“O PS actuou de forma igual nos casos de Fátima Felgueiras e Paulo Portas”, afirma Francisco Assis, que nega, assim, a existência de dois pesos e duas medidas no seu partido. Em entrevista ao SEMANÁRIO, o líder do PS Porto explica por que razão defende eleições antecipadas para a Câmara de Felgueiras e manifesta-se convicto de que Fátima acabará por se entregar às autoridades. A entrevista extravasa, no entanto, o âmbito do caso Fátima Felgueiras, para se situar, entre outras questões, nas críticas da maioria, designadamente de Santana Lopes, ao discurso de Sampaio.
Assis tem, a este propósito, uma frase lapidar: “Nem Sampaio actua à Eanes, nem Santana Lopes é uma espécie de Sá Carneiro…”
Defende eleições antecipadas para a Câmara de Felgueiras?
Sem dúvida que sim. Porque eu não me pronuncio sobre o processo judicial, por respeito para com o princípio da separação de poderes, que
é um pilar do Estado de Direito democrático, mas não posso ignorar as consequências políticas deste processo e que são evidentes: uma degradação do clima político em Felgueiras, que desprestegia as instituições democráticas e afecta negativamente a confiança dos cidadãos nas mesmas.
Como comenta a prisão preventiva para Fátima Felgueiras?
É uma decisão de âmbito puramente judicial, que não me compete comentar. Coloco-me apenas no plano da apreciação política das consequências deste processo.
Conseguiu fazer vingar o seu ponto de vista, ou seja, a defesa de eleições antecipadas, junto da direcção nacional do PS…
Mantive, nas últimas horas, um contacto permanente com a direcção nacional do PS, que decorreu sempre da melhor forma.
E há sintonia entre a direcção do PS Porto e os dirigentes nacionais do PS?
Estou convencido de que há sintonia de posições.
Como disse há pouco, há uma grande degradação da vida política em Felgueiras…
Isso é absolutamente evidente. E este caso tinha repercussão de âmbito nacional. Estou convencido de que estava a prejudicar a credibilidade das instituições democráticas.
E a afectar também a imagem dos políticos?
Com certeza. Sobre isso não tenho dúvidas. Por isso mesmo, é que entendi tomar uma posição clarificadora.
E moralizadora…
Tenho sempre algum cuidado em utilizar as categorias morais na apreciação das questões políticas. Não gosto de um discurso hipocritamente pseudomoralizante. Coloco esta questão no plano político. E foi nesse plano que a tratei.
O PS, como partido, no seu todo, estava também a ser prejudicado?
Mais importante que os benefícios ou prejuízos que o PS poderia ter, era a imagem geral das instituições democráticas que estava a ser afectada.
Acha que Fátima Felgueiras agiu sempre bem ao longo deste processo?
Não quero fazer nenhuma consideração sobre isso.
À hora a que escrevo, a Judiciária ainda não tinha detido Fátima Felgueiras. Esta estava algures em parte incerta…
Estou convencido de que a drª. Fátima Felgueiras se vai entregar às autoridades e vai aguardar pelas conclusões deste processo.
A maioria PSD/PP está a dar um exemplo que o PS poderia ter dado e não deu. Não está a utilizar um processo em curso, para fazer baixa política, como o PS fez com Portas…
Quem está aqui a ter um comportamento ético irrepreensível é o PS. Não é a maioria…
Mas percebeu a minha pergunta…
Percebi. E não é por acaso que a maioria se está a comportar dessa maneira.
Será por reconhecer que a atitude do PS é irrepreensível? É isso que quer dizer?
Não. A maioria não está à-vontade para tratar estes assuntos, precisamente porque não adoptou posições tão correctas como aquela que nós estamos agora a adoptar.
Mas a maioria poderia, à semelhança do que o PS fez com Paulo Portas, tentar extrair dividendos políticos deste caso Fátima Felgueiras, e não o tem feito…
Veja: o PS, no caso Paulo Portas, agiu de modo correcto e ao actuar agora, neste caso, desta forma, estamos a revelar que não temos dois pesos nem duas medidas.
Ou seja, o PS actuou da mesma maneira com Fátima Felgueiras e Paulo Portas…
Exactamente.
Mudando um pouco de assunto: poderá revelar, em linhas gerais, o plano de acção política, elaborado por si, para o PS Porto?
Com certeza. A minha preocupação fundamental é fazer de novo do PS Porto um grande centro promotor de iniciativas políticas aos mais diversos níveis. Nós estamos numa das regiões mais importantes do País e o PS tem que estar activo, tem que agir como um grande partido da oposição, preocupado em apresentar linhas de actuação alternativas, seja no plano nacional, seja no plano local.
