2025/11/11

Cavaco espera ganhar à primeira volta mas está preparado para segunda

“A noite eleitoral da candidatura de Aníbal Cavaco Silva ocorrerá exclusivamente no Centro Cultural de Belém (…) funcionará uma sala de imprensa aberta a partir das 17 horas”. A informação, seca e com os pormenores técnicos destinados à comunicação social foi posta no site do candidato, com tempo suficiente para prevenir qualquer surpresa. Nada é dito como actuará o Professor Cavaco Silva se, como esperam todos os envolvidos directamente na campanha (e o próprio candidato…) for eleito, depois de amanhã, Presidente da República.

Em caso de eleição, é certo e seguro que Cavaco Silva tem preparado o discurso de vitória e deve partilhá-lo com os portugueses de modo sereno e nada exuberante. “As responsabilidades derivadas da eleição começam nesse instante e como Presidente eleito, Cavaco Silva sabe que não pode defraudar todos os que votaram nele, ainda que, como é normal, a chamada maioria presidencial não seja nenhum factor instrumental para o futuro. Essa maioria dissolve-se após o escrutínio” – disse ao SEMANÁRIO um dirigente do PSD que tem acompanhado de perto a campanha.
Como se sabe o Centro Cultural de Belém é o principal ex-libris do consulado de dez anos de Cavaco Silva à frente do Governo e foi utilizado, pela primeira vez, na primeira presidência portuguesa da União Europeia. O local, sendo emblemático, justifica que ali faça quartel general o Prof. Cavaco Silva na noite das eleições. O discurso depois de conhecidos os resultados deverá ocorrer num dos auditórios do CCB. Não foi possível saber se na noite de domingo haverá acesso do público ao CCB, particularmente ao grande auditório, se Cavaco se restringe ao discurso através das Televisões e das Rádios ou se envolverá em qualquer manifestação popular, no caso de ser eleito.
Hoje o último dia de campanha, Cavaco Silva estará na cidade de Lisboa, em dois locais muito movimentados da cidade nos derradeiros contactos com a população. Por volta do meio dia percorrerá a avenida da Igreja, almoça na Cervejaria Trindade e inicia a digestão na Brasileira do Chiado, ponto de partida para um passeio pela Baixa. O Comício de encerramento foi marcado para as 21H30 no Pavilhão atlântico, já que à meio noite tudo tem de estar terminado, para dar lugar ao chamado dia de reflexão, expressamente previsto nas Leis eleitorais. Sábado vai ser, assim , um espaço em que a comunicação social fica como que amordaçada sem poder referir-se a qualquer aspecto, mínimo que seja, sobre qualquer tema relacionado com a campanha, os candidatos, as previsões, as intenções ou até de simples menção social. Essa obrigação é extensiva aos jornais de domingo, com excepção das referencias pontuais e estritamente noticiosas relacionadas com o acto eleitoral. Por isso mesmo, todas as sondagens, inquéritos de opinião ou simples previsões de resultados têm como limite de publicação, esta sexta feira.
Ontem cavaco Silva andou pelo distrito de Viseu, foi a S. Pedro do Sul, e cujo concelho nasceu o antigo secretário geral do PCP, Carlos Carvalhas, com quem, aliás, Cavaco Silva mantém boas relações no domínio pessoal. É que Carvalhas, foi há muitos anos vice presidente de Cavaco Silva, quando este, longe ainda da liderança do PSD, foi Presidente do Conselho Nacional do Plano. E depois foi a Lamego, que é a terra de Fernando do Amaral, presidente da assembleia da República, no tempo do primeiro Governo de Cavaco Silva. Os dois políticos desentenderam-se e tiveram até um conflito que azedou irremediavelmente as suas relações, a propósito de uma deslocação de uma delegação da Assembleia da República ao leste europeu. Fernando do Amaral, hoje aposentado, apoia a candidatura de Mário Soares e não fez como Fernando Nogueira, isto é não se reconciliou com o agora candidato presidencial. Por isso, ontem em Lamego não houve reencontro…
O comício de Viseu, ontem à noite iniciou-se já na fase de impressão desta edição do SEMANÁRIO, pelo não pudemos confirmar o que nos disse um dirigente distrital do PSD: “Viseu vai provar hoje, inequivocamente que não deixou de ser o cavaquistão!” Mais de cinco mil pessoas no comício da cidade de Viriato era a previsão desse dirigente.

Mensagem aos emigrantes
Apelo ao voto nas presidenciais

Com data de segunda feira passada, Cavaco Silva dirigiu uma mensagem aos “Portuguesas e portugueses da Diáspora” onde pede a todos “que votem nas eleições para o Presidente da república” que decorrem nos mais diversos consulados de Portugal espalhados pelo Mundo, entre hoje e domingo.
A mensagem pode incluir-se como uma manifestação de campanha pois Cavaco Silva não deixa de recordar que “o direito de voto dos portugueses não residentes em Portugal nas eleições presidenciais só foi conseguido com grande esforço num processo em que me envolvi convictamente no passado, contra muitos que hoje se afirmam como paladinos das nossas comunidades”
Cavaco Silva revela cinco prioridades “para uma política de afirmação de Portugal no Mundo, em estreita ligação com as nossas Comunidades: Aposta na divulgação da nossa Língua e dos nossos valores Históricos; reforço e participação cívica e política dos portugueses da Diáspora; acompanhamento dos problemas sociais dos emigrantes; valorização dos casos de sucesso nos mais variados domínios; e a melhoria dos instrumentos de ligação política e administrativa com as nossas comunidades”
Nesta sua mensagem, Cavaco reitera os seus compromissos com as comunidades, no caso de ser eleito: Deslocações periódicas às mais diversas comunidades para além de criar “pela primeira vez uma assessoria política para as comunidades portuguesas no âmbito dos serviços da Presidência da República”

