2025/11/11

Soares quer Alegre para impedir vitória de Cavaco à primeira volta

O desafio que Mário Soares fez esta semana a Manuel Alegre, para que se candidate a Belém, integra-se na estratégia soarista de impedir a eleição de Cavaco Silva logo à primeira volta das presidenciais. Soares está convencido que vence mas só à segunda volta, quando todos os candidatos de esquerda apelarem ao voto em si, inclusive Alegre, mais maleável depois ir também a jogo. Nas últimas sondagens, Cavaco aparecia à beira de ganhar logo no primeiro “tour”. Ora, a captação de votos do professor à esquerda, ainda que mínima, ou mesmo a simples abstenção de esquerda, pode ser suficiente para Cavaco fazer a festa antecipada.

A estratégia de Mário Soares para as presidenciais parece cada vez mais querer repetir o quadro das eleições para a Presidência da República de 1986, quando vários candidatos à esquerda se apresentaram na primeira volta da corrida e poucos votos à esquerda, se perderam para a abstenção ou para o candidato da direita, que era na altura Freitas do Amaral. O desafio que Soares fez esta semana a Manuel Alegre para que se candidate a Belém integra-se nesta estratégia e visa impedir o perigo de eleição de Cavaco Silva logo à primeira volta das presidenciais. Segundo as sondagens publicadas no passado fim-de–semana, o ex-primeiro-ministro laranja estava à beira de ganhar a eleição no primeiro “tour”. Ora, qualquer transferência, ainda que miníma, de votos à esquerda para Cavaco pode dar-lhe a vitória na primeira volta. Caso Alegre não concorra, votos que deveriam ser fieís ao poeta poderiam ir parar à abstenção ou mesmo directamente a Cavaco. Nas contas da aritmética eleitoral, a abstenção à esquerda poderá revelar-se, de facto, decisiva para Cavaco. Recorde-se que o professor alcança excelentes “performances” nas sondagens sem ainda se ter candidatado oficialmente, o que só deverá acontecer depois das eleições autárquicas de 9 de Outubro.
A maneira como Soares se atravessou no caminho de Alegre não é, de facto, muito propícia a que apoiantes do poeta votem directamente em Soares. A guerra de palavras entre os dois homens também não ajuda este propósito. Ainda esta semana, Alegre deu a entender que, face ao facto de o PS não o apoiar, considerava de mau gosto o desafio de Soares para que se candidatasse a Belém. No entanto, mesmo mantendo o machado de guerra em riste, Alegre acabou por dar sinais de que poderá estar a cair na estratégia de Soares. O poeta aclarou a sua própria declaração sobre as presidenciais de há três semanas, dizendo que nunca disse que era candidato mas também nunca disse que não era. Por sua vez, em relação a Cavaco Silva, o poeta referiu que o seu objectivo é derrotar o professor. Nas declarações feitas esta semana, Alegre pareceu continuar convencido de que é o candidato da esquerda melhor colocado para derrotar Cavaco, passando à segunda volta, avaiação, no minímo, contraditória com as invectivas do poeta de que o desafio de Soares para que avance foi de mau gosto. Quando Soares ainda não era candidato presidencial, apoiado pelo PS, Alegre também fazia esta mesma avaliação de ser o candidato melhor posicionado para “bater” Cavaco. No entanto, a realidade é que hoje, face à ausência de qualquer apoio partidário, o poeta parece a anos-luz de poder alcançar o seu objectivo de passagem à segunda volta. Este discurso vitorioso de Alegre também pode já não ser inocente. O poeta pode já estar a trabalhar psicologicamente para acalmar a sua revolta contra Soares, indo à luta… e que ganhe o melhor. Para um homem de combates como Alegre esta equação pode ser essencial. Daí que, tal como Soares já está a dizer que tem a certeza que ganha, Alegre diga que tem condições para bater Cavaco só com apoios inorgânicos. Se perder, o que fica para o poeta é uma boa disputa, havendo condições políticas e psicológicas para apelar ao voto em Mário Soares.
Face às características do conflito que opõe Alegre a Soares, podia dizer-se que o poeta faz o papel que Salgado Zenha fez há vinte anos. Zenha, amigo pessoal e político de Soares rompeu com o líder do PS no início dos anos 80 e acabou por concorrer contra si nas presidenciais. No entanto, perante a ausência de apoios partidários, Alegre talvez se assemelhe mais à posição de Maria de Lourdes Pintasilgo. Recorde-se que nas eleições presidenciais de 1986, Mário Soares, apoiado pelo PS, teve 25,4 por cento dos votos na primeira volta, Salgado Zenha alcançou 20,9 por cento e Maria de Lourdes Pintasilgo, só com apoios inorgânicos, obteve 7,4 por cento. Estas percentagens somadas dão 53.7 por cento. Freitas do Amaral, apoiado por toda a direita, não conseguiu melhor do que 46,3 por cento. A esquerda, ainda que dispersa (e talvez por causa desta mesma dipersão) conseguiu mobilizar todo o seu eleitorado, não permitindo qualquer “fuga” para Freitas do Amaral e, na segunda volta, com Zenha e Pintasilgo a apelarem ao voto em Soares, Mário Soares acabou por ganhar a eleição presidencial com 51,2 por cento dos votos, tendo Freitas 48,8 por cento.

