2025/11/18

“O que fez a diferença foi a CDU estar ou não no poder da CML”

O candidato da CDU à Câmara Municipal de Lisboa, Ruben de Carvalho, em entrevista ao SEMANÁRIO, considera ser indispensável uma reorganização e uma reestruturação da autarquia, não esquecendo a regularização da actual situação financeira. Por outro lado, mostra-se contra um eventual encerramento do aeroporto da Portela e tem uma posição muito reservada quanto à implementação de portagens nas principais vias de entrada na capital.

Por que é que a CDU é a alternativa para Lisboa?
Quase que poderia pôr o problema ao contrário e responder não tanto como uma pergunta, mas com uma sugestão, de que se olhasse para a realidade de Lisboa nos últimos 30 anos e que se visse quando é que houve uma política diferente, quando é que a cidade resolveu o problema das barracas, quando é que Lisboa desenvolveu os equipamentos desportivos, quando é que Lisboa fez um PDM (Plano Director Municipal), quando é que se desenvolveu uma política de descentralização da câmara para as freguesias com uma actividade directa junto das populações, quando é que isso aconteceu? Aconteceu quando houve uma coligação PS/ PCP e é verdade que, com a gestão de Santana Lopes e Carmona Rodrigues, aconteceu exactamente o contrário. A verdade é que, quer durante a gestão Abecasis, quer na gestão de Santana Lopes e de Carmona Rodrigues, em muitas medidas, é o mesmo PS que apoiou medidas de política de direita. O que fez sempre a diferença em Lisboa foi a CDU e o PCP estarem ou não, no poder da câmara.

Pode enunciar-me as principais prioridades/projectos da sua candidatura à CML?
Temos sublinhado um conjunto de aspectos, mas em todo o caso chamo a atenção para o seguinte. Quando se colocou o problema das eleições intercalares, chamamos a atenção de que seriam uma saída para a crise política, a que a política de direita tinha conduzido a câmara, mas não era seguramente a realização de eleições que iriam dar lugar a uma vereação com uma duração de dois anos e que iriam criar soluções para os problemas. Portanto, quando olhamos para os problemas da cidade, não olhamos a um horizonte de dois anos, mas sim um horizonte mais largo que é único e que torna possível a solução dos problemas que a cidade tem. Entendemos que é indispensável regularizar a situação financeira e gostaria de sublinhar esta situação, porque a esse respeito tem havido bastante confusão. Entendemos que é absolutamente indispensável que nessa regularização financeira, haja dois aspectos prioritários: por um lado, o respeito pelos trabalhadores, pela sua remuneração e pelo seu trabalho, e, por outro, o problema da dívida da câmara aos fornecedores. Dívidas que se referem a pequenos e médios fornecedores, que se ressentem particularmente destes atrasos no pagamento. A segunda questão fundamental é a de reorganizar e reestruturar a câmara no quadro não apenas de uma maior eficiência, mas também no quadro de repor e motivar de novo as hierarquias, as chefias, e os trabalhadores da câmara. Porque se a CML não está completamente paralisada, aos seus trabalhadores o deve, pois a política que foi seguida tê-la-ia paralisado por completo, sendo a grande riqueza da câmara os seus trabalhadores. A terceira questão é a de um inventário rigoroso ao seu património, que permita fazer uma gestão rigorosa. Contudo, devo acrescentar mais dois aspectos também prioritários: a reabilitação urbana, em termos de intervenção urbana na cidade, e a prioridade também ao espaço público e à sua qualidade. Do ponto de vista programático, entendemos que é urgente concluir a revisão do PDM e pôr a funcionar em Lisboa um novo Plano Director Municipal.

