2025/11/10

A galera de Scolari por Paulo Gaião

Se Portugal tivesse sido campeão ficava por explicar como é que éramos os primeiros no futebol mas os últimos nos indicadores económicos, “sul-americanizando” ainda mais o País

Ganhar o Mundial era uma oportunidade única. Atiravam-se os Magriços para o baú da história e mostravam-se patamares de excelência no futebol, como já se mostraram na literatura com José Saramago e na neurologia com António Damásio, que eram capazes de deixar muita gente com dor de cotovelo. Talvez a mais atingida fosse a classe política portuguesa. Se Portugal tivesse sido campeão mundial, juntando-se a potências europeias como a Itália, a Alemanha, a França e a Inglaterra, talvez ficasse por explicar como é que éramos tão bons no futebol e tão pobrezinhos no campo económico, o que seria uma interrogacão certamente incómoda para os políticos que nos gerem há mais de trinta anos. Já se percebeu que tanto Sócrates como Cavaco não são fanáticos do futebol mas alguma falta de emotividade de ambos face à presença de Portugal na fase final do Mundial, pode ter a ver, aliás, com um sentimento que o Presidente da República traduziu bem há quinze dias: há mais vida para além do futebol… o povo tem de acreditar nos seus políticos e relevar o futebol.
Como perdemos com a França, tudo acabou por ficar no seu lugar. Com uns a estarem bem para os outros. A questão passa agora por saber se a equipa iguala os Magriços ou fica abaixo deles. O que não é muito animador. Aliás, em caso de empate no terceiro lugar com os Magriços, ganha a equipa de 1966. Não é uma questão de goal-average mas de quem ganha hoje milhões, comparativamente a quem recebia uns tostões para ajudar a pagar as prestações do apartamento.
O que correu mal no Mundial de 2006? Desde logo o que correu mal é o país ter embarcado antes de tempo na vertigem da renovação do contrato de Scolari, o que acentua o lado mais pindérico do país. O que correu mal foram as saudacões a uma equipa que em vez de ir à final vai disputar no sábado um jogo para cumprir calendário (e que bem podia transformar-se antes numa terapia de grupo luso-alemã subordinada ao tema “Por que falhámos?”). Eduardo Lourenço, que disse na quarta-feira que mesmo se perdéssemos já tínhamos ganho tudo, não é obrigado a perceber de futebol. Já o mesmo não se pode dizer de gente com responsabilidade, habituada a tratar o futebol por tu. Prestar homenagem aos heróis de Nuremberga ou Munique é confundir os jogadores, contribuindo para alimentar a saga da maldicão dos penalties (que foram mesmo penalties), o choradinho de que não fomos ao prolongamento, quando tivemos 50 minutos para marcar um golo à França e o habitual coro contra a arbitragem, que muitos jogadores fizeram no final da partida com a França. Um choradinho que até contagiou Scolari, parecendo acusar a América do Sul de não ter consciência de classe e abrir os olhos (numa alusão à prestacão do árbitro uruguaio). É uma forma sem dúvida imaginativa de Scolari, quase lembrando a teologia da libertacão aplicada ao futebol, para tentar branquear um jogo tarde cheio de falhas técnicas da responsabilidade de Filipão. Porque substituiu Costinha tão tarde? E por Nuno Valente e não por um cabeceador nato, já que a equipa continuou a bombear bolas para a pequena área francesa? Porque insistiu em Pauleta, se já tinha percebido nos últimos jogos que o jogador não estava bem? Porque substituiu Pauleta por Hélder Postiga, em vez de colocar em campo Nuno Gomes, um homem que joga mal no Benfica mas que tem dado grandes alegrias à massa associativa da seleccão? Porque deslocalizou Ronaldo para o eixo central se o jogador estava bem a lateralizar jogo pelo seu “corredor”? Portugal não tem pontas de lança mas Scolari deu-se ao luxo de prescindir dos poucos que há, insistindo sempre em Pauleta. Em alguns momentos da partida com a França, perante bolas sucessivamente bombeadas pelos flancos, ficou a sensação que a meia-lua francesa era uma área fantasma, tal a ausência de cabeceadores ou de cabeçadas certeiras. O que parece provar que as opções de Scolari se revelaram erradas. Espantam os erros de Scolari? Talvez não. Afinal o que ganhou Scolari até hoje? No Mundial de 2002, é unânime que o torneio foi incaracterístico. Talvez o Brasil que ganhou na Coreia, não fosse muito diferente do Brasil que foi eliminado na Alemanha. No Euro 2004, Scolari não conseguiu vencer uma equipa grega acessível. Neste Mundial não conseguiu superar uma França também ao seu alcance. Que os mais entendidos possam ter a vontade e a coragem de fazer um visionamento integral do jogo com a Grécia de há dois anos e a partida com a França de quarta-feira para esmiuçar publicamente os erros técnicos cometidos por Scolari. De forma a questionar se outro treinador, com uma equipa portuguesa de ouro que vai demorar a repetir, não podia, de facto, já ser campeão europeu e correr hoje para a final do Mundial? O perigo a evitar agora é a lógica das galeras funcionar outra vez para o Europeu de 2008. Madaíl escolher a galera de Scolari e Scolari escolher a sua galera de jogadores.
Uma coisa é ser teimoso uma vez, duas vezes, três vezes e, no fim, passar por homem tenaz. Outra coisa é teimar sempre…. na sua turminha, na sua galera. Costinha, Maniche (o único do lote que provou o seu valor), Pauleta, Hélder Postiga e Paulo Ferreira, que fazem logo quase metade da equipa e tiram o lugar a outros jogadores que podem não ser da “turminha” mas que podiam ter jogado bem melhor do que os “fixos” de Scolari. Pauleta e Costinha foram os casos mais flagrantes. Já na fase final do Euro 2004 se tinha percebido que Pauleta estava em baixo de forma. Nos últimos dois anos, a sua carreira no Paris Saint-Germain também não foi feliz. Por sua vez, a envergadura do “investimento” que foi feito em Costinha, com treinos a sós dados pelo próprio Scolari no Restelo, tinha de ter, obrigatoriamente, um “retorno” milionário. Que não aconteceu.
Inebriado com as vitórias sucessivas, Scolari quis tudo: jogar com a sua “galera”, não jogar “bonito”, fazer os “intelectuais” engolirem o que disseram e, no fim, erguer a Taça. Era demais.

