2025/11/18

Ferreira Leite vai a Castelo de Vide quebrar o seu silêncio

Depois de um longo período de silêncio, que já dura desde Julho, Manuela Ferreira Leite vai à Universidade de Verão do PSD, em Castelo de Vide, anunciar o regresso de férias dos social-democratas e dizer ao País quais os temas que marcarão a agenda do partido em vésperas do calendário eleitoral. A intervenção da líder é aguardada com grande expectativa, mas já há quem vá dizendo que será um “flop”.

A universidade PSD, que tem início dia 1 de Setembro, é o evento que simboliza, actualmente, a rentrée política dos social-democratas. Tradicionalmente, era a Festa do Pontal – que agora é em Portimão – o palco da retoma da actividade política dos laranjas depois do verão. Porém, celebração do PSD/Algarve perdeu a importância de outros tempos. A Universidade social-democrata, da responsabilidade há alguns anos do eurodeputado Carlos Coelho, é aguardada com grande expectativa porque encerra um período de silêncio prolongado de Manuela Ferreira Leite.
A líder, desde que foi eleita, tem optado por uma estratégia de gestão muito cuidada das suas intervenções. Sendo, inclusivamente, acusada por algumas figuras do seu partido de um silêncio excessivo acerca das questões nacionais e até internacionais – como a guerra do Cáucaso.
Como escreveu esta semana Pedro Santana Lopes no semanário Sol “a opção tomada [por Ferreira Leite] significa subir muito as expectativas para quando falar”. Para além intervenção da líder, os alunos do PSD poderão ouvir Pedro Passos Coelho falar sobre questões relacionadas com a cidadania, António Vitorino sobre a Europa e Leonor Beleza sobre as fundações em Portugal. O comentador e militante do PS e o ex-candidato à liderança social-democrata, que defrontou a actual presidente do partido, vão ser os dois professores da iniciativa que tem por missão a formação de jovens quadros do partido.
A iniciativa, que terá lugar entre 1 e 7 de Setembro, em Castelo de Vide, contará com a presença de cem jovens, seleccionados entre trezentos candidatos, que constituem uma média de idades de 22 anos, “a mais baixa de sempre”, segundo a organização. “A selecção foi feita de forma a termos um equílibrio de idades, de sexos e regional”, afirmou Duarte Marques, garantindo que estarão representados “todos os distritos”. A Universidade de Verão do PSD/JSD estará dividida entre aulas, que ocuparão a manhã e a tarde, e jantares-conferência, que terminarão sempre com uma intervenção.|