O que pensa sobre a actual crise financeira da CML e que medidas tomaria para inverter a situação?
Quando se analisa uma situação económica há três planos diferentes, seja em relação a uma empresa ou a uma instituição. Há um plano económico, há um plano financeiro e há um plano de tesouraria. Uma empresa pode estar com uma situação financeira óptima e com uma situação de tesouraria péssima, e a inversa também é verdadeira. O que se passa com a CML, é que a mesma tem uma situação de tesouraria muito grave, tem uma situação financeira grave, mas não tem uma situação económica de colapso ou de falência. Esta última situação só se daria na altura em que o passivo da câmara fosse superior ao activo e não o é. O conjunto da dívida da câmara a curto, médio e longo prazo, não excede o seu activo, sendo embora certo, que é absolutamente necessário um inventário rigoroso do património, que não existe. Porque só com um inventário rigoroso é possível fazer essa gestão, pois sabe-se que as coisas existem, mas não se sabe em que estado estão, nem quanto é que valem. Em segundo lugar, há que ter rigor e atenção relativamente às despesas e às receitas. Quando numa estrutura com a vastidão que a CML tem, se altera, estraga e perturba o funcionamento da estrutura, tudo se perturba no campo financeiro, seja no campo das receitas ou das despesas. Ora, os últimos seis anos de gestão da direita foram um perfeito caos do ponto de vista da gestão financeira. Estas duas medidas têm de ser tomadas simultaneamente com a estrutura da câmara, com os seus trabalhadores, no sentido de melhorar as receitas, a cobrança de taxas e ver bem as despesas, no sentido de limitá-las. Mas, não com cortes absurdos, mas sim ver onde se está a gastar dinheiro e onde é ou não necessário. Terceira questão, o dr. António Costa tem um cartaz a dizer que é preciso rigor, o que acho curioso porque eu não sei qual é que é a alternativa. Obviamente que é preciso rigor e qualquer pessoa dirá o mesmo, mas, logo a seguir, vem dizer que a câmara está numa situação tal que necessita de um apoio financeiro, em que os contornos ainda não sei muito bem o que sugere, por parte do Governo. Isto é duplamente inconcebível, porque António Costa era o ministro da Administração Interna até há um mês atrás, exactamente na altura em que este Governo, por uma medida arbitrária e em nosso entender ilegal, privou a câmara de uma quantia que, nos termos da lei do Orçamento do Estado, tem direito relativamente á cobrança do IRS, no valor de 35 milhões de euros. Portanto não é necessário que o Estado faça nada em relação à CML, que não seja cumprir as suas obrigações.

Que consequências trará, para o município de Lisboa, a nova Lei das finanças locais?
Subscrevemos a posição da Associação Nacional de Municípios de reserva e crítica em relação à lei das finanças locais. Penso que a Lei das Finanças Locais tem que ser analisada pelos portugueses em duas ópticas. Eu e o meu partido não subscrevemos tudo o que tem acontecido no poder local de norte a sul do País e somos muito críticos em relação a dinheiros mal gastos, a obras mal concebidas, entre outras situações. Mas o que também não esquecemos é que passos enormes que foram dados para o bem-estar das populações e no desenvolvimento do País, só foram possíveis graças ao poder local. Portugal não seria hoje o País que é, se em cada concelho e em cada freguesia, não tivesse havido um esforço dos eleitos locais e dos autarcas. Aqui e ali foram cometidos alguns erros e terá havido práticas menos adequadas, mas para isso existem os tribunais por um lado e o julgamento dos eleitores por outro. Em meu entender, estamos a assistir por parte do actual Governo a uma enorme campanha do ponto de vista ideológico e do ponto de vista político, que é arranjar dois grandes culpados para a situação económica do país: os funcionários públicos e o poder local.

O que acha sobre o actual estado das empresas municipais?
No PCP não temos uma posição de princípio contrário às empresas municipais. De resto, nós próprios, num pelouro que foi gerido pelo PCP na coligação, constituímos uma empresa municipal. O que para nós é absolutamente essencial e é um pressuposto de ordem política, é a primazia do interesse público sobre o interesse privado. Se uma empresa municipal protege e defende melhor o interesse público do que um serviço municipal, admitimos perfeitamente esta hipótese, mas com responsabilidade, porque há aqui um compromisso a assumir. Ora a situação que temos presentemente, é que temos assistido a um alargamento do parque municipal de empresas com direito privado, com alguns aspectos particularmente graves mas onde as situações não são todas iguais. Consideramos que há empresas que são pura e simplesmente para eliminar, porque não há nada que justifique a sua existência. As três sociedades de reabilitação urbana (SRU) não se justificam e não há nenhuma razão para que elas existam.. Assim as SRU não têm razão de existir e são uma despesa suplementar. Depois há empresas que necessitam de uma profunda reestruturação e a primeira sem duvida é a EPUL. Defendemos a extinção das empresas participadas da EPUL, a Imohifen e a AGF e, por outro lado, o repor a EPUL do ponto de vista da sua administração e acção à luz do critério pelo qual ela foi criada.

No seu entender, que implicações terá para a cidade um eventual encerramento do Aeroporto de Lisboa, com a possível construção do aeroporto na OTA?
Penso que deveremos ter sido das primeiras forças políticas que se manifestaram frontalmente contrárias ao encerramento do aeroporto da Portela. Há aqui dois problemas que têm que ser considerados e há alguma mistificação na constante associação de duas coisas. Não ponho em causa que, mais cedo ou mais tarde, se possa tornar necessária a construção de um segundo aeroporto para Lisboa. Primeiro, há uma coisa sobre a qual não tenho dúvidas nenhumas, é que o aeroporto da Portela está longe de estar saturado, ou seja, impraticável. Segundo, que a Portela é uma mais-valia para a cidade de Lisboa, nos mais variados pontos de vista, a começar naturalmente pelo ponto de vista do turismo e pelas características que isso tem. Portanto, ao fazer–se outro aeroporto, há que discutir esse problema. No entanto, encerrar o aeroporto da Portela agora acho que nem sequer é discutível, pois seria um crime contra Lisboa.