A segunda derrota de Le Penpor Manuel dos Santos

É no actual vazio legislativo e na contradição das opções políticas que podem crescer os movimentos, a que líderes como Le Pen dão corpo e visibilidade

Com o aproximar das eleições presidenciais em França, o líder da extrema-direita repete e reproduz os tiques e os comportamentos que lhe deram um inesperado protagonismo nas eleições de 2000.
Defensor das concepções políticas e sociais mais conservadoras e cruzando, quase sempre, as causas e as vias de um fascismo delirante e perigoso, Le Pen aposta no conflito social como arma para atingir estes objectivos.
Não olha a meios nem respeita quaisquer limites.
Existe, infelizmente, actualmente em França (e noutros países da Europa) um terreno fértil para o relativo sucesso destas ideias, o que se justifica pela grave crise social e de identidade europeia que este país atravessa.
O terrorismo urbano, a agitação social, os movimentos juvenis e a contestação generalizada recentes são, como é reconhecido por quase todos, sintomas claros deste mal-estar.
Neste contexto, as actuais políticas de imigração e as dificuldades delas decorrentes, para a integração dos imigrantes constituem um bom palco para o patrocínio das ideologias do terror.
O líder da extrema-direita Le Pen identificou esta janela de oportunidade e não se tem cansado de a explorar até à exaustão.
Tal como o fizera em 1998, também agora a selecção francesa, que disputa o campeonato mundial de futebol, foi objecto das suas negativas apreciações.
Para Le Pen os franceses não se identificam com a sua selecção porque ela é composta por uma maioria de jogadores que, embora nascidos em território francês, pertencem a uma segunda geração de imigrantes.
A resposta tem sido dada no campo desportivo através da sensacional campanha que a equipa francesa, supostamente recheada de “estrangeiros”, vem fazendo na competição.
Tudo aponta, portanto, para que Le Pen venha a somar nesta área uma nova e contundente derrota política.
A questão da imigração é, contudo, uma questão que ultrapassa o folclore ou os interesses dos líderes da extrema-direita.
No actual estado de desenvolvimento económico, a Europa precisa de uma política integrada de imigração, sendo indispensável que essa política constitua um factor de inclusão dos “novos europeus” nas sociedades de acolhimento e anule qualquer hipótese de marginalização social propiciadora de conflitos e perturbações.
Este é, no entanto, um domínio da exclusiva competência do Conselho Europeu, ou seja, dos Estados-membros, embora seja possível, ao abrigo das disposições do Tratado de Nice e através da utilização da chamada cláusula “passerelle”, passar a matéria para o processo de co-decisão, conferindo poderes acrescidos à Comissão e, sobretudo, ao Parlamento Europeu.
O que está em causa é, verdadeiramente, a definição de uma política integral de imigração, para o conjunto da União, que permita, por um lado, garantir mercados estáveis no seu território e contribua, por outro lado, para amortecer as fortes pressões de imigração clandestina que se verificam nas fronteiras exteriores da União.
Neste, como em outros domínios, só é preciso que exista vontade política dos líderes europeus para atacarem, de raiz, o problema.
A delicadeza desta matéria e a sua particular sensibilidade junto dos cidadãos europeus, para lá das questões da segurança interna da União que lhe estão associadas, torna esta questão muito premente.
Em clima de dificuldade, os cidadãos têm a tendência para sobrevalorizarem os aspectos negativos e não evidenciam, por isso, uma grande preocupação com os movimentos correctores de médio e longo prazo.
Por isso é também necessário que se conheça o que é que o Conselho Europeu pode fazer, desde já, para levar os cidadãos a participarem activamente nas decisões que permitam converter a actual pressão imigratória ilegal em movimentos de pessoas legais e enquadrados e, sobretudo, em aceitarem a necessidade de imigrantes.
É no actual vazio legislativo e na contradição das opções políticas que podem crescer os movimentos, a que líderes como Le Pen dão corpo e visibilidade.|

CE dá prazo de seis semanas antes de levar Portugal a Tribunal

A Comissão Europeia deu seis semanas adicionais a Lisboa para apresentar novos argumentos antes de tomar a decisão de levar ou não Portugal a Tribunal por causa dos “direitos especiais” do Estado na Portugal Telecom (PT). O colégio de 25 comissários europeus deverá aprovar esta medida na próxima quarta-feira, no mesmo dia em que estava prevista a decisão de levar Portugal a Tribunal por causa da insistência de Lisboa em manter “direitos especiais” (golden-share) na PT. Lisboa tinha pedido no início de Junho uma extensão de três meses do prazo previsto.

