2025/11/11

Chirac compromete Villepin e abre caminho a Sarkozy

“Todos perdem”, escrevia o “New York Times”
em editorial, referindo-se à decisão do Presidente francês, Jacques Chirac, em retirar o apoio ao seu chefe de Governo no que concerne ao Contrato
de Primeiro Emprego (CPE). Após dois meses e meio de manifestações, Chirac não resistiu ao poder das sondagens e rendeu-se às exigências das “ruas”, obrigando Dominique de Villepin a anunciar no início da semana a retirada da polémica lei. Além da humilhação política a que foi exposto, Villepin viu o seu sonho presidencial ser desfeito.

“Todos perdem”, é desta forma que do outro lado do Atlântico se vê a decisão do Presidente francês, Jacques Chirac, de deixar cair a lei do Contrato de Primeiro Emprego (CPE), promovida pelo primeiro-ministro, Dominique de Villepin com o objectivo de flexibilizar o mercado de trabalho, ao permitir que os empregadores despedissem sem justa causa jovens até aos 26 anos nos primeiros 24 meses de trabalho. Esta medida era vista pelo chefe do Governo francês como um importante meio para fomentar de forma equilibrada e justa o emprego entre as camadas mais jovens, num país que nas zonas mais pobres regista taxas de desemprego na ordem dos 50 por cento nas faixas etárias mais jovens, enquanto a média nacional está acima dos 20 por cento.
Convicto de que estava perante uma boa lei, Villepin defendeu-a até onde pôde, assumindo que estava perante uma missão de modo a vergar as forças conservadoras da sociedade francesa, materializadas nos sindicados e associações estudantis. Mas, depois do CPE ter sido aprovado pelo parlamento, promulgado por Chirac, e validado pelo Conselho Constitucional, as “ruas” falaram mais alto e acabaram por impor a sua vontade. Com um ultimato em cima da mesa (que terminaria no próximo dia 17), de um lado, e a convicção de Villepin, do outro, Chirac foi obrigado a tomar o partido das “ruas”, tirando o apoio ao seu chefe de Governo, que foi obrigado a anunciar na segunda-feira a abrogação da lei do CPE. “Não estão reunidas, nem da parte dos jovens nem da parte das empresas, as condições de confiança e de serenidade necessárias para a entrada em vigor do Contrato de Primeiro Emprego”, disse Villepin. “(O CPE) Não foi entendido por todos, lamento isso”, acrescentou.
Chirac não resistiu assim ao poder das sondagens, acabando por se “render”, como referiu o “New York Times” em editorial, e abdicar de uma lei, que além de necessária, poderia ser muito importante para impulsionar um processo de reforma mais amplo no mercado de trabalho francês. Perdeu-se assim uma oportunidade para impor mudanças prementes na sociedade francesa, e mais uma vez o Presidente gaulês preferiu recuar e manter-se à tona das sondagens de popularidade do que seguir em frente com a legislação e sofrer as consequências que daí adviriam. “Como tem sido ao longo destes dez anos, o senhor Chirac parece estar mais preocupado com a sua popularidade – e não abalar o consenso precioso em torno da fobia reformista -, do que dizer algumas verdades aos seus concidadãos”, escrevia Jon Henley, em comentário num blogue associado ao “The Guardian”
A queda do CPE não só é um revés para a França como para a Europa, que se vê a braços com sinais negativos vindos de Paris. Numa altura em que os governantes europeus tentam encetar reformas nos mercados de trabalho (não sendo Portugal uma excepção) poderão emergir forças de bloqueio a esse processo, através dos sindicatos e organizações estudantis nacionais, agora moralizadas com a “vitória” que os seus correligionários franceses obtiveram nas ruas de Paris.
Além da humilhação política a que foi sujeito Dominique de Villepin, sendo obrigado a recuar na sua posição depois de ter dito que ia lutar até ao fim pelo CPE – por isso, por uma questão de coerência, deveria ter apresentado a sua demissão, segundo alguns analistas -, dificilmente conseguirá manter intacto o sonho presidencial para as eleições do próximo ano.
Villepin é o protegido de Chirac, no entanto, ao longo deste processo quem mais beneficiou com as atitudes do Presidente francês foi Nicolas Sarkozy, rival do chefe de Governo na corrida presidencial pelo campo da direita. O líder da União para um Movimento Popular (UMP) e ministro do Interior manteve-se relativamente afastado de toda esta polémica, optando por aparecer nos últimos dias como uma espécie de mediador entre o Governo e frente comum anti-CPE.
A sua estratégia parece ter dado resultado, visto que por agora a crise parece ter sido atenuada, tendo já ontem a câmara baixa da Assembleia Nacional aprovado uma nova lei laboral, na qual o Estado se compromete a ajudar financeiramente jovens que estejam desempregados e em situação precária, e por isso com maiores dificuldades em acederem ao mercado de trabalho. Esta lei será agora votada no Senado.