Concorda com a implementação de portagens nas principais vias de entrada na cidade de Lisboa?
Do ponto de vista colectivo, enquanto CDU e enquanto PCP, temos uma posição muito reservada em relação a essa situação. Isto quer dizer que em princípio somos contra, porque somos contra a criação de taxas e nomeadamente taxas para a localização do espaço público. No fundo, essas taxas nunca são cegas, sendo apenas para evitar que quem tem menos recursos aceda à cidade, porque quem tem mais recursos, não é por causa de uma taxa que deixará de vir à cidade. Do ponto de vista social, não é uma medida que esteja de acordo com a nossa visão da cidade. Entretanto, é uma verdade que entram por dia cerca de 400 mil carros em Lisboa e que o problema do transporte individual gera problemas gravíssimos na cidade. Porém, a questão das taxas, de que há exemplo noutras capitais europeias, terá de ser estudada seriamente. Mas o problema é este, é que para obviar o problema com que se pretende dar resposta com as taxas, há outras medidas, como a criação da Autoridade Metropolitana de Transportes. Porque o problema da circulação e da mobilidade em Lisboa, não se resolve no estrito limite do concelho de Lisboa. Se entram 400 mil carros, não é em Lisboa que conseguiremos resolver o problema, mas sim de onde eles vêm. E portanto isso requer uma coordenação de trabalho com os concelhos limítrofes, com o poder central que tutela os transportes pesados, como sendo o metropolitano e como são os comboios. Ao inverter o actual quadro, melhora-se também a situação em Lisboa do funcionamento dos transportes públicos.

O que será para a sua candidatura um resultado positivo ou negativo, nestas eleições intercalares?
O que considero globalmente positivo para a minha candidatura nestas eleições intercalares, é que se ponha termo à política de direita em Lisboa e isto para mim e para a força que represento é fundamental. Do ponto de vista de um bom resultado para nós, o bom resultado político será este. O nosso mau resultado será nós podermos dar para essa medida, o melhor contributo possível, sendo certo em nosso entender e já demonstramos, que somos quem mais consistentemente se tem oposto ao que está mal e quem mais consequentemente tem contribuído para o que está bem.

Podemos encarar mais esta sua candidatura à frente dos destinos da cidade de Lisboa, como sendo um sinal de estabilidade por parte da CDU ou antes uma falta de alternativa?
Não tenho grandes dúvidas em dizer que é antes de mais nada um sintoma de estabilidade. Se olharmos para o PCP e para o conjunto da acção do PCP, verificamos que não faltam quadros técnicos com conhecimento e com capacidade e até a própria realidade atesta isso mesmo.

Como reage à afirmação de António Costa, de que a responsabilidade de uma ausência de coligação à esquerda, se deve entre outros também à CDU?
Já várias vezes me foram feitas perguntas acerca desta questão e por exemplo foi-me perguntado se o dr. António Costa me telefonou. Não me telefonou e não sei se o Dr. António Costa disse alguém que me telefonou, mas isso é um problema dele. Pela parte que me toca não recebi nenhum telefonema. Relativamente à questão dessa responsabilidade, penso que da parte do dr. António Costa não é uma posição muito sensata, porque o dr. António Costa sabe perfeitamente que em outras circunstâncias a CDU se manifestou favorável a entendimentos à esquerda. Quando a coligação PS/ PCP perdeu as eleições para o dr. Pedro Santana Lopes há seis anos, propusemos ao PS manter a coligação e portanto conduzir uma oposição em coligação consequente e forte. No entanto, foi o PS que não quis e uns meses mais tarde estava a votar com o Dr. Pedro Santana Lopes, negócios como a permuta do Parque Mayer com a Feira Popular e esta é a realidade. Quatro anos depois colocam-se eleições e nós escrevemos ao PS, a propor uma negociação para refazer a coligação. O PS colocou-nos condições que à partida, qualquer pessoa compreenderia que eram as condições para não fazer uma coligação. Nas actuais circunstâncias, quando o PS que, entretanto, está no Governo, conduz contra as autarquias locais, a politica de hostilidade e que no caso de Lisboa até se manifesta, como já fiz referência, a retirar verbas significativas que deveriam ser entregues.
Quando o Governo de Sócrates trata a CML como se ela não existisse, em situações como a alienação do património do Estado e em situações como a administração do Porto de Lisboa e em empresas que tutela como a carris ou o metropolitano ou a CP, quando tudo isto se passa e globalmente o PS conduz no país todo, uma política a qual, sem qualquer tipo de reserva o PCP se opõe, faz sentido falar em coligações? Não há dois “PS” que eu saiba, que eu saiba só há um. Então o PS que eu conheço e que está no Poder, face ao país segue esta política, que face às autarquias segue a politica que segue, faz sentido uma coligação? É o PCP o responsável pela política que o PS está a seguir? Não é de certeza. Agora, atenção, pois significa isto que nós entendemos que nesta, como em outras circunstâncias, não há nenhuma hipótese de confluências no futuro? A nossa política em termos de poder local sempre tem sido essa, com todas as forças políticas.

