2025/11/11

Alentejo em movimento

A temporada de 2006 de dança em Évora é preenchida por uma programação intensa e de grande qualidade em grande parte apresentada pelo Espaço do Tempo (de Montemor-o-Novo). O Espaço do Tempo, sob a direcção de Rui Horta, e em co-produção com o Centro Dramátrico de Évora, com organização da Câmara Municipal de Évora, apresentam este mês dois espectáculos imperdíveis.

“Berna, n.º 49 Kramgasse” é um espectáculo de Cláudia Nóvoa e será apresentado nos dias 10 e 11 Fevereiro, no Espaço do Tempo em Montemor-o-Novo. Cláudia Nóvoa fazia parte do Ballet Gulbenkian e alguns dos espectáculos que lhe deram mais prazer interpretar foram “Jardim Cerrado”, de Nacho Duato, e “Old Children”, de Mats Ek. A bailarina, depois de “Solidão aos Molhos”, regressa à criação, em nome próprio, com um elenco de cúmplices que partilharam a despedida daquela companhia de dança.
Criou o espectáculo, agora apresentado, em 2005, ano mundial da física. Ao ler alguns jornais, Cláudia Nóvoa sentiu algum interesse em relação a um pormenor da morte de Albert Einstein. Este pormenor foi o facto do patologista que lhe realizou a autópsia lhe tirar o cérebro para melhor o estudar, guardou pedaços em formol, andando fugido durante mais de 40 anos. Foi assim que a coreógrafa assumiu o desafio de “entrar no cérebro deste cientista famoso” e começou a sua própria ciência. Estudou e passou a conhecer melhor os responsáveis de grandes descobertas da humanidade e criou um espectáculo, que se pode dizer que é fruto do fascínio da evolução do conhecimento científico. O espectáculo foi construído em residência artística no Convento da Saudade, em Montemor-o-Novo e esta será a sua primeira apresentação, neste novo espaço de espectáculos.
Na base, o comportamento do átomo, a grandeza do cosmos, a relatividade do tempo, as forças de interacção. A viagem começou com Einstein, são tratados os conceitos de espaço, tempo, velocidade, luz, massa e energia. O nome “Berna, n.º 49 Kramgasse” nasce da importância da residência em Berna, onde o cidadão suíço pensou e elaborou a teoria da relatividade. Isto aconteceu em 1905, há 100 anos. Hoje essa casa é um museu muito visitado e Cláudia Nóvoa é uma bailarina, que interpreta o papel de coreógrafa e cria “Berna, n.º 49 Kramgrase”. A “performance” conta com a interpretação da própria coreógrafa, Romeu Runa, Sandra Rosado e Pedro Mendes. O desenho de luz é de Paulo Graça, a música de Mário Franco e a fotografia de António Rebolo.
O espectáculo vive da energia e do movimento, assumindo um interesse pelo lado poético da matéria. Propõe-se a olhar de uma forma quase nua sobre a expressividade do corpo, sem recurso a grandes tecnologias.
No fim-de-semana seguinte, “Obstrucsong” estará no Teatro Municipal Garcia Resende, em Évora, depois de ter passado por Praga, Berna e Bruxelas, além da Dinamarca, Polónia, entre outras cidades. O espectáculo está em digressão desde Maio de 2005. Coreografado por Palle Granhoj, um dos mais prolíficos e criativos coreógrafos da cena dinamarquesa e interpretado pela Companhia Gtanhoj Dans (Dinamarca), esta é uma performance criada em cooperação com os intérpretes: Aline Rodriguez, Anne Eisensee, Daila Chaimsky, Dorte Petersen, Gaute Grimeland, Kristoffe Pedersen e Jannik Nielsen. Palle Granhoj dirige a peça num tapete de lã. Nas suas palavras, às vezes quando ouves música, um simples acorde pode ser suficiente para nos pôr com uma determinada disposição. “Obstrucsong” é a sua tentativa de deixar uma dança simples e física, uma canção em forma de ritual, dar à audiência a sensação de que falta algo. O que falta é explorado neste espectáculo.
O espaço puro enquadra o essencial do seu método: a obstrução técnica. Segundo o coreógrafo, grelhas e obstáculos são limitativas para os intérpretes, deixando surgir novas possibilidades. It was complex… I just need it to be really simple!
A fonte de luz primária é a lâmpada e os engenhos simples, caixas de lata, tampas e varões flexíveis fazem a moldura do espaço de dança e do palco. As línguas usadas neste espectáculo são o volapuk e o inglês, fazendo com que haja uma exploração diversa da linguagem. A voz dos intérpretes é o foco. Todos os sons se baseiam na voz natural e acústica. Da respiração dos intérpretes surgem sons estranhos e curiosidades que crescem através dos sussurros, até se tornarem num canto e em gritos. Segundo a crítica finlandesa: they sing like an angle choire.
O design é de Per Victor. “La Libre Belgique” considera a ideia sedutora, o conceito vertiginoso e a entrega é feita com humor, precisão e luminosidade. Os arranjos musicais são de Laila Skovmand. Esta é uma performance de uma companhia com um curriculum longo e que é uma lufada de ar fresco na dança moderna. Subirá ao palco deste teatro na cidade de Évora nos dias 17 e 18 de Fevereiro às 21h30.