Segundo fonte comunitária, o executivo europeu, em pedidos idênticos, apenas permitiu a extensão do prazo inicial depois de verificar que o pedido feito era “razoável” e “sério”.
A mesma fonte oficial garantiu que a decisão de Bruxelas não irá tomar em consideração a situação de mercado nem o facto de ter sido lançada uma operação pública de aquisição sobre a PT.
A Comissão Europeia solicitou oficialmente a Portugal em 4 de Abril passado o abandono dos “direitos especiais” que detém na Portugal Telecom (PT).
“Se as autoridades não derem os passos necessários para a resolução da infracção no espaço de dois meses, a Comissão poderá decidir apresentar o caso ao Tribunal de Justiça Europeu”, segundo comunicado de imprensa distribuído na altura.
Essa decisão (parecer fundamentado) significou o início da segunda fase do processo de infracção iniciado em 14 de Dezembro do ano passado com o envio, na altura, de um pedido oficial de explicações (notificação por incumprimento).
Depois de analisar a resposta das autoridades portuguesas, a Comissão “continuou a considerar” em Abril que os “direitos especiais” têm um “efeito dissuasivo” para os investimentos provenientes dos outros Estados-membros, em violação das regras do Tratado da Comunidade Europeia.
Os serviços do comissário europeu responsável pelo Mercado Interno e Serviços, Charlie McCreevy defendem que os direitos especiais detidos pelo Estado e entidades públicas na PT vão contra as regras do Tratado da Comunidade Europeia no que respeita à livre circulação de capitais e direito de estabelecimento no território europeu.
O ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, defendeu poucos dias depois, a 8 de Abril, a manutenção da “golden-share” na Portugal Telecom (PT) por razões de “salvaguarda do interesse público” nas infra-estruturas de redes de comunicação.
“Se isto tiver de ir para o Tribunal de Justiça europeu então que vá e o Tribunal terá de decidir”, disse o responsável pelas finanças portuguesas.
O ministro recusou a ideia de que poderia estar em causa a defesa da manutenção da PT nas mãos dos portugueses.
“Ninguém diz que estamos a proteger empresas por serem portuguesas”, sublinhou. Teixeira dos Santos também negou qualquer “incompatibilidade” entre a defesa do interesse público em determinadas áreas e a necessidade de abertura do mercado nacional no quadro do Mercado Interno da UE.
O Estado é accionista da PT, na qual detém uma participação preferencial (golden share), constituída por 500 acções do tipo A e uma participação ordinária de 1,18 por cento do capital.
As acções preferenciais conferem ao Estado na prática poder de veto sobre a escolha de um terço dos administradores da empresa, incluindo o presidente do conselho de administração.
Esta participação dá também ao Estado, na prática, poder de veto sobre a aplicação dos resultados do exercício, sobre a definição dos “princípios gerais de política de participações em sociedades” e, também, sobre “aquisições e alienações, nos casos em que aqueles princípios as condicionem à prévia autorização da assembleia geral.

Bruxelas apoia maior envolvimento da CPLP em Timor

Bruxelas apoia um maior envolvimento de tropas da CPLP em Timor em substituição dos contingentes da Malásia, Austrália e Nova Zelândia. Mas sempre no âmbito das Nações Unidas. Entretanto, o Presidente da República timorense, depois de obter a neutralidade da Indonésia e com o apoio da Austrália, avançou na televisão com a ameaça de demissão e antecipação do ciclo eleitoral caso Alkatiri não se demita, depois da “inventona”, feita por uma televisão australiana, da alegada distribuição de armas da polícia às populações pela Fretilin e da prisão domiciliária do demitido ministro do Interior. A crise pode resultar em guerra civil.

A CPLP vai enviar uma missão ministerial a Timor-Leste, com o objectivo de, com as autoridades locais, avaliar a situação e estudar as formas de apoio que a organização poderá conceder a Timor-Leste para ultrapassar a crise actual. Lisboa e Luanda tentam deste modo evitar que, na sequência do “golpe de Estado” de Xanana Gusmão, a Austrália transforme Timor-Leste num protectorado seu. Na segunda-feira em Bruxelas, o secretário-geral Luís Pacheco da CPLP almoçou com Durão Barroso combinando a intenção de envolver tropas da CPLP em Timor, mas no âmbito das Nações Unidas.