Admite algum entendimento pós-eleitoral?
Não um entendimento pós-eleitoral com um carácter que, por exemplo, envolva distribuições de lugares, porque não estamos aqui a discutir esta questão, nem a distribuição de pelouros. O nosso problema não é esse, nós estamos a discutir política e estamos a discutir actos e acções de intervenção política. Sempre que estivermos de acordo com ela, o nosso voto lá estará, sempre que nós estivermos em desacordo com ela, o nosso voto lá estará sempre contra.

Acha que os resultados destas eleições poderão ou não ter uma visão a nível nacional?
Inevitavelmente têm sempre, pois estamos a falar da capital do país e é evidente que haverá conclusões a retirar destas eleições. Mas estas eleições para a CML até acontecem em condições muito particulares, porque são eleições intercalares, provocadas por uma crise política gerada pela acção de direita no poder, apoiada frequentemente pelo Partido Socialista e disso naturalmente haverá a tirar conclusões. Generalizar muito mais do que isto, só com a prudência, o cuidado e o equilíbrio, que uma política responsável implica.

Que pensa sobre a data marcada para a realização destas eleições intercalares?
Quando o problema se colocou, nós no quadro legal e existente manifestamo-nos por eleições ou no dia 1 ou no dia 8 de Julho e isto com dois tipos de preocupações. A preocupação de abreviar o mais possível uma situação de instabilidade da câmara, com comissões administrativas, paralisações de serviços, entre outras coisas e por outro lado, fazer cair as eleições o menos possível já no mês de Julho, para evitar o peso de uma previsível abstenção por causa do período de férias. Houve protestos em relação a isto e há uma decisão do Tribunal Constitucional. Nós não contestamos a decisão do TC, pois se o TC entende que a constituição determina a isso e ela obriga-nos a todos, só que tal facto levanta os dois problemas que referi anteriormente.

Agruras e esperanças de um líder mal-amado

Alguns dirigentes social-democratas tinham a secreta esperança de que, no debate mensal de ontem com o primeiro-ministro, se registasse uma “vitória” ou um “destaque especial com alguns louros políticos” para Marques Mendes. Sobretudo, porque o PSD recebeu durante esta semana um conforto do Presidente da República, em relação à Ota. Recorda-se que Cavaco Silva pediu debate, nomeadamente, no Parlamento, para que se possa gerar um consenso tão alargado quanto possível sobre, como, quando, onde e se se avançará para a construção de um novo grande aeroporto em Portugal. Afinal, José Sócrates pôs K.O. Marques Mendes. E na bancada social-democrata, mesmo entre os que se opõem internamente ao actual líder, o ambiente era bastante denso. O PSD saiu quase humilhado desse debate… Sobretudo, a partir do momento em que o líder da bancada do PS, Alberto Martins, veio tornar público um documento assinado por Durão Barroso (então primeiro-ministro) e pelo próprio Marques Mendes, que se referia a uma resolução do Conselho de Ministros sobre a continuação do apoio à futura construção do aeroporto na Ota.

Ontem, no debate mensal, e em relação a Marques Mendes, o primeiro-ministro foi absolutamente implacável na humilhação política. Acresce até que José Sócrates abriu, por parte do PS, a campanha eleitoral em Lisboa. E isso, de acordo com opiniões recolhidas em cima do debate, “pode ser uma faca de dois gumes”, mas, de acordo com as mesmas fontes, faz do novo aeroporto (ou do fim do aeroporto de Lisboa) um tema incontornável da próxima campanha eleitoral para a Câmara Municipal da nossa capital.
Quer Fernando Negrão, ao declarar, há poucos dias que, em seu entender, era impensável que Lisboa ficasse sem um aeroporto de proximidade, quer Helena Roseta, ao afirmar que os lisboetas não foram consultados sobre a desactivação da Portela, tiveram a “arte” de colocar, como tema fulcral a “deslocalização” (como ontem lhe chamou Paulo Portas, no já aludido debate mensal) do aeroporto de Lisboa, na campanha eleitoral que se avizinha.
O próprio António Costa já se sentiu “tocado” com esta questão ao manifestar a opinião que os candidatos devem preocupar-se com os problemas da cidade de Lisboa, em vez de debaterem questões nacionais (citação literal), o que levou já o PSD a dizer qualquer coisa como “então Lisboa ficar sem aeroporto de proximidade não é um problema de Lisboa?”…
Não se conhecem, pelo menos para já, posições do PCP e do Bloco de Esquerda sobre esta matéria e da sua disponibilidade para a debaterem na campanha que se avizinha. Ontem, no Parlamento, ficou claro que o CDS/PP defende a manutenção da Portela, com novos investimentos e com um plano de reagrupamento aéreo que envolvessem, as instalações de Figo Maduro e do Montijo. Está encontrado o grande tema para os debates que se avizinham.