O plano Gates: um país estrangeiradopor Paulo Gaião

Portugal parece uma América dos pequeninos, onde
o inglês é dominante, Bill Gates é imperador e o céu
é o limite, como disse Sócrates, lembrando o filme “Top Gun”

A “carreirinha” dos ministros a colocarem a assinatura em série nos protocolos com Bill Gates arrisca-se a ficar na história do país como o acto mais pindérico desde o 25 de Abril. George Orwell era capaz de fazer um livro magnífico com a imagem risívelde vários ministros portugueses a assinarem em série um contrato com Bill Gates. E Charlie Chaplin talvez fizesse um “remake” do seu “Mundo Moderno”.
Por detrás de muitas medidas bem-vindas de Sócrates, começam a descobrir-se coisas muito pouco agradáveis. Como se tivesse que haver um preço a pagar por estarmos a ser razoavelmente bem governados.
A coberto da crise, o país está a vender a sua dignidade. Há dois meses, já tinha parecido estranho, a forma subalterna como Manuel Pinho andou em bolandas com a AutoEuropa e pareceu um auxiliar do dono da ENI. Há três meses também houve qualquer coisa de estranho no ar quando a apresentação do projecto da Ota, uma obra de Estado, de grande envergadura foi sustentado por dois funcionários bancários. Hoje, foi a “carreirinha” dos ministros a colocarem a assinatura em “série” nos protocolos com Bill Gates.
Jorge Sampaio, com o seu habitual conformismo, também embalou nas homenagens a Bill Gates, deixando o Estado ainda mais ajoelhado ao dono da Microsoft. Até se desconfia que o Presidente da República pode ter segredado a Bill Gates que estava a ter direito ao seu minuto de fama… com o homem mais rico do mundo. O que se passa com estes socialistas que, ano após ano, governo após governo, não perdem o fascínio pelo dinheiro? Caindo em situações tristíssimas. Abdicando, de mão beijada, da soberania portuguesa. Bill Gates vai formar as polícias e o até o sector de informações, o que pode colidir com os interesses estratégicos do país.
Há qualquer coisa de anormal na obessão de Sócrates com o plano tecnológico. Sem se interrogar, sequer, se ao fim de trinta anos de revolução informática em curso, um novo paradigma tecnológico não está prestes a surgir. Sem avaliar as reais necessidades do país, não ao nível da cibernáutica e do instrumento que ela representa, mas ao nível do que realmente interessa, o fundo da questão, o conhecimento, humanístico e científico aplicados, seja por que via for. Na verdade, de que serve dominar um computador, se ele depois não é aproveitado na valorização do saber das pessoas? Sem questionar, ainda, que meio Portugal já fez cursos de informática há vinte anos, quando o país utilizou os fundos da CEE e nem por isso Portugal saiu da crise e os portugueses deram um salto qualitativo. Que ilusão e panaceia são estas do plano tecnológico? Quem é que Sócrates quer enganar? Sem questionar, também, as razões porque, seis anos depois, a Agenda de Lisboa – que aceitou o repto de colocar a Europa na vanguarda mundial do e-governement – não foi ainda desenvolvida. Porque será que o entusiasmo com a era da informação é mais de Portugal do que dos outros? E porque será que tanto Sócrates como António Guterres têm esta fixação com os computadores?
Mário Soares dizia há um mês que Sócrates era o anti-Guterres. Pode ser. Mas numa coisa, Sócrates é parecido com Guterres: ambos adoram Bill Gates. Curiosamente, as três vezes que o dono da Microsoft esteve em Portugal, foi sempre debaixo da protecção socialista. Porque será?