CPLP e Portugal querem manutenção da independência de Timor

O apoio diplomático de Bruxelas ao envolvimento militar da CPLP pode ser decisivo para se conseguir afastar militares de países da região, que tenham intenções de domínio sobre a plataforma petrolífera do mais pequeno país lusófono.
Entretanto, a “tentativa de golpe de Estado” em Timor avançou-se ontem com a ameaça de demissão de Xanana Gusmão. O Presidente de Timor, depois de obter também a luz verde da Indonésia, e com o apoio estratégico de Timor, não quer contemporizar com o primeiro-ministro e quer a sua demissão, ameaçando demitir-se ele próprio ainda hoje e, por essa via, antecipar eleições e retirar legitimidade ao Governo da Fretilin. Um “golpe de Estado”, que se tornou imperioso depois do governo de Alkatiri ter dado aos europeus explorações de petróleo em Timor, o que alegadamente terá desagradado à potência hegemónica regional, a Austrália, que está por detrás de todo o golpe de Estado dirigido pelo Presidente da República.
O pretexto para a crise foi a alegada distribuição de armas da polícia à população por parte do primeiro-ministro, que nega a acusação de envolvimento. Entretanto o demitido ministro do Interior, vice-presidente da Fretilin, está em prisão domiciliária, vigiado por tropas australianas, e viu o combate político transformado em acusação judicial.
Percebendo a gravidade da situação, Portugal empenhou-se numa solução negociada, de modo a evitar a guerra civil, acabando por se enviar tropas no âmbito das Nações Unidas para manter a paz no território. Para Lisboa seria convocada uma reunião da CPLP, onde ficava decidido envolver tropas dos países lusófonos na estabilização do país, para evitar que Timor caia na tutela da Austrália.
Os ministros decidem mesmo organizar uma missão de ministros dos Negócios Estrangeiros a Timor, exactamente para tentar evitar a ruptura constitucional e afirmarem o apoio político ao compromisso e a viabilidade do Estado em Timor.
No Conselho de Ministros Extraordinário, ficou ainda decidido condenar as acções que provocaram as vítimas, reiteração do apoio político a Timor e afirmar o direito de soberania de Timor-Leste, fazendo apelo à comunidade internacional para reforçar a assistência humanitária em Timor.
A CPLP endossou o pedido das Autoridades timorenses de constituição de uma nova missão das Nações Unidas, com componentes policial, militar e civil, em apoio aos esforços de Timor em prol da estabilização e consolidação da paz e manifestou a disposição para que países membros integrem a próxima missão da ONU (e que a mesma contemple áreas de desenvolvimento económico e social, direitos humanos, fortalecimento institucional e assistência eleitoral).
Tal como Portugal, Angola pôs à disposição o envio de forças policiais e militares para Timor-Leste, caso seja necessário.

Kofi Anann envia missão

Recorde-se que o golpe iniciou-se em finais de Abril, depois de uma intervenção das forças armadas durante uma manifestação em Díli de cerca de 600 ex-militares (cerca de 40% do total de efectivos do exército timorense), que foram despedidos por abandono das respectivas unidades e na sequência de denúncias sobre alegadas discriminações étnicas por parte dos seus superiores.
Entretanto, o representante de Kofi Annan, que foi para Timor, salientou que “Timor-Leste é temporariamente um país quebrado, mas não é um Estado falhado”.
Sukehiro Hasegawa disse ainda que Ian Martin, enviado especial de Kofi Annan, inicia no próximo dia 26 uma missão de avaliação de duas semanas das necessidades em termos de “capacetes azuis”.
Militares e polícias da Austrália, Malásia, Nova Zelândia e Portugal, num total de cerca de 2 mil efectivos, começaram a chegar no passado dia 25 de Maio a Timor-Leste, correspondendo a um pedido das autoridades timorenses para ajudarem a restabelecer a lei e ordem públicas, face à desintegração da Polícia Nacional e às divisões no seio das forças armadas.
Este mandato deverá estar a terminar no próximo mês, havendo já a intenção de ser continuado. A CPLP, não querendo assumir-se unilateralmente como força de intervenção, deverá actuar no âmbito do chapéu das Nações Unidas, conforme ficou decidido no Conselho de Ministros Extraordinário de Lisboa.
Na próxima Conferència da CPLP, em Bissau, a 14 de Julho, a questão deverá ser debatida ao nível de chefes de Estado e Governo, podendo nessa altura os diplomatas de Lisboa, Brasília e Luanda insistirem numa solução negociada entre a Fretilin e o Presidente, e assegurar a independência de Timor.

Xanana ameaça demitir-se

O desenrolar da crise vai entretanto conhecendo hora a hora novos episódios, numa luta pelo poder sem paralelo e que os serviços de informação portugueses já há muito antecipavam. Xanana Gusmão foi à Indonésia onde obteve o “okay” de Jacarta para avançar com o golpe e ontem subiu o tom dos ataques ao primeiro-ministro, dizendo que se demitiria caso este não assumisse as suas responsabilidades pela actual crise em Timor-Leste.
“Peço responsabilidades ao vosso camarada Mari Alkatiri pela crise que estamos a viver, relativamente à sobrevivência do Estado de direito democrático, ou amanhã [sexta-feira] eu vou mandar uma carta ao Parlamento Nacional, para informar que me demito de Presidente da República”, disse Xanana Gusmão, numa mensagem ao país.
“Tenho vergonha pelo que o Estado está a fazer ao povo e eu não tenho coragem para enfrentar o povo”, afirmou o Presidente da República, justificando a sua decisão, numa manobra política visando retirar espaço mediático ao Governo.
“Peço à população para se acalmar, porque neste momento de crise todos nós temos que fazer uma boa reflexão para que não haja mais violência e destruição no nosso país”, disse ainda Xanana Gusmão, na sua mensagem.
Segundo os serviços da Presidência da República, a mensagem é dirigida “ao povo e aos membros da Fretilin”, o partido no poder em Timor-Leste.