Voltando ao líder do PSD…

Hoje, à noite, Marques Mendes vai estar em Leiria para presidir a mais uma sessão dedicada à reforma do programa do PSD, nas suas múltiplas vertentes. O tema é “Economia e empresas: Portugal competitivo?” com duas intervenções de anteriores ministros das Finanças, com posicionamentos diferentes, ainda ambos ligados ao PSD – João Salgueiro (ministro das Finanças de Pinto Balsemão no início dos anos 80) e Eduardo Catroga (titular da mesma pasta em meados dos anos 90). Esta semana, diversos ex-ministros e outros responsáveis pelo sector da Educação também debateram estes temas, para a mesma finalidade, ou seja, para uma reflexão sobre o futuro programa do partido. Um dos participantes disse-nos que, apesar de não ter havido “nada de especialmente apelativo, havia bastante gente”.
Prossegue, assim, com tranquilidade, uma acção relevante que foi inscrita como um dos objectivos do mandato de Marques Mendes. Cumpri-lo-á até ao fim?
O seu destino político está, neste momento, dependente do resultado que o PSD obtiver nas eleições intercalares de Lisboa. Um mau resultado desencadeia os mecanismos para novo confronto eleitoral no principal partido de oposição (ontem à tarde, depois do “massacre” sofrido por Marques Mendes e infligido por José Sócrates no Parlamento, alguns deputados social-democratas disseram ao SEMANÁRIO que é “chegada a hora de encontrar uma alternativa ao actual líder,” acrescentando mesmo que “é difícil fazer pior”. A pensar nisso está já Luís Filipe Menezes, que em cada crónica semanal que escreve no “Correio da Manhã” não esconde o seu desejo de ascender, tão depressa quanto possível, à liderança dos social-democratas. Consegui-lo-á em breve?
A pergunta tem razão de ser, uma vez que uma nova liderança é tema que é resolvido exclusivamente intramuros, isto é, pelo universo dos militantes do PSD com capacidade eleitoral. Ora, a contagem de espingardas ainda não começou e, ao longo destes quase dois anos, Marques Mendes soube estabelecer relações de muita proximidade com os militantes. Chega para garantir a sua blindagem contra aqueles que o querem desalojar?
“Pelo menos ajuda alguma coisa – comentário irónico de um dirigente próximo de Marques Mendes…
É que o actual líder desdobra-se em presenças, junto das bases e em todas as suas intervenções não lhe escapa a crítica azeda ao modo como o PS e José Sócrates estão a governar o País. Ainda há dias proclamava, em reunião com militantes, “que é preciso encontrar um novo modelo de governação, sob pena de o País não nos levar a sério e não sairmos da cepa torta”. Ao mesmo tempo aconselhava os seus críticos a abandonar “ruídos internos” para que se não diga “se eles não se entendem dentro do partido, como é que os eleitores podem confiar no PSD para governar o País”.
Este é conselho que os seus críticos não querem assumir, exceptuando-se o núcleo barrosista que tem preferido o silêncio ou uma intervenção discreta, melhor dizendo, uma oposição de bastidores, com uma ou outra excepção e colaboração com Marques Mendes, sem perder o contacto e a solidariedade em relação aos seus membros. Fazer esta anotação tem algum relevo, já que os barrosistas (os notáveis e os militantes que lhes são afectos) podem ser determinantes na escolha do futuro líder do PSD, que vier a ser eleito antes das eleições de 2009, seja, num processo desencadeado a seguir ao escrutínio de Lisboa, seja depois de terminado o actual mandato de Marques Mendes. Este grupo, onde se aconchegam muitos antigos membros do Governo, pode fazer sair do seu seio uma personalidade que se abalance a candidatar-se à liderança do partido e os seus membros dizem, embora à boca pequena, que sabem isso e querem ser determinantes nas soluções de direcção que tenham de ser esclarecidas.
Marques Mendes parece aceitar que, depois de 15 de Julho, os acontecimentos se vão precipitar no PSD e agitar o partido num novo “Verão Quente”, com tradução prática em Setembro ou Outubro. Será assim? É o que estamos para ver. Mas o que já vimos é que Marques Mendes não só tem o campo de acção absolutamente minado pelos seus adversários (os internos e os externos), como o seu espaço de intervenção se assemelha (como se viu ontem na Assembleia da República) a um verdadeiro calvário. Resistirá?!…