Santana Lopes pondera presidenciais ou novo partido

Santana Lopes renunciou ao mandato de presidente da Câmara Municipal, depois de ter sido avisado por Miguel Relvas e Matos Correia da contagem dos prazos para a retoma do mandato de deputado no Parlamento.

Enquanto Cavaco Silva se prepara para anunciar no próximo dia 15 de Outubro a sua candidatura presidencial, o antigo primeiro-ministro Santana Lopes pondera a hipótese de lançar a sua candidatura presidencial.
Tendo ontem renunciado ao mandato de presidente da Câmara Municipal, depois de ter sido avisado por Miguel Relvas e Matos Correia da contagem dos prazos para a retoma do mandato de deputado no Parlamento, Santana Lopes, que deverá voltar à advogacia, está em período de reflexão sobre o seu futuro político. A maioria dos seus conselheiros é, contudo, contra a possibilidade de Santana Lopes avançar para uma candidatura, caso Cavaco Silva acabe por efectivar a sua candidatura. Mas do lado de Santana Lopes o facto de Cavaco Silva estar a demorar o arranque da sua candidatura pode ser fatal para o centro e para a direita, como aconteceu, há dez anos, quando Cavaco Silva perdeu contra Jorge Sampaio.
Por outro lado, a possibilidade de directas, já depois do congresso de Março próximo no PSD, pode também estar presente no futuro de Santana Lopes. O antigo primeiro-ministro pode ultrapassar Luís Filipe Menezes, que tem poucas condições para a liderança do PSD e tentar defrontar os cavaquistas ou Marques Mendes em eleições directas. Finalmente, sectores próximos de Santana Lopes admitem que verdadeiramente Santana Lopes deveria agora resguardar-se durante dois nos para depois, eventualmente com Paulo Portas, refundar a direita, criando um novo partido político.

Helena Lopes da Costa
quer Distrital de Lisboa

Depois da ruptura de Helena Lopes da Costa, aliás, já anunciada há meses, por causa da candidatura de Carmona Rodrigues e da expulsão de Isaltino Morais, a crise está instalada na Distrital de Lisboa, cujo presidente pode não chegar ao fim do mandato. Na última assembleia da Distrital de Lisboa, Helena Lopes da Costa, que tem o apoio do núcleo de Algés, já tinha preparado o confronto com António Preto, que acusa de não ouvir a direcção e conduzir individualmente a Distrital de Lisboa.
António Preto, próximo de Ferreira Leite, apesar do processo em curso sobre alegadas irregularidades financeiras, pode avançar com a sua recandidatura em caso de eleições antecipadas, ao mesmo tempo que os barrosistas querem ganhar protagonismo para poderem negociar com os cavaquistas, se a oportunidade se colocar. Morais Sarmento poderia ser um nome com peso a avançar para a Distrital de Lisboa, embora Miguel Relvas tenha tentado uma reaproximação a Santana Lopes, para assegurar o nome de Matos Correia para candidato à liderança da Distrital de Lisboa.
Matos Correia, um dos próximos de Durão Barroso, é deputado e depois das eleições foi trabalhar para o SAG, que conta através dele assegurar que o presidente da Comissão Europeia influencie a Volkswagen no sentido de não vir para Portugal directamente, mantendo a SIVA como importador, renovando a concessão que está a terminar. Matos Correia era, já antes, junto de Durão Barroso, o homem de ligação aos negócios.