Ideias “simples” na “recta final

Numa das suas “Notas do Candidato”, Cavaco Silva disserta sobre”um conjunto de ideias simples, mas ambiciosas que procurará transmitir na fase derradeira da campanha e que são, nas suas próprias palavras:
“Em primeiro lugar; Portugal tem a capacidade, a força interior, para fazer mais e melhor; segundo: Todos temos que entender o mundo todos os dias diferente que vivemos e que, desejavelmente, ajudaremos também a mudar; terceiro: este mundo exige mais de cada um de nós e esta é a nossa maior e derradeira oportunidade; quarto: urge passar a uma fase de tranquilidade política, em que os portugueses se possam concentrar nas grandes tarefas nacionais” E, logo a seguir, entre outras considerações, a seguinte frase: “Tenho procurado ser nesta campanha, a voz da esperança”
É nesta sequência que em Coimbra, anteontem, num vigoroso pedido de apoio, proclamava Cavaco Silva: “Não descansem até ao próximo domingo: Eu quero os portugueses mais unidos e se for eleito serei, indiscutivelmente, o Presidente de todos os portugueses”. Na cidade do Mondego, alguém respondeu: “Coimbra inteira quer Cavaco à primeira”, O repto está lançado, o tempo de campanha prestes a esgotar-se. Como disse Cavaco, esta semana na Figueira da Foz : “Todos têm de ser responsabilizados nesta hora de voto”. Uma frase que em uníssono nacional só merece um “ámen”!PC

Henrique Medina Carreira

No próximo dia 22 deverá ser eleito o próximo Presidente da República.
Atravessamos a crise mais generalizada, mais profunda, mais demorada e mais perigosa dos últimos trinta anos.
A nossa escolha tem agora de ser muito clara: ou queremos continuar como somos e ficaremos cada vez mais pobres, ou aceitamos mudar de vida para sermos mais europeus e mais ricos.
Enfrentamos a derradeira oportunidade democrática em vários anos: pela “conservação” ou pela “mudança”; pelo “marasmo” ou pela “prosperidade”.
O Presidente da República não tem poderes para fazer tudo. Mas tem poderes para estragar quase tudo. Sejamos sérios: sem economia o Estado Social torna-se um arremedo e a Democracia uma caricatura.
Não se brinque com a economia porque os pobres e os desempregados têm direito à vida.
Vamos todos votar no Prof. Cavaco Silva.

João Lobo Antunes
(Mandatário Nacional)

O tempo exige que Cavaco Silva seja Presidente de todos os que aqui vivem, dos que aqui nasceram e dos que para cá emigraram.
Ele traz consigo o conhecimento reflectido e profundo de Portugal, e um entendimento claro das exigências da modernidade. Traz ainda duas qualidades indispensáveis para um estadista – realismo e visão – e um estofo moral que se exprime na coerência entre aquilo em que acredita e aquilo que pratica.
Nunca, em anos recentes, a foi escolha tão clara; nunca, em anos recentes, será essa escolha tão decisiva. Ela é, naturalmente, a escolha de um homem, a escolha de Cavaco Silva, mas é, acima de tudo, uma escolha por Portugal.
Queremos, consigo, construir de novo a esperança.

Todos querem censurar o Google Earth

Nada mais confortável que viajar pelo mundo sem sair da frente do computador. É esse o serviço que o Google Earth oferece: palmilhar o planeta através de imagens de satélite com pormenor suficiente para ver o automóvel que estacionou à frente de casa. Mas, se para a maior parte das pessoas esta é uma ferramenta lúdica e inofensiva, para muitos políticos e militares o Google Earth tem de ser encerrado. Sustentam que esta é uma poderosa arma nas mãos dos terroristas que passam a conhecer a localização exacta de bases militares, centrais nucleares e residências oficiais de estadistas. Esta é uma matéria que abrirá um precedente, quer se decida pela censura, quer pela legitimidade da defesa interna.

O Google Earth é um programa de acesso gratuito que permite a visualização de imagens de satélite de todo o planeta. Consiste num software que é descarregado gratuitamente para o computador pessoal. Usa-
-se para “sobrevoar” cidades, ruas, florestas e montanhas de todo o mundo. Basta digitar um endereço, ou a latitude e longitude de um qualquer lugar e a imagem correspondente aparece. Depois dos protestos dos utilizadores, as imagens mais polémicas de certos locais sensíveis da capital americana, como o domicílio do Presidente Bush ou o Capitólio foram substituídas por outras, não censuradas. Com excepção do Observatório Naval dos Estados Unidos da América, residência oficial do vice-presidente Dick Cheney, que continua fortemente pixelizada. De onde vem, então, a censura? Provavelmente os Serviços Secretos dos EUA já trataram de proteger a segurança das personalidades oficiais norte-americanas.
O mais célebre dos motores de busca não acusa o toque. Responde dizendo que usa apenas imagens que já tinham sido disponibilizadas e publicadas por outras. De facto, uma parte das imagens de alta resolução de Washington provém, por exemplo, de um serviço geológico americano (US Geological Survey, uma agência científica federal). O programa WorldWind, equivalente ao GoogleEarth, publicado um ano antes pela NASA, permite igualmente constatar que as últimas imagens captadas em 2002 estão censuradas, enquanto as de 1998 não estão. Poder-se-á pensar que esta alteração é reflexo do desejo crescente de segurança interna norte-americana pós–11 de Setembro. Mas isso não explica por que razão o telhado e a piscina da Casa Branca foram disfarçadas grosseiramente enquanto que o Pentágono, a escassos quilómetros de distância, é visível em alta resolução e exibe claramente a reconstrução feita na ala oeste, depois dos ataques de 11 de Setembro.
Os EUA não são os únicos a esconder os seus locais mais sensíveis. Índia, Coreia do Sul, Austrália e Tailândia já vieram a público mostram a sua indignação perante o que consideram ser uma violação da sua intimidade territorial. Os potenciais alvos mais citados são os edifícios oficiais, as instalações militares e os locais industriais como as centrais nucleares. Por enquanto só um país dispõe de privilégios no âmbito da lei americana: a resolução máxima das imagens comerciais de Israel não podem ultrapassar os dois metros por pixel.
De facto, os diferentes países não são tratados da mesma forma: no Google Earth somente os EUA dispõem de uma cobertura quase total com boa resolução. Nos restantes países, a cobertura por satélite é de qualidade média.
Quantos aos riscos do Google Earth, uma sociedade francesa, a Fleximage, citada por uma revista, diz que censurar a imagens não é a solução: “Essa censura só terá uma consequência: atrair ainda mais os olhares dos curiosos.”

