Depois das tentativas de envolver Miguel Horta e Costa e António Mexia, no caso de financiamento partidário no Brasil, foi a vez, esta semana, de aparecer o nome do responsável pelo BES do Brasil, Ricardo Espirito Santo, em contactos com os protagonistas mais polémicos de “mensalão”. O BES Brasil, cuja operação tem sido bastante rentável para o grupo Banco Espirito Santo, que é considerado como tendo uma boa gestão, tem ligação funcional, a Portugal, através do BESI . Entretanto, as principais cadeias de noticias, televisões e jornais brasileiros fizeram deslocar delegações e repórteres para Lisboa, para, aqui, procederem a investigações jornalísticas.
Ricardo Espírito Santo, pelo BES Brasil, que funcionalmente depende, em Lisboa, de António Ricciardi, presidente do BESI, confirmou ao jornal brasileiro “O Globo” que esteve reunido com o ex-chefe de gabinete do presidente Lula da Silva, José Dirceu, em 11 de Janeiro deste ano, numa reunião organizada por Marcos Valério, empresário brasileiro envolvido no escândalo do “mensalão”.
A notícia da reunião do banqueiro de S. Paulo, surge na sequência da tentativa de envolvimento do presidente executivo da Portugal Telecom, Miguel Horta e Costa, na história do financiamento partidário no Brasil. O envolvimento da PT seguia-se á noticia divulgada no Expresso de que os responsáveis pelo financiamento dos partidos da maioria no Brasil, se teriam alegadamente deslocado a Lisboa para contactos com o então ministro das Obras Publicas do governo de Santana Lopes, António Mexia. Este, aliás, já se disponibilizou para prestar todos os esclarecimentos à CPI brasileira.
Ao que o Semanário apurou, esta investigação da Comissão de Inquérito parlamentar brasileira visa atingir directamente o presidente Lula da Silva, e tem como principal interesse político não a renuncia nem o “impeachment” do presidente, mas a garantia de que não será recandidato nas próximas presidenciais. (ver também página 35).
Horta e Costa desmente financiamento
partidário
Ontem, o presidente da PT desmentiu envolvimentos em actividades ilícitas, confirmando, contudo, os encontros com o presidente Lula da Silva em 2004, quando a PT decidiu investir fortemente na rede móvel brasileira, que actualmente é responsável por parte significativa do volume de negócios da multinacional portuguesa.
Por seu lado, anteontem, em depoimento no Conselho de Ética do Parlamento brasileiro, José Dirceu, o ex-chefe da casa civil do presidente da Republica do Brasil e antigo responsável pelo financiamento do partido, negou qualquer envolvimento nas supostas negociações com a Portugal Telecom (PT), e omitiu ter-se encontrado com Marcos Valério na referida audiência com o representante do BES Brasil.
Contactado depois pela “O Globo”, José Dirceu admitiu ter recebido Ricardo Espírito Santo e Marcos Valério, mas negou ser este último a marcar a audiência, alegando que quem terá de explicar a razão da sua presença é o Banco (BES Brasil).
José Dirceu negou ainda ter havido qualquer negociação com o BES Brasil no referido encontro, explicando que a reunião serviu apenas para o banco comunicar interesses em novos investimentos no Brasil.
O deputado que espoletou o caso foi ouvido na Comissão de Ética do Parlamento de Brasília. O “Público” noticiava ontem que o deputado, Roberto Jefferson, eleito pelo Partido Trabalhista do Brasil, acusou na Comissão de Ética da Câmara dos Deputados o ex-chefe da casa civil do Presidente da República do Brasil, José Dirceu, de ter autorizado o envio de “emissários” a Portugal para negociar com a Portugal Telecom a libertação de verbas para o financiamento do seu partido e do Partido dos Trabalhadores (PT), no poder.
A história de Jefferson
Jefferson, o autor das denúncias que estão na origem do “mensalão”, um caso de corrupção que está a abalar a vida política brasileira e que consistia num esquema de captação de fundos para pagar a compra de votos de deputados que apoiam o Governo no Congresso, acusou José Dirceu de ter autorizado o envio a Lisboa de “emissários para” negociar “um acordo que pusesse em dia as contas do PT e do PTB.” Jefferson disse que Dirceu foi incumbido de aproximar o Presidente Lula da Portugal Telecom, tendo revelado a existência de um encontro no final do ano passado.
Foi na sequência dessa reunião que, afirma Jefferson, Dirceu autorizou o envio de uma delegação dos dois partidos a Lisboa.
O deputado federal do Rio de Janeiro disse que o encontro se chegou a realizar “em 24, 25 ou 26 de Janeiro em Portugal”, e que tinha capacidade de provar as datas exactas em que essa reunião terá acontecido.
José Dirceu negou veementemente as acusações, afirmando que nunca teve “contactos com a Portugal Telecom” e acusando Jefferson de “mentir.” Mas as denúncias de Roberto Jefferson, que é presidente do PTB, acabaram por se tornar um dos principais temas da audição parlamentar na Comissão de Ética, um acontecimento que ontem teve início às 19h00 de Lisboa e que foi transmitido em directo por vários canais da televisão brasileira.
De acordo com a interpretação de alguns deputados, a acusação de Roberto Jefferson consistiu até no “único dado novo” da audição parlamentar.
Caso português com investigação autónoma?
Em consequência, foi solicitado por membros da oposição que a denúncia do deputado do PTB deveria ser objecto de uma investigação autónoma.
Segundo o deputado, a viagem de Valério, a Portugal (já confirmada) serviria para conseguir um acordo com a empresa PT que pusesse as finanças do seu partido PTB e do PT de Lula, em dia.
O BES aparece também como suspeito de ter oferecido uma comissão aos mesmos partidos, caso conseguisse um depósito de 600 milhões de dólares do Instituto de Resseguros do Brasil depositados noutro banco europeu.
A Portugal Telecom diz que o encontro com Marcos Valério servia para tratar sim da eventual compra da Telemig Celular, operador móvel em Minas Gerais e cliente de Valério.
Também o gabinete de Lula da Silva se pronunciou dizendo que “não tratou qualquer assunto com a direcção da Portugal Telecom que não se referisse aos empreendimentos da companhia portuguesa no país.”|