A Universidade do desespero

Em vésperas da sua rentrée, na Universidade de Verão do PSD, depois de uma longa espera e um silêncio quase mortal durante o mês de Agosto, a líder laranja enfrenta tempos muito difíceis. A Universidade de Verão tem tudo para ser um grande “flop”, consequência de uma estratégia errante. O tempo estival de espera não serviu para criar suspense e só debilitou a líder. Por outro lado, Ferreira Leite não se pode dar ao luxo de tentar criar hiatos, suspense e dramatização, já que não tem trunfos para jogar. Até os oradores da Universidade de Verão a desfavorecem. Passos Coelho é um deles. O ex-candidato a líder escolheu a semana anterior ao início da Universidade de Verão para criticar a estratégia de a política de Ferreira Leite, sendo este homem que é apresentado pela direcção laranja para a rentrée laranja, onde Ferreira Leite tem de mostrar tudo o que vale. Outro dos oradores é, imagine-se, António Vitorino. Ferreira Leite deve ter achado que metia uma lança em África com o convite ao ex-comissário europeu, incomodando Sócrates e fomentando a divisão no seio do PS. O primeiro-ministro deu-lhe um primeiro sinal com os elogios feitos a Leonor Beleza. Só para a troca. Agora está perto de lhe aplicar o correctivo a sério. Vitorino vai primeiro participar na Universidade de Verão e depois, logo a seguir ao 7 de Setembro, quando Ferreira Leite fizer sua entrada triunfal na Universidade de Verão, a 8 de Setembro, há o perigo de António Vitorino pode vir a ser ser entronizado no papel todo-poderoso de presidente da Respublica, a nova estrutura que o PS vai formar para preparar o programa e a estratégia para as eleições legislativas de 2009. Ou, pelo memos, ter um papel de destaque na estrutura. Se Manuel Alegre tiver dito que não a Sócrates.Aos socialistas deve dar vontade de rir. Ao PSD de Ferreira Leite o que há a fazer é chorar e, enquanto não expiam os pecados do passado, aprender a ter mais humildade.
Por outro lado, Ferreira Leite não deve ter uma novidade ou uma ofensiva marcante para apresentar no seu discurso de rentrée, marcado para o final da Universidade de Verão. A cavalgada política, súbita e sem consistência, contra a criminalidade, pedindo mesmo a cabeça do ministro da Administração Interna, Rui Pereira, parece ter sido esvaziada pela promulgação de Cavaco Silva da Lei de Segurança Interna e da Lei de Investigação Criminal. O que deixa novas interrogações sobre o papel de Cavaco. Ferreira Leite bem tem dado sinais políticos prévios do que Cavaco vai fazer, de forma a colar-se ao Presidente da República. Foi assim tanto com o veto ao Estatuto dos Açores como com o veto da lei do divórcio. Recorde-se, porém, que Marques Mendes fez exactamente a mesma coisa, tentando colocar-se por baixo do esplendor presidencial e teve o fim que se sabe, até com uma condecoração no 10 de Junho para defuntos políticos. Ferreira Leite tem tudo para ser outra desiludida com Cavaco, como aconteceu com Eurico de Melo, Miguel Cadilhe e Fernando Nogueira.
Face ao aumento da criminalidade, o PS tem agora o argumento, e o álibi, de considerar que, com a promulgação das leis de segurança interna e de investigação criminal, tem as condições para inverter a situação ao nível da criminalidade que tem assolado o país . Invocando, aliás, como trunfo político, o facto de o PS ter sido o único partido a aprovar as leis referidas, que reforçam os poderes estatais no combate à criminalidade, tendo o PSD feito criticas às leis por poderem ferir o principio da separação de poderes e os direitos dos cidadãos. Perante esta situação, o líder parlamentar laranja, Paulo Rangel, veio terça-feira dizer o óbvio, que o PS deixa de ter desculpas para a luta contra o crime. O curioso é que para se defender, a direcção laranja abre brechas. Se para o futuro, fica com estes meios legislativos, parece óbvia a conclusão que os socialistas anteriormente não tinham esses meios. Então, se não tinham os meios, parece que o PSD pediu gratuitamente a demissão de Rui Pereira. Tantos pergaminhos que a direcção laranja gosta de carregar, de coerência e rectidão, e dá nisto, nestas contradições lógicas, o que mostra bem as dificuldades por que passa Ferreira Leite. Também esta semana, num artigo de opinião de José Pedro Aguiar Branco, mais uma prosa vinda do do staff de Ferreira Leite enquanto a líder parece amordaçada, o ex-ministro da Justiça caia na mesma esparrela. Escrevia que os inimigos de Ferreira Leite a atacavam por estar calada porque sabiam a importância da sua voz. Pois, se a voz de Ferreira Leite é tão importante por que é que a líder laranja já vai para dois meses que está calada. A falta de sensibilidade e perspicácia política do staff de Ferreira Leite começa a ser gritante.
De repente, Ferreira Leite parece ter ficado sem quaisquer armas para jogar. É certo que tem o Orçamento de Estado para 2009, que vai estar na agenda política já daqui a duas semanas. Marcelo Rebelo de Sousa já alertou que pode ser a oportunidade da líder, o que pode ser a confirmação de que a líder vai atravessar outro mau bocado. Ferreira Leite podia brilhar com António Guterres mas dificilmente faz farinha com um José Sócrates que, em muitos aspectos, é mais liberal e mais austero do que Ferreira Leite. Assim, também do debate do Orçamento não devem vir boas novas para Ferreira Leite. Sócrates, para além de respeitar a sua cartilha, é muito hábil e já fez saber que a contenção é para manter, esvaziando a estratégia de Ferreira Leite. A líder laranja pode, aliás, sair esmagada do debate orçamental. Sócrates joga em várias frentes. Deve aumentar as despesas educação, o que é politicamente correcto, neutralizando Ferreira Leite, curiosamente ex-ministra da Educação. Deve aumentar algumas despesas sociais, o que também é politicamente correcto e muito útil para o ano de todas as eleições, entrando no discurso ideológico do cavaquismo, que sempre teve um forte pendor social.|PG

