Os Bilderbergers europeus deverão aproveitar a reunião da Turquia de modo a tentar evidenciar as suas diferenças. O lamaçal do Iraque será revisto novamente, e com Tony Blair a sair de primeiro-ministro, poderá ser dito ao Reino Unido que devem, a todo o custo, fazer o que é necessário para integrar o seu país na Comunidade Europeia
O clube de Bilderberg, que junta figuras cimeiras do poder mundial, político, económico, financeiro e, nos últimos anos, cada vez mais dos media, reúne este ano em Istambul, de 31 de Maio a 3 de Junho, o que pode significar um novo “empurrão” à Turquia, num momento político muito complicado. Curiosamente, a Turquia vai ter eleições legislativas cruciais a 24 de Maio, que podem decidir o braço deferro entre duas concepções de país, um de componente mais islamista e outro mais laico.
Durão Barroso e Pinto Balsemão deverão ser partipantes garantidos na reunião, havendo a hipótese de António Guterres também estar presente. Outros dois nomes portugueses, figuras menos cimeiras, um mais à esquerda e outro mais à direita, também deverão estar em Istambul.. Recorde-se que, no ano passado, estiveram Augusto Santos Silva e Aguiar Branco.
Entretanto, o SEMANÁRIO, em contacto com o mais profundo conhecedor dos meandros de Bilderberg, o espanhol Daniel Estulin, que há muito investiga este clube dos poderosos (sendo autor do livro “O Clube de Bilderberg, ed. Temas e Debates), inteirou-se de alguns pontos quase certos da agenda deste ano.
Primeiro e mais importante, o esgotamento da energia, ruptura conhecida como “Peak Oil”. Os problemas de energia continuam, uma vez mais, a dominar as discussões no seio do Bilderberg de Istambul. O petróleo e o gás são escassos e são recursos não renováveis. Uma vez utilizados não poderão voltar a ser reutilizados. À medida que o mundo evolui e o petróleo e o gás natural vão desaparecendo, enquanto que a procura aumenta vertiginosamente, especialmente com as economias emergentes da Índia e da China, que querem ter todos os privilégios do estilo de vida americano, o Planeta ressente-se nas suas fontes naturais e no seu ecossistema. Atravessamos, de facto, o limiar da produção e descoberta de petróleo. A partir de agora, a única certeza que temos é que a oferta continuará a diminuir e os preços a aumentar. Nestas condições o conflito mundial parece uma certeza. Chegamos a um ponto de não retorno.
Para aqueles que percebem o verdadeiro choque de civilizações que nos espera num futuro muito próximo, o fim do petróleo significa o fim do sistema financeiro mundial, algo que já foi reconhecido pelo “Wall Street Journal” e o “Financial Times”, dois membros quase de pleno direito do círculo restrito da Bilderberg. Por exemplo, o relatório petrolífero da Goldman Sachs – outro membro da elite Bilderberg – publicado a 30 de Março de 2005 aumentou o preço do petróleo para o ano de 2005-06 de 55-80 dólares por barril para 55-105. Aliás, durante a reunião de 2006, os Bilderbergers confirmaram que a sua estimativa do preço do petróleo para 2007-08 continuava a pairar à volta dos 105-150 dólares por barril. Não admira que o presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso tenha anunciado, há meses atrás, durante a apresentação da política energética da União Europeia, que o tempo tinha chegado para uma era “pós-industrial”.
À medida que o crescimento económico se afunda e que os efeitos do “Peak Oil” se tornam evidentes face ao colapso da civilização, a América terá de renegociar os seus direitos a um estilo de vida que não pode mais financiar. Ao longo do processo, os Estados Unidos serão forçados a desafiar a Europa, a Rússia e a China pela hegemonia sobre o controlo e esvaziamento do hidrocarbono, reservas não renováveis, a maioria das quais estão depositadas no Médio Oriente.
Outro dos temas de Bilderberg deverão ser as relações europeias com a Rússia, não só no que respeita à Europa mas também à Ásia Central. Quanto ao conflito com o Irão, este tema também deverá estar, ao de leve, em cima da mesa. Os Bilderbergers europeus podem, aliás, ter comunicado aos Estados Unidos que, se eles querem guerra com o Irão, terão de a fazer sozinhos. Para além disso, com a França, a Rússia, o Japão e a China a investirem em força no Irão, o mundo desenhou uma linha na areia, e aos Estados Unidos será dito, na conferência, para não a ultrapassarem.
Por outro lado, os EUA e os Bilderbergers europeus deverão aproveitar a reunião da Turquia em 2007 de modo a tentar evidenciar as suas diferenças. O lamaçal do Iraque será revisto novamente, e com Tony Blair a sair do poder, deverá dito ao Reino Unido que devem, a todo o custo, fazer o que é necessário para integrar o seu país na Comunidade Europeia. Por último, deverá ser discutido em Istambul o que fazer para limpar as manchas que caíram no FMI e no Banco Mundial. Os membros Bilderberg norte-americanos querem resolvê-lo na Turquia. A Direcção do Banco Mundial quer Wolfowitz fora. Se ele conseguir chegar à Turquia, poderá apenas sobreviver como resultado de um compromisso de última hora.
Recorde-se que na reunião do ano passado, em Otava, estiveram presentes nomes como – para além dos portugueses Pinto Balsemão, Santos Silva e Aguiar Branco – Carl Bildt, Juan Luís Cébrian, Ahmad Chalabi, Edmund Clark, Kenneth Clarke, Mário Monti, George Osborne, Richard Pearle, David Rockeffeler, a Rainha da Holanda e o chinês Zhang Yi.