Barrosistas tentam aproximar-se de Mendes para chegar a Cavaco

A tentativa de aproximação de José Luís Arnaut a Marques Mendes está a levantar alguma polémica no seio da direcção laranja. Para uns, é sinal que começa a cheirar a poder no PSD e que Marques Mendes pode chegar a primeiro-ministro. Para outros, é mero tacticismo: usam Mendes para se aproximarem do cavaquismo, porque o próximo ciclo, no PSD e na direita, será cavaquista, e quem não estiver com Cavaco fica, pelo menos, dez anos afastado do poder.

A aparente ruptura entre o barrosismo e o cavaquismo deu-se no fim do Governo de Durão Barroso, quando Morais Sarmento, José Arnaut, Matos Correia e Miguel Relvas decidiram apoiar o santanismo e promover a indigitação de Santana Lopes para primeiro-ministro, seguindo a decisão de Durão Barroso. Mas tudo se agravou com o desempenho dos mesmos e sobretudo sobre as suas condutas, tornando o grupo dos barrosistas indesejável aos olhos dos cavaquistas, com especial marcação de Manuel Ferreira Leite, que, aliás, já antes punha algumas reservas à sua actuação.
Depois da derrota eleitoral de Santana Lopes, no Congresso que escolheu Mendes para a liderança, o grupo aparentemente desfez-se, com Morais Sarmento primeiro a tentar correr sozinho, mas apercebendo-se que não tinha tropas e, depois, com José Luís Arnaut e Miguel Relvas, traindo Santana Lopes, a passarem do campo de Menezes para o lado de Marques Mendes, assegurando assim a vitória deste no Congresso de Pombal.
Apesar da traição barrosista, Marques Mendes não daria lugares na direcção aos homens de mão do já presidente da Comissão Europeia, que chegavam mesmo a ser tratados, com arrogância, dada a proximidade com os interesses e os negócios, e havendo, na linha dos cavaquistas, mesmo quem, na actual direcção do PSD, defendesse distância clara e assumida.
Pedro Passos Coelho e Azevedo Soares nunca terão visto com bons olhos a colagem dos antigos barrosistas. Mas no seio da direcção de Mendes, esta posição não é unânime, até porque alguns dirigentes actuais consideram que o grupo barrosista já não existe e que o próprio Durão Barroso já se demarcou deles.
Por outro lado, Mendes, tendo no horizonte chegar a primeiro-ministro, tem que começar a federar interesses e sem nada dar aos barrosistas, também não tem que fazer o débito de os afastar. Para isso basta-lhe os casos exemplares de Isaltino Morais e de Valentim Loureiro, com os quais iniciou o seu mandato e que terá que levar até ao fim. E se, no caso de Isaltino Morais, o juiz pode levar por diante a sua, já com o major, as prestações públicas, como ainda aconteceram esta semana, acabam por dar mais espaço de manobra a Marques Mendes e funcionarem politicamente a seu favor.

