Esta semana fui agradavelmente surpreendido com uma proposta do Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol referente à reorganização do quadro competitivo do futebol profissional em Portugal.
Nesta proposta aponta-se para uma redução drástica do número de equipas na SuperLiga, a qual teria um máximo de 12 equipas. Além disso a prova seria disputada a dois tempos. Num primeiro tempo jogariam todos contra todos, o que se traduziria em 22 jogos. Num segundo tempo seriam constituídos dois grupos de 6 equipas, sendo que as primeiras seis disputariam o título de campeão e as restantes seis disputariam a permanência na SuperLiga. Teríamos assim mais 10 jogos para cada equipa, o que totalizaria no final 32 jogos, ou seja, apenas menos dois jogos do que actualmente.
A proposta citada tem o principal mérito de aumentar grandemente a competitividade do futebol em Portugal. Todos os anos veríamos, por exemplo, 4 jogos entre Benfica e Sporting, em alternativa aos actuais 2 jogos. O aumento do interesse pelos jogos cresceria de forma evidente e as receitas teriam um comportamento semelhante. É bom ter sempre presente a situação de falência mascarada, ou de pré-falência, da maioria dos clubes portugueses, para perceber bem a necessidade absoluta de fazer crescer as receitas dos clubes.
Estando os profissionais de futebol conscientes da necessidade de fazer melhorar as condições económicas do futebol no nosso país, o que muito abona a favor da liderança do respectivo sindicato, e sendo certo que os grandes clubes concordam com a proposta apresentada, então por que não pô-la em prática?
Pois aqui é que começa o problema! A grande oposição vem dos clubes pequenos que, com um esquema como o referido, consideram que passam a ter reduzidíssimas hipóteses de ascender à SuperLiga. É verdade que isso passará a acontecer. Será mais difícil pertencer a uma elite de 12 clubes, que a uma de 18 clubes.
Os esquemas decisórios na Liga de Clubes e na Federação Portuguesa de Futebol, por seu lado, estabelecem que as decisões são tomadas por maioria de votos, sendo que todos os clubes têm o mesmo número de votos independentemente da sua dimensão e implantação nacional.
A consequência deste facto é que as decisões são tomadas de acordo com o interesse de uma maioria de pequenos clubes e não em função do interesse dos grandes e mais representativos clubes, mesmo que este último coincida com o interesse do futebol em geral. É a situação normal neste tipo de organizações corporativas e que, reconheça-se, é difícil de alterar.
Como forma de corrigir situações de manifesta distorção do interesse geral deverão, no meu entendimento, existir, ou ser criados, mecanismos de intervenção por parte de organismos independentes ou, em última análise, por parte do Governo, para salvaguardar o interesse nacional. Trata-se de uma função supletiva do Governo, que provavelmente levantará grandes reticências junto dos poderes instalados, mas que é inevitável para evitar a ditadura dos pequenos interesses, sejam eles individuais ou mesmo regionais.
O caso vertente é por demais evidente, não oferecendo quaisquer dúvidas. Num dos pratos da balança encontra-se a sobrevivência do futebol nacional, enquanto no outro se vê apenas o desejo legítimo de um qualquer pequeno clube, por exemplo e sem desprimor, o Estrela da Amadora, o Leixões, o Chaves, jogar com os grandes clubes nacionais. Para quê mais palavras ou argumentos, apetece perguntar.
Julgo, pois, que obtido o acordo dos jogadores, dos maiores clubes portugueses e da grande maioria do público, apenas resta aos dirigentes do futebol português agir em conformidade, ou seja, ir de encontro às necessidades e desejos dos principais intérpretes desta actividade económica.
O argumento de que não têm meios legais de intervenção, por isto ou por aquilo, já não cola. Se não têm, consigam obtê-los. Proponham a quem nos governa as alterações legislativas que se mostrem pertinentes. Mas façam qualquer coisa. Não se limitem a arranjar desculpas para tudo ficar na mesma ou, pior, para conseguir eventuais reconduções nos cargos em que estão investidos.
Se não o fizerem assumirão a responsabilidade pela permanência do arcaísmo e pela continuação da decadência do nosso futebol, numa altura em que até os jogadores de futebol, que reconhecidamente terão menor formação académica e capacidade intelectual, lhes dão cartas em termos de lucidez e de disponibilidade para a mudança e regeneração do futebol.