Ataques terroristas na mira

Estas imagens que o Google Earth disponibiliza oferecem ao internauta uma viagem pelo mundo sem sair da frente do ecrã do computador. É, assim, possível dar uma espreitadela a um campo de batalha e acabar o trajecto junto às pirâmides do Egipto ou no Taj Mahal. Mas não é o aspecto lúdico que está a incomodar meio mundo. As críticas concentram-se na disponibilização de locais sensíveis, como são as bases militares americanas no Iraque, os campos de prisioneiros de Guantanamo ou as centrais nucleares. Motivos mais que suficientes para vários países terem solicitado ao Google a suspensão do serviço, que apesar de não ser o único é o mais visitado.

A Coreia do Sul já enviou um comunicado a Bush em que fala do perigo que o Google Earth encerra, argumentando que as imagens mostram a localização exacta do palácio presidencial e de outras localizações estratégicas do país. Antes, foi a Austrália que se indignou com a existência de imagens do seu único reactor atómico “HIFAR”, usado para produzir matéria destinada à área médica. A Holanda não se ficou por pedidos e exigiu mesmo o encerramento do Google Earth.
Os militares americanos, na mesma linha de ideias, também manifestaram o seu incómodo face ao serviço. O capitão Josué Thompson, comandante de uma base aérea próxima de Bagdad, declarou à NBC que “as imagens do Google expõem a base ao ataque dos rebeldes iraquianos”.
Por enquanto a internet ainda consegue fugir às leis que regem o mundo físico. A questão que se coloca é até quando.

Veja também Google TV e outro equipamento informático.

“Durão Barroso será o nosso homem na Europa”

Em entrevista ao “SEMANÁRIO, Daniel Estulin, que investiga o clube de Bilderberg há treze anos, fala sobre os portugueses que têm participado nas suas reuniões, na crise política de 2004 em Portugal
e da influência de Bilderberg na escolha de Durão Barroso para presidente da Comissão Europeia. Estulin diz que as suas fontes lhe confirmaram que Henry Kissinger, um membro permanente de Bilderberg, terá dito o seguinte sobre Durão: é “indiscutivelmente
o pior primeiro-ministro na recente história política.
Mas será o nosso homem na Europa”. Daniel Estulin lançou recentemente em Portugal o livro “Clube Bilderberg, os Senhores do Mundo”, com chancela da Temas e Debates.

Quais os portugueses que participaram na reunião de Bilderberg de Stresa, em 2004?
Francisco Pinto Balsemão, Pedro Santana Lopes, José Sócrates. A lista de participantes portugueses ao longo dos anos é bastante extensa, se considerarmos o tamanho do país.

Nessa reunião, face ao poderio e influência de Bilderberg e ao facto de ser um clube predominantemente europeu e americano, alguém defendeu Durão Barroso para presidente da Comissão Europeia? Recordo–lhe que Durão foi escolhido para a Comissão dias depois da reunião de Bilderberg.
Torna-se importante compreender que é irrelevante quem ocupa a cadeira de presidente da Comissão Europeia. Durão Barroso representa os interesses do “governo mundial”. Tanto Kissinger como Rockefeller apoiaram energicamente a candidatura de Durão Barroso para aquele posto.
Barroso também foi amplamente apoiado pelos bilderbergers americanos em Stresa, por este ter apoiado a intervenção americana no Iraque. No entanto, Durão foi resguardado. Recorda-se da tão criticada cimeira dos Açores, justamente antes da Guerra do Iraque? O consenso na altura foi no sentido de não considerar Durão Barroso um verdadeiro participante na cimeira. Agora, começa tudo a fazer sentido. Ele foi afastado para tornar a sua nomeação para a Comissão Europeia mais apelativa. Desta forma, ele não fica ligado ao fiasco iraquiano.
Outro dos apoiantes de Barroso foi John Edwards, candidato a vice-presidente dos EUA, com John Kerry, que também esteve presente nas reuniões de Bilderberg. Como nota de referência, tenho relatórios de várias fontes internas da reunião de Bilderberg que referem a fraca capacidade oral e a fraca personalidade de Barroso. Decidiu-se mesmo limitar as suas aparições em público ao mínimo. Kissinger, um membro permanente de Bilderberg, chegou ao ponto de o chamar, “off the record”, “indiscutivelmente o pior primeiro ministro na recente história política. Mas será o nosso homem na Europa”.

Santana Lopes esteve presente em Stresa e um mês depois era primeiro-ministro. Há alguma relação nestes dois factos?
Aprendi ao longo dos anos a seguir de perto todos os passos dos bilderbergers nas semanas que se seguem à sua reunião anual. Por exemplo, logo a seguir à reunião anual de Stresa, Itália (3-6 deJunho), gerou-se uma crise política em Portugal, que teve o seu fim no final do mês. Durão Barroso, primeiro ministro (agora presidente da Comissão Europeia), demitiu-se oficialmente a 29 de Junho. O rumor à volta do nome de Santana Lopes como futuro primeiro-ministro é lançado por volta de 28 de Junho. Curiosamente, é nesse dia que ele afirma não ser verdade que tenha sido convidado para participar na reunião anual de Bilderberg. Isso foi até alguém mostrar-lhe uma foto que eu tirei em Stresa.
Muito tem sido dito acerca de Barroso ter escolhido o seu companheiro do PSD, Santana Lopes, para seu sucessor. Essa escolha foi intencional, como toda a confusão que se seguiu. O que as pessoas não sabem é que a falsa noção de democracia é suposto ser isso mesmo – um truque. A esquerda e a direita são propriedade dos bilderbergers, não só em Portugal como em todos os países. Barroso é um bilderberger, assim como Sampaio, Lopes, Sócrates, etc. Na Alemanha, tanto Merkel como Schroeder, estavam presentes na conferência deste ano. Da Espanha, Rato, presidente do FMI e ex-ministro das Finanças de Aznar, esteve presente em Rottach-Egern, este ano. O conselheiro económico-chave de Zapatero, Miguel de Sebastian, também lá esteve. Blair é um bilderberger, assim como Kenneth Clarke, um dos membros-chave dos conservadores britânicos e, supostamente, um dos seus maiores inimigos.
Em relação a Santana Lopes, pude confirmar junto de três fontes independentes que a conversa de final de tarde a 4 de Junho de 2004 (durante a reunião de Bilderberger em Stresa), andou à volta do plano de Santana em mudar a Constituição portuguesa, para criar um nova instituição de poder, um Senado, em que o governo poderia nomear senadores vitalícios. O que conduziu à resposta sarcástica de Richard Haass, presidente da CFR (Trilateral): “Não soa muito a uma tentativa genuína de reforma democrática.”