Alkatiri não se demite

O primeiro-ministro timorense, Mari Alkatiri, por seu lado, reiterou que não se demitirá da chefia do Governo, apesar de o Presidente da República, Xanana Gusmão, o ter responsabilizado pela crise vivida em Timor e ter ameaçado demitir-se.
“Não, de modo algum”, respondeu Mari Alkatiri ao ser questionado se reconsideraria a sua decisão de não se demitir do cargo de primeiro-ministro, face à posição limite anunciada por Xanana.
“A situação está tão complexa que uma decisão precipitada pode complicar ainda mais as coisas”, afirmou Alkatiri, contactado telefonicamente em Díli.
Mari Alkatiri criticou a declaração do Presidente da República, afirmando que surge num momento pouco oportuno e numa altura em que ainda está por ocorrer um encontro, pedido pelo primeiro-ministro, com Xanana Gusmão e com o presidente do Parlamento Nacional, Francisco Guterres “Lu-Olo”.
“Acho que não tem lógica nenhuma estar a fazer uma declaração ao público quando tínhamos uma reunião marcada para amanhã [sexta-feira]”, afirmou Alkatiri.
“A vontade de resolver esta questão nunca deixou de existir, por isso mesmo pedimos ainda ontem [quarta-feira] a reunião [com Xanana Gusmão]. Acho que esta declaração veio simplesmente complicar ainda mais a situação”, acrescentou.

Prisão domiciliária para Rogério Lobato

Entretanto, o ex-ministro do Interior de Timor-Leste, Rogério Lobato, ficou a aguardar em prisão domiciliária a instrução do processo em que é acusado de distribuição de armas a civis, segundo fonte judicial.
Rogério Lobato, eleito recentemente vice-presidente da Fretilin, vai aguardar em casa a instrução do processo, porque o tribunal chegou à conclusão de que o Estabelecimento Prisional de Bécora, em Díli, “não oferecia condições de segurança para o arguido”, segundo a mesma fonte.
Desse modo, Rogério Lobato vai ficar em prisão domiciliária, guardado por militares australianos.
Rogério Lobato arrisca uma pena de 15 anos de prisão para os quatro crimes de que é acusado: associação criminosa, posse ilegal de armas, conspiração e tentativa de revolução.
O ex-ministro foi representado por um defensor oficioso, em virtude dos dois advogados que o vão defender, um português e outro macaense, apenas chegarem a Díli na próxima terça-feira, disse o procurador-geral da República, Longuinhos Monteiro.
O ex-ministro do Interior apresentou-se voluntariamente no tribunal de Díli para prestar declarações, no âmbito do processo de averiguações que lhe foi instaurado na passada terça-feira, pelo Ministério Público.
Rogério Lobato é acusado de ter distribuído armas a grupos de veteranos da resistência para eliminar adversários políticos do primeiro-ministro e líder da Fretilin, Mari Alkatiri.
As principais acusações foram feitas por Vicente da Conceição “Railos”, militante da Fretilin e veterano da luta da resistência, que acusa Mari Alkatiri de ter dado ordens a Rogério Lobato para constituir grupos civis armados.
Mari Alkatiri já negou por diversas vezes as acusações de que é alvo, considerando que se trata de uma campanha para fragilizar o Governo e a Fretilin para as eleições de 2007.
Rogério Lobato abandonou o governo timorense um dia depois do Presidente da República, Xanana Gusmão, ter sugerido ao primeiro-ministro a demissão dos ministros do Interior e da Defesa (Roque Rodrigues), no início da presente crise política.
Os dois ministros em causa acabaram por se demitir e foram substituídos por José Ramos Horta, que passou a acumular a pasta de Negócios Estrangeiros com a da Defesa, e por Alcino Baris, que passou de vice-ministro para titular da pasta do Interior.
Entretanto, ontem à tarde, em conferência de imprensa, o secretário-geral adjunto da Fretilin, José Reis, apelou para que as autoridades competentes “diferenciem um processo político de um processo criminal”, considerando que Rogério Lobato, vice-presidente do partido, está a ser alvo de perseguição política.