Regionalização divide PSD

O tema da regionalização promete aquecer as hostes social-democratas já a partir de Setembro. Uma questão fracturante que ameaça fracturar, ainda mais, a estabilidade existente no PSD. José Mendes Bota criou esta semana um movimento cívico a favor da regionalização. A Norte, Rui Rio, vice-presidente da actual direcção, é um entusiasta da divisão administrativa do País. A líder, Ferreira Leite, considera a regionalização uma “aventura”. Neste cenário, Pedro Rodrigues, líder da Juventude Social-democrata, veio propor a realização de um referendo interno sobre o tema.

A regionalização surge como uma questão que divide os social-democratas e ameaça ser mais um factor de desestabilização da actual liderança de Manuela Ferreira Leite, já fragilizada com as críticas internas de figuras de grande referência no partido, como Ângelo Correia. É aceite por todos que a realizar-se um referendo sobre a divisão administrativa do País este nunca será antes do final desta legislatura, mas o debate do tema promete ser pouco pacífico para as hostes laranjas. Neste cenário, Pedro Rodrigues, líder da Juventude Social-Democrata, revelou que vai propor um referendo interno no partido sobre a matéria.
O movimento cívico Regiões, Sim! Lançou quarta-feira uma campanha nacional que visa a recolha de, pelo menos, 75 mil assinaturas para subscrever uma petição que será entregue na Assembleia da República. Em conferência de imprensa, o líder do movimento, Mendes Bota, afirmou que a campanha visa dar “sinais vitais” de que a regionalização “não morreu há dez anos encalhada no referendo”.
Em declarações ao SEMANÁRIO, Mendes Bota considerou “negativo” o PSD passar ao lado do tema da regionalização. “Como militante e dirigente do PSD acho que o tema da regionalização deve ser colocado acima da agenda política do partido”, sublinhou. Para o líder dos social-democratas do Algarve, o mais importante é o PSD clarificar a sua posição e o referendo é um meio idóneo de proceder a esse esclarecimento. “Não vejo que haja inconveniente na realização de um referendo interno. O assunto deve ser discutido no seio do PSD e o referendo, certamente, iria provocar essa discussão”, fundamentou Mendes Bota.

Ferreira Leite contra regiões administrativas

José Mendes Bota, um histórico defensor da regionalização em Portugal, lançou esta campanha de promoção da divisão de Portugal em regiões contra a vontade, já publicamente expressa, de Manuela Ferreira Leite. Durante a última campanha interna para a presidência do PSD, a actual líder laranja esclareceu que, sob a sua presidência, o partido não será conduzido na “aventura” da regionalização. Ferreira Leite foi clara nas palavras: “pessoalmente, sou absolutamente contra a regionalização”.
Á semelhança de 1998 – data do último referendo à regionalização, através do qual os portugueses chumbaram de um modo manifesto a divisão do País em oito regiões administrativas -, o PSD mostra-se, hoje, dividido quanto a esta matéria. A própria direcção nacional do partido não fala a uma só voz sobre as vantagens de recortar o País em regiões. O número dois de Manuela Ferreira Leite, Rui Rio, lançou em Abril deste ano, no Porto, um debate sobre a regionalização e anunciou a sua posição. “Há dez anos fui contra a regionalização. Hoje estou aberto a ser convencido de que ela é uma excelente solução para Portugal”, frisou.|

CDS prepara programa eleitoral com base nas propostas apresentadas

O CDS vai delinear um programa eleitoral, que será apresentado em meados de 2009, com base nas propostas por si formuladas ao longo do último ano no âmbito da “agenda focada” do partido. A rentrée política dos democratas-cristãos será feita com um comício de rua em Aveiro, no dia 13 de Setembro

