É uma autêntica “bomba” política. O SEMANÁRIO sabe que alguns moderados do PS, próximos de José Sócrates, convidaram recentemente Jorge Sampaio para ser candidato presidencial em 2011.
Eleições presidenciais em 2011
É uma autêntica “bomba” política. O SEMANÁRIO sabe que alguns moderados do PS, próximos de José Sócrates, convidaram recentemente Jorge Sampaio para ser candidato presidencial em 2011.
O Presidente da República, Cavaco Silva, bem se pode acautelar porque o PS não está só a trabalhar para as legislativas mas também já para as presidenciais de 2011, demonstrando que as duas eleições estão muito mais interligadas do que se pensa. O SEMANÁRIO sabe que alguns moderados do PS, próximos de José Sócrates, convidaram Jorge Sampaio para ser candidato presidencial em 2011. Jorge Sampaio, que foi Presidente da República entre 1996 e 2006, venceu Cavaco Silva na sua primeira eleição, há dez anos, tendo frustrado as expectativas do então ex-líder do PSD e ex-primeiro-ministro. Recorde-se que Cavaco Silva chegou a interromper o seu mandato de primeiro-ministro, em 1994, depois do célebre período de reflexão no Pulo do Lobo, no Alentejo, para se candidatar à Presidência da República. Desde que saiu da Presidência da República, com um capital político intacto, muito ligado ao magistério de influência que exerceu em momentos-chave dos mandatos e que contribuiu para unir os portugueses, Jorge Sampaio tem mantido uma acção pública muito intensa, quer a nível internacional, na luta contra a tuberculose, quer a nível nacional, ainda recentemente tendo desenvolvido os seus bons ofícios para que existisse uma coligação de esquerda em Lisboa. Refira-se que Jorge Sampaio, apesar de uma vida política muito intensa, é um homem relativamente novo, fazendo 70 anos em Setembro, sendo mais jovem que Cavaco Silva.
A grande dúvida passa, naturalmente, por saber se Jorge Sampaio aceita este desafio. Num cenário em que Cavaco se recandidata, as condições políticas de uma candidatura socialista são bastante mais desfavoráveis. Tanto Ramalho Eanes, como Mário Soares e Jorge Sampaio fizeram dois mandatos no Palácio de Belém. Nas reeleições dos Presidentes, os portugueses corresponderam com votações muito elevadas, das quais a mais expressiva foi a de Mário Soares, com 70 por cento de votos. Certamente que Sampaio não é alheio a este aspecto desfavorável, ainda para mais com o risco de a sua candidatura ser interpretada no sentido de não querer permitir a Cavaco os dois mandatos que ele próprio cumpriu. É muito cedo, porém, para decisões sobre a matéria.
Este convite a Jorge Sampaio não é, naturalmente, alheio ao aumento da conflitualidade entre Belém e São Bento, marcada nas últimas duas semanas por mais um veto presidencial, em relação à lei das uniões de facto, e ao episódio das suspeitas de vigilância do Palácio de Belém, lançado por uma fonte anónima da Presidência da República e nunca desmentida por Cavaco Silva. Os socialistas podem já ter percebido que, face às más relações existentes, o clima de cooperação estratégica que marcou os anos de 2006 e 2007 nunca mais se vai repetir e que qualquer governo socialista vai ter em Cavaco um adversário. Deste modo, a estratégia socialista a montar, e o mais rápido possível, parece passar pela apresentação de um candidato presidencial ganhador em 2011.
A degradação ainda maior das relações entre S. Bento e Belém, que pode ocorrer nos próximos dois anos, pode alterar o quadro de hoje e até tornar imperiosa a candidatura de Sampaio, mesmo perante a recandidatura de Cavaco. Depois das eleições de 27 de Setembro, e face à ausência de maioria absoluta, tanto do PS como do PSD, o Presidente da República poderá ter um papel ainda mais interventivo. Perante a aproximação e cumplicidade crescentes entre Cavaco Silva e Manuela Ferreira Leite, a acção do Presidente da República poderá ser alvo de fortes criticas. No quadro de um governo minoritário PS, com Ferreira Leite a manter-se, apesar da derrota eleitoral, na liderança do PSD com o beneplácito de Belém, o PS pode ver a sua acção muito dificultada por Cavaco. No cenário de um Bloco Central, com algum envolvimento ou mesmo a égide de Belém, a acção de Cavaco também poderá ser, objectivamente, prejudicial ao PS, desgastando mais os socialistas do que o seu parceiro de coligação social-democrata. No quadro de um governo minoritário do PSD, ou mesmo de coligação com o CDS, os socialistas também podem ser alvo de uma estratégia em tenaz, com epicentro em Belém, tendo como objectivo o seu isolamento. O melhor cenário para o PS seria, como se vê, o de Sampaio não se recandidatar, por razões pessoais ou do foro político, nomeadamente o de considerar, de forma altruística, que a sua acção impediria sempre o PSD de Ferreira Leite de se autonomizar e voar mais alto, por exemplo tentando uma maioria absoluta em legislativas antecipadas. Esta hipótese de Cavaco não se recandidatar seria, também, o melhor quadro para a candidatura de Jorge Sampaio.
Manuel Alegre tem sido o nome mais falado para poder ser o candidato oficial do PS a Belém. Mas o poeta tem muitos anticorpos no PS, sobretudo na ala moderada, e, mesmo entre o PCP e o BE Alegre está longe de ser uma figura unânime. Por sua vez, Alegre, apesar de ter recolhido um milhão de votos nas presidenciais de 2009, foi para todos os efeitos derrotado por Cavaco Silva, e logo à primeira volta. Deste modo, uma vitória sobre Cavaco Silva, ainda para mais num quadro mais difícil de reeleição de Cavaco Silva, parece pouco provável.
Por sua vez, António Guterres, actual Alto Comissário para os Refugiados, outro nome que tem sido falado para candidato presidencial do PS, parece ser uma aposta arriscada do PS. António Guterres está há muito fora da ribalta política. Por outro lado, está por provar que Guterres já tenha sido reabilitado politicamente, depois do ano negro de 2001 e da sua demissão de primeiro-ministro. O próprio António Guterres pode não estar disponível para ser candidato, pelos mesmos motivos políticos e pessoais que o levaram a abandonar a política e a lançar-se numa carreira internacional. Depois do Alto Comissariado da ONU, António Guterres pode, aliás, ter hipóteses de ser o próximo secretário-geral da ONU, tal como o SEMANÁRIO revelou há um mês, o que o afastaria por longos anos da política portuguesa.
Jorge Sampaio aparece, assim, como figura em melhores condições para tentar a reconquista do Palácio de Belém por parte dos socialistas.