Por outro lado, nada se sabe do conteúdo dos contratos assinados com Bill Gates, dos encargos e contrapartidas para ambas as partes, o que traduz uma falta de transparência que começa a ser regra neste governo socialista. Sobre o aeroporto da Ota também tardou a serem conhecidos os estudos. E quando o foram, revelaram-se frágeis e insuficientes, ao ponto de Sócrates dizer quem quem tivesse estudos contra a localização escolhida para a Ota que os apresentasse.
Para além do plano tecnológico e de Bill Gates, também há qualquer coisa de profundamente anormal com a obsessão de Sócrates com o ensino do inglês nas escolas básicas. À semelhança do campo informático, não se questiona a importância na aprendizagem da língua mais falada do mundo. O que se questiona é a forma como Sócrates acredita, quase com fé religiosa, que o inglês é o futuro. A exemplo da informática, estamos perante um simples instrumento. Por outro lado, quem garante a Sócrates que não é o chinês a língua do futuro? Ou o espanhol? Esta semana, perante uma criança irrepreensível no inglês, Sócrates anunciou-lhe do seu oráculo que aquele conhecimebto se ia revelar fundamental para toda a sua vida. Estamos a exagerar? Vejam-se as imagens.
Em conclusão, Portugal parece uma América dos pequeninos, onde o inglês é dominante, Bill Gates é imperador e o céu é o limite, como disse Sócrates, lembrando o filme “Top Gun”.
Julgava-se que José Sócrates era um homem de mentalidade pouco portuguesa, um moderno cidadão do mundo tecnológico, sem traumas e fantasmas do passado. Ora, com o plano Gates, Sócrates denuncia-se.
O primeiro-ministro é, afinal, um homem com marcas profundas. Que alia a vanguarda tecnológica às raízes profundas do provincianismo e messianismo lusitano.
Não podia haver homem melhor escolhido do que Bill Gates para cumprir o papel do Eleito. Não vem envolto em nevoeiro mas em bites. A diferença é que no reino da Microsoft, não há quimeras, há software que vale cifrões.
Por outro lado, Sócrates tem outra marca muito portuguesa, que caracterizou várias camadas de elites iluminadas: o pensamento de que o que é estrangeiro é bom. Que abriu a porta do país, em várias épocas, a destacados estrangeiros. Especialmente, no século XVIII e XIX, ao nível do exército, um sector então na crista da onda (tal como hoje a tecnologia informática), que se acreditava não poder ser devidamente reorganizado por portugueses. Com prejuízo evidente para a dignidade do Estado e independência nacional, contrataram-se, então, sumidades militares tanto em França, como na Inglaterra e Alemanha. Como hoje com Bill Gates.

O síndrome do PRD. Manuel Alegre está a seguir a passos largos o caminho do extinto PRD do general Eanes. Está enebriado com os votos e até já tem o caso de um estranho atestado médico em que parece que quem decide se está doente ou não é Manuel Alegre. Para a Assembleia da República e para a Comissão Nacional do PS, o atestado funciona. Para o jantar da Trindade, o atestado não se aplica e até dá direito a copo de whisky. Foi exactamente por coisas deste género que o PRD se afundou e a sua base de apoio regressou ao seu local de origem.|

À espera dos primeiros sinais das decisões e das nomeações

Subitamente o País encheu-se de rumores, de sugestões, de boatos e de notícias não confirmadas. O Presidente eleito, no passado domingo, arrumou papéis e rumou ao Algarve, onde descansa, reflecte e vai fazendo, discretamente, os contactos que entende mais urgentes. Na sua casa de Lisboa, e no dia seguinte à eleição, recebeu uma amiga de longa data, que é também jornalista do “Expresso” e da SIC – Maria João Avillez. Mas só amanhã se saberá se o “Expresso” traz algumas revelações sobre o que pensa fazer, no imediato, o novo inquilino do Palácio de Belém. Sintomático é, contudo, o silêncio dos principais colaboradores de Cavaco Silva no período da campanha eleitoral. O que avoluma os rumores…