“As notícias sobre a crise no Bloco são manifestamente exageradas”

Luís Fazenda, em entrevista ao SEMANÁRIO, afirma que as notícias sobre “a crise interna no Bloco são manifestamente exageradas”. Em relação à revisão do regime do subsídio de desemprego, o parlamentar do BE considera que “este acordo não favorece, como devia, a parte mais fraca da equação, que são os desempregados”

O Governo liderado por José Sócrates enfrenta uma crise interna?
O problema deste governo não é a existência de uma eventual crise interna, que se desconhece, mas sim a continuação de uma política recessiva que agrava as condições da economia, aprofunda as desigualdades sociais e aumenta o desemprego.

Como vê o Bloco de Esquerda a revisão do regime do subsídio de desemprego?
Este acordo não favorece, como devia, a parte mais fraca da equação, que são os desempregados. Como se já não fosse suficientemente difícil a sua situação, aproveita-se da sua fragilidade para os obrigar a aceitar um emprego para o qual não podem não estar habilitados, com um corte no ordenado e a milhas da sua residência. Prejudica, também, os direitos dos mais jovens que passam a receber uma espécie de subsídio de desemprego sazonal.

Qual a opinião do Bloco sobre o primeiro mês de Cavaco Silva como Presidente da República, designadamente em relação à sua visita ao Hospital D. Estefânia, em Lisboa?
O mandato de Cavaco Silva é para cinco anos. Não há nenhuma razão para fazer um balanço ao fim de um mês.

Romano Prodi é o líder que a Itália precisa?
Berlusconi era o líder que a Itália não precisava. Um governante que se candidatou a um cargo com o fito de se livrar dos seus problemas com a justiça, governando em proveito pessoal e que afundou o país numa grave crise económica e social. Esperamos, agora, que Prodi confirme aquilo que disse quando era presidente da Comissão Europeia, quando considerou que o Pacto de Estabilidade e Crescimento é mesmo estúpido e que opte por políticas inteligentes.

Não estamos, hoje, perante uma profunda crise da esquerda, quando os partidos emanados desse campo político, ao encontrarem-se no poder, governam maioritariamente através de políticas próprias da direita?
Ao estender a generalização de um comportamento particular a toda a esquerda essa leitura é um pouco abusiva. Estamos, isso sim, perante uma crise dos partidos que assim procedem. Em todo o caso, estes partidos não esgotam o campo da esquerda.

Como analisa o Dr. Luís Fazenda a actual crise interna existente no Bloco, nomeadamente em relação à crispação criada pela participação de Joana Amaral Dias na campanha de Mário Soares para a presidência da república?
As notícias sobre a crise interna no Bloco são manifestamente exageradas. O exemplo que refere, aliás, já foi respondido pela própria Joana Amaral Dias em duas entrevistas concedidas na semana passada. Foi a própria que esclareceu que foi bem recebida na Mesa Nacional do Bloco. Nem podia ser de outra forma, a Joana Amaral Dias é uma militante e dirigente do Bloco no pleno exercício dos seus direitos.|
Duarte de Albuquerque Carreira

A trama do Porto

A primeira edição do “Trama”, uma novidade na rede de festivais de artes performativas, acontecerá na cidade do Porto durante os primeiros três dias de Abril. Este festival apresenta espectáculos de música, dança, “performance”, teatro, “spoken word” e desenho digital.