Começa a cheirar a poder no PSD
A estratégia de Marques Mendes assenta basicamente no facto de não ser a oposição que ganha as eleições, mas o Governo que as perde. E nesse contexto, como aconteceu com Durão Barroso e Santana Lopes, Mendes só tem que assegurar que se mantém à frente do PSD até às próximas legislativas.
Os analistas próximos do líder social-democrata começam já admitir que as coisas podem acelerar. Paula Teixeira de Cruz chegou mesmo em entrevista a dizer que “os ciclos políticos estão a encurtar numa advertência clara de que pode haver eleições legislativas antecipadas.
A evolução do confronto dentro do PS parece estar a apostar para aí, pensa-se no PSD. A guerra entre o coordenador autárquico Jorge Coelho e o primeiro-ministro José Sócrates pelo controlo do Governo do País é assumida no seio do PS. E a questão das presidenciais só veio dividir ainda mais o partido. Soares não gosta de Sócrates e se ganhar facilmente o substituiria por um líder a seu gosto, mesmo sem eleições legislativas. Só que a campanha de Soares começou mal. O velho presidente impôs-se ao partido por “gula” do poder, humilhando Manuel Alegre e levando por prisioneiro o próprio primeiro-ministro.
Por outro lado, quem não está a gostar do rumo da governação é o Presidente Jorge Sampaio. Sampaio não quer ser um equívoco histórico entre Soares I e Soares II, e começou já a marcar Sócrates, o elo mais fraco da candidatura presidencial dos socialistas. Atacou o Governo socialista nos incêndios e esta semana humilhou o primeiro-ministro em frente dos militares, sentando-o como o ministro da Defesa com os chefes militares de decidiram protestar contra as decisões administrativas do Governo.
É o lado soixante-huitard de Sampaio a reagir contra o argumento de autoridade, agravando a crise do Estado e a falta de respeito pelas instituições e pela autoridade do primeiro-ministro, em nome de um vago sentimento de unidade nacional, generoso, mas que coloca o Estado em causa. E, Sampaio, bem informado e politicamente avisado, sabe bem o efeito do seu gesto: desgasta o primeiro-ministro e sabe que Sócrates não tem autoridade nem força política para obrigar o presidente a promulgar ou a não promulgar sem diligências públicas humilhantes para o chefe do executivo.
Assumindo-se como comandante em Chefe das Forças Armadas, o Presidente da República está basicamente a diminuir o chefe do Governo, exactamente, para, desse modo, diminuir também Mário Soares e a candidatura socialista, legitimada pelo primeiro-ministro.
Basicamente, Sampaio poderá mesmo, mais tarde ou mais cedo, agravar o cerco aos socialistas e ao Governo, o que, admitem fontes social-democratas, poderá ser entendido como um sinal de compreensão pelas razões da candidatura nacional, e não partidária como a de Soares, de Cavaco Silva à Presidência da República.
Ora, cercado pelo aparelho socialista que quer mandar no Governo e nos negócios do Estado, maltratado por Soares que lhe retirou todo o espaço de liberdade e de escolha nas presidenciais e, finalmente, “malhado” pelo próprio Presidente da República nos seus últimos quatro meses de mandato. O primeiro-ministro pode sentir-se isolado e sem condições de Governo.
E o pior nem seria isso. Sócrates tem preparação política e capacidade e já não é ingénuo. Sabe quanto custa o poder e como com o PS tudo é mais complicado. Conhece bem as peças e ate poderia destrui-las assim o quisesse. Num congresso, Sócrates poderia sempre tirar todo o poder a Jorge Coelho, que só existe na política enquanto tiver o palco do PS, admite-se no PSD.
O problema também não seria Soares. Que Sócrates, estando em Belém, pode sempre destruir, pois é ele que dá empregos e “assina o cheque”. Nem mesmo Sampaio, desacreditado em fim de mandato e sem futuro algum.
O problema é que a situação económica não melhora, piora todos os dias e que a acção do Governo tem sido errada e agravado a crise económica e de confiança no País. O problema é que não há volta a dar. Ou seja: o problema permanece o mesmo que Barroso e Guterres enfrentaram. Isto parece ingovernável e, portanto, mais vale abandonar a política e o Governo. A capacidade de intervenção do Governo é actualmente quase nula e ninguém valoriza o esforço do governante.
Ou seja, prevê-se já que, à semelhança de Guterres e Barroso, Sócrates seja tentado a abandonar o Governo de Lisboa e partir para uma carreira internacional ou outra, deixando livre o caminho para Cavaco Silva convocar eleições legislativas antecipadas.
Ora, neste contexto, para Marques Mendes é natural que o PSD ganhe essas eleições, eventualmente marcadas para Outubro de 2006. As legislativas normalmente dever-se-iam realizar apenas em 2009, mas num contexto de crise económica agravada e de duas derrotas sucessivas do PS – nas autárquicas e nas presidenciais -, a legitimidade política da maioria parlamentar fica definitivamente prejudicada e, portanto, teria sempre que haver eleições antecipadas.
Neste particular, Cavaco Silva, sendo um institucional, não cometerá o erro de Sampaio com Santana Lopes, dizem fontes mendistas.
E é exactamente aqui, no carácter institucional de Cavaco Silva que o PSD se divide. Para uns, Cavaco Silva nunca fará eleições antecipadas antes de substituir a direcção do PSD. Ou seja, antes de colocar à frente do partido um cavaquista: eventualmente Ferreira Leite, embora António Borges, apesar de desacreditado, continuar a acalentar esperanças de conseguir chegar à liderança do partido.
Nesse sentido, o próximo ciclo seria cavaquista e Arnaut, Sarmento e Relvas poderiam ser úteis nessa estratégia, mudando em tempo oportuno do lado de Marques Mendes para os dos cavaquistas, tornando assim úteis para o ciclo seguinte, acreditam os críticos da aproximação dos barrosistas a Mendes.
Já os mendistas crêem, que sendo Cavaco Silva, um institucionalista jamais se imiscuirá na vida interna do partido, como aliás o tem feito nos últimos dez anos, destinguindo-se tambem por isso, de Mário Soares, no entendimento que faz do papel moderador do presidente da Republica. E nesse sentido, Cavaco Silva fará como qualquer outro Presidente da República, antes de Sampaio: dará posse ao líder do maior partido parlamentar, ou seja, permitirá que Marques Mendes, sendo um nogueirista e não um cavaquista, chegue à chefia do Governo, eventualmente negociando, claro está, as pastas fundamentais para os cavaquistas. Trata-se obviamente de algo que Marques Mendes estará preparado para aceitar, comenta-se no PSD.|