Ramalho Eanes, futuro marechal da República. É um dos rumores, porventura o que politicamente terá menos impacto. Até agora o ex-Presidente tem recusado essa distinção, mas ele sabe que enquanto viver dificilmente alguém terá essa dignidade. Durão Barroso sondou-o, mas Ramalho Eanes quase que se arrepiava, pois a condição de marechal faria dele um conselheiro especial do ministro da Defesa, que então se chamava… Paulo Portas.
Eanes foi presidente da Comissão de Honra da candidatura de Cavaco Silva e acompanhou o agora Presidente eleito em várias acções de campanha e foi um dos que não teve receio de pedir a sua eleição à primeira volta. Conselheiro de Estado vitalício, na sua condição de ex-Chefe do Estado, a ser elevado à condição de marechal, permaneceria no activo das Forças Armadas até ao fim da sua vida. Os marechais não passam à reserva. Como quer que seja, alguns obstáculos já foram superados E Ramalho Eanes tem condições novas para alguns protagonismos, numa colaboração estreita com Cavaco Silva. Pode, aliás, ajudá-lo na formação da sua Casa Militar. Aqui também surgiram alguns rumores, um dos quais apontava o general Rocha Vieira para chefe da Casa Militar, o que parece pouco provável, uma vez que não é da tradição presidencial nomear para esse importante cargo um oficial-general na reserva, por mais prestigiado que seja.
Laborinho Lúcio será o futuro procurador-geral da República? Alguns meios próximos de Cavaco Silva dizem que é o nome preferido pelo Presidente eleito, mas ao SEMANÁRIO não possível saber, sequer, se Cavaco Silva já pensou nisso. Alguns meios políticos e judiciais confessam que se trata de um bom nome. É magistrado, foi ministro da Justiça do próprio Cavaco Silva, foi responsável pelo Centro de Formação de Magistrados, conhecerá como poucos as teias complexas da Justiça. Tem fama de ser frontal e incorruptível e é um homem de consensos. É o ministro da República para os Açores, tem coabitado exemplarmente com Carlos César e mantém relações cordiais com o Executivo de José Sócrates. Tem boas condições para substituir Souto Moura, mas é cedo para se saber se é isso que vai acontecer.
Manuela Ferreira Leite, colaboradora essencial do novo Presidente e sua amiga de longa data, que papel vai ter daqui para a frente? Especulações não faltam. Para uns tem o perfil certo para ser chefe da Casa Civil, como o SEMANÁRIO referiu há uma semana. Tem experiência governativa, que é essencial para quem exerce essas funções, mas há quem julgue que Cavaco Silva vai preferir uma pessoa mais nova. Ferreira Leite poderá ser convidada para Conselheira de Estado, na quota de cinco que ao Presidente cumpre nomear. Essa circunstância não inibiria Ferreira Leite de regressar ao palco partidário, onde muita gente suspira por si e a vê como futura líder do PSD e instalada em S. Bento como primeira-ministra.
Alexandre Relvas, o “Mourinho” de Cavaco Silva, nas palavras do Presidente eleito, as quais, aliás, têm sido pretexto para aflorações diversas de ciúme políticos (o SEMANÁRIO testemunhou algumas… que guardará ara memórias…) que também revelam alguma incompreensão por um certo deslumbramento que Cavaco demonstrou ter pelo seu chefe de campanha. “O menino da Católica”, “no PSD ninguém o conhece”, “é arrogante e vaidoso”, foram os epítetos mais suaves que podem ser reproduzidos…
É cedo para averiguar se Alexandre Relvas, com a ajuda de Cavaco Silva, terá espaço de manobra para desempenhar a curto prazo um papel fulcral na política portuguesa. E se fala nisso é porque tem sido lançada à boca pequena a ideia de que Relvas poderia muito bem ser o futuro líder do PSD e chegar a S. Bento a tempo de coabitar alguns anos com Cavaco Silva. (Há, pelo menos, um familiar do novo Presidente, que insinuou essa probabilidade junto de várias personalidades, incluindo ex-ministros de Cavaco Silva. Certamente num acto à margem do conhecimento do Presidente eleito…) Para já o que é certo é que Alexandre Relvas tem compromissos empresariais de que não parece disposto a deixar. Além disso, o novo Presidente, pelo menos para já, não tem o mínimo espaço de manobra para interferir na vida interna do PSD. Além de que, em boa verdade, são excelentes as relações políticas e pessoais que mantém com Marques Mendes.