São várias as propostas em estreia apresentadas em diversos locais do Porto. Uma espécie de manta de retalhos, onde estes são os vários espectáculos e a manta o tecido urbano. Um grupo de pessoas e instituições dão corpo a uma ideia: “performance” na criação de arte, ideia essa trabalhada nas ópticas da confrontação e da recriação.
Informal e flexível, o programa apresentado tem um percurso definido: Serralves, Casa da Música, Rivoli, Maus Hábitos, Hotel D. Henrique, Praça Dom João I e uma estação de metro do Porto. A escolha dos espaços é arrojada, demonstrando a polivalência do projecto e a preocupação em ser um festival do Porto e não de um só espaço da cidade. O próprio festival é construído numa rede urbana, institucional e criativa, complexa, tornando-se circular.
Na área da dança destaque para Maria Donata d’Urso, que traz “Pezzo (0) due” ao palco do Rivoli, nos dias 1 e 2 de Abril. Este espectáculo surge da colaboração entre a coreógrafa italiana e Laurent Goldring, um artista que filmou vários retratos do corpo. A proposta coreográfica de “Pezzo (0) due” tem o foco no subtil, no pormenor, “no ouvir a interpretação mais do que na vontade de exprimir algo”, segundo a própria. A pele é o espaço cénico.
Rosie Dennis explora o conceito de Spoken Word no bar panorâmico do Hotel Dom Henrique, com duas peças “Acess All Areas” e “Love Song Dedication”. Na primeira, a “performer”, poetisa e vocalista cria uma personagem disfuncional, numa “performance” que resulta da exploração da sensação de claustrofobia resultante da vivência e trabalho em “open spaces”. Na segunda peça, a australiana Rosie Dennis explora a fragilidade e a vulgaridade do amor, evocando uma meditação sobre o ser e a paixão.
O espaço menos óbvio a ser utilizado na programação do festival foi provavelmente uma estação de metro. Mas ela está lá, junto à Casa da Música, e serve de palco a António Jorge Gonçalves. O designer gráfico entrega-se ao desenho digital com “Etereopolis I”, um graffiti digital em espaço público. O processo é realizado em tempo real, nos dias 1 e 3 de Abril, sem recurso a material pré-gravado. A ideia é responder aos estímulos que o próprio local oferece. A habitação do espaço urbano pelo próprio desenho que se encontra em constante metamorfose.
Fugindo desta ideia de “performance” individual surge Gob Squad, um colectivo de artistas ingleses e alemães que trabalha desde 1994 em “performance”, multimédia e novas tecnologias. No Porto mostrarão “Super Night Shot”, um espectáculo que inicia uma hora antes de ter o público na plateia do Auditório de Serralves. Quatro “performers” saem para a rua e captam imagens no centro da cidade. Apresentada depois, como multiprojecção vídeo, a “performance” demonstra o seu carácter imprevisível e eleva o quotidiano ao conceito de épico.
Por fim, na área da música, na própria Casa da Música, chegará Mike Patton vs. Rob Swift and Total Eclipse. Este espectáculo é nada mais nada menos que a estreia mundial de um projecto que junta Mike Patton, ex-Faith no More, e Rob Swift e Total Eclipse, dos X-Executioners. Estes assumem os pratos, enquanto Patton nos delicia com a sua voz.
Nota-se que este festival se assume como uma junção não só de várias artes do palco, de rua e de procura de integração de todos os espaços citadinos na criação artística, mas também como união de vários projectos oriundos de vários países. Um mix de arte nacional e internacional.
Na organização estão os espaços em questão e a BRRR Festival Live Art, o Lado B Produções Artísticas e a CulturPorto, todos a trabalhar para que esta primeira edição seja um sucesso a repetir.
A 1, 2 e 3 de Abril, o Porto vai ter vários focos apontados na sua cidade. Porto, “here we go”!

As hesitações de Menezes e as dificuldades de Mendes

A Comissão Política Nacional do PSD vai propor que a eleição directa do líder ocorra a 5 de Maio, de modo a conhecer-se o eleito no dia seguinte, data do 32.º aniversário do principal partido da oposição. O Congresso para debater as moções de estratégia e eleger os restantes órgãos nacionais decorrerá entre 19 e 21 de Maio. Marques Mendes é, por enquanto, o único candidato. Luís Filipe Menezes anunciou um período de reflexão, mas convocou para depois de amanhã, domingo, um jantar com apoiantes seus. Certamente para lhes dizer que “vai a jogo”.