À semelhança de Santana, Sócrates também participou na reunião de Stresa e menos de um ano depois também era primeiro-ministro…Tive acesso a informação contraditória pelas minhas fontes, algumas delas a dizer que Sócrates foi colocado para criar ainda mais descontentamento dentro das suas próprias fileiras. Outros dizem que o seu verdadeiro propósito ainda está por ser determinado.

Quem levou Santana e Sócrates para a reunião de Bilderberg de 2004?
Pinto Balsemão, o homem mais poderoso em Portugal e um membro-chave do todo poderoso comité de decisão da Bilderberg. Pinto Balsemão é o mais importante bilderberger português. Desde o início dos anos noventa que é um um membro permanente do comité de decisão (steering) de Bilderberger, significando que pertence a um grupo de pessoas que tomam as decisões finais acerca dos proponentes, temas de agenda, etc. Ele é o “homem bilderberger em Portugal”. Nenhuma decisão pode ser tomada sem o seu selo de aprovação. Presidentes e primeiros-ministros vão e vêm, mas Balsemão permanece. É a solitária sombra do poder.

O ex-ministro Morais Sarmento participou na reunião deste ano de Bilderberg. Também foi Balsemão quem o convidou?
Também foi Pinto Balsemão quem o levou.

Paulo Portas, um ex-ministro do Partido Popular, nunca esteve em Bilderberg?
Portas nunca esteve presente em nenhuma reunião de Bilderberg. Não sei porquê. Balsemão nunca me disse (irónico). No entanto, pelo que pude apurar das minhas fontes, Portas não oferece garantias aos próprios bilderbergs.

O clube tem mesmo influência política a nível mundial ou foi já um mito que se criou?
Para além do que já referi, até sobre Portugal, gostaria de usar como exemplo da influência de Bilderberg as eleições alemãs de 2005. Na conferência de Bilderberger em Rottach-Egern, os bilderbergers queriam mudar a imagem enfadonha de Angela Merkel, a “futura líder” da Alemanha nas eleições alemãs a 18 de Setembro. Um homem bilderberger deu a opinião que para que os eleitores alemães pudessem aceitar Merkel como chanceler seria importante dar uma nova definição do termo valores de família. Bilderbergers alemães bem versados na psique colectiva bavariana acreditavam que a imagem de Merkel, uma divorciada com um doutoramento em física, não seria considerada de “confiança”, por forma a atrair votos suficientes nesta firme área conservadora do país. Seria, então, importante enfatizar a importância do conceito de família. E esta estratégia foi aplicada nas eleições.
Sobre Merkel, recordo, ainda, que com os Bilderbergers a colocar de parte Schroeder a favor de um novo candidato, isto poderia significar que após três anos de guerrilha entre bilderbergers americanos e europeus em torno da guerra do Iraque, o clube estaria pronto para colocar em marcha uma política mais coesa. Lembre-se que Schroeder, assim como o Presidente Chirac, eram dos mais vociferantes críticos da intervenção americana no Iraque. Schroeder, representando a esquerda, e Merkel, representando a direita, são propriedade dos Bilderbergers. Apesar de Bush junior não estar presente pessoalmente na reunião secreta em Rottach-Egern, o governo americano estava bem representado por William Luti, Richard Perle e Dennis Ross do Instituto de Washington de Near East Policy.

Os participantes de Bilderberg não falam que estiveram presentes nas reuniões e muitas vezes desmentem mesmo que tenham lá estado…
Os participantes do clube estão explicitamente proibidos de discutir Bilderberg em público.

O que foi discutido em Stresa, em 2004?
Para além do que já disse, outro dos items de Stresa esteve relacionado com a “liberalização dos mercados mundiais”. Os bilderbergers sempre estiveram a favor de extremo liberalismo. Estamos a chegar a um nível profundo de liberalismo com tendência a ser restaurado em máxima força nas suas crenças e credo. Historicamente, o liberalismo sempre reivindicou três liberdades: liberdade de mão de obra. Isso não significa que os trabalhadores serão livres, mas que o povo será livre de se mover de um país para o outro, uma região para outra. Para os bilderbergers isso é muito importante. Significa que os patrões terão um livre acesso a uma grande massa de mão-de-obra. Quanto mais global for, melhor. Liberdade de solo: significando que o solo é tão importante como qualquer outra mercadoria. Liberdade de moeda. Em que o dinheiro também é uma mercadoria como qualquer outra. Recordo que a primeira vaga de liberalismo desvaneceu-se entre 1920-1930, após ter feitos muitos estragos nas sociedades americanas e europeias. O seu sistema afirmava que se tudo for livre e as empresas não efectuarem cartéis ou monopólios, com nenhum trabalhador a pertencer às centrais sindicais, o sistema irá enriquecer toda a gente. Isto é uma perfeita utopia, mas baseados nas obras de economistas laureados com o Prémio Nobel da Economia, bem como desenvolvimentos matemáticos, isto parece aos seus olhos verdade. O sistema exige que cada país do mundo seja incluído, e que cada indivíduo seja eficaz. É por isto que o liberalismo e a globalização trabalham tão bem juntos. Como é por isto que existe o grupo Bilderberg.