Encontro de Presidentes E com Sócrates, quando?…

Jorge Sampaio, o Presidente cessante, deve receber nos próximos dias, no Palácio de Belém, o seu sucessor. Apesar de terem sido antagonistas há dez anos, o tempo aproximou os dois homens, que desenvolveram sentimentos de amizade e de respeito. Hoje pode dizer-se, sem receio de errar, que Jorge Sampaio só dissolveu a Assembleia da República e convocou eleições antecipadas, que haviam de ditar a maioria absoluta do PS e a queda de Santana Lopes, depois de se certificar da concordância de Cavaco Silva. Melhor dizendo, depois de indagar se a ala cavaquista do PSD não levantaria ondas a tal controversa decisão. Essa consulta a Cavaco Silva permaneceu até agora em sigilo, nem Sampaio a revelou nos seus últimos escritos públicos.
É assim de esperar que a transição seja mais do que pacífica e que Sampaio facilite até ao limite, todas as solicitações que lhe forem feitas por Cavaco Silva. Após este encontro serão depois os futuros colaboradores de Cavaco Silva a entender-se com os assessores de Sampaio.
Está a gerar, alguma expectativa, o modo e a forma como Sócrates e Cavaco vão ter o primeiro encontro pessoal. Antes ou depois da posse?
Há 20 anos, quando foi eleito para Belém e antes de tomar posse, Mário Soares convidou o então primeiro-ministro, Cavaco Silva, para um almoço. Cavaco fará o mesmo com Sócrates?
O novo Presidente e o actual primeiro-ministro deverão concertar, entre si, alguns pormenores essenciais no que toca, designadamente, aos convidados oficiais presentes na investidura, a 9 de Março. Sabe-se que, até por contraponto com Mário Soares – tendo em consideração as críticas veladas à pompa e circunstância que rodearam a posse de Soares, que refere na sua autobiografia política -, Cavaco Silva deverá ser muito sóbrio. Ainda assim afluirão a Lisboa a maior parte, se não mesmo a totalidade dos Chefes de Estado dos PALOP, Lula da Silva ou virá ou enviará o seu vice-presidente, Xanana Gusmão, Presidente de Timor, também deverá estar presente. Dos Estados Unidos virá ou o vice-presidente ou a secretária de Estado (a família Bush é amiga da família do novo Presidente português), e seguramente um representante das casas reais espanhola e britânica e, porventura, alguns Chefes de Estado da União Europeia. E todos estes convites devem ser acertados com José Sócrates, que aproveitará a ocasião para algumas conversações de natureza política.PC

Câmara de Lisboa dá luz verde para “salas de chuto”

A Câmara de Lisboa mostrou-se “aberta” à instalação de uma sala de injecção assistida na capital, como uma “experiência piloto”. Contudo, remete a decisão para depois do congresso internacional, em Junho, onde devem ser “analisados modelos de intervenção”, já aplicados noutros países. Com enquadramento legal desde 1999, a decisão passa pelas autarquias. O IDT perfilha a ideia de “existirem condições” para avançar, ainda este ano, com este projecto.