À hora de encerramento desta edição, um dos mais próximos colaboradores de Luís Filipe Menezes disse-nos que, naquele momento, “as probabilidades de avançar ou de desistir da corrida à liderança do PSD era de 50% para cada lado”, o que permite ao jornalista uma margem suficiente para arriscar dizer que é muito difícil para o autarca de Gaia não ser candidato às directas do PSD, para mais sendo o culminar de um processo pelo qual ele se bateu ferozmente no Congresso de Pombal. Se desistir de concorrer, Luís Filipe Menezes deixa de ter espaço de manobra na vida interna do PSD. Se concorrer e se for derrotado, poderá sempre intervir e reaparecer como candidato em outras eleições para a liderança do partido. Por outro lado, um jantar à sua volta para comunicar uma desistência seria sempre algo politicamente inconsistente.
É certo que são ponderáveis e justificadas as suas hesitações, em relação a duas situações concretas: por um lado, saber se são compatíveis, do ponto de vista prático e funcionais, as funções de líder do PSD e de presidente da Câmara de Vila Nova de Gaia. Alguns argumentam, para afastar essa hesitação, o que aconteceu com Jorge Sampaio, que foi, em simultâneo, presidente da Câmara de Lisboa e líder do PS. “Só que Lisboa não é Gaia…” – dizem os menezistas e não deixa de ser verdade. Também parece a Menezes pouco curial que, tendo sido eleito para novo mandato autárquico há poucos meses, a ele renuncie em favor da liderança do PSD.
Acresce – e é outro facto político insofismável – que Luís Filipe Menezes não é deputado à Assembleia da República, nem o Grupo Parlamentar tem uma composição em cuja escolha tenha participado previamente. Sabe-se, aliás, que Menezes entende que os deputados do PSD, na actual legislatura, não são uma mais-valia política, no seu conjunto, para o partido e que as excepções não são suficientemente relevantes. Com este juízo, fora de Lisboa e fora do Parlamento governar o PSD, no caso de ser eleito, “é uma missão quase impossível” no dizer da fonte já citada.
O SEMANÁRIO sabe também que há questões logísticas a que Menezes atribui relevância. Por um lado, o escasso tempo disponível para fazer campanha junto dos militantes pelo País inteiro. Por outro, os meios disponíveis. E nesse sentido, por enquanto formula as seguintes questões: o partido coloca “todos” os candidatos em pé de igualdade? Financia as suas deslocações, proporciona-lhes meios, como automóveis, aluguer de salas e tudo o que for considerado necessário? Reserva-lhes um espaço na sede nacional e nas distritais? Proporciona-lhes o acesso a todos os meios de informação que sejam solicitados, nomeadamente ao ficheiro central de militantes?
A tudo o que fica dito, sobreleva, naturalmente, a questão política de fundo, em analogia com célebre frase “ser ou não ser – eis a questão”, formulada do seguinte modo: “Ir ou não ir, ser ou não ser candidato – eis a questão”. E a resposta é da responsabilidade exclusiva de Luís Filipe Menezes. Tomar posição antes do Conselho Nacional desta noite, na sede do PSD, em Lisboa (“que vai ser pacífico”, no dizer de um dos seus membros, apoiantes de Menezes), não parece curial. Domingo à noite o saberemos, mas, insiste-se, a margem é muito reduzida e as consequências de uma eventual desistência seriam mais nefastas do que uma candidatura perdedora contra Marques Mendes. (Sendo certo que, à partida e de acordo com previsões e análises, o actual líder parte com vantagem, quase com o tapete vermelho estendido…)