Portugal recebeu, em 1999, uma primeira reunião de Bilderberg, que teve lugar em Sintra. O que foi aí discutido?
Um dos itens principais teve a ver com o comércio de ouro e a posição da Inglaterra na União Europeia. Em Sintra os bilderbergers decidiram castigar a Inglaterra pela sua contínua resistência em relação ao espírito federal europeu. O método que estavam preparados a utilizar contra os inocentes britânicos seria o de um ataque frontal ao comércio de barras de ouro. Um grupo restrito de Bilderberg, onde estavam Rockefeller, Kissinger, Victor Halberstadt, professor de economia da Universidade de Leiden, Etienne Davignon e Umberto Agnelli, reuniu com os governadores dos Bancos Centrais da Europa. A seguir à reunião de Sintra, a maioria dos Bancos Centrais, em Setembro de 1999, fizeram uma supreendente declaração em que estariam a adiar, por cinco anos, o dumping de ouro, que previamente teriam feito, supostamente porque já não gostavam de ter ouro nas suas reservas. O anúncio causou um tendência de subida nas barras de ouro. O Banco de Inglaterra organizou um leilão de ouro de algumas supostas reservas. O mais impressionante para alguns de nós, não familiarizados com o comércio do ouro e a sua realidade, é que, na realidade, uma barra de ouro quase nunca é comercializada. Dessa forma o Banco de Inglaterra estaria a oferecer ouro “teórico” (apenas em papel), não o verdadeiro ouro que tinha em sua posse. Quando o bilderberger George Soros descobriu, lançou um ataque ao Banco de Inglaterra, causando que o preço do ouro aumentasse para quase 330 dólares a onça.|

Todos os portugueses de Bilderberg

O SEMANÁRIO publica, em exclusivo, a lista de todos os portugueses que já estiveram em reuniões de Bilderberg, um clube que é considerado uma espécie de governo-sombra a nível mundial. Uma das principais tarefas dos jornalistas que investigam o clube é não só saber quem participa nas reuniões mas, sobretudo, acompanhar o seu percurso nos tempos seguintes. Quase todos, ascendem a altos postos. Na reunião que teve lugar de 3 a 6 de Junho, em Stresa, em Milão, Santana Lopes e José Sócrates estiveram presentes, juntamente com Pinto Balsemão. Curiosamente, Santana seria primeiro-ministro dois meses depois e nem passaria um ano para José Sócrates chefiar o Governo. Outros três intervenientes na crise política de 2004, o Presidente da República, Jorge Sampaio, Durão Barroso, então primeiro-ministro, e Ferro Rodrigues, então líder do PS, também estiveram em reuniões de Bilderberg. Sampaio esteve presente em 1999, na reunião
de Sintra. Durão é um velho conhecido de Bilderberg, tendo estado presente em 1994, 2003 e já este ano, na Alemanha, na qualidade de presidente da Comissão Europeia. Já Ferro esteve presente na reunião de 2003.

Francisco Pinto Balsemão – É um membro permanente do Clube de Bilderberg desde 1988, tendo participado em quase todas as reuniões anuais desde essa data. Pertence mesmo ao comité restrito, denominado “Steering”. É ele quem tem convidado muitas personalidades portuguesas a estarem presentes no clube. Em 1988, Pinto Balsemão tinha abandonado o cargo de primeiro-ministro há 5 anos e estava dedicado aos seus negócios, mantendo também o “Expresso”. Anos depois abriria a SIC, aproveitando a liberalização da televisão feita pelo governo de Cavaco Silva. O processo conturbado, com divisões no próprio Conselho de Ministros, tendo o grupo televisivo de Proença de Carvalho sentido-se desfavorecido. Pinto Balsemão é hoje presidente da Impresa. Falado como potencial candidato presidencial, nunca se concretizou esta hipótese.

Mira Amaral – Ministro da Indústria de Cavaco Silva. Participou na reunião de Bilderberg em 1995, no final do governo de Cavaco Silva, numa altura em que o professor rumava à corrida a Belém e Fernando Nogueira e Durão Barroso disputavam a liderança do PSD. O facto de ter estado presente pode significar que o seu nome esteve fadado para mais altos voos, que depois não se concretizaram. É especialista em energia e tem-se dedicado à sua actividade de administrador de empresas. Foi administrador da Caixa Geral de Depósitos, tendo saído do banco num processo político conturbado. Só participou em Bilbderberg na reunião de 1995.

Joaquim Ferreira do Amaral – Ministro das Obras Públicas de Cavaco Silva, uma das cartas mais importantes do governo, artíficie das auto-estradas portuguesas. Tem mostrado disponibilidade para combates difíceis, tendo perdido Lisboa para João Soares. Participou na reunião de Bilderberg que ocorreu em Sintra, em 1999, uma das que teve mais participantes portugueses. A sua presença é significativa, tanto que dois anos depois seria candidato à Presidência da República, defrontando Jorge Sampaio. Só esteve presente em 99.

António Barreto – Este investigador esteve presente na reunião de 1992, em pleno cavaquismo, um ano depois de Cavaco obter a sua segunda maioria absoluta. António Barreto foi ministro da Agricultura nos primeiros governos PS, tendo deixado o seu nome associado à Lei Barreto, massacrada pelos comunistas por traduzir o primeiro desmantelamento da reforma agrária. Teve um papel essencial na candidatura presidencial de Soares em 1986, sendo o seu porta-voz. Foi ele quem apelou ao “povo de esquerda” para a segunda volta de Soares contra Freitas do Amaral. Nos últimos anos tem-se dedicado à investigação e a comentários e análises nos jornais. É uma mente brilhante, o género de pessoa que os bilderbergs políticos gostam de ver no seu seio. Só participou na reunião de 92.