CDS quer dar opção aos privados

CDS/PP propôe espaços classificados para fumadores e outros para não-fumadores

A proposta de lei do tabaco, aprovada na generalidade pela Assembleia da República a 03 de Maio, com os votos favoráveis do PS, do PSD e do CDS/PP, proíbe totalmente o fumo em restaurantes e bares com menos de 100 metros quadrados, permitindo a criação de um espaço para fumadores – nunca superior a 30% da área total – nos estabelecimentos de maior dimensão
O deputado Hélder Amaral, em declarações ao SEMANÁRIO, referiu que deve competir aos donos dos restaurantes, bares ou discotecas a classificação estabelecimento como para fumadores ou não fumadores, pondo em prática a livre iniciativa privada. Depois, os cidadãos optam por ir ao local que pretenderem, “deve caber a cada cidadão a escolha de ir a um restaurante para fumadores ou não-fumadores”, concluiu.
O CDS-PP quer ainda que, em estabelecimentos onde o espaço de fumadores e não fumadores seja comum (com dimensão superior a 150 metros quadrados), seja atribuída uma quota de 50% a cada uma das categorias. O CDS/PP pretende, ainda, uma redução das coimas para os infractores particulares, situando-as entre os 10 e os 150 euros. A proposta de lei aprovada na generalidade prevê para quem insistir em fumar nos locais proibidos contra-ordenações que poderão ser punidas com coimas entre os 50 e os mil euros para o fumador.
Hélder Amaral deixa um alerta relativo à situação das discotecas e bares sitos junto à raia. “Numa altura que o crescimento económico do país é uma matéria tão fundamental para este governo”, salientou o deputado, “ao estarmos a proibir totalmente o fumo nos espaços de diversão nocturna junto da fronteira, estamos a convidar os habitantes destas zonas a irem às discotecas e bares de Espanha”.

CDS “apaziguado” e unido em torno do líder

O último congresso do CDS confirmou que o partido está unido em torno de Paulo Portas. Para a história ficam o anúncio da criação de correntes ideológicas dentro do partido, liberais, conservadores ou democratas-cristãs, e o nome do candidato para a disputa das eleições intercalares na capital, Telmo Correia. Em Lisboa, é exigido ao CDS que obtenha um resultado histórico, sob pena de frustrar as expectativas criadas com o regresso de Portas à presidência.