O CDS vai delinear um programa eleitoral, que será tornado público pouco antes do início do calendário eleitoral, com base nas propostas apresentadas ao longo do último ano no âmbito da agenda focada do partido. João Almeida, secretário-geral dos democratas-cristãos, avançou ao SEMANÁRIO que, a partir de Setembro, o objectivo será o da “consolidação de tudo aquilo que se fez ao longo do último ano e, a partir daí, começar a desenvolver um programa eleitoral alternativo”. Segundo o dirigente, “o que CDS foi fazendo tema a tema e proposta a proposta começará a surgir mais consolidado”.
A apresentação do programa eleitoral deverá ser levada a cabo perto do início do calendário eleitoral. O ex-líder da Juventude Popular frisou que “ninguém apresenta um programa eleitoral com um ano de antecedência”. “Estamos a um ano das eleições e é preciso que, próximo das eleições, as pessoas possam avaliar quem é que tem maior capacidade para apresentar soluções alternativas”, destacou Almeida.

Críticas internas desvalorizadas

O fraco crescimento eleitoral que o CDS tem demonstrado nas sondagens tem dado azo a muitas críticas internas à actual cúpula dirigente do partido, designadamente ao líder. Desde a estratégia política do partido à ausência de renovação de quadros, tudo tem servido para despontar um clima de alguma crispação. Narana Coissoró já veio dizer que o grupo de deputados do CDS “está transformado numa tribuna parlamentar que não colhe votos” e “não marcam a agenda”. Por seu lado, Anacoreta Correia, outro histórico democrata-cristão e dissidente de Paulo Portas, critica uma oposição “pouco polarizada e generalizada”, acrescentando que o líder, na altura própria, “ocupará o palco todo”.
João Almeida desvaloriza as críticas que têm vindo a lume, fundamentando que “é natural que haja divergências de opinião”, visto que o partido “tem o seu debate interno”. O secretário-geral faz questão de sublinhar o esforço da actual direcção na promoção de novos quadros e de novos protagonistas. “Se há coisa que o CDS fez foi trazer novas pessoas”, realça.
Outro aspecto que João Almeida qualifica como positivo e como uma marca louvável da direcção de Paulo Portas é a introdução na agenda política nacional de novos temas, desde a área da saúde às finanças. O responsável refere o exemplo da vacina do colo do útero como uma matéria em que o PS, numa primeira fase, não se mostrou favorável à proposta do CDS, mas que, depois, veio a aceitar. A outro nível, o antigo líder da jota sublinha o papel do seu partido na defesa do contribuinte dos abusos da administração fiscal.

CDS tem 17500 militantes

O CDS-PP atingiu os 17 500 militantes no final do processo de actualização de ficheiros, que apurou cerca de mil óbitos e 281 desfiliações, disse o secretário-geral democrata-cristão. Para João Almeida, os 17 500 filiados com “militância activa” apurados “superaram as expectativas” da direcção, que deu por terminado o processo de actualização de ficheiros iniciado em Outubro passado. A direcção está a analisar os dados apurados para “fazer um perfil” do militante do CDS-PP, que será posteriormente divulgado, disse.
João Almeida adiantou que o congresso organizativo com o novo caderno de militantes deverá realizar-se na primeira quinzena de Novembro. “Superou as expectativas tendo em conta que nas eleições directas de Abril votaram 7600 militantes”, afirmou. No processo, que incluiu o contacto com os militantes via telefone e carta, 600 militantes manifestaram a vontade de sair do partido, mas apenas 281 se desfiliaram. No mesmo período, o CDS apurou cerca de mil óbitos, adiantou. No final do processo, disse João Almeida, os militantes que contam estatutariamente são “os activos, que pagam as quotas e têm direito a votar nos actos eleitorais internos e a ser eleitos”. Os inactivos, aqueles que não foi possível contactar, terão os seus direitos e deveres suspensos até que seja regularizado o respectivo processo, acrescentou.
Antes da actualização, o CDS-PP contava com 35 mil nomes nos ficheiros partidários, que nunca tinham sido actualizados desde há 30 anos, como o SEMANÁRIO noticiou em primeira mão.