Durão Barroso – Participou na reunião de Bilderberg de 1994, quando era ministro dos Negócios Estrangeiros de Cavaco Silva. Não por acaso, um ano depois estava a candidatar-se à liderança do partido. Perdeu para Fernando Nogueira, mas a sorte acabou por o bafejar, porque Nogueira foi derrotado por Guterres (num ciclo político muito desfavorável ao PSD). Durão ficou como reserva e tornou-se líder social-democrata em 1999, quando Marcelo Rebelo de Sousa saiu. Apesar de ter perdido as legislativas de 99 para Guterres não se deu por vencido, ficando célebre a sua frase “tenho a certeza que serei primeiro-ministro, só não sei é quando.” O seu vatícinio acabou por confirmar-se, tornando-se primeiro-ministro em 2002. Em 2003, voltou a estar presente no clube de Bilderberg, na qualidade de primeiro-ministro. Em meados de 2004 era designado presidente da Comissão Europeia. Voltou a participar na reunião deste ano de 2005 de Bilderberg, que teve lugar na Alemanha, na qualidade de presidente da Comissão.

António Borges – É o homem português da Goldmam Sachs, curiosamente uma empresa com ligações a Bilderberg. Esteve presente na reunião do clube em 1997, o que mostra que o seu nome é badalado para altos voos há muito tempo. Se estava na calha para a liderança laranja, acabou por ser Durão a tomar o lugar de Marcelo. Em 1998, escapou, miraculosamente, ao acidente fatal da TWA, que não deixou sobreviventes. Chegou a ter bilhete mas não embarcou. Na reunião de 2003 do clube voltou a estar presente. Em 2004, foi um dos principais critícos da solução Santana Lopes para suceder a Durão Barroso. Actualmente, está posicionado para suceder a Marques Mendes. É um homem muito próximo de Cavaco Silva, ainda que o professor não favoreça as amizades e às vezes até as discrimine.

Maria Carrilho – Investigadora, sempre esteve ligada ao PS, tendo sido deputada à Assembleia da República e ao Parlamento Europeu. Hoje é vice-presidente da Assembleia da República. É especialista em assuntos de defesa, uma área prioritária nas discussões de Bilderberg. Esteve presente na reunião do clube em 1995, o ano da chegada ao poder de António Guterres.

António Guterres – Esteve presente na reunião deste ano na Alemanha, já na qualidade de Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados. O seu nome continua a ser uma hipótese para outros voos, designadamente o Palácio de Belém, em 2011 ou 2016.

Roberto Carneiro – Ministro da Educação de Cavaco Silva. Esteve presente na reunião de 1992, no auge do cavaquismo. Chegou a ser-lhe vaticinada uma importante carreira política mas, depois da queda de Cavaco, os seus interesses viraram–se para outras áreas. Envolveu-se no projecto inicial da TVI, como profundo católico que é, e tem-se dedicado à investigação universitária e a algumas iniciativas empresariais.

Vitor Constâncio – Esteve presente em Bilderberg em 1988, quando era secretário-geral do PS. Nunca mais participou em nenhuma reunião depois desta data. Afastou-se das lides mais activas do PS e dedicou-se ao que sabe fazer muito bem: os assuntos económicos. O Partido premiou-o com o Banco de Portugal.

Vasco Pereira Coutinho – Um dos maiores empresários portugueses, tendo enriquecido com o negócio da AutoEuropa. Esteve presente na reunião de 1998, numa altura em que Marcelo Rebelo de Sousa liderava o PSD. Durão Barroso fez uma viagem de férias ao Brasil, no avião dele e na sua casa, quando era primeiro-ministro, provocando grande polémica. É apoiante de Cavaco Silva.

João Cravinho – Esteve presente na reunião de 1999, no auge do guterrismo, sendo ministro do Planeamento e da Administração do Território. Alia um pensamento interessante a uma excelente preparação técniva, devendo ter participado no clube como um dos “cérebros” que os políticos gostam de ouvir. Atacou bastante Guterres no fina dos seus dias, sendo um homem próximo de Jorge Sampaio (mas muito senhor do seu nariz).

José Cutileiro – O embaixador português esteve presente na reunião de Bilderberg em 1994, tornando-se presidente da estrutura de defesa da União Europeia, a UEO, logo nesse ano. É um homem culto, brilhante, com opiniões geoestratégicas muito auscultadas por qualquer governante.

José Manuel Galvão Teles – Advogado, homem muito próximo de Mário Soares, de quem é amigo e vizinho. Esteve presente na reunião de Bilderberg de 1997, no auge do guterrismo. É conselheiro de Estado.

Teresa Patrício Gouveia – Fez parte do governo de Cavaco, como secretária de Estado da Cultura e como ministra do Ambiente. Esteve presente na reunião de Bilderberg em 2000.Foi ministra dos Negócios Estrangeiros de Durão Barroso.

Marçal Grilo – Ministro da Educação de António Guterres, de quem era amigo. Esteve presente na reunião de Bilderberg de 1999, em Sintra. Há quem diga que é uma mente brilhante.

Miguel Horta e Costa – Esteve presente na reunião do clube em 1998, no tempo da liderança laranja de Marcelo, sendo vice-presidente da Portugal Telecom. Já no tempo de Durão Barroso ascendeu à presidência da empresa, mantendo-se com Santana Lopes e José Sócrates, todos bilderbergs. Deverá sair da PT já em Janeiro.

Margarida Marante – É um dos dois jornalistas que marcaram presença em Bilderberg, tendo estado presente em 1996, no auge da sua carreira na SIC, onde conheceu Emídio Rangel e contraiu matrimónio. É próxima da área do PSD.

Vasco de Mello – Um dos grandes empresários portugueses. Esteve presente na reunião de Sintra, em 1999. Tem tido um percurso discreto, mantendo pontes com o poder político mas não dando azo a conversas.