Desta vez parece que a instalação de “salas de chuto” começa a ganhar forma prática. João Goulão, presidente do Instituto da Droga e da Toxicodependência (IDT), anunciou, no final da semana passada, a disponibilidade da edilidade liderada por Carmona Rodrigues, para avançar com o projecto, ainda no decurso deste ano. Segundo aquele responsável “há condições para realizar esta experiência-piloto, na proximidade de um grande centro de tráfico”, na capital lisboeta.
Já esta semana, o vereador Sérgio Lipari Pinto, responsável pela política de prevenção e combate à toxicodependência na Câmara Municipal de Lisboa, sublinhou que “nunca esteve, nem está, contra esse tipo de experiência na cidade de Lisboa”, embora o executivo camarário prefira que, “pela grande responsabilidade que tal decisão acarreta” se faça primeiro “um diagnóstico profundo e sério” do problema e se assuma “um compromisso entre todas as entidades públicas e privadas numa rigorosa avaliação de diagnóstico da situação actual”.
Ora, João Goulão entendeu estas palavras como um “começo”. Explicou: “A avaliação com base num diagnóstico local é já um pressuposto para a instalação.” A sua confiança de que “siga em frente” assenta no novo Plano Nacional de Combate à Droga – que está em fase de aprovação interministerial – no qual se prevê “a realização desses diagnósticos, com a participação de organismos do IDT, das autarquias e dos ministérios envolvidos”. E até chegou a prometer que haveria “um retrato da realidade e programas lançados antes de Julho”.

Mais complicado no Porto

A criação de salas de injecção assistida dispõem de enquadramento legal desde 1999. Segundo a sua lei, a decisão de as instalar deve passar pelas autarquias e pelas Organizações Não Governamentais (ONG).
Daí que Goulão se mostre convicto de que “a luz verde” do município lisboeta avance, com ou sem o congresso internacional de Junho, tanto mais que “há abertura do Governo, desde logo ao assumir o plano nacional contra a droga e toxicodependência. E teime em insistir com outra experiência-piloto no Porto, mais complicada, conhecida como é a oposição do autarca Rui Rio.
As salas de injecção assistida, avisa, “são uma resposta, não uma solução”, e a experiência “só faz sentido integrada numa rede alargada de dispositivos de redução de danos”. Assim, o IDT promete, como pivot de toda a acção, uma avaliação ao fim de um ano, para se fazerem ajustes se forem necessários “até em relação à legislação”.
O modelo ainda não está definido, pois “será discutido com os parceiros”. O presidente do Instituto da Droga e da Toxicodependência diz apenas que, “como é habitual neste tipo de programas, a experiência-piloto será lançada na proximidade de um grande local de consumo, isto é, de um bairro de tráfico, e integrará, pelo menos, uma cabina destinada aos usuários de drogas não injectáveis”. Outro suporte inscrito no plano nacional é a instalação de máquinas de troca de seringas.

Medida controversa sempre adiada

Quem lida com este problema, sobretudo os especialistas, está de acordo numa coisa: “A situação dos toxicodependentes de fim de linha, mais degradados, em Lisboa e no Porto, é suficientemente grave para que se avance e não se fique à espera, mais uma vez, de diagnósticos que nunca mais chegam.”
Têm uma certa razão neste lamento, tendo em conta o historial passado. Com efeito, a criação de uma sala de injecção assistida era defendida pelo ex-presidente da Câmara de Lisboa, João Soares, que chegou a visitar um espaço em Madrid, considerando-o “uma progressão natural de uma política global de redução de riscos”.
Depois, o seu sucessor, Santana Lopes, no final do mandato municipal, lamentou que não tenha conseguido criar uma sala de injecção assistida, justificando-se com “dificuldades de articulação da CML com o poder central”.
A última campanha eleitoral para as autárquicas é bem o registo desta medida controversa, aplaudida por uns e criticada por outros. Na verdade, só o Bloco de Esquerda, pela voz de José Sá Fernandes, ao visitar uma das principais zonas de tráfico e consumo de droga a céu aberto na capital – Anjos e Intendente – defendeu as salas de chuto.

Lobo Xavier desafia Ribeiro e Castro a pôr ordem no partido

António Lobo Xavier desafiou Ribeiro e Castro a colocar ordem no Grupo Parlamentar do CDS/PP, o que pode ser interpretado como uma abertura do caminho a Paulo Portas. Ribeiro e Castro tem uma conjuntura difícil pela frente e a circunstância de não ser deputado também não o ajuda. Uma entrada em conflito directo e aberto com a bancada do seu partido ainda pode fragilizar mais a sua posição.