CDS vai voltar aos comícios de rua

O CDS-PP vai voltar aos comícios de rua no dia 13 de Setembro em Aveiro, após ter desistido desse modelo em 2003, assinalando desde essa data a “rentrée” política com um dia de debates temáticos. “O CDS volta à rua, com um comício de rua em Aveiro no dia 13 de Setembro. É uma forma de assinalar simbolicamente não só a `rentrée´ política mas também o ano eleitoral exigente que se aproxima”, João Almeida.
Nos últimos anos, o CDS-PP, tal como outros partidos e à excepção do PCP que mantém a tradicional Festa do Avante!, desistiu de marcar a reabertura do ano parlamentar, em Setembro, com festas e comícios de rua, optando por iniciativas dentro de portas como workshops, universidades de Verão ou sessões públicas.
Agora, referiu João Almeida, “justifica-se voltar à rua porque se aproxima um ano eleitoral exigente com quatro eleições, para mostrar a mobilização do partido e também a adesão popular”. “O último que tivemos foi nas autarquias, há quatro anos. Mas não vai ser uma festa folclórica, vamos continuar a ter, durante o dia, sessões de debates e workshops mas no encerramento faremos um comício de rua e não uma sessão plenária”, disse.
Paulo Portas, que regressará de férias na segunda quinzena de Agosto, será o principal orador no comício que culmina um dia de debates e “workshops” dirigidos aos quadros do partido, ainda sem temas definidos.|

Madrid trava TGV

O Governo português não consegue obter resposta definitiva de Madrid para o avanço da rede ferroviária que inclui a ligação Madrid-Badajóz. Uma situação que pode atrasar em pelo menos cinco anos o arranque do TGV em Espanha e justificar o adiamento também da rede de alta velocidade em Portugal.

O governo português não consegue obter resposta definitiva de Madrid para o avanço da rede ferroviária que inclui a ligação Madrid-Badajóz. Uma situação que pode atrasar em pelo menos cinco anos o arranque do TGV e justificar o adiamento também da rede de alta velocidade em Portugal.
Sem recursos próprios nem viabilidade económica, a ligação Poceirão-Elvas pode estar comprometida para os próximos anos, assim como o debate à volta da construção da terceira ponte rodo-ferroviária de Lisboa.
Sem o TGV não há necessidade de uma nova ponte sobre o Tejo para já, embora a definição do seu traçado já tenha sido adjudicada pelo Conselho de Ministros.
Mas avançar com uma ponte ferroviária sem que o TGV esteja construído até Madrid e daí a ligar à Europa, seria apenas uma transferência de recursos públicos para as empresas de construção e obras públicas, o que não parece justificável, nem no contexto das actuais dificuldades da economia nacional.

Cavaco é o último a rir

Neste quadro, quem fica com a Taça e bebe o champanhe parece ser o presidente da República, que sempre foi contra o TGV, mas que dificilmente inviabilizaria o projecto do lado nacional.
O Governo tem afirmado que, no caso do TGV não se repetirá o processo da Ota, em que, perante a oposição de Cavaco e do PSD, acabou por recuar na sua posição. Mesmo com a discordância do presidente da Republica o Governo não teria dúvidas em avançar com o TGV.
Na verdade, se, no processo do novo aeroporto, o Governo cedeu a Cavaco Silva – e ao PSD de Marques Mendes, amparado por um movimento de protesto na sociedade civil – e deixou cair a localização da Ota, com o TGV o cenário nunca se repetiria, desde que Sócrates tivesse o respaldo do governo de Madrid.
No entanto, ao que o Semanário apurou o Governo não parece ainda disposto a ceder, adiantando que está em causa um acordo com a Espanha assinado durante a cimeira ibérica, e tudo indica que, mesmo sendo frontalmente contra o projecto, o Presidente da República tem que honrar os compromissos do Estado. Aliás a competência para decidir é, neste caso, do Governo, o que o próprio Cavaco Silva reconheceu publicamente durante a campanha eleitoral das presidenciais.
Desde a chagada de Ferreira Leite ao PSD reacendeu-se a questão, que já era um cavalo de batalha de Marques Mendes. Recorde-se que, ainda antes de se apresentar como candidato à Presidência da República, Aníbal Cavaco Silva já era contra o investimento público no TGV.
Logo na véspera de anunciar a candidatura, Cavaco Silva disse que “investimentos como os do novo aeroporto da Ota e do TGV, mesmo não existindo restrições orçamentais, só devem ser realizados se a totalidade dos benefícios sociais, ao longo da vida dos projectos, for maior do que os respectivos custos sociais”. A oposição de Cavaco Silva a estes projectos foi publicada no livro “A Agenda de Cavaco Silva”, do jornalista Vítor Gonçalves (actual correspondente da RTP em Washington), que saiu nas vésperas do anúncio da candidatura presidencial.
A questão dos investimentos rapidamente se tornou uma das grandes polémicas da campanha presidencial de 2006, o que obrigou o candidato a esclarecer que “o Governo tem competências para legislar sobre investimentos públicos, ouvindo a sociedade e discutindo em local próprio”.
Apesar de ter afastado da campanha a contradição entre a sua opinião e a do Governo, Cavaco Silva tem, recorrentemente, mostrado as suas dúvidas sobre estes investimentos públicos. E, agora o silencio de Espanha parece dar razão ao presidente. O TGV vai provavelmente ser adiado e desse modo a terceira via sobre o Tejo também ficará para depois de 2013