O congresso do CDS/PP, que decorreu durante o último fim-de-semana na cidade ribatejana de Torres Novas, mostrou um partido de regresso à agenda político-televisiva, sem ser por razões ligadas a crispações internas. Foi notória, e bem conseguida, a gestão mediática levada a cabo por Paulo Portas e a sua equipa, atingindo o seu apogeu no anúncio do candidato centrista à Câmara Municipal de Lisboa, Telmo Correia. Passado um mês das eleições directas, que elegeram o líder, em Torres Novas assistiu-se a um congresso pacífico e de aclamação de Paulo Portas, sem questões de maior e no qual o antigo secretário-geral Manuel Queiró consubstanciou o rosto do modelo alternativo de partido ao defendido por Portas.
A XXII reunião magna dos democratas-cristãos, vazia da disputa pelo poder, questão previamente resolvida em eleições directas, ficou marcada pela escolha de Telmo Correia como candidato do partido à Câmara Municipal de Lisboa. Depois de uma semana de quase silêncio em relação ao tema, o anúncio feito por Portas às 20 horas, em directo para os telejornais, constituiu alguma surpresa, pois tinha sido gerado um consenso da maioria dos analistas em torno de Luís Nobre Guedes.
O nome de Telmo Correia saiu de um elenco composto por mais três individualidades do partido: Luís Nobre Guedes, Teresa Caeiro e Paulo Portas. O presidente do CDS soube protelar durante uma semana a comunicação da sua opção, originando um aumento da curiosidade e da expectativa em relação ao nome por si escolhido.
Numa primeira fase, Luís Nobre Guedes era o candidato do CDS, mostrou vontade de avançar e tinha o apoio total da direcção. Porém, motivos pessoais e políticos levaram a que o ex-ministro do ambiente do Governo de Pedro Santana Lopes recusasse o convite, conduzindo à necessidade de encontrar outra pessoa.
Conforme o SEMANÁRIO avançou na sua última edição e depois foi confirmado durante a reunião magna, estavam em cima da mesa mais duas possibilidades para além de Correia. A primeira, envolta em maiores riscos políticos, era o líder assumir-se como o candidato à CML; a segunda, passava por o CDS apoiar o candidato apresentado pelo PSD, Fernando Negrão, hipótese que Marques Mendes, presidente dos Social-democratas, rejeitou. Nobre Guedes, em declarações à rádio Antena1, confirmou a existência de negociações entre os dois partidos, que acabaram frustradas.
Face ao desmoronar das várias hipóteses existentes, Telmo Correia é o homem do CDS que vai procurar no dia 15 de Julho obter um melhor resultado do que Fernando Negrão. Em relação ao deputado centrista, algumas vozes já vieram relevar a incongruência entre as críticas de Paulo Portas no tocante à saída de Rui Pereira do Tribunal Constitucional, dois meses após ter iniciado as funções de juiz, para ingressar no Governo na qualidade de ministro da Administração Interna e a escolha de Telmo Correia como candidato a presidente da CML, recentemente eleito líder da bancada parlamentar do CDS/PP. Os críticos salientam que a agenda densa de um líder parlamentar é incompatível com a igualmente densa agenda de um candidato a eleições para a principal autarquia do país.
No seu regresso à liderança do CDS/PP, Paulo Portas prometeu transformar o partido no líder do centro-direita em Portugal, posição tradicionalmente ocupada pelo PSD. Nestas eleições para a CML, sob pena de não ser fiel às expectativas que estiveram na base da sua esmagadora vitória em eleições directas, é exigido a Portas que obtenha um resultado histórico, nomeadamente, superior ao dos social-democratas. Para esta campanha o líder escolheu o candidato, estruturou o projecto e definiu o estilo a adoptar, afastando, deste modo, a possibilidade de eventuais desculpas supervenientes.

Cavaquistas em torno de Negrão e Marques Mendes na campanha

Esta semana, Pedro Santana Lopes fez uma coisa nunca vista nos anais social-democratas: irrompeu, quase abruptamente, pela Assembleia Distrital de Lisboa, causando surpresa geral para muitos dos presentes e embaraçando notoriamente Paula Teixeira da Cruz. Mas o que disse parece resultar apenas em fogos-fátuos, sem consequências políticas imediatas. O ex-líder e antigo primeiro-ministro vai apenas cumprindo a promessa de “andar por aí”, já que, inclusive entre os seus apoiantes, se pensa que “a sua travessa no deserto ainda não terminou. E continuará pelo menos até depois de realizadas as eleições de 2009”, no dizer de um antigo governante laranja.

Santana Lopes estava a ser desafiado, pelos mais diversos modos, para “fazer este número”. Colheu os aplausos de meia sala, perguntou por que é que “a Câmara tinha caído?” e exigiu que o PSD tornasse muito claras as responsabilidades que o PS tem no actual endividamento da Câmara de Lisboa e formulou votos para que Negrão ganhasse este combate para que ele se disponibilizou.
Os adversários internos da actual liderança distrital, nomeadamente Helena Lopes da Costa, defenderam que nenhum dos actuais vereadores cessantes do PSD deviam integrar a lista de Fernando Negrão à Câmara de Lisboa.
Ideia essa que está a fazer o seu caminho. Alguns dirigentes próximos de Marques Mendes pensam a mesma coisa, até porque António Costa, do PS, também deu sinais de querer fazer uma ruptura com os cessantes dirigentes socialistas na maior autarquia do País.
As informações mais recentes indicam que Fernando Negrão só apresentará publicamente a lista daqui a alguns dias e sobretudo depois de conhecida aquela que Carmona Rodrigues vai apresentar. Para já apenas parece certa, como número dois da lista, a presença do eng.º Salter Cid, antigo secretário de Estado e presidente da Companhia das Lezírias. Ontem, o candidato do PSD esteve, com Marques Mendes, num jantar que contou com mais de meio milhar de pessoas e que decorria, ainda sem discursos, à hora do encerramento desta edição. O que é curioso é que este jantar foi promovido no populoso Bairro de Benfica, por Sérgio Lipari Pinto, que é um dos vereadores cessantes da Câmara de Lisboa.