Fretilin vai propor “solução de compromisso” a Xanana

Na terça-feira, quando Xanana regressava da Indonésia, a Fretilin, por seu lado, ainda acreditava ser possível um entendimento negociado com o Presidente da República e fazia saber que ia propor a Xanana Gusmão uma “solução de compromisso” que respeitasse o quadro constitucional existente, resultante das eleições de 2001, em que o partido obteve 57,37% dos votos.
Segundo Estanislau da Silva, membro da comissão política nacional da Fretilin, seria possível “fazerem-se arranjos aceites por todas as partes e prosseguir com a governação”.
E nesse contexto, Estanislau da Silva admitiu que a demissão do primeiro-ministro, Mari Alkatiri, exigida pelo Presidente da República, seria uma das várias opções em análise, abrindo espaço para o entendimento.
“Vamos ter de ver as vantagens e as desvantagens [da demissão de Alkatiri]. Mas vamos, com certeza, optar por uma solução que sirva a maioria do povo de Timor-Leste”, frisou, sem especificar opções para a “solução de compromisso” que será proposta pela Fretilin.
O Presidente timorense, Xanana Gusmão, exigiu terça-feira, em carta enviada a Mari Alkatiri, a sua demissão da chefia do Governo, face a acusações de que estaria envolvido numa alegada distribuição de armas a civis para eliminação dos seus adversários políticos.
Mari Alkatiri, por seu lado, logo nesse dia fez saber que negava as acusações, feitas por um veterano da resistência à ocupação indonésia, e admitiu que apenas consideraria demitir-se se fosse esse o desejo da Fretilin, partido de que é secretário-geral. A decisão é do seu partido e não do Presidente da República.
Estanislau da Silva considerou que “não se pode deixar cair” o mandato recebido pela Fretilin nas eleições de 2001 e o trabalho dos últimos quatro anos de governação.
“Não podemos deixar este país cair, depois do trabalho que se fez nos últimos cinco ou seis anos e particularmente nos últimos quatro anos de governação”, vincou, ainda no início da semana em Timor.
Estanislau da Silva, que detém a pasta da Agricultura, Florestas e Pescas no executivo liderado por Mari Alkatiri, insistiu que é possível encontrar-se uma “solução de compromisso”.
A “solução de compromisso” deveria ter em conta o “respeito pelas instituições eleitas democraticamente” e ainda o facto de “nos próximos oito meses” se realizarem eleições legislativas, disse.

Xanana ameaça demitir-se no Conselho de Estado

Na quarta-feira a situação evoluiu no pior sentido, com o Presidente timorense, Xanana Gusmão, a ameaçar demitir-se durante a reunião do Conselho de Estado, se o primeiro-ministro, Mari Alkatiri, não aceitasse deixar a chefia do Governo. Xanana Gusmão teria alegado que a crise política não se poderia prolongar por mais tempo e que teria de dar uma satisfação ao povo timorense.
Com esse discurso, o Presidente preparava o “golpe populista” de ontem, quando afirmou não ter coragem de “enfrentar” o povo timorense em face dos resultados económicos da governação da Fretilin e que não lhe restava outra hipótese senão demitir-se.
Perante esta reacção, Mari Alkatiri tentou reduzir a pressão do Presidente e disse, no Conselho de Estado, que avaliava a posição e o papel do Presidente da República como “mais importantes” no contexto da actual crise, pelo que comunicou que iria consultar a direcção da Fretilin sobre a sua possível demissão.
Na reunião do Conselho de Estado, em que participaram dez dos doze conselheiros, cada um dos membros daquele órgão de consulta do Presidente da República se pronunciou sobre a crise política, disse ainda a fonte contactada pela Lusa.
Quatro dos conselheiros defenderam a demissão de Mari Alkatiri, três (incluindo o próprio primeiro-ministro) manifestaram-se contra, dois deixaram a decisão ao chefe de Estado e um não se pronunciou sobre a questão, não tendo havido qualquer votação, acrescentou a mesma fonte.
Após a reunião, que decorreu no Palácio das Cinzas (sede da Presidência da República) durante cerca de seis horas, Mari Alkatiri reuniu-se com o “núcleo duro” do Governo e da Fretilin para consultas sobre uma possível demissão.
Recorde-se que a demissão de Mari Alkatiri tinha já sido exigida por Xanana Gusmão numa carta que endereçou ao primeiro-ministro, a propósito de um programa transmitido por uma televisão australiana sobre a alegada distribuição de armas a civis.
Nessa carta, Xanana Gusmão referiu que no programa são feitas “graves denúncias” sobre o alegado envolvimento de Mari Alkatiri na entrega de armas a civis.
“Tendo visto o programa ‘Four Corners’, que me chocou imensamente, só me resta dar-lhe oportunidade para decidir: ou resigna ou, depois de ouvido o Conselho de Estado, o demitirei, porque deixou de merecer a minha confiança”, escreveu Xanana Gusmão.
“Espero uma resposta sua até às 17h00 de hoje, 20 de Junho de 2006”, lê-se na missiva assinada por Xanana Gusmão. A carta ficaria sem resposta, o que aumentou o tom da disputa.
A acusação de que Mari Alkatiri ordenou a distribuição de armas a civis para eliminar os seus adversários políticos foi feita por Vicente da Conceição “Railos”, um veterano da resistência contra a ocupação indonésia, que afirma liderar um grupo de “segurança interna” da Fretilin, de cerca de 30 homens.
Posteriormente, a Assembleia Constituinte votou a sua transformação no actual Parlamento Nacional, do qual saiu o Governo liderado por Mari Alkatiri, cuja posse ocorreu a 20 de Maio de 2002, dia em que o país se tornou independente.

Timor: apelo urgente ONU já reuniu compromissos de 10,9 milhões de euros

Entretanto, a degradação da situação económica e a necessidade de protecção internacional justificaram novos pedidos de ajuda económica e assistência internacional para Timor.
As contribuições para o apelo de ajuda de emergência para Timor-Leste já ultrapassaram dois terços dos 15 milhões de euros pedidos pela ONU, anunciou ontem o chefe da missão das Nações Unidas em Díli.
Sukehiro Hasegawa, representante especial do secretário-geral da ONU em Timor-Leste, disse em Díli que, desde que foi lançado o apelo de ajuda, a 12 de Junho, os países doadores já anunciaram participações financeiras no valor de 10,9 milhões de euros.
A verba destina-se a financiar três meses de operações humanitárias em Timor-Leste, onde a ONU calcula que existam 145 mil deslocados, na sequência da violência que afecta o país desde o final de Abril.
O apelo de emergência foi anunciado pelo coordenador da ajuda humanitária e representante do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) em Díli, Fien Reske-Nielsen.
Sukehiro Hasegawa fez o balanço sobre as contribuições financeiras para o apelo de emergência da ONU durante uma conferência de imprensa, em que deu conta da decisão do Conselho de Segurança das Nações Unidas de prorrogar, por mais dois meses, o mandato da actual missão da organização em Timor-Leste.