A composição do colégio eleitoral

“Num universo eleitoral de 130 mil militantes inscritos no PSD, neste momento apenas 40 mil têm capacidade eleitoral, pouco mais de 30%, mas os restantes ainda dispõem do tempo suficiente para pôr as quotas em dia e estar em condições de votar.” Esta informação recolhida de uma fonte administrativa do PSD, confirmada por outros sectores mais políticos, é um dos motivos que pode impulsionar a candidatura de Luís Filipe Menezes. “Este congresso dos estatutos provou duas coisas: o Dr Marques Mendes não empolga ninguém e o prof. Vítor Borges demonstrou que nunca existiu, a não ser como mito fabricado pela comunicação social” – opinião da ala menezista, que acredita que, no plano dos votos, se houver tempo de mobilização dos militantes, o autarca de Gaia “tem hipóteses de eleição”. A sua contabilidade passa por julgarem ser possível ter maioria com os votos das distritais do Porto, Braga, Lisboa, Aveiro e Faro e alcançar as preferências maioritárias da JSD. Neste tempo pré-eleitoral, a questão do ficheiro central dos militantes parece ser um dado crucial. “É que, se por azar do Dr. Marques Mendes ele for o único candidato, corre o risco de ser eleito por uma percentagem ínfima de votos, o que será muito desprestigiante para o PSD e para si próprio” – acrescentou a mesma fonte.
Do lado da actual direcção política do PSD, existe “uma grande tranquilidade e serenidade”, no dizer de um dos membros da actual Comissão Política. Concordam que “o pior que podia acontecer é que não houvesse mais candidatos à liderança, mas confiamos que isso não acontecerá”.
Os dois lados mais em evidência – Mendes e Menezes – convergem neste ponto: se Menezes são estivesse disponível para se candidatar, teria tido uma posição inflexível nas negociações entre os subscritores das moções de alteração aos estatutos, o que poderia ter inviabilizado a passagem das directas.
Algumas questões práticas da vida do partido e da influência dos dirigentes distritais ficou resolvida com a consagração estatutária de reuniões, “pelo menos de dois em dois meses”, entre o líder do partido e todos os representantes dessas estruturas. Tal disposição já liberta o líder do partido de se preocupar com a representação geográfica da comissão política, quando escolher os seus colaboradores. “Na comissão política o que é importante são os vice-presidentes, os outros membros existem mas são dispensáveis, porque de um modo geral não acumulam mais-valias” – opinião de um antigo membro do Governo com experiência na matéria… Esta fonte disse que Marques Mendes “arrumou a casa e a ele cabe ter capacidade interna para cativar a um tempo as elites, protagonizadas nas novas gerações, com inegável qualidade e poder de comunicação e gente com valia política e suficientemente conhecida para que as suas opiniões tenham peso na sociedade. Depois do Congresso, o novo líder deve ter a capacidade para marcar a agenda política e fazer a marcação cerrada e implacável ao primeiro-ministro”. Tarefa bem difícil nos tempos que correm, mas sem a qual, o PSD tem limitadas hipóteses de crescer politicamente como o exigem todos os militantes.
Após o Conselho Nacional de hoje, há um curto espaço de tempo para se perceber, o que é que vai acontecer até ao termo da apresentação formal de candidaturas. Tendo em conta a realidade objectiva, a opinião dos observadores, internos e externos ao PSD, haverá, certamente, dois candidatos fortes e talvez um ou mais “espontâneos”. E depois a palavra é dos militantes…