Análise custo-benefício

Há dois anos, Cavaco Silva defendeu que “é bom que se debata a rentabilidade desses grandes investimentos, e sem dúvida que o TGV é um grande investimento, para saber se, de facto, contribui para uma melhoria do bem-estar dos portugueses”. Na altura, pediu “análises custo-benefício muito profundas” sobre o dossier (tal como Manuela Ferreira Leite fez).
Nessa altura, Cavaco Silva fez uma viagem de comboio, em alfa pendular, entre Lisboa e Albufeira. Quando os jornalistas lhe pediram para comparar o Alfa Pendular com o TGV, o Presidente respondeu assim: “Acho que estes comboios estão bem. Ainda há bocado íamos a mais de 200 quilómetros à hora. É uma óptima velocidade para o Algarve e até para o Porto.” No dia seguinte, Sócrates recusou liminarmente parar o processo: “Seria um erro que o país pagaria caro em termos de competitividade e qualidade de vida.”
Depois disso, o Governo já encomendou novos estudos incluindo o da viabilidade da terceira ponte. Mas sempre reconhecendo a mais valia ferroviária. Porém, sem ligação a Madrid o TGV Poceirão-Elvas torna-se um investimento inútil.
Cavaco Silva é o último a rir.

TGV Porto-Vigo pode não parar

Já a ligação Porto-Vigo pode ser a primeira a avançar, dado que os espanhóis mantêm a ligação Madrid-Vigo, fazendo todo o sentido, sobretudo para valorizar a plataforma aeroportuária instalada no Porto.
Recorde-se que o vice-presidente do PSD, Rui Rio, se manifestou preocupado com efeitos colaterais no Porto do ataque de Manuela Ferreira Leite a projectos como o TGV. Na Comissão Permanente laranja que se realizou esta semana, o presidente da Câmara do Porto manifestou mesmo a sua posição, defendendo que o partido deve clarificar o que pensa sobre os investimentos, o que acabou por não acontecer até agora. Recorde-se que Rui Rio não é adepto da aposta do PSD em continuar a criticar abertamente alguns investimentos públicos, em especial o TGV.
Rui Rio defende também a ligação à capital: “Ninguém mais utilizará o avião para se deslocar a Lisboa e, portanto, é fundamental que a linha em alta velocidade vá captar o mercado galego”, disse o autarca do Porto em Fevereiro de 2006.
Uma posição que já terá influenciado as mais recentes declarações de dirigentes do PSD. Aliás, no último debate do Estado da Nação, na Assembleia da República, Paulo Rangel fez notar uma evolução do partido sobre a matéria: “O PSD não está contra as Obras Públicas em geral nem contra nenhuma em concreto”, disse o recém–eleito líder parlamentar.
Por seu lado, e contrariando essa posição, Nuno Morais Sarmento adiantou aos jornais que “se tivermos que pegar num projecto [para questionar] será o TGV”. O novo presidente do Conselho de Jurisdição Nacional do PSD dizia que “esta crónica tendência faraónica do PS, própria de países subdesenvolvidos e uma receita de modernização baseada no investimento público”.
Já na sua primeira entrevista, à TVI, Manuela Ferreira Leite ia mais longe ao dizer que “não há dinheiro para nada”, iniciando uma autêntica cruzada para pedir os estudos financeiros ao Governo.|