“Não apresentamos uma candidatura a fingir”

Em entrevista ao SEMANÁRIO, o historiador e deputado do Bloco de Esquerda, Fernando Rosas, diz que não há qualquer “ambiguidade” quanto ao seu apoio, em matéria presidencial. Rosas apoia Francisco Louçã e só esteve presente no lançamento da candidatura de Mário Soares por uma questão de amizade. O deputado refere que o BE não apresenta candidaturas “fantasmas”, até porque essa não é a forma do Bloco estar na política. Mobilizar o eleitorado à esquerda, assim como combater o candidato da direita e as políticas do Governo
de José Sócrates, são objectivos da candidatura presidencial de Francisco Louçã.

A Mesa Nacional do Bloco de Esquerda aprovou na semana passada o nome de Francisco Louçã, como o candidato presidencial apoiado pelo BE. Disse-se que a candidatura é para “ir até ao fim”. Este “até ao fim” é para ir a votos?
Sobre isso não há a mais pequena dúvida. O próprio Francisco Louçã deixou isso muito claro. Trata-se de uma candidatura para ir até ao fim, no sentido em que vai às urnas e apela ao apoio político dos portugueses, traduzido através do voto.

Quais são os objectivos do BE nas presidenciais?
Naturalmente derrotar a direita, criticar o Governo do PS pela continuidade que tem feito em relação às políticas de direita e, também, apresentar o projecto (do BE) de esquerda socialista, popular. E afirmar as alternativas que temos para responder a alguns dos principais problemas do País.

Quando refere derrotar o candidato de direita, tem noção de que o candidato apoiado pelo Bloco não tem hipóteses de ganhar?
A concorrência de vários candidatos à esquerda não enfraquece estas candidaturas. Pelo contrário. A mobilização de todos os votantes do eleitorado de esquerda é a primeira e principal condição para na primeira volta se obter uma maioria absoluta, mais de 50%, na votação das várias esquerdas que concorrem.

Fazem uma interpretação com base nos resultados das presidenciais de 1986?
Não. Estamos a fazer uma interpretação com base no funcionamento do sistema eleitoral português. Um candidato só passa à segunda volta se tiver mais de 50% dos votos. Na primeira volta espera-se que nenhum candidato o tenha, ou pelo menos o candidato da direita não o tenha seguramente. A primeira condição para assegurar este desiderato é que toda a esquerda se mobilize. Se a esquerda tivesse um único candidato, uma parte dela não ia a votos, porque se abstinha, não se reconhecia nesse candidato. Havendo vários candidatos que preenchem grande parte daquilo que são as várias facetas que a esquerda reveste neste País, é de supor que a totalidade, ou quase totalidade, do eleitorado de esquerda esteja mobilizado para votar. Há uma coisa que esses votos todos assegurarão, provado com muita probabilidade, o candidato da direita não vence as eleições na primeira volta.

Partem do pressuposto que Cavaco Silva, se avançar, não terá mais de 50% na primeira volta?
Se todo o eleitorado de esquerda se mobilizar creio que não. Sociologicamente o voto do eleitorado de esquerda, sobretudo em eleições presidenciais, tem sido maioritário.

Mas Cavaco Silva foi o único líder partidário, até hoje, que ganhou eleições legislativas com mais de 50%?
Perdeu as presidenciais.

Na semana passada esteve presente no lançamento de candidatura de Mário Soares, o que lhe valeu algumas críticas de alguns militantes do BE. Como interpreta essas críticas?
Respeito-as, ainda que não concorde com elas. Os camaradas (do BE) que me criticaram têm todo o direito de o fazer. Fui (ao lançamento da candidatura de Mário Soares) e deixei muito claro junto dos órgãos de comunicação social, no próprio acto. Fui por razões pessoais, que derivam de uma longa amizade e colaboração com o dr. Mário Soares. Mas isso não significa que o dr. Mário Soares seja o meu candidato. O meu candidato é o candidato apoiado pelo BE. É por ele que eu farei campanha. Não há nenhuma ambiguidade.

O secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, disse, na Festa do Avante, que o BE avançava com uma candidatura presidencial por que o PCP já tinha avançado a sua. Não há uma marcação de posições à esquerda?
Não. Isso não tem sentido.

Porém, muitas das críticas que o BE tem feito, de que esta candidatura (de Francisco Louçã) não vai desistir, alude a candidaturas passadas do PCP…… Em primeiro lugar, o BE na sua curta história sempre apresentou candidato próprio nas eleições presidenciais. Aliás, da última vez fui eu próprio. Não apresentamos candidaturas por causa de nenhum outro partido. Apresentamos porque somos um partido que aspira ter um papel de resposta nacional à crise do País. Temos um programa para o País. Agimos em consequência com isso, ou seja, apresentando uma candidatura. Uma candidatura que busca a afirmação do seu projecto político. Em segundo lugar, na realidade, à esquerda não fomos nós que iniciámos essa tradição dos candidatos fantasmas. Foi o Partido Comunista. O PCP fará o que entender, naturalmente tem o seu pleno direito. Nós não concordamos com essa prática. Não faz parte com a nossa maneira de estar na política, apresentar candidatos a fingir. Não o faremos.

Na semana passada, em entrevista ao jornal SEMANÁRIO, o deputado socialista e apoiante de Mário Soares, Vítor Ramalho, tal como o ex-Presidente Soares reiterara anteriormente, indicara o facto de ser salutar a união da esquerda na primeira volta. A visão do Bloco de Esquerda é diferente?Achamos que havendo várias esquerdas é salutar que elas apresentem os seus distintos programas ao eleitorado. O Partido Comunista Português representa uma certa visão do mundo e do País. O candidato apoiado pelo Partido Socialista apresentará uma visão, provavelmente, parecida com a do partido que a apoia. E nós (Bloco de Esquerda) temos uma visão alternativa relativamente a uma e a outra. É salutar, do ponto de vista do esclarecimento eleitoral, que as três concorram. Ainda por cima, no sistema político eleitoral português, essa concorrência não só não vai diminuir nenhuma das candidaturas de esquerda, mas vai permitir que todo o eleitorado de esquerda esteja presente nas urnas para afirmar a sua vontade.
Nesse sentido vai mobilizar todo o eleitorado de esquerda que, como disse, terá como consequência, à primeira volta, permitir que pelo menos o candidato da direita não vença à primeira volta.

China ganha batalha dos têxteis bloqueados nas alfândegas europeias

Têxteis portugueses acusam CE de fraqueza face
a interesses organizados

“A Associação Têxtil e Vestuário de Portugal (ATP) lamenta profundamente a cedência da Comissão Europeia à pressão do ‘lobby’ da distribuição e das autoridades chinesas.” Assim classifica a ATP o pacto preliminar obtido segunda-feira, em Pequim, que define que mais de 87 milhões de artigos de vestuário e 130 toneladas de fio de linho, retidos há algumas semanas nas alfândegas europeias, podem ser liberados e introduzidos no mercado.
De acordo com Paulo Nunes de Almeida, presidente daquela associação, o pacto agora celebrado contraria a determinação do passado dia 10 de Junho para controlar a importação de artigos têxteis e de vestuário chineses na Europa. O acordo determinava a reintrodução temporária – até final de 2007 – de quotas em 10 categorias de produto, em resposta ao crescimento exponencial das exportações chinesas.
E apesar da Comissão Europeia ter revelado “firmeza” nas negociações, “que fazia crer que os acordos assinados eram para cumprir, mal-grado as pressões dos importadores e distribuidores europeus e as ameaças de guerra comercial por parte da China”. Interesses que, no entender de Paulo Almeida, prevaleceram “infelizmente face aos da indústria e do emprego têxtil europeus”, resultando na celebração do acordo estabelecido esta semana.
O acordo anunciado em Pequim terá ainda que ser ratificado pelos Estados-
-membros embora a ATP explica que dado haver apenas uma minoria de bloqueio a querer impedi-lo, um retrocesso da medida é, neste momento, “altamente improvável”. A convenção prevê, segundo informações recolhidas junto da Euratex, que metade das 87 milhões de peças e das 130 toneladas de fio de linho sejam desbloqueadas fora dos termos do entendimento estabelecido em Junho último, o que constitui uma “inexplicável e inaceitável cedência” da UE relativamente à China. A restante metade será liberada, recorrendo-se em parte a quotas de produtos têxteis ainda não esgotadas ou por conta das quotas do ano que vem.