Falta o resto, talvez em Maio…

Depois de tantos burburinhos, acções de bastidores, acusações plenas de intencionalidade e destinadas a derrubar Marques Mendes, ou, no mínimo, a pôr em causa a sua liderança, eis que ele emerge como o único vencedor do Congresso Estatutário. Não por força das circunstâncias, mas pela enorme paciência que teve em aturar todos os críticos e pelo modo e forma como teceu uma estratégia vitoriosa, no sentido de obter o essencial em causa em detrimento do acessório. Foi magnânimo e aberto às negociações no tempo certo. Por mais vitória que reclamem os seus críticos internos, a começar por Luís Filipe Menezes ou Rui Gomes da Silva, quem ganhou o Congresso do PSD foi Marques Mendes. Não é ainda o seu baptismo de fogo, nem foi este Congresso que o transforma em herói mítico ou em estadista consagrado. Foram apenas dados pequenos passos.
Uma digressão desapaixonada pelo que aconteceu no Congresso permite detectar alguns sinais importantes para o futuro e que devem também ser objecto de reflexão por parte da actual liderança. Uma coisa são as opiniões publicadas, por mais força que tenham os seus autores – e alguns têm, casos de Marcelo Rebelo de Sousa e de Pacheco Pereira – outra é o pulsar do “povo laranja”. Bem diferente, na medida em que os social-democratas têm um sentido de unidade, na diversidade que se mostra nas mais diversas ocasiões.
A postura de Marques Mendes confere-lhe credibilidade, mas não o isenta de praticar a unidade do partido mesmo em relação a quem se lhe opõe internamente. Por isso, mais do que a representação distrital (ou geográfica) da Comissão Política Nacional, com a consagração artificial de lugares de poder e influência internos, é preciso chamar à direcção do partido dirigentes com qualidade política e técnica nos mais diversos domínios. A equipa dirigente do PSD tem que ser reconhecida como tendo mérito, capacidade de análise e de mobilização e integração na sociedade, para programar não só o dia-a-dia de um partido de oposição, mas trabalhar nas plataformas alternativas que cativem o eleitorado, quando chegar a hora de fazer o balanço e votar para novas legislativas. O PSD precisa de alcançar um sentido de sobrevivência e de resistência a um ciclo temporal, onde cabe a possibilidade real de ficar afastado do poder por duas ou três legislaturas. O professor Cavaco Silva não é seguro de vida de ninguém, e muito menos da direita portuguesa ou do PSD (que não é um partido geneticamente de direita, ao contrário do que alguns pretendem fazer crer). Marques Mendes já percebeu isso, mas ainda não foi capaz de ter o golpe de asa que o torne indiscutível à frente do PSD. Escasseia-lhe aquilo que os politólogos chamam carisma, sem que haja unanimidade no conteúdo substantivo dessa palavra. Até agora, Marques Mendes susteve o que era mais importante, tem condições para passar a prova de fogo das eleições directas. Tudo isso – e é já bastante – não faz dele, insiste-se, nem um líder carismático, nem um estadista respeitado. Para ambas as coisas ainda tem um longo caminho a percorrer. Marques Mendes chegou ao topo da hierarquia partidária, porque dos dirigentes de segunda linha é o que tem mais méritos e o que desejou o lugar. De certa forma, o vazio político registado pelos analistas é fruto da abstenção de todos os dirigentes do PSD, com prestígio firmado, que não quiseram chegar-se à frente; Marcelo Rebelo de Sousa, Manuela Ferreira Leite, Mota Amaral, António Capucho, Dias Loureiro e António Borges, para citar alguns nomes sonantes.
O SEMANÁRIO foi o primeiro jornal a referir que a eleição directa do líder devia ocorrer na data do aniversário do PSD, a 6 de Maio. Pudemos ter acesso a alguma informação privilegiada e o resto foi dedução. A partir da marcação do Congresso Extraordinário, por causa dos estatutos, caminhar depressa seria sempre o objectivo, fosse quem fosse o vencedor. Paulo Portas, no seu estilo seráfico e com a sua palavra venenosa (mas são tão chatos os seus programas na SIC…), veio dizer que Sócrates deve estar a sorrir com as quezílias internas do CDS e do PSD. É extemporâneo dizer isso. O PSD está a fazer, agora que está na oposição, o mesmo que fez o PS, quando os social-democratas eram poder. E não foi por isso que os socialistas, reorganizados, conquistaram o poder algum tempo depois. Não é isso que vai acontecer com o PSD, porque os socialistas têm maioria absoluta, governam sozinhos e é mais difícil (embora não impossível, a implosão acontece muitas vezes quando menos se espera) que soçobrem antes do termo da legislatura. Mas a reorganização interna era necessária. Está em curso até ao final do primeiro semestre, sem que tal signifique um “brinde” do principal partido da oposição a Sócrates.
Na eleição directa do líder, seria bom que Marques Mendes tivesse concorrentes e que um deles, pelo menos, fosse forte em termos políticos. Quero dizer com isto que, ao longo deste ano, mal contado, Marques Mendes ganhou a afectividade dos militantes, mesmo quando estes presenciaram os ataques, alguns injustos, ao modo como lidera o partido. Depois de ganhar as directas, como certamente acontecerá, o tempo seguinte será ocupar-se do País, ter uma equipa credível, dispor de linhas de apoio sólidas e procurar marcar o ritmo da agenda política, de modo coerente e eficaz.
Do Congresso estatutário ficaram o vazio do discurso político de António Borges e a marcação de terreno que fez Nuno Morais Sarmento. A partir deste congresso Morais Sarmento posicionou-se como futura alternativa, como uma reserva do PSD, fazendo-o com um discurso consistente, demonstrativo de uma linha própria de pensamento político. Com a possibilidade real, que não exclui, de poder dar a sua contribuição para a solidez política do principal partido de oposição. Está encontrado o líder da sensibilidade laranja que foi protagonizada por Durão Barroso, na sua pureza original (isto é, antes da sua aliança controversa com Santana Lopes…). Sarmento ainda não passou para a primeira linha dos grandes dirigentes do PSD, mas passa a ser agora uma figura incontornável. Espera-se que o novo líder a eleger em Maio não cometa o erro de ostracizar Morais Sarmento. A prazo isso poder-lhe-ia ser fatal.
António Borges deixou (definitivamente?!…) de ser D. Sebastião do PSD. É alguém que tem conhecimentos económicos e capacidade política consistentes, mas falta-lhe poder de comunicação e, porventura mais grave, vontade de assumir a liderança neste tempo de vacas magras. E isso, na altura própria, os militantes não lhe vão perdoar. É também uma personagem sem carisma e tudo o que à sua volta tem sido dito, parece, hoje, artificial. É que, mesmo quando regressar ao PSD, a excitação pela proximidade real do poder, haverá sempre muitos interessados… António Borges foi alguém que apareceu para mostrar que existe, mas tem sido incapaz de assumir um protagonismo irresistível no que diz respeito à sedução pelo exercício do poder. A vontade de ocupar tais funções de poder, no partido ou no Governo, são condições essenciais que mobilizam individualmente todos e cada um dos dirigentes políticos. O seu discurso tem sido demasiado insonso. Aproveitem-se as capacidades que o homem tem em beneficio do partido, mas não se alimentem, em torno dele, sonhos de poder. Com o que tem feito, seria uma enorme surpresa vê-lo dentro de alguns anos a liderar um Governo.
São tempos enfadonhos os que se seguem, porque não há eleições à vista. Mas é o tempo da reflexão e da mudança. Quem não perceber isto, está condenado a ter uma vida subalterna, deixando que outros consolidem posições…
Os caminhos da política são neste momento insondáveis e os últimos seis, sete anos, têm sido férteis em surpresas. Basta lembrar que Mário Soares, nos dez anos em Belém, coabitou apenas com um primeiro-ministro, ainda que, mesmo na fase derradeira, tivesse a alegria de empossar um governo PS. Quando se pensava que, aos governos de Cavaco Silva, se seguiria um outro período de estabilidade política, com executivos socialistas, a situação teve a reviravolta que permitiu a Durão Barroso cumprir a sua profecia de ser chefe do Governo. E logo a seguir, foi o descalabro que se viu – Barroso, presidente da Comissão Europeia e Santana Lopes, o mais desastrado e dos mais efémeros chefes de Governo, depois do 25 de Abril.
Trazem-se estes factos à colação, porque parece útil tê-los em conta, no momento em que a magistratura presidencial do novo inquilino de Belém ainda carece de dados de análise concreta, a sua coabitação com o Chefe do Governo é uma incógnita e a própria situação interna no partido que sustenta o Governo é também um mistério (ou um barril de pólvora?…). Por isso, no tempo certo, o PSD faz as suas alterações internas. Não foi, por isso, um congresso inútil. Mas falta o resto… Talvez depois de Maio, se a nova direcção política tiver a arte e o engenho de saber conquistar o País. Tarefa, aliás, bem difícil, nos tempos que correm. Pedro Cid