António Lobo Xavier desafiou Ribeiro e Castro a colocar ordem no Grupo Parlamentar do CDS/PP. Esta quarta-feira, no programa da SIC-Notícias, “Quadratura do Círculo”, Lobo Xavier considerou que as declarações de vários deputados do CDS/PP, designadamente António Pires de Lima e Mota Soares sobre as eleições presidenciais e a vitória de Cavaco Silva são contrárias ao discurso e orientação do presidente do partido, Ribeiro e Castro, e dos órgãos do partido. Esta segunda-feira, Pires de Lima considerou que com a eleição de Cavaco, e Sócrates como primeiro-ministro, surge oportunidade para o CDS “ter um espaço muito interessante para fazer um discurso afirmativo e mobilizador” à direita. Pires de Lima ainda referiu que o PP tem de ser autónomo, sem cair na tutela presidencial, rematando que “se a liderança for competente, há um espaço em aberto”, numa provocação clara a Ribeiro e Castro. Por sua vez Mota Soares considerou que sem o apoio do PP, Cavaco não teria ganho, uma declaração idêntica à proferida por Narana Coissoró na noite das eleições. Ambos os deputados também consideraram que Cavaco não deve esquecer algumas batalhas caras ao PP, como a revisão constitucional e as leis laborais, traduzindo as contrapartidas que deverão ser exigidas ao novo inquilino eleito. Recorde-se que tanto Pires de Lima como Mota Soares são muito próximo de Paulo Portas, tendo desempenhado cargos directivos destacados no consulado do ex-ministro da Defesa.
As declarações dos dois deputados são, de facto, contraditórias com as declarações do líder do partido, que não exigiu nada a Cavaco nem estabeleceu metas ou novas linhas estratégicas para o futuro. Foi, neste quadro, que Lobo Xavier fez as suas criticas, chegando a dizer que com ele isso não aconteceria. No tempo da direcção de Paulo Portas, Lobo Xavier foi um importante aliado do ex-ministro da Defesa. Nos últimos tempos, por causa da candidatura de Cavaco, os dois homens divergiram, pelo menos no entusiasmo ao professor. Paulo Portas fez uma timída declaração de apoio a Cavaco, enquanto Lobo Xavier foi muito mais aberto. Há quem diga que Lobo Xavier está vaticinado para liderar um dia o CDS. Mas também há quem afirme que Lobo Xavier e Paulo Portas continuam com grandes pontos de convergência e que o primeiro nunca irá contra a posição do segundo. O facto de Lobo Xavier desafiar hoje Ribeiro e Castro a colocar ordem no partido pode ser mesmo interpretado como uma abertura do caminho a Paulo Portas. Ribeiro e Castro tem uma conjuntura difícil pela frente e a circunstância de não ser deputado também não o ajuda. Uma entrada em conflito directo e aberto com a bancada do seu partido ainda pode fragilizar mais a sua posição. Na hipótese do actual líder do PP entrar em ruptura com a bancada parlamentar, talvez envolvendo processos disciplinares, pode acontecer que os deputados passem a independentes, deixando Ribeiro e Castro ainda mais debilitado. O facto é que, no quadro dos estatutos do PP, os discursos contraditórios entre Ribeiro e Castro e a sua bancada parecem violar o que diz o artigo 56º dos estatutos sobre o grupo parlamentar do partido. O artigo refere que os deputados populares devem conformar as suas posições com a orientação fixada pelos órgãos deliberativos do partido e com as dirctivas emanadas da Comissão Política Nacional. Nos mesmos estatutos também se diz que, sem prejuízo da liberdade de opinião, os militantes devem defender a unidade e o fortalecimento do partido.
Nos últimos meses, a guerra entre o grupo parlamentar do PP, constituído por deputados afectos à antiga direcção de Paulo Portas, e a liderança de Ribeiro e Castro, conquistada já depois das eleições legislativas de Fevereiro de 2005, tem tido vários episódios. Há dois meses, quando se assistia a um crescendo das dissonâncias em torno da candidatura presidencial de Cavaco, os dois sectores chegaram a entrar em conflito por causa de um projecto sobre investigação médica ao nível das células estaminais. A bancada defendeu o projecto e Ribeiro e Castro rejeitou-o, colocando-se à direita dos deputados. Aliás, Ribeiro e Castro, tem surpreendido pelo discurso radical em algumas matérias. O líder do CDS/PP considerou recentemente que “o terrorismo era filho da esquerda” e que Che Guevara foi um assassino.