Ângelo Correia critica ausência de Ferreira Leite

A líder do PSD tinha a obrigação de “unir o partido e não de o abandonar”

A rentrée do PSD na Festa do Pontal, no Algarve, a 14 de Agosto, não vai contar com a presença de Manuela Ferreira Leite. O principal discurso ficará a cargo do histórico Ângelo Correia, que aceitou o convite, mas ao mesmo tempo deixou duras críticas à figura máxima do partido, afirmando que “aceitei com muita honra, porque senti a obrigação de não deixar o partido no vazio criado pela actual direcção”, disse o ex-presidente da Mesa do Congresso do PSD, e apoiante de Pedro Passos Coelho nas últimas directas sociais-democratas. “Eu, que não procuro lugares ou status, não podia deixar os militantes sós!”. Ângelo Correia defendeu ainda que Ferreira Leite “tinha a obrigação de unir o partido e não de o abandonar. Não devia olhar só para o terço de votos que a elegeu, mas para o conjunto de todos os militantes”.
O histórico social-democrata recordou também que esta festa algarvia tem merecido sempre a atenção dos sucessivos líderes “laranja”. “E quando não puderam estar presentes fizeram-se representar aos mais alto nível”.
A explicação da ausência de Ferreira Leite no Pontal surgiu por parte do presidente da distrital social-democrata do Algarve, Mendes Bota, considerando que se pode “concordar ou não com a estratégia de comunicação seguida pela nova líder do PSD, mas é claro que ela quando recebeu o convite para participar na Festa do Pontal deu conta de que só tencionava fazer uma intervenção de fundo na Universidade de Verão do PSD, agendada para Setembro”.
O histórico dirigente do PSD e antigo ministro Ângelo Correia é o principal convidado da Festa do Pontal, organizada pelo PSD/Algarve e na qual não estará presente a líder do partido, Manuela Ferreira Leite.
Apontado pela organização como “o maior evento político da época estival no continente”, a Festa do Pontal irá decorrer a 14 de Agosto em Quarteira, mas não vai ser Ferreira Leite a proferir o discurso de encerramento.
Em comunicado enviado à agência Lusa, o líder do PSD/Algarve, Mendes Bota, esclarece que o convite foi endereçado à nova dirigente do partido “imediatamente após a sua eleição”, mas Ferreira Leite não manifestou vontade de participar. Manuela Ferreira Leite, “explicou-nos que não deseja estar presente em nenhuma manifestação similar durante o mês de Agosto, nem proferir intervenções políticas de fundo antes da Universidade de Verão do PSD, em Setembro”, diz Mendes Bota em comunicado.
O dirigente do PSD/Algarve lembrou também que é “tradição” o discurso de encerramento pertencer ao líder do partido, mas dada a sua ausência, foi endereçado um convite a Ângelo Correia, ministro da Administração Interna no governo de Pinto Balsemão, que “tem fortes laços familiares com o Algarve, sendo um dos mais brilhantes oradores da classe política portuguesa e bastante respeitado dentro e fora do PSD”, descreve Mendes Bota. Além de ministro da Administração Interna do governo de Pinto Balsemão, Ângelo Correia já foi deputado, vice-presidente do partido na liderança de Luís Filipe Menezes, e presidente de mesa do último congresso do PSD, que elegeu Manuela Ferreira Leite.
Quanto à ausência da presidente do partido, o líder distrital garante “respeitar” o critério que regeu a sua decisão, mas não quis tecer qualquer comentário adicional.
Ao palanque montado no Calçadão de Quarteira subirão Mendes Bota, a par de outros dirigentes do PSD local e regional, logo após o jantar servido na esplanada de um restaurante local. Durante o jantar será servido um gigantesco bolo comemorativo do 33º Aniversário da Festa do Pontal que se iniciou em 1975, com a presença de Francisco Sá Carneiro, num local que deu nome ao evento, perto de Faro. O evento sofreu algumas interrupções, mas foi retomado pelo actual líder do PSD/Algarve, que entretanto transferiu a festa para Quarteira.|