Cotação de Negrão sobe

Ao longo desta semana a “cotação” interna de Fernando Negrão foi subindo dentro do Partido Social Democrata, mesmo quando alguns dirigentes, mais pessimistas, vão fazendo prognósticos muito negativos acerca dos resultados que serão obtidos pela candidatura de Negrão. Esta semana, Manuela Ferreira Leite, aparentemente sem nenhum esforço e até com voluntarismo, apareceu publicamente num almoço de apoio ao candidato. Uma antiga deputada, que também exerceu funções governativas, disse ao SEMANÁRIO que Negrão é um candidato com grandes qualidades políticas, “sabe o que quer e do que fala”,embora precise de ter alguma cautela na linguagem para efeitos de debate político.
A Comissão de Honra, que esta a ser constituída por Fernando Negrão, também acolhe uma constelação de notáveis social-democratas, nomeadamente de antigos ministros, nomeadamente dos governos de Cavaco Silva, de Durão Barroso e até de Santana Lopes. Como são os casos de Ferreira do Amaral, Eduardo Catroga, Figueiredo Lopes, Álvaro Barreto, Luís Filipe Pereira, Sevinate Pinto e Pedro Lynce. Considerado um dos mais importantes “senadores” do PSD (embora sem a importância e projecção de outros tempos, mas figura muito respeitada), Mota Amaral também empresta o seu nome no apoio a Fernando Negrão.

Muitos candidatos e férias
baralham todas as previsões

Os dirigentes do PSD, cada qual com sua opinião, sobre as eleições de 15 de Julho. O SEMANÁRIO ouviu apoiantes de Marques Mendes, dirigentes afectos a Durão Barroso (que são um grupo poderoso e discreto, na actual conjuntura, e alguns sem terem de momento consonância de posições) a Santana Lopes, personalidades ligadas a Cavaco Silva, muitos antigos membros do Governo e algumas pessoas retiradas da política, mas que continuam interessadas pelo evoluir das múltiplas conjunturas.
Um santanista confrontou o SEMANÁRIO com a seguinte questão: “Se antes das eleições que opuseram o então chefe do Governo e o eng.º Sócrates alguém apontasse para uma vitória clara e inequívoca de Santana Lopes, como é que reagiria?”… Isto para dizer que, em sua opinião, “o candidato Fernando Negrão vai sofrer uma copiosa derrota”.No entanto, noutros sectores foi possível vislumbrar alguma esperança num resultado honroso (“perder por escassa margem”) ou mesmo numa vitória do PSD.
Para muitos, o efeito Carmona Rodrigues (embora alguns pensem que ela vai ser “devastadora” para a candidatura social-democrata) é compensada pelo efeito que a candidatura de Helena Roseta tem na esquerda e em particular na candidatura de António Costa.
Muitas das fontes do “SEMANÁRIO” pensam que o CDS não terá a expressão que teve Maria José Nogueira Pinto e entendem até que o CDS corre o risco de não ser eleito e que isso beneficiará o PSD.
Uma incógnita acerca dos resultados de 15 de Julho foi colocada por muitos e que tem como fundamento o seguinte: “A partir da controvérsia gerada em torno da licenciatura de José Sócrates, e da actuação desastrosa de alguns ministros, o Governo não só já perdeu o estado de graça, como se tem vindo a degradar a um ritmo inimaginável há uns tempos atrás. Quando Jorge Sampaio afirmou esta semana que as eleições de Lisboa não têm significado especial, é porque os socialistas receiam que isso pode vir a acontecer. E pode mesmo acontecer se, até 15 de Julho, essa imagem de degradação do estado do Governo persistir e não for estancada. Por outro lado, António Costa tem uma imagem negativa no poder autárquico, já que foi ele o rosto de medidas legislativas que diminuem receitas camarárias. Só em Lisboa fala-se em mais de 30 milhões de euros, cerca de seis milhões de contos, na moeda antiga, verba bastante considerável.
Acresce que a existência de uma dúzia de candidaturas à presidência da Câmara Municipal de Lisboa vai impor uma “enormíssima” dispersão de votos.
“Imaginemos – diz um adversário interno de Marques Mendes, mas optimista quanto a um bom resultado de Fernando Negrão – um debate com todos os candidatos, mesmo sem tempo limite. Seria uma verdadeira Torre de Babel.
O PSD, aliás, deve precaver-se contra algumas armadilhas que lhe podem ser montadas durante a campanha, nomeadamente na comunicação social. Fernando Negrão deve insistir por debates a dois, entre as forças mais representativas (nomeadamente com o PS e as candidaturas independentes, a que as sondagens atribuem boa votação) deve estar nalgum debate que, porventura, reúna todos os candidatos, mas não deve confrontar-se com o Bloco de Esquerda, com o Partido da Terra ou com o MRPP…
A dispersão de votos, a abstenção e a penetração do eleitorado das candidaturas independentes de Carmona Rodrigues e de Helena Roseta fazem das eleições intercalares de 15 de Julho o acto eleitoral mais imprevisível de todos quanto se realizaram até agora depois do 25 de Abril. Quem diria…