Benfica surpreende Europa

O Benfica venceu por mérito próprio e ultrapassou um dos favoritos à vitória da “Liga Milionária”. E tal foi a qualidade apresentada pela equipa portuguesa em Inglaterra, que o jogo terminou com os adeptos dos
“Reds” a aplaudirem o plantel luso. AC Milan, Barcelona, Juventus, Lyon, Arsenal, Villareal e Inter de Milão ou Ajax são os possíveis adversários dos encarnados nos quartos-de-final.

“Benfica surpreende a Europa e vence o actual campeão da Liga dos Campeões”. Esta é a melhor forma de resumir o sucedido na passada quarta-feira, após os encarnados treinados por Ronald Koeman, terem vencido o Liverpool por duas bolas a zero.
Recorde-se que os encarnados iam com uma vantagem de um golo obtido na primeira-mão no desafio realizado na Luz há duas semanas e tinham uma difícil missão pela frente uma vez que iriam defrontar em Inglaterra uma das melhores equipas do “velho continente”, orientada por um dos treinadores mais conceituados da actualidade. Contudo, o plantel luso superiorizou-se aos “Reds” e marcou dois tentos por intermédio do capitão benfiquista Simão Sabrosa, no minuto 35 da primeira parte, e pelo italiano Miccoli a poucos instantes do final da partida. Desta forma, a formação presidida por Luís Filipe Vieira, qualificou-se para os quartos-de-final da competição com um agregado de três bolas a zero e, sem contar com as receitas de bilheteiras, já arrecadou aproximadamente oitos milhões de euros em prémios de jogo.

Liverpool vulgarizado

O Liverpool de Rafa Beñitez nunca conseguiu ser superior ao Benfica nas duas mãos. No primeiro desafio, os “Reds” deslocaram-se ao Estádio da Luz e apresentaram uma equipa que jogou para o empate. Porém, um golo de Luisão nos últimos minutos da partida surpreendeu os mais cépticos e fez com que o Benfica fosse jogar a Anfield Road em vantagem. Já em Inglaterra, o Liverpool apresentou uma formação mais ofensiva e pressionou bastante no início do desafio. Todavia, após esse período de maior pressão inglesa, o Benfica conseguiu equilibrar o encontro e marcou o primeiro tento num rápido contra-ataque. A partir desse momento, os “Reds” teriam de marcar três golos para passar de eliminatória e começaram a “bombear” bolas para a grande área benfiquista. Porém, a defesa dos actuais campeões nacionais esteve extremamente bem e nunca consentiu espaço aos ingleses para igualar a partida. No final do desafio, o italiano Miccoli, que tinha entrado há pouco tempo, consumou a vitória e marcou mais um tento de belo efeito, vulgarizando por completo o ainda campeão europeu.