BES organiza grupo de patriotas para apoiar a OPA concorrente

O Governo fez saber que não abre mão da “golden shares” e da desblindagem dos estatutos da PT se os fundos avançarem sozinhos. A PT é para portugueses. E para não ficar nas mãos de Belmiro de Azevedo Ricardo Salgado, depois do aumento de capital do BES e da perda do Urquijo, está a preparar um grupo nacional para o acompanhar numa OPA concorrente. Enquanto isso, o ultimato de Belmiro de Azevedo à Autoridade da Concorrência parece poder complicar a vida ao empresário do Norte, comenta-se nos bastidores da OPA à PT.

Numa altura em que a eventual OPA sobre a Brisa está congelada, depois da Autoridade da Concorrência ter impedido o negócio da sua fusão com as Auto-Estradas do Atlântico, os avisos feitos esta semana por Abel Mateus, nos casos das OPAs à Portugal Telecom e ao BPI, podem introduzir alterações significativas nas previsões dos analistas. Para já, na PT, Abel Mateus promete uma posição definitiva para Julho próximo e aparentemente não terá gostado das pressões exercidas por Belmiro de Azevedo.

Ricardo Salgado organiza OPA competitiva

Esta semana, a Sonae fez saber que caso a Autoridade da Concorrência chumbe, na análise aprofundada que está a fazer ao dossier da OPA da Sonae à Portugal Telecom e à PT Multimédia, a fusão entre a Optimus e a TMN, a empresa de telecomunicações do Norte poderá desistir da OPA lançada.
Basicamente, o raciocínio da Sonaecom é que a operação só valeria a pena caso fossem possíveis os ganhos com a fusão das duas marcas. O mercado nacional não aguenta os custos de publicidade e o esforço operacional para o grupo manter duas marcas e apenas a fusão justificaria os ganhos que a Sonae antecipou para pagar a PT ao preço apresentado.
Já a estratégia delineada pela Portugal Telecom de se opor à OPA, aumentando artificialmente os resultados extraordinários em 2005, não só desacreditou a empresa de telecomunicações e a sua gestão anterior, como ainda por cima já havia antes criado espaço para a Sonae vir dizer que ponderava reduzir o preço da OPA em nove cêntimos por acção.
Uma situação que deixou um amargo de boca particular no BES, cujo envolvimento, ao preço médio de 8,30 euros por acção, está a começar a ficar perigoso, e a obrigar eventualmente a manter as reservas para pagar eventuais prejuízos.

Ricardo Salgado reage

Ricardo Salgado não poderia ficar parado diante da perspectiva de uma humilhação desta dimensão feita pelo empresário do Norte. E por isso está a mexer-se. Tentou inicialmente vender a sua posição, facilitando condições para que Miguel Paes do Amaral ou João Pereira Coutinho avançassem. Mas, do lado de Pereira Coutinho, apesar da facilidade da mobilização de fundos, o BES sentiu cautela e pouca vontade de correr riscos para safar terceiros. Já do lado dos “private equities”, o problema da credibilidade de Miguel Paes do Amaral foi apenas o primeiro, já que os fundos queriam manter Zenal Bava e aparentemente o antigo CFO da PT e actual presidente da PTM é incompatível com o financeiro da TVI.
Por outro lado, o Governo fez discretamente saber que usará a “golden share” para impedir o negócio e a desblindagem dos estatutos, caso os “private equities” entrem sozinhos no negócio.
E, em face desta posição do Governo, Ricardo Salgado ficou nas mãos da Sonae, com Belmiro de Azevedo a irritar a Autoridade da Concorrência com a ameaça de não fazer o negócio, caso a fusão seja chumbada por razões de concorrência, e, por outro lado, a ser intimidado pela possibilidade de Belmiro baixar o preço da própria OPA, deixando o BES ainda mais agarrado.

Uma estratégia contra Belmiro

O último ano não tem sido fácil para Ricardo Salgado, depois da história da Portucale e da Operação Furacão. Parece que o arrendatário do regime passou a ser o maior vilão e por isso Salgado optou por uma estratégia mais construtiva e conciliatória, agora que se apercebe que ninguém está aqui para o suportar e, sobretudo, que na época do governo Sócrates não há intocáveis em Portugal.
A suspeita de corrupção no caso da Portugal foi aparentemente congelada, senão mesmo já arquivada pelo Ministério Público. Foi o primeiro passo para a reconciliação do banqueiro com o Regime. Depois a Operação Furacão, sobre o alegado branqueamento de capital de vários bancos, acabou reduzida ao pagamento de 30 milhões de euros pelo conjunto dos cinco bancos investigados. Foi o segundo passo. Entretanto, Ricardo Salgado foi a Angola com o primeiro-ministro e a disposição do grupo modificou-se.
O primeiro passo foi aproveitar para reforçar o capital depois das pressões do Banco de Portugal. Sem explicar nada aos accionistas, alavancou o dinheiro suficiente no BES para ir às compras, ainda que isso tenha dado ao Crédit Agricole 11,5% do BES e o controlo das áreas rentáveis do banco e do grupo financeiro pelos franceses, que a semana passada anunciara, investir pelo menos mais cinco biliões em aquisições este ano, na Europa.