Carlos Monjardino – Homem da área do PS, que participou no governo de Macau. Grande empresário, com ligações fortes ao Oriente, sobretudo a Stanley Ho. Presidente da Fundação Oriente. Há muito que é falado para candidato presidencial mas nunca conseguiu concretizar essa aspiração. Esteve presente na reunião de Bilderberg de 1991, no auge do cavaquismo e da reeleição de Mário Soares, de quem é muito próximo.

Murteira Nabo – Ministro fugaz de António Guterres, tendo de se demitir por causa de um caso de sisa. Esteve presente na reunião do clube em 1999, já era presidente da PT há três anos.

Faria de Oliveira – Ministro do Turismo de Cavaco Silva, esteve presente na reunião de Bilderberg em 1993, sendo uma peça essencial na ligação entre o então primeiro-ministro e o mundo dos negócios, quer público, quer privado.

Carlos Pimenta – Ministro do Ambiente de Cavaco, um dos mais activos de sempre. Chegou a ser-lhe vaticinando um futuro político risonho. Esteve na reunião de Bilderberg de 1991. Nos últimos anos, afastou-se da política.

Francisco Lucas Pires – O malogrado líder do CDS, que depois se aproximou do PS, era uma mente brilhante, a quem pareciam reservados altos voos. No entanto, só esteve presente na reunião do clube de 1988.

Ricardo Salgado – Um dos grandes banqueiros portugueses. Esteve na reunião de 1997, quando Marcelo era líder do PSD e voltou a estar na reunião de 1999, em Sintra. É um homem com relações privilegiadas com o poder político à direita. Santana Lopes chegou a chamá-lo para uma reunião privada. Viu o seu banco, o BES, ser alvo de buscas judiciais este ano.

Jorge Sampaio – Presidente da República. Participou na reunião de Bilderberg, em Sintra, na qualidade de primeiro magistrado da Nação portuguesa, uma presença, sem dúvida, polémica.

Nicolau Santos – O outro jornalista que participou em Bilderberg, tendo estado em Sintra em 1999. É especialista em assuntos económicos. Curiosamente, os jornalistas que estiveram no clube eram ambos profissionais no grupo de Balsemão, Nicolau Santos no “Expresso” e Margarida Marante na SIC.

Artur Santos Silva – Um dos grandes banqueiros portugueses, com o seu BPI. Tem relações privilegiadas à esquerda e é um homem culto, de uma família espiritual. Esteve presente na reunião de 1999. Curiosamente, nesta reunião só acabou por faltar um banqueiro do BCP, um banco com outra estratégia, mais europeia.

Marcelo Rebelo de Sousa – Esteve presente na reunião de 1998, quando era líder do PSD e ainda julgava que era possível fazer renascer a AD com Paulo Portas e ganhar as eleições legislativas de 1999 a António Guterres. As coisas correram-lhe mal, metendo o caso da Universidade Moderna pelo meio (afectando Portas). Regressou ao comentário político. A entrada na corrida de Belém também falhou, porque tudo correu bem a Cavaco.

Miguel Veiga – Advogado nortenho, um histórico do PSD, com relações fortes com a ala soarista do PS. Esteve em Bilderberg em 1994, no fim do cavaquismo. Tornou-se um dos piores inimigos de Santana Lopes, sendo a voz mais forte contra a sua indigitação para primeiro-ministro, sucedendo a Durão Barroso.

António Vitorino – Era a eminência-parda do guterrismo, tendo estado na reunião de Bilderberg de 1996, quando era vice-primeiro-ministro e ministro da Defesa. Por causa de um caso de sisa, acabou por se demitir. Foi comissário europeu e o seu nome chegou a estar na calha para presidir à Comissão. Rejeitou ser candidato à Presidência da República.

Oliveira Martins – Participou na reunião de 2001, quando era ministro da Presidência do governo Guterres, já no ocaso do guterrismo, depois da queda da ponte de Castelo de Paiva. Se não fosse independente, tinha sido um nome possível para a corrida à liderança do PS. Tornou-se presidente do Tribunal de Contas este ano, numa nomeação polémica, face à natureza das funções do órgão, que requerem independência e imparcialidade.

Vasco Graça Moura – Deputado ao Parlamento Europeu pelo PSD, poeta e erudito. Esteve presente na reunião de 2001 de Bilderberg. É um intelectual brilhante, que os políticos gostam de ouvir.

Ferro Rodrigues – Esteve presente na reunião de 2003, quando era líder do PS, pouco depois de ter deflagrado o caso Casa Pia no partido. Depois de Jorge Sampaio ter dado posse a Santana Lopes, demitiu-se, tomando a decisão presidencial como uma derrota pessoal. É hoje embaixador português da OCDE em Paris.

Santana Lopes – Esteve presente na reunião de 2004, que ocorreu de 3 a 6 de Junho em Stresa, Milão. Curiosamente, pouco mais de um mês depois era primeiro-ministro de Portugal. A vida, contudo, não lhe correu bem. Ao ponto de Jorge Sampaio ter dissolvido o Parlamento e convocado eleições legislativas.

José Sócrates – Tal como Santana Lopes, esteve presente na reunião de Stresa de 2004. Curiosamente, menos de um ano depois seria primeiro-ministro de Portugal, parecendo estar no cargo de pedra e cal. Malgré Cavaco Silva.

Nuno Morais Sarmento – Esteve presente na reunião de Bilderberg deste ano, tendo sido convidado por Pinto Balsemão, um facto que pode ter significado nos próximos tempos.