Diz-se que, no âmbito cultural, solicitou a colaboração de Manuel Maria Carrilho…
Sim. É verdade. Manuel Maria Carrilho é deputado eleito pelo Porto. Pela acção desenvolvida enquanto ministro da Cultura é uma personalidade particularmente benquista na cidade e na região. E é um homem de notáveis qualidades. Convidei-o para ter uma participação activa na vida política do Porto e ele, generosamente, anuiu a esse convite.
Será para uma Universidade de Verão?
Essa é uma das áreas em que ele poderá dar um contributo imediato. Mas eu desejo que o dr. Carrilho, tal como os outros deputados eleitos pelo círculo do Porto, embora não residentes no distrito, possam participar na vida política distrital. Todos eles são, aliás, figuras de primeiro plano da nossa vida política.
Não receia que o seu plano de acção política seja chumbado pela Comissão Política Distrital, onde pontifica Narciso Miranda?
Não. Não receio nada. Tenho a noção de que no essencial é possível estabelecer um grande consenso no seio da Comissão Política Distrital.
Mas diz-se que as suas relações com Narciso Miranda não são as melhores…
Travamos uma disputa política cerrada, mas não ignoramos ambos que temos obrigação de nos entender nas questões essenciais.
Vai apoiar Nuno Cardoso, em detrimento de José Luís Catarino, nas eleições para a concelhia do PS no Porto, que se realizam este mês?
Não faço nem farei nenhuma consideração política acerca das eleições para as concelhias do PS no distrito do Porto. A única coisa que quero salientar é que os militantes vão escolher caso a caso os presidentes das respectivas concelhias. Mas não devem entender isso como uma espécie de primárias para escolha de candidatos às câmaras municipais. A seu tempo, trataremos desse assunto.
Tenciona candidatar-se à Câmara do Porto?
Essa candidatura não está no meu horizonte. Neste momento, estou apenas empenhado em desempenhar com eficácia as funções de líder distrital do partido.
Não tem, ainda, candidato para a Câmara do Porto…
Não. Na altura própria, escolheremos os candidatos às câmaras municipais.
“Nem Sampaio é Eanes, nem Santana é Sá Carneiro”
Acha que o PS deverá concorrer sozinho às Câmaras do distrito do Porto ou admite alianças?
No plano pessoal, e para já numa perspectiva puramente teórica, julgo que não deveremos excluir a possibilidade de celebração de alianças eleitorais. Mas, como sabe, a decisão final sobre este assunto compete aos órgãos nacionais do partido, que eu, aliás, integro e onde não deixarei de expressar a minha opinião.
Alianças à esquerda…
Sim, à esquerda. Penso que por contraponto às alianças à direita já existentes, se justificam alianças à esquerda, nos casos em que as concelhias optem por essa solução.
E no plano das legislativas? Admitirá, também, alianças à esquerda por parte do PS?
Aí penso que o PS deve concorrer autonomamente e lutar pela obtenção de uma maioria absoluta.
Entrando nas presidenciais, a recandidatura de Mário Soares ganha cada vez maior consistência…
A questão das presidenciais é uma questão sobre a qual não me pronuncio, por entender que ainda estamos muito longe do momento em que a discussão desse assunto se virá a tornar politicamente relevante.
Mas a recandidatura de Mário Soares parece mesmo já uma evidência…
A especulação sobre as presidenciais corresponde a um tipo de exercício intelectual que, francamente, nas actuais circunstâncias, não desperta o meu entusiasmo.
Se calhar está a dizer isso, porque prefere Guterres a Mário Soares para candidato do PS…
Responder-lhe seria pôr em causa a minha resposta anterior.
A maioria tem assestado as baterias em Sampaio por causa do discurso que o PR fez no 25 de Abril…
É profundamente deplorável a forma como o PSD através do seu putativo candidato presidencial Pedro Santana Lopes se tem vindo a referir ao PR.
Ele disse que Sampaio actua à Eanes…
Nem o dr. Jorge Sampaio actua à Eanes, nem o dr. Santana Lopes é uma espécie de dr. Sá Carneiro…
O FC Porto foi campeão com mérito indiscutível?
Isso parece-me absolutamente evidente.
Há quem veja neste sucesso do FC Porto, uma derrota para Rui Rio?
Eu sou daqueles que gostam de separar com absoluta nitidez o mundo lúdico do futebol das coisas da política.
Então, o dr. Rui Rio tem razão…
Não, de forma alguma. Na medida em que o dr. Rui Rio, pelas piores razões, transformou a sua guerra pessoal com o FC Porto, num assunto politicamente relevante. A seu modo, também ele usa de um populismo primário na abordagem das questões relacionadas com o futebol.
Vai a Sevilha à final da Taça UEFA, ver o FC Porto?
Por razões pessoais, não posso deslocar-me a Sevilha nesse dia, mas assistirei, com certeza, ao jogo na televisão, não deixando de torcer pelo FC Porto.
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