Dinheiro do aumento de capital para ir às compras

Farto de perder, desde 1989, milhões de euros em Espanha, a estratégia evidente do BES deveria ser a de sair de um mercado onde se deu mal, apesar de ser o banqueiro do rei. A compra do Urquijo poderia ser uma maneira de solidificar o Grupo Espírito Santo na gestão de activos em Espanha e de estancar os prejuízos, mas havia um limite de preço. Mais uma vez, e como já havia antes acontecido com o Banco Atlântico, foi o accionista do BCP, o Sabadell de Barcelona, que acabou por comprar, por 760 milhões de euros, o banco espanhol controlado por capitais belgas. Do lado português a situação era incontornável: seria um suicídio para o BES dar mais de 650 milhões pelo Banco Urquijo, mas o certo é que a perda na corrida ao banco deixou Ricardo Salgado, depois do aumento de capital do BES, com dinheiro para ir as compras, e, obviamente, em Portugal, já que no estrangeiro o BES só tem perdido dinheiro. E, em Portugal, não tendo sido possível a reunião com os pequenos bancos como resposta à OPA do BCP sobre o BPI, a ideia de manter posições significativas e pilotar grandes empresas nacionais cheira a reedição da estratégia dos anos noventa, mas é um capital seguro para a gestão de Ricardo Salgado, que, deste modo, acaba por segurar os fluxos financeiros das grandes empresas nacionais.

Reforço na Portugal Telecom

Neste novo cenário e respondendo às exigências do Governo, Ricardo Salgado aparece, agora, em condições de fazer operações que gosta. Já o estava a fazer na EDP, criando um núcleo de suporte a António Mexia, indicado pela Iberdrola e pelo BCP.
Mas a Portugal Telecom, onde a Sonae tem estado a humilhar o BES e os seus accionistas actuais, pode tornar-se de novo uma das bandeiras do grupo, muito embora o BES não tenha vocação industrial e não saiba gerir a PT, como ficou provado na gestão de Horta e Costa.
Henrique Granadeiro, um político escolhido para transição acaba por ser o homem certo para fazer a nova ponte entre o Governo socialista e o BES e facilitar a constituição de um núcleo de empresários financiados com crédito do BES, para se juntarem aos fundos internacionais e à Telefónica no lançamento de uma OPA competitiva à PT, ou, em alternativa, caso a Sonae desista para reconstruir o núcleo duro dos accionistas da PT.
Certa é já a saída de Patrick Monteiro de Barros, que acaba por fazer um bom negócio. A pretexto da incompatibilidade com o Governo depois do chumbo da sua refinaria de Sines, Patrick Monteiro de Barros prepara uma saída tragicómica como gosta. Com conferência de imprensa marcada para 2 de Junho próximo. Irá, admite-se nos meios económicos, dizer que não acredita no Governo nem em Portugal e por isso vende tudo o que tem. A sua casa de Cascais pertence a uma fundação com 30 anos e dificilmente o Governo a apanhará e vende a única coisa que tem em Portugal, a sua posição na PT, pagando as dívidas ao BES e ainda ficando com algumas mais-valias. Depois, dentro de anos, poderá ainda aparecer em algum país africano, sítio onde afinal ganhou dinheiro.
Sem Patrick Monteiro de Barros, Salgado irá provavelmente buscar Ilídio Pinho, que diz estar disposto a meter 250 milhões na PT – mas que, no fim, acabará metendo apenas 50 ou 100, como habitualmente -,já que agora não pode mais contar com Américo Amorim, que furou o acordo na Galp, avançando sozinho e deixando o BES fora da operação.
Provavelmente financiará Joaquim Oliveira em mais 100 ou 200 milhões para que entre também na PT. Poderá ser uma decisão estratégica para o dono da Lusomundo Média, já que a ligação à PT pode voltar a ser estratégica para o grupo, que teve que alavancar perto de 350 milhões de euros no BCP para comprar o “Diário de Notícias” e o “Jornal de Notícias” à PT o ano passado. Acresce que Oliveira foi parceiro da PTM e ainda mantém posições na Sport TV. Podem ainda juntar-se ao grupo o BCP, que faria um Tratado de Tordesilhas com a EDP e eventualmente empresários com interesse no sector, como o próprio João Pereira Coutinho.

Belmiro em risco?

A solução está à vista, portanto. Belmiro poderá já não ter condições para comprar a Portugal Telecom: Ricardo Salgado aproveitará o aumento de capital para manter a gestão industrial da PT e financiar um grupo de patriotas que, com os fundos privados internacionais, poderão prosseguir a estratégia delineada de vender o Brasil à Telefónica e dividir o cabo da rede de cobre, abrindo a possibilidade para um segundo episódio na PT. Eventualmente uma guerra entre Belmiro e João Pereira Coutinho pelo controlo da PT Multimédia.