“Fizemos história”

Após a partida da passada quarta-feira, o treinador Ronald Koeman era das pessoas mais felizes em Anfield Road: “Esta vitória é algo de muito grande. Eliminar o campeão europeu com 3-0 no final da eliminatória é fantástico. O jogo foi, de facto, bonito. O Liverpool entrou muito forte nos primeiros 25 minutos, criou-nos muitos problemas, tivemos alguma sorte, mas, depois do 1-0, arrancámos para um grande jogo. A equipa passou a jogar com outra tranquilidade. Continuámos a sentir a pressão do Liverpool, mas conseguimos controlar melhor. Todos estão de parabéns”, analisou o técnico holandês adiantando ainda: “Nem sei há quanto tempo o Liverpool não perdia em casa, sofrendo dois golos. Fizemos história”, confidenciando que o Benfica também beneficiou de alguma sorte: “Sem sorte, não se pode ganhar. Se o Liverpool não tivesse tido sorte o ano passado, também não teria ganho a final”. Sobre o futuro da formação lusa na prova, o treinador sublinhou: “Estou mais optimista, mas faltam ainda quatro jogos para alcançar algo de grande. Todos querem ganhar a Liga dos Campeões, mas é preciso ser realista. Surpreendemos o Manchester United e o Liverpool e agora, venha quem vier, vai ser mais difícil surpreender”. Sobre o adversário preferido para os quartos-de-final, o técnico holandês garantiu não ter nenhuma preferência.
Já o presidente benfiquista, Luís Filipe Vieira, Luís Filipe Vieira voltou a afirmar que a “Liga dos Campeões é um objectivo para esta temporada”, acrescentando ainda: “Sabemos que não é fácil, evidentemente, mas também temos noção que podemos ser capazes de chegar ao jogo decisivo e até ganhar a prova”. O líder benfiquista recordou também que esta vitória ajuda a cimentar o projecto que delineou para o clube. “Continuamos todos a acreditar no projecto. E sentimos que os benfiquistas estão motivados e com disposição para nos apoiar. Sempre esperei o apuramento, mas não sabia se era com um 2-0, 1-0 ou 1-1. Interessava era assegurar a qualificação”.

Colossos europeus nos quartos-de-final

Entretanto, durante o dia de hoje, irá realizar-se o sorteio dos quartos-de-final da Liga dos Campeões. E no grupo das equipas apuradas para esta fase da competição, além do Benfica, podemos encontrar o AC Milan, que venceu o Bayern de Munique por 5-2 nas duas mãos, o Villareal que ultrapassou o Glasgow Rangers, o Arsenal que ganhou ao Real Madrid, o Barcelona que bateu o Chelsea, a Juventus, que conseguiu superiorizar-se ao Werder Bremen, e o Lyon que derrotou o PSV. Relativamente ao jogo entre o Inter de Milão e Ajax, foi adiado para a próxima semana.
Desta forma, em termos teóricos, o adversário mais acessível para os encarnados serão os espanhóis do Villareal, ou mesmo o Arsenal que nesta época não se tem apresentado em boa forma.

Portugal mantém três equipas na “Champions”

Com a vitória do Benfica frente ao Liverpool, e respectiva passagem aos quartos-de-final, aliada à derrota do PSV Eindhoven em Lyon, permitiu a Portugal manter duas equipas com entrada directa na Liga dos Campeões, na época de 2007/08. Já o terceiro classificado da Liga Betandwin terá entrada na terceira pré-eliminatória da prova, tal como sucedeu na presente edição. Refira-se que esta situação mantém-se uma vez que a pontuação conseguida na passada quarta-feira com a vitória do Benfica (0,333 pontos) afastou a Holanda do sexto lugar e da possibilidade de ultrapassar Portugal no “ranking” europeu. Para além dos três lugares na Liga dos Campeões, Portugal conseguiu ainda manter, em 2007/08, três equipas na Taça UEFA.