A corporação socialista

A lei sobre política criminal que vem aí, prevista na Constituição mas nunca concretizada pelos governos, é mais um invento simples de Sócrates que só tem um
pequeno problema:
confunde-se muito com o caso Pedroso

A lei sobre política criminal que vem aí, prevista na Constituição mas nunca concretizada pelos governos, é mais um invento simples de Sócrates, uma espécie de bricolage para juntar à liberalização da venda de medicamentos e à redução das férias judiciais.
É evidente, porém, que as engenhocas de Sócrates não podem ser vistas fora do contexto. O primeiro-ministro é produto das suas circunstâncias. Sem o caso Casa Pia, sem a prisão de Paulo Pedroso, sem o abraço amigo de Sócrates a Ferro, sem o sexto sentido do próprio António Guterres, muito cedo convencido que o caso Casa Pia era uma horrenda conspiração contra o PS, certamente que o dogma da autonomia (puxada para a independência) do Ministério Público ainda dava cartas a esta hora, provavelmente com António Costa e Alberto Costa a gritarem crime de lesa-majestade a quem se atrevesse a tocar no poder do MP. Ainda em 1997, era António Costa ministro da Justiça e, contra a vontade do PSD, que era a de esvaziar mais os poderes do MP, o PS recusou-se a ir mais longe. O que mudou de então para cá?
As circunstâncias do caso casapiano têm um lado e o seu reverso. Induzem, porventura, a uma determinada política e, estando lá, são uma marca ou uma mácula incontornável. Que se presta a diferentes interpretações, a más línguas. Esta pode ser a maior arma das magistraturas contra a política da Justiça do Governo. E, inversamente, claro está, a maior fragilidade da parte do executivo.
Hoje parece mais do que provado que o PS reagiu como uma corporação no caso Casa Pia, quando Pedroso foi preso. O que torna pertinente a questão de saber se o PS, dois anos depois do caso Pedroso (agora encerrado pela esgotamento dos prazos de recurso em relação à não pronúncia do ex-ministro socialista) não continua corporativista nesta matéria? E, se não está cada vez mais cioso de saber o porquê de tudo? E se, não encontrando resposta para esta matéria, nem podendo exercer “vindicta” contra desconhecidos, no âmbito de uma responsabilidade subjectiva, não terá a tentação (ou já caído no pecado) de resolver as coisas com base na responsabilidade objectiva. O que, neste cenário, se traduziria mais ou menos nisto. Não interessa se o Ministério Público teve culpa ou foi negligente no caso Pedroso. Interessa que Paulo Pedroso e Ferro Rodrigues viram o seu nome enlameado e, como alguém tem de pagar (popularmente diz-se que quem anda à chuva molha-se), que se apliquem as regras da responsabilidade pelo risco e que pague o Ministério Público. Não com a vida mas com a sua autonomia.
É essencial uma lei de política criminal mas, feita neste contexto, todos os cuidados são poucos para acautelar a autonomia do Ministério Público. Uma coisa são critérios de racionalidade e eficiência na aplicação da lei penal. Outra coisa, bem diferente, é condicionar politicamente a açcão do MP no futuro.
Curiosamente, esta solução de resolver as coisas pelo lado da responsabilidade objectiva está inserida num projecto do cada vez mais influente director do Observatório da Justiça, Rui Pereira, um autêntico ministro sombra da área sob a capa de um cargo com contornos institucionais. Há pouco tempo, numa entrevista à SIC-Notícias, Rui Pereira dizia que dentro de pouco tempo vai haver uma lei em que um preso preventivo que venha a ser absolvido do crime de que é acusado deverá ser indemnizado pelo Estado, independentemente de se apurar erro ou negligência grosseira dos magistrados. Ou seja, estamos no campo da responsabilidade objectiva (o que pode ser o início do puxar do cordelinho…). O Estado paga em nome dos deveres e direitos de cidadania. Parece justo e correcto (ainda que o dinheiro para pagar as indemnizações suscite outro tipo de problemas, ao nível do défice público). No entanto, uma questão se suscita. Porque é que só agora, curiosamente com Pedroso a pedir uma indemnização ao Estado por ter estado preso preventivamente, o PS se lembrou de tal iniciativa?
As águas mornas em que navegou Alegre com Cavaco fazem sugerir que os candidatos da esquerda podem ser umas pestezinhas com o professor na campanha mas que dentro do recinto televisivo se portam como “gentlemen”.
A esquerda não anda nada bem. O debate de Alegre com Cavaco, que este ganhou distanciado, parece indicar que, depois de tanta falatório com os encontros televisivos, ainda é Cavaco que vai ficar a rir-se dos quatro candidatos de esquerda. Por outro lado, desconfia-se que o tão falado “caso” que a esquerda procura desesperadamente para entalar Cavaco, ainda vai estoirar… em casa.
Com o tempo a passar, quanto mais Cavaco resistir às armadilhas da esquerda, mais Alegre e Soares devem ficar com os nervos em frangalhos…
A tragicocomédia da esquerda nestas presidenciais já chegou ao ponto de Mário Soares e Manuel Alegre disputarem a amizade de Jerónimo de Sousa, para ver a quem toca mais o voto comunista. O primeiro disse há duas semanas que não dormia descansado com a eleição de Cavaco, parafraseando o líder do PCP. O segundo declarou na semana passada que não se resigna, tal como disse o amigo Jerónimo. O poeta fez ainda saber que pode chamar amigo a Jerónimo porque privou com ele na Assembleia da República, dando a entender que Soares anda a apregoar o líder comunista mas não o conhece verdadeiramente, o que mostra bem o ridículo em que a esquerda anda metida. Em suma, já faltou mais para Soares e Alegre darem uma volta por Pirescoxe, competindo por um “boneco” com Jerónimo de Sousa no café central da localidade. Não é, aliás, por caso que Jerónimo, transformado num novo ícone, não pára de dar ar o da sua graça. Conta adivinhas, anedotas, lembra António Aleixo, os ditos da Dona Olímpía, sua mãe, e ainda se dá ao luxo de inaugurar um discurso comunista messiânico, fazendo uma excelente condensação de todo o material etnográfico português.
Cavaco Silva, por feitio, formação e estratégia tem falado pouco mas, com uma campanha de esquerda assim é natural que o professor fale ainda menos. Nestas circunstâncias, falar seria, em gíria futebolística, beneficiar o infractor. Por exemplo, se Cavaco denunciasse a disputa de Soares e Alegre pelo voto comunista, estava a dar um tiro ideológico no pé, arriscando que a esquerda corresse a gritar que ele era um perigoso anticomunista.