígua com a Áustria e os austríacos.
Este é um ciclo que toca o autor e a sua obra de vários pontos de vista, através de diferentes áreas artísticas e as relações com as mesmas. Por exemplo, a sua relação com a música, tão visível em obras como “O Náufrago” e “O Sobrinho de Wittgenstein”, é abordada neste ciclo. No dia 26 de Novembro, vai ler-se aquela primeira obra, um dos mais conhecidos romances de Thomas Bernhard pelo actor Tiago Rodrigues, seguida da projecção do filme “Glenn Gould: Variações Goldberg”, de Bruno Monsaingeon.
Também a sua ligação ao teatro, com leituras de “O Presidente” e a reposição da encenação do Teatro de Almada para “O Fazedor de Teatro”, com a qual o actor Morais e Castro ganhou o Prémio da Crítica em 2004. O seu tradutor para português, José António Palma Caetano, abordará em conferência a relação de Thomas Bernhard com Portugal. “O Fazedor de Teatro”, no original alemão “Der Theatermacher”, é sem dúvida uma das peças com mais repercussão e mais apresentada. Pertence já à fase de “maturidade dramática” do autor, tendo sido escrita na primeira metade dos anos oitenta e agora é reposta nos dias 28, 29 e 30 de Novembro.
Quem apresenta a leitura dramatizada de “O Presidente”, no dia 19 de Novembro, é a Companhia de Teatro de Almada, sendo aquela a primeira peça de carácter político do escritor e que tem uma parte que se passa em Portugal (no Estoril), no tempo da ditadura. Thomas Bernhard não era um político, contudo esta peça tem este carácter híbrido.
A concluir o ciclo, o maestro Michael Zilm dirigirá a Orquestra Metropolitana de Lisboa num concerto preenchido com música sobre a qual escreveu, designadamente a “Sinfonia Haffner”, de Mozart.
A exposição Thomas Bernhard, organizada pela Fundação Privada Thomas Bernhard, e com a contribuição de algumas das pessoas da sua vida, dá a conhecer aspectos da vida e da criação do escritor, com a apresentação de numerosos originais do autor de “Antigos Mestres”. Constituída por várias fotografias, cartas de família e textos originais, a exposição é uma viagem ao seu universo mais íntimo e familiar. A exposição estará patente mesmo pós ciclo, uma vez que continuará aberta ao público até 16 de Dezembro, na Galeria Mário Cesariny.
Também incluída no ciclo, está programada uma Comunidade de Leitores, que discutirá aspectos da sua obra literária, na Sala de Leitura do CCB. Da importância de Bernhard enquanto autor dramático à harmonia da sua escrita, passando pela visão inquietante que transmite nos livros ou a relação que tinha com a música, são vários os temas que se adaptam ao escritor austríaco, e que prometem animar uma conversa feita de leituras e que procura acima de tudo despertar leituras, ou não fosse este um ciclo dedicado à literatura, apesar da comunicação e da ligação a todas as outras áreas artísticas, é ali